Utopia escrita por tsubasataty


Capítulo 16
Capítulo 15




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Caminhamos até um banco na sombra de uma árvore na praça e contei a ela onde conheci o Hiago e quando ele me encontrou.

-E o que você vai fazer agora?

-Achar um emprego - respondi convicta.

Ela semicerrou os olhos, confusa.

-É sério!

-Mas... você tem 15 anos e está com...

-É, com câncer, eu sei. Só que eu não vou desistir.

Heloísa ficou um instante pensativa antes de continuar:

-Tem uma sorveteria aqui perto que eu acho que estão precisando de funcionários. Quer ir lá ver?

-Claro! – respondi sorrindo.

O dia estava começando a esfriar e o sol já se afastava no horizonte quando chegamos ao lugar. Fomos até o caixa e eu perguntei ao dono se eles estavam contratando pessoas para trabalhar ali. Ele apenas me olhou de lado e disse:

-Sinto muito, a vaga já foi ocupada.

Frustrada, saímos da sorveteria e fomos andando sem rumo.

-Hum... não tivemos sorte desta vez. Olha, Camila - ela parou um instante e fitou o céu - já tá começando a escurecer e eu preciso mesmo ir. Amanhã podemos nos encontrar, certo?

-Sim. Pode ser as duas na praça em frente ao supermercado?

-Tudo bem. Até amanhã, Ah, e não se preocupe, não vou falar sobre você com ninguém não.

Eu sorri agradecida.

-Valeu. E até amanhã!

Assim que a vi atravessando a avenida, me virei e fui caminhando normalmente. O céu estava começando a ficar acinzentado e uma imagem translúcida da lua já aparecia no céu. Eu estava tão distraída olhando para o alto que nem prestei atenção quando algo veio correndo na minha direção.

-Tobi, pare! - uma voz estridente gritou.

Só tive tempo de ver um dálmata com uma coleira azul no pescoço vindo correndo até mim.

Uma senhora, que continuava chamando o cachorro, gritou, olhando para mim:

-Segure ele, por favor!

Travei. O cachorro estava vindo correndo exatamente até mim! Mesmo quando ele se aproximou e tentei puxá-lo pela coleira, ela escapou da minha mão e eu perdi o equilíbrio, caindo no chão. Todas as coisas que eu havia comprado no supermercado se espalharam pela calçada.

-Ah, não! - olhei pasma para aquilo.

Como se eu ainda estivesse em transe, nem percebi a mulher se aproximando de mim e do dálmata dela que, ironicamente, agora estava calmamente ao meu lado, cheirando o que sobrara das minhas compras. Ele chegou até a caixa de pizza e logo que tentou abri-la com a pata, a senhora o puxou pela coleira e o afastou dali.

-Tobi, senta! - ela abaixou-se para fazê-lo sentar-se e depois olhou para mim - Me desculpe pelas compras, mas eu não imaginava que ele iria sair correndo assim. Qual o seu nome, garota?

Mesmo com raiva do animal, tentei falar sem gritar:

-Camila.

-Certo, Camila. E eu me chamo Vera, mas todos que me conhecem só me chamam de dona Vera. Parece que meu Tobi acabou com suas compras e eu sinto muito, de novo. Para compensar tudo isso, você pode ir até minha confeitaria e pegar o que quiser. É o mínimo que posso fazer.

...Até que não era uma má ideia.

-Não tem problema mesmo?

-Não - ela respondeu, mostrando um sorriso.

Juntei o que havia sobrado de útil das compras, coloquei numa sacola e em seguida me levantei. Seguimos caminhando pela rua. Dona Vera - como ela insistia que eu a chamasse assim - era uma mulher alta, de cabelos lisos com vários fios mesclados de loiro e branco. O que mais me instigou nela foi seu hipnotizante olhar cor de âmbar que, ao mesmo tempo, observava e analisava tudo.

Ela me contara durante do caminho principalmente sobre o Tobi e o que ele já aprontara ao lado ela. Assim que paramos em frente à confeitaria, ela deixou o dálmata com um senhor que estava na entrada, provavelmente seu marido, e me pediu para entrar.

Me encantei com tudo que havia ali. A confeitaria era toda pintada de azul bebê e havia desenhos de plantas nos cantos das paredes. Ali não vendia apenas bolos e doces, mas também salgados de vários gostos, sorvetes e sucos. Por fim, depois de quase quarenta minutos, escolhi um bolo de prestígio, vários salgados congelados, sorvete de cereja e tomei ali mesmo um suco de laranja com pêssego. Juntando com o que sobrara do supermercado, eu sabia que seria muita coisa para carregar. Pelo menos a casa do Hiago não era muito longe dali.

Reunindo toda a capacidade de equilíbrio que tinha nos braços e pernas - que não era grande coisa - peguei todas as sacolas e a caixa com o bolo, agradeci novamente Dona Vera e fui para a saída.

Vi aquele dálmata louco me olhando outra vez, porém, como ele estava preso pela coleira em um poste, só me desviei dele.

Antes mesmo de eu andar alguns metros, escutei passos atrás de mim.

-Espere, Camila - era Dona Vera. Ela cobriu a boca com a mão e me olhou preocupada. Não entendi o que tinha acontecido embora tenha parado para ouvi-la - Isso pode parecer estranho vindo de alguém que você nem conhece direito, mas eu consigo vê-las. Uma de suas asas... ela está em pedaços. O que fizeram a você para deixá-la assim?


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