Agora, bom, agora eu estou a caminho da casa de Ângela para uma festa. Ela me obrigou, disse que eu estava apagada, antes eu era caseira, mas pelo menos eu saía. A festa é na casa dos Cullens, os novos moradores de Forks.

Eu ouvi falar deles na escola, muito. Eles já se matricularam na FHS, mas só começam semana que vem. Ouvi falar que são cinco irmãos, filhos do novo doutor do Hospital Municipal de Forks e da decoradora mais procurada de Washington. E ouvi falar que são lindos, mas não posso confirmar, pois as meninas da minha escola sempre dizem que os alunos novos são lindos.

Estávamos no carro, na rua dos Cullens – que mais parecia uma floresta – e eu ainda tentava voltar para casa para estudar e ler.

– Ângela, por favor, eu não conheço ninguém! – eu resmunguei encostando a cabeça no banco.

– Você conhece a mim. – quando eu ia interrompê-la, ela continuou – e conhece a Jéssica, a Lauren, o Mike, o Ben... – ela falava enquanto contava nos dedos.

– Ok, vou te falar os motivos para que você veja que esse argumento não é válido. A Jéssica vai ficar atrás do Mike, a Lauren provavelmente vai ficar correndo atrás de um dos Cullens, o Mike não me vê como amiga e, qual é Âng, o Ben vai ficar com você. Eu vou ficar sozinha. Deixe-me ir embora.

– Não. E eu não vou te deixar sozinha. Vamos.

...

A festa estava caótica. Não havia lugar para passar, o cheiro de álcool forte com o cheiro de cigarro dava dor de cabeça, Ângela tentou não me deixar sozinha, mas Ben a arrastou para dançar. Mike finalmente desistira de tentar ficar comigo. Agora eu estava encostada na parede observando tudo com um copo de coca na mão. Não, eu não bebo.

– Vem, Bella! Vem dançar comigo. – era Mike.

Ele estava pulando feito doido com o ritmo da música.

– Já disse Mike, eu não danço. – repeti isso pela milésima vez.

Ele deu de ombros e voltou a dançar com um grupo de garotos e garotas.

– Isso foi apenas desculpa ou você não dança mesmo? – uma voz grossa e macia soprou no meu ouvido, me fazendo pular de susto.

Quando virei, me deparei com a visão de, sei lá, um Deus. Ele mais parecia um modelo, que nem deveria estar em um lugar como Forks. Tinha cabelos cor de bronze, olhos de um verde intenso que poderia ser visto de qualquer lugar, era alto e magro e musculoso ao mesmo tempo, de maneira inexplicável, inexplicavelmente incrível.

– Ah. Oi. – eu disse conseguindo sair do meu torpor pateticamente.

– Não vai responder? – ele arqueou uma sobrancelha perfeita e sorriu torto.

– Posso pelo menos saber quem é? – eu perguntei seca, conhecia o tipo dele.

– Edward Cullen, o mais novo dos irmãos Cullen. E você deve ser Bella Swan.

– Como você sabe?

– Ahn. Vamos lá. Cheguei às extremidades de Forks e a primeira coisa que ouvi foi garotos se lamuriando de como a garota mais desejada de Forks os rejeitava e ficava com a cara enfiada no livro por causa da morte dos pais. Eu tinha que conhecê-la – ele falou a ultima parte bem perto do meu ouvido.

Eu me afastei mais ofendida por acharem que estou assim por causa dos meus pais, mesmo que seja verdade.

– Não sou assim por causa dos meus pais. – abaixei meus olhos.

– Ei, não fique... – ele pareceu pensar – Você quer sair daqui?

Só depois dessa pergunta percebi que estava numa festa e que o casal ainda se pegava ao meu lado. Qualquer lugar era melhor do que ali.

– Ok. Vamos.

Ele me guiou pela festa, tentando achar uma brecha entre as pessoas para passar. E então estávamos em um jardim lindo. Era na frente da casa, tinham luminárias em alguns arbustos e aquelas luzes com as flores e plantas deixavam tudo em harmonia.

Ficamos ali, sentados em um dos bancos de cimento que tinha ali, observando as pessoas conversarem ou se agarrarem.

Aquele comentário dele ainda rondava a minha mente. As pessoas achavam que era fácil perder as duas pessoas mais importantes da sua vida e duas semanas depois estar bem. Mal sabem elas como dói...

