POV Nati

Gritos ecoavam pelo salão inteiro. Pessoas descontroladas, com desespero estampado no rosto se locomoviam como se uma bomba nuclear estivesse ao lado deles perto de explodir. Corri para ver o que se ocorria.

Cheguei no centro do salão, e havia uma menina caída, seu vestido, era branco, mas agora tornara-se um vermelho. Sangue. Era o que havia em todo o piso do salão. Sangue, era o que manchava o vestido da menina deitada no solo, morta. Em seu rosto não estava estampada uma cara assustada, surpresa, mas sim olhos fechados, boca entreaberta, com algumas gotas de sangue escorrendo por ela.

Todos no baile estavam em pânico. O assassino havia entrado de penetra, ou era um dos convidados. O que era uma noite de pura diversão, risos, abraços, tornara-se um pesadelo sem fim, de cadáveres ensanguentados.

-Alguém chame uma ambulância! – Gritou um cara desconhecido, mas sua fala foi abafada por outros gritos de pavor, vindo de diversos lugares do salão. Corremos até lá e só o que víamos era corpos e mais corpos caídos, num eterno banho de sangue.

Minha primeira reação foi a surpresa. Depois, encontrar meus amigos e garantir que eles não estivessem juntos aos cadáveres banhados em sangue, e depois, foi o medo. Medo, uma palavra que sinto calafrios ao ouvir, ou pensar. Medo é natural do ser humano, não é uma prova de fraqueza, mas sim uma forma de demonstrar sentimentos.

Tirei os sapatos de salto, e corri pelo salão à procura de Jay, Pandah, Blake, Luh, Six, Mitty e Remmy. Encontrei três do grupo num canto, abraçados, e apavorados. Pandah abraçava Mitty que estava agarrada no Remmy.

-Jay! Onde tá o Jay!? – Exclamei apavorada.

-Não sabemos! Perdemos a Luh, o Blake e o Six também! – Remus disse perplexo. – N-Nati... – Ele sinalizou aterrorizado para mim olhar para trás. Um vulto de negro, com uma das máscaras dos convidados, respingada de sangue, estava atrás de mim. Petrificada, sem reações, encarei-o. Olhos demoníacos encaravam-me por detrás daquela máscara com gotas de sangue. Depois de uma expressão ocular demoníaca surgiu uma expressão de medo, então ele saiu correndo.

-O... O que foi aquilo?! – A Pandah perguntou extremamente perplexa.

-Nem eu sei... – Disse encarando-a. – Mas... Temos que achar o Jay, a Luh, o Blake e o Six! – Disse. A Mitty e a Pandah tiraram os seus sapatos, Remmy a gravata, e saímos correndo à procura de nossos amigos. O salão inteiro estava em pânico, uma trilha de cadáveres se formava.

Procuramos nos banheiros, na cozinha, em tudo, e por fim, quando tentamos nos banheiros, encontramos a Luh caída, numa das cabines que estava entreaberta. Ela parecia morta, entramos em pânico, óbvio. Ela estava com sangue nas mãos, e um potinho de calmante. Vazio. Com algumas pílulas caídas no chão.

-Luh! Luísa! – A Pandah gritou. Remmy entrou correndo, e fez ela cuspir as pílulas ingeridas. Demorou um pouco para que a garota abrisse os olhos.

-O... O quê? O que está acontecendo? – Ela perguntou ainda meio grogue.

-Luísa. – Começou a Mitty. – Luísa, por que tu tentou te matar?! – Mitty estava com uma expressão materna no rosto.

-Eu não... Eu não tentei me matar. – Ela disse.

-Então explica todos esses calmantes! – Gritei.

-Te acalma Natália! – Ela gritou.

-Não, Luísa. – Eu disse. – O que aconteceu contigo, e por que tu tá toda ensanguentada nas mãos?

-O quê?! Como assim!? Minhas... – Ela ergueu as mãos, cheias de sangue. – Haha... Nã-não pode ser... Eu não... Eu não lembro de nada...

-Pela quantidade de calmantes, tá explicado! – Sugeriu o Remmy.

-Agora vamos catar o Blake, o Jay e o Six. – A Pandah disse, tentando desviar o assunto. Quando estávamos saindo do banheiro, puxei a Mitty para mais atrás do grupo.

