A viagem de volta a Los Angeles foi silenciosa. Os agentes do Texas cuidaram da limpeza do local, e os adolescentes que antes formavam a guarda na casa puderam enfim descansar. Deixando para trás uma família segura.

Leah dirigia um carro preto pelas rodovias e estradas em direção a sua cidade. Ao seu lado no banco do motorista, trocando de vez em quando com ela na direção, estava Megan. A morena tinha os olhos focados em um mapa, fingindo ver quais eram as rotas mais viáveis para chegar logo ao seu destino.

No entanto, aquilo era apenas uma distração, sua mente estava longe e não se encontrava dentro do carro. Ela sabia todo o caminho até a cidade, e não precisava de um mapa inútil lhe dizendo qual era o melhor caminho a seguir. Afinal os melhores atalhos não se encontravam em mapas. Megan já sabia da verdade sobre sua mãe, já que Sean havia lhe contado minutos após eles embarcarem. Sua mente estava longe dali, perdida em algum lugar que nem mesmo a morena sabia onde era. Palavras percorrendo sua cabeça, ondas de choque fazendo sua voz se tornar a cada minuto menos utilizável ou útil.

Nos bancos de trás, os dois garotos dividiam o espaço. Cada um postado ao lado de uma das janelas. Ryan tinha sua cabeça encostada no banco, os olhos fechados, apesar de o sono não lhe atingir, mesmo que ele lhe suplicasse infinitas vezes para que viesse. Sua cabeça doía, e os seus ferimentos ainda doíam um pouco devido aos curativos recentes. 

Já Sean... Esse talvez não tivesse muitas escolhas. Sua cabeça estava encostada no vidro do carro, os olhos perdidos na paisagem e no borrão de carros do lado de fora. Ele queria gritar, tão alto até que sua voz desaparecesse e que suas cordas vocais se rompessem devido ao imenso esforço. Queria pegar uma arma ir até a casa de seu pai e fazer com que ele pagasse de todas as formas cruéis com que matara os familiares das pessoas que ele mais amava na vida. Mas ele sabia que aquilo não era o certo.

Não, aquilo era sim o certo. Só não estava no tempo adequado ainda, ele precisaria esperar alguns dias, algumas poucas semanas fingindo que tudo estava bem. Recolhendo provas, ouvindo depoimentos, olhando de novo os obituários e enfrentando seu próprio passado. Apenas para descobrir os segredos que ainda aguardavam por ele e assim se vingar de uma vez só de tudo o que fizeram contra ele. De tudo o que aquele homem que ele pensou ser sua única família de sangue, fora Megan, fizera de ruim.

O moreno percebia agora o quanto havia sido cego, estava tudo na sua cara, bem na sua frente, roçando-lhe o nariz, puxando-lhe os cabelos e sussurrando em seu ouvido. Era como se tudo estivesse bem ali, sentado em seu ombro, pedindo para que desse atenção a um fato que ele se recusava a acreditar. Apenas porque assim era mais fácil de lidar.

Como ele não conseguiu ver aquilo tudo?

Foi então que todos perceberam a mudança de velocidade do carro, quando Leah entrou em um estacionamento e parou perto de uma bomba de gasolina.

- Será que um de vocês pode encher o tanque? – ela pediu sua voz seca e vazia. – Preciso beber alguma coisa e descansar.

Dizendo isso a garota abriu a porta e saiu do carro. Ryan seguiu seus movimentos, mas em vez de ir até o mercadinho do posto como a garota, ele foi até a bomba e colocou o numero de litros requerido para encher o tanque do automóvel.

A mente de Leah, talvez fosse à única que estava mais em ordem ali. Pelo menos naquele momento. Ela estava lidando com a tensão e o silêncio dentro do carro com uma distância considerável. Apenas pelo simples fato de que se concentrar na estrada deixava sua mente longe do mar de sufoco que estava prestes a atingi-la.

Seu passado sempre fora difícil, assim como os outros três jovens. Mesmo assim, ela tinha tentado superá-lo, e agora estando tão perto de aliviar seus ombros e sua consciência de um crime que ela com certeza não havia cometido... Ela deveria se sentir feliz com isso, não é? Deveria estar querendo ir logo atrás dos segredos que a deixavam tão curiosa.