– E então... – Edward me despertou de meus devaneios – Se você não é assim por causa de seus pais, por que é então? – Ele estava tentando ser educado, não querendo invadir meu espaço.

Não havia como responder, não havia como mentir. Era óbvio que eu era assim pela morte de meus pais, eu apenas lia e existia. Aquela era a verdade e todos sabiam.

Respirei fundo e falei:

– Eu sou assim pela morte dos meus pais...

– Então eles estavam certos...

– Não. Eles não entendem ninguém entende. As pessoas acham que perder as pessoas é fácil. Principalmente os pais... Imagine perder seus pais, como se sentiria?

Ele pareceu pensar um pouco e estremeceu.

– Horrível – ele respondeu simplesmente.

– Agora multiplique isso por mil. Não é nem metade do que sinto hoje. As pessoas acham que é só aceitar e seguir em frente. Mas não é. Não é porque aceitar não tira a dor do peito. Aceitar não tira a ausência deles toda vez que acordo e vejo que só restou a mim e a empregada em casa. Aceitar não é o suficiente quando a dor corrói o peito e nos tira o ar... – nesse ponto eu já havia percebido algumas lágrimas que escorriam pelo meu rosto – E o pior é ter que ligar com essa dor, com a perda e ainda ter gente me chamando de fraca, dizendo que só quero chamar atenção. E mesmo que eu diga “foda-se o que eles pensam”, eu me importo, pois é da minha dor que falam e é a minha dor que eles não entendem!

Algumas lágrimas ainda corriam por meu rosto. Nós dois ficamos em silêncio sem saber o que dizer. E então eu percebi que tinha acabado de desabafar com um cara que acabei de conhecer. Eu só podia estar louca.

– Ahn. – pigarreei – Desculpe. Não queria desabafar assim com você, foi errado, isso é uma festa e-.

– Não. Não me importo, na verdade é bom saber que você tem facilidade em se abrir comigo. Saiba que pode fazer isso sempre que precisar. Talvez saia uma amizade daqui, uh? – ele sorriu enquanto secava as minhas lágrimas com as pontas dos dedos.

– Obrigada. – sorri.

Ele sorriu e me olhou nos olhos, coisa que poucas pessoas faziam hoje em dia. Eu corei, obviamente, e abaixei a cabeça para esconder o rubor. Eu ouvi sua risada baixa.

– Você fica linda corada.

Eu olhei-o novamente e corei mais ainda para o divertimento dele. Ficamos assim por mais alguns minutos até que ouvimos uma exclamação estridente.

– Eddie! – Lauren...

Lauren era a garota mais “dada” da FHS. Não querendo ofendê-la, é claro. Mas era a verdade e não havia outras palavras para descrevê-la. Antigamente tínhamos uma amizade legal, mas Tyler deu para ficar atrás de mim e ela acabou me culpando por isso, pois na época ela tinha uma paixão escondida por ele. Agora o máximo entre nós é um “Oi” e “Tchau”.

Ele virou para a direção de onde vinha à voz com uma expressão tediosa.

– Ahn, Lauren, já pedi que não me chamasse assim. Odeio esse apelido.

Ela se aproximou com aquele vestido no qual eu me perguntava como ela andava de tão apertado que era.

– Er... Desculpe Eddie, é que você nem dançou comigo e-.

– E não vou dançar. – ele parecia pensar em algo, enquanto passava a mão pelo cabelo.

De repente ele olhou para mim como se uma lâmpada tivesse acendido na cabeça dele.

– Não vai dar, porque vou levar Bella até em casa, pois está tarde e não queremos que algo aconteça, não é mesmo? – ele me fitou como se pedisse socorro.

– Bom, ela veio com a Ângela, então ela que a leve – ele fez uma cara de quem tinha solucionado uma conta superdifícil, enquanto Edward continuava me olhando pedindo socorro.

– Na verdade – me pronunciei – Ângela está com Ben agora e, bom, você sabe. Eu não quero atrapalhar.

A expressão que Lauren fez não foi muito boa.

– Viu, vamos Bella, meu carro está na garagem. – Edward saiu me rebocando até uma garagem enorme, sem falar nada. Abriu a porta para mim e foi para o banco do motorista. Arrancou e logo estávamos indo pelas ruas escuras de Forks.