-A Luh tá... Meio estranha... Não acha Mitty? – Perguntei.

-É... E a Pandah também, quando a gente se encontrou naquela folia, ela tava com um ar meio psicopata, meio... Diferente. Eu fiquei com o Remmy o tempo todo, mas ele tava agindo naturalmente... – A garota do vestido azul concordou; - bom, vamos seguir à frente. – Dito isso, seguimos o grupo.

Em seguida, chegamos ao banheiro masculino. Jay estava lá, num dos cantos, tentando se esconder do assassino.

-Jay! – Gritei correndo em sua direção. – Tu tá bem? Jay! Olha pra mim! – Disse, e ele, voltou-se para mim, aterrorizado, com algumas manchas de sangue em seu terno, assim como todos os presentes.

-Tudo bem contigo? – Perguntei novamente.

-Nati... – Ele disse, aliviado. – Pessoal! – Ele disse olhando felizmente para o resto. – To bem sim, bem melhor agora. Eu acho que eu despistei o cara! Despistei o assassino! – Ele disse sorrindo, parecia que estava suado, de correr, e sua expressão era de que a adrenalina tomara conta dele.

-Ainda bem que tu tá ok! – Disse. – Eu tava tão preocupada!

-O que me interessa é que todos estejam bem! – Ele disse.

-Estamos todos bem, Jay! – Eu disse.

-Espera... – Ele analisou o grupo. – Falta o Six e o Blake! – Ele disse com os olhos cheios de pavor.

-Sim, nós vamos procurar eles agora! – Disse a Pandah tentando acalmá-lo.

-T-tudo bem... – Ele gaguejou. – Vamos.

Nos recompomos e saímos do banheiro e para a nossa sorte achamos logo de cara Blake.

-Pessoa-a-l! – Ele chegou meio nervoso perto de nós, suas roupas estavam completamente sujas de sangue.

-O que aconteceu com você, Blake? – Pandah perguntou assustada.

-Naquela folia das pessoas correndo e se esbarrando no salão eu acabei caindo em meio à alguns corpos, Pandah, desmaiei, e só fui acordar à uns 10 minutos atrás. Ainda estava um caos de gente correndo, e pelo visto ainda tem gente! – Ele explicou.

-Deus! – Exclamou a Mitty.

-E o Six?! – Perguntou Blake preocupadíssimo.

-Ainda não achamos ele, estávamos procurando por vocês. – Disse o Remmy.

-Então bora procurar ele! – Disse Blake por fim. Quando estávamos atravessando a área do salão do prédio de Lara indo ao saguão principal, com Jay na frente, vimos um cara correndo, em direção à pracinha do prédio. Ele se escondeu por entre uma das árvores.

-É o assassino! – Gritou Remmy, saindo em direção à ele.

-REMUS! PARA! VOLTA AQUI AGORA! – Gritou a Mitty, que logo em seguida não quis nem saber se o vestido era longo ou curto, levantou-o um pouco pra ter mobilidade nas pernas e saiu correndo atrás dele, com os outros garotos correndo também.

Eles chegaram até onde haviam visto o assassino pela última vez, e Remmy prensou-o contra uma árvore, arranhando seu rosto, e em seguida o assassino desferiu um soco na boca do estômago de Remus, que o empurrou para um gira-gira, e óbvio, girou o brinquedo, e logo o cara começou a gritar.

-Putamerdaahmeudeus! – Ele gritava.

-Six? – Perguntou Remmy, enquanto Sirius girava enlouquecidamente no gira-gira. É claro que ele tinha enjoos nesse brinquedo.

-FAZ ESSA MERDA PARAAAAAR! – Gritou Six, logo todos nos dirigimos ao brinquedo, e seguramos ele. Sirius de repente pulou dele, quase vomitando, e a Luh foi até ele para abraça-lo.

-Vocês tem problemas, certo? – Six perguntou se ajeitando.

-Na verdade... Eu pensei que tu fosse o assassino... – Disse Remmy.

-Pois é, mas eu não sou, seu abobado! – Retrucou Six.

-O que você estava fazendo aqui fora?- Perguntou Jay meio desconfiado.