No entanto, naquele momento ela só queria deitar em sua cama e se encolher como uma garotinha assustada, pedindo a qualquer divindade que a tirasse daquele sofrimentos. Ou quem sabe até sacrificando sua paz e controle, para ver seu garoto bem.

Leah apenas suspirou, entrando no mercadinho e indo para os fundos da loja, pegando um garrafa de suco e ouvindo o tilintar dos sinos da porta ao entrar de Megan.

A morena se aproximou da amiga, pegando algumas latas de energético e mais algumas garrafas de sucos.

- Melhor abastecer a todos não é? – a morena disse. Leah apenas concordou. – Você esta bem?

- Não sei como definir meu estado no momento. – a loira disse.

Megan concordou.

- Eu sei como é isso. Todos estamos passando pela mesma situação, e de certa forma isso é tranquilizador. Afinal não estamos sozinhos, e podemos recorrer uns aos outros sempre que precisarmos. – a morena disse.

- Tem razão, é melhor pensando assim. – a loira voltou dizer.

- Vou pedir para Ryan pegar o volante por algum tempo, você precisa descansar. – a morena disse, sua amiga concordou em silêncio outra vez.

Leah pegou as bebidas das mãos de Megan, e as colocou em uma cestinha empilhada perto dos refrigeradores no mercadinho. Ela passou por algumas das prateleiras e escolheu alguns sacos de salgadinhos e barras de proteína. Mesmo achando que nenhum deles teria estômago para comer em uma situação daquela, não custava nada pegar alguns itens de sobrevivência.

A garota passou no caixa e pagou a conta, saindo com algumas sacolas do lugar e voltando para o carro. Ela deixou as sacolas no banco da frente, onde Megan deveria estar e foi até Ryan que terminava de colocar a gasolina.

- Tudo bem para você dirigir? – Leah perguntou. – Posso continuar se quiser.

O ruivo a olhou com entendimento, achando estranha a preocupação repentina da garota.

- Não, você pode descansar. Talvez dirigir um pouco me acorde. – Ryan disse, a loira apenas concordou.

Ela deu a volta no carro, entrando no banco de trás ao lado de Sean. Ele mal havia se mexido, só tinha colocado a cabeça encostada no banco, seus olhos presos ao teto do carro, em perfeito estado de torpor.

 A morena saiu dos banheiros externos do posto e voltou calmamente ao carro, com o cabelo e a aparência um pouco mais em ordem do que minutos antes. Ela entrou em seu lugar no banco passageiro do carro, e esperou até que o ruivo estivesse em seu lugar para voltarem à estrada.

Leah tocou o joelho de Sean, já que suas mãos estavam escondidas em seu blusão de moletom, devido ao clima um pouco frio do lado de fora do veículo.

Os olhos do moreno encontraram os da garota. Os dele estavam tão frios e vazios, não transmitiam nada alem da escuridão de seus pensamentos encobertos por milhares de portas fechadas a sete chaves.

Já os da garota, refletiam sua preocupação com ele, a dor que ela tinha dentro de si e a paixão pelo garoto ao seu lado. Para ela, os olhos dele estavam tão claros, mostrando todo o medo e todo o pressentimento de que coisas ruins viriam pela frente.

Seus olhares foram cúmplices e intensos, eles precisavam um do outro e queriam um ao outro. O moreno se aproximou da garota, aceitando que aqueles braços envolvessem seu corpo e que o ombro dela lhe servisse como travesseiro.

Os dois estavam tão confortáveis um ao lado do outro, que por um momento não ligaram para mais nada além da companhia um do outro. Leah acariciava os cabelos do moreno, e ele relaxava com os olhos fechados e a cabeça finalmente em silêncio.

No banco da frente, um simples gesto transformara tudo em meros pensamentos antigos. Ryan segurava a mão de Megan, o que não atrapalhava em nada sua direção, mas mostrava a garota que ele estaria li por ela.