Utopia escrita por tsubasataty


Capítulo 25
Capítulo 24




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-Quem fez isso com você?!

Hiago levou as costas das mãos à boca para limpar o sangue que escorria e me respondeu:

-Os viciados que compravam drogas de mim.

Ele encarou-se no espelho e fechou os olhos um instante. Pensei que ele não fosse falar mais nada, entretanto, quando abriu os olhos novamente, continuou:

-Camila, nem queira imaginar um viciado sem suas drogas. É uma imagem que realmente assusta.

Avancei um passo em sua direção.

-Eles são piores que os traficantes?

-Algumas vezes...

Tentei sentir o horror que ele presenciou e nem sei se fui mesmo capaz disso. Mesmo parando de vender drogas, tudo isso estava acontecendo. Era um labirinto sem saída.

Reparei na ferida em seu ombro e vi que o sangue escorrera por sua blusa, parecendo que iria permanecer ali para sempre, como se quisesse ser a prova concreta do que acontecera e mostrar que aquele pesadelo realmente existiu.

-É melhor passar algum remédio aí antes que infeccione.

-Ah... é que eu não tenho nenhum - Hiago olhou melancólico para o chão sob nossos pés.

Fui atingida por uma espécie de insight no momento em que me lembrei de algo que iria ajudá-lo.

-Eu tenho um! - exclamei - Eu já volto.

Fui até meu quarto e abri a bolsa lateral de minha mala. Depois de tirar um pacote com algodão, encontrei o que estava procurando: água oxigenada.

Voltei para o banheiro e me deparei com Hiago sem camisa e debruçado sobre a pia. Olhei para ele rapidamente e, sem graça, desviei os olhos.

-Só água não vai adiantar - falei.

Ele desligou a torneira e veio até mim.

-O que sugere então?

Revirei os olhos desdenhosa e o puxei pela mão.

-Vem comigo.

Fomos até a sala e nos sentamos no sofá. Enquanto ele olhava curioso para mim, peguei um algodão e despejei um pouco de água oxigenada em cima.

-Não se mexa - falei concentrada.

-Ai, caramba! - Hiago disse, assim que o algodão tocou sua pele e a reação começou.

Ri baixinho enquanto via expressão dele.

Ele me fuzilou com os olhos.

-Isso não tem graça.

-Ah, relaxa!

Passei novamente o algodão no ferimento para tirar o excesso do produto e o encarei.

-Pronto, acabou.

Ele sorriu agradecido e se levantou.

-Agora só preciso de um banho, e urgente.

-Tá, vai lá. Pode deixar que hoje eu arrumo a janta - falei, me pondo de pé também.

Quando me virei para ir à cozinha, Hiago me segurou pelo pulso tão rápido que nem cheguei a sair do lugar.

-Espera - a voz dele saiu rouca - eu nem te agradeci ainda.

A mão dele desceu até a minha e a apertou instintivamente.

-Obrigado.

Minha pele, me denunciando, ruborizou com aquelas palavras que soaram tão sedutoras em meu ouvido. Se ele tinha percebido isso não disse nada, mas enquanto eu seguia para a cozinha com o coração aos pulos, me perguntava se seu sorriso estava tão resplandecente quanto o meu.

Já eram quase onze da manhã quando acordei no dia seguinte e, desde o que acontecera ontem de noite, eu e Hiago não conversamos uma vez sequer sobre os traficantes e os outros. Para falar a verdade, achei melhor assim. E, mesmo soando ingênuo, eu queria que pelo menos juntos pudéssemos esquecer dos problemas que nos cercavam e, por isso, preferia muito mais que nos divertíssemos com jogos ou qualquer outro assunto ao invés de fazê-lo se lembrar daquilo.

Antes de ir ao trabalho, falei sobre a doença de dona Vera para ele. Não tinha ideia do que havia se passado depois que fui embora, mas ansiava vê-la hoje tão viva e alegre como no dia em que a conheci.

Estava acontecendo cada coisa ultimamente que esqueci de sair com meu improvisado disfarce. E como eu vagava pela rua só pensando na doença dela, nem lembrei do meu problema.

É, eu devia prestar mais atenção quando ando.


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