-Hã... Quando começou toda a confusão eu já estava aqui fora, vim atender um telefonema e quando me dei conta já estava tudo acontecendo! – Nem pra ir procurar a gente né... aquele cachorro...

-E quando eu fui entrar pra procurar vocês, me impediram.

-Pelo menos estamos todos aqui... – Luh falou abraçada a Six ele retribuindo.

Olhei para a cena, olhei para gente: A festa elegante e animada se tornou num caos. Pandah estava de mãos dadas com Blake e sua meia calça toda rasgada, sua maquiagem borrada de chorar, talvez por medo ou sei lá.

Luh estava com um grande rasgo no joelho e o vestido mais rasgado ainda nas costas, o cabelo todo bagunçado e suas mãos ainda meio ensanguentadas, mas agora, além delas os seus braços também, por ter passado a mão neles.

 Six com o paletó ensanguentado pelo abraço da Luh e muito suado pela correria, e ainda meio enjoado. Remus abraçando Mitty pelos ombros, a camisa que usava por baixo estava suja e seu paletó ficou perdido na confusão.

Já Mitty... Seu vestido estava rasgado, antes longo, agora levemente encurtado, a barra dele com uma mistura de terra com sangue e seu cabelo solto agora. Blake completamente sujo de sangue, marcas de mãos estavam espelhadas por sua camisa antes branca e agora meio avermelhada, estava sem seu paletó, pois nesse momento o botava em volta de Bárbara tentando confortar a garota.

Jay com o seu traje completo ainda, o paletó preto sujo, encardido e cheio de sangue. Seu cabelo mais bagunçado do que o normal, ele me encarava. Eu podia ver em sua expressão facial o quanto estava preocupado comigo e provavelmente com todos aqui.

Por fim, eu. Meu vestido “glamuroso” né. Um vermelho mais escuro tomava conta da baia dele, toda a parte que eu arrastei no chão. Rasgado. Minha alça caída em meu ombro arranhado. Meu cabelo completamente bagunçado e solto, caído nas minhas costas.

Estávamos acabados. Primeiro o estupro da Luh, agora esse maldito assassino. O que mais vem agora?! E o pior, é que se pensar bem, só acontece conosco! Até parece que temos ligação ao...Não pode ser...Um de nós o assassino? Não! O que eu estou pensando? É a mesma coisa que eu acusar um de nós por traição! Somos amigos! Nunca, jamais alguém faria isso. Ou faria?

-E agora? – Blake me tirou dos meus pensamentos.

-Agora voltamos pra casa. – Mitty respondeu.

-Concordo, essa cena me da nojo. – Comentou Sirius.

-Acho que não, devemos falar com os policiais. Eles devem querer que... sei lá. Que depomos.  – Determinou Remus

-Talvez. Mas o que eu quero mesmo é ir pra casa agora. – Bárbara disse se aconchegando em Blake.

-Com licença... – Um policial se aproximou de nós. – Todos que estão envolvidos nessa festa deverão comparecer a delegacia para depor, mesmo que não tenham nada com crime. É uma questão de disciplina. Esperamos que compreendam. Ligaremos para marcar o horário, a dona da festa nos dará os contatos. – O policial finalizou e já estava se retirando quando Jay perguntou:

-A policia já tem alguma idéia de quem causou esse alvoroço?

-Não temos certeza de nada, a única coisa que sabemos é que o responsável é um dos convidados, por tanto, todos são suspeitos. Boa Noite. – E então saiu.

Todos somos suspeitos? Isso torna... Mais de 200 pessoas suspeitas, torna as meninas, Pandah, Luh e Mitty suspeitas. Torna os garotos, Blake, Jay, Remus, Sirius suspeitos. ME torna suspeita.

Pela primeira vez... Não confio em ninguém. Essa loucura me faz culpar meus amigos, as pessoas que eu confiaria minha vida! Todos suspeitos. E com esses pensamentos voltei para casa. Tomei meu banho e me deitei. Dormi. Pensando. Pensando. Quem é o assassino? Ou será assassina? Só lembro que ouvir a TV do vizinho ligada dizendo:

“Ele ataca novamente. Ele deixa todos desconfiados. Todos com medo. O assassino continua a solta deixando num festa 15 mortos e mais de 20 feridos. Esperamos que a policia faça algo urgente.”