Aki No Ame (DESCONTINUADA) escrita por SilenceMaker


Capítulo 44
Two white pawns


Notas iniciais do capítulo

Três trilhões de desculpas!!! Eu ia colocar no sábado, mas a minha amiga veio dormir aqui em casa nesse dia e eu não pude XD
Aí ontem ela ficou o dia inteiro aqui também, então...
Enfim, espero não desapontá-los com esse capítulo estranho. Ele pode estar meio confuso, então... Desculpem-me pelos erros, eu reviso assim que der. Obrigada por ocuparem seu tempo com esse capítulo!!



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— Akita, eu acho que você não pode entrar nos lugares sem ter dinheiro.

— É? Por quê? Eu só queria um copo d’água.

— Julgando pelo que vi nos meus primeiros dias aqui, se o análgesico nas farmácias custa aquele absurdo, nem quero imagem quanto é uma garrafinha de água. Pode aguentar um pouco? Já voltamos para a casa de Jin.

Já havia se passado alguns dias desde que chegaram em Aqua. Kenichi, Akita, Oliver, Mikato, Jin e Suuji estavam na frente de um restaurante chique em uma avenida bem pavimentada, cheia de gente. Após uns minutos, o enfermeiro convenceu o mais novo a continuar andando. Hayato e Daichi haviam saído naquele dia e ido até uma praça cruzando duas avenidas, e pedindo para que os encontrassem lá. Os outros estiveram ocupados e não puderam ir junto, pedindo desculpas adiantadas — Aiko e Riki supostamente precisavam falar com alguém e chamaram Yuurei também.

Takeshi tinha tanta coisa acumulada para fazer, mas tanta, que teve que emprestar um escritório da casa de Jin para terminar tudo (“Vai ter mais dor de cabeça depois se adiar mais uma vez, Takeshi-sama. Sugiro que termine logo hoje senão vai ter problemas”, disse Ayumu meio autoritário, colocando um pouco de ordem no jovem visconde).

— Eu imagino quem é a pessoa que os três querem tanto conversar — comentou Suuji distraidamente.

Já Jin estava meio tenso.

— Vocês viram? — disse ele de repente.

— O quê? — perguntou Oliver.

— Na hora em que Daichi e Hayato estavam saindo, mais cedo, eu vi que Daichi estava muito preocupado com algo. E eu também sei, Akita — o pequeno estreitou os olhos cor de ouro —, que você está preocupado com essa mesma coisa. Claro, a diferença é que você quer esconder isso.

Akita não respondeu, desviando o olhar.

— Essa preocupação é o mesmo que o frio na espinha que estou sentindo? — indagou Kenichi.

— Você também? — perguntou Akita, curioso.

— Não estou sentindo nada — murmurou Jin, franzindo as sobrancelhas.

Quanto a Oliver e Suuji, eles nem prestavam mais atenção na conversa. O loiro se ocupava em achar a posição mais confortável para carregar algo comprido — um pouco mais que um metro — em algo igualmente comprido de couro, com uma faixa grossa para pendurar. O objeto tinha algo semelhante a um cabo preto de metal aparecendo um pouco. Suuji, por sua vez, brincava com um bastão dourado que se dobrava em três partes com apenas uma sacudidela, voltando ao normal da mesma maneira.

E Mikato… Bom, ele andava tão distante dos demais que nem parecia que os estava acompanhando. Akita resolveu perguntar.

— Por que está tão longe?

— Finja que não me conhece — resmungou o de olhos verde-água.

— Mas por quê?

Sem resposta.

Decidiram deixá-lo em paz, antes que levassem um soco.

— Onde fica a tal praça? — perguntou Kenichi.

— Estamos a uma quadra de distância — respondeu Jin.

Akita pensou em comentar sobre o incômodo maior ainda que sentia na boca do estômago a medida que avançavam, mas mudou de ideia para não incomodá-los. Parou de chofre na ponta da tão dita praça — linda, cheia de postes reluzentes (embora apagados), com bancos robustos de pedra e estas arrumadas geometricamente no chão, tudo com árvores e arbustos por tudo e com um chafariz enorme no meio — assim que viu dois indivíduos, de cabelos escarlates e outro de cabelos alvos. Algo nas expressões dos dois o deixava inquieto.

Além disso, sem contar eles mesmos, o lugar estava vazio. “Que estranho”, pensou o pequeno. “Ainda mais depois daquele monte de gente na rua."

— Não devia ter mais gente aqui? — Jin também observou, passando o olhar por um celular esquecido em um dos bancos e depois por um casaco vermelho também esquecido, além de outros objetos. Uma suspeita lhe passou pela cabeça. — Vocês evacuaram as pessoas?

Daichi assentiu.

— Por quê? — Mikato que perguntou dessa vez.

Hayato apenas encarou-os. Akita imediatamente entendeu, por algum motivo.

— Um… chamariz?

— Bingo — disse o albino. — Queremos atrair a pessoa que vem nos seguindo desde que entramos na cidade, mas sem ferir inocentes, senão o prefeito vai vir atrás de nós. E sério, é chato ter que ficar fugindo de policiais.

Já Daichi deu um sorrisinho de lado.

— Passei por isso muitas vezes já — disse, fazendo-se de descontraído, mas dava para ver a concentração em seu rosto. — Afinal, o modo como consigo informações é tecnicamente ilegal por essas cidades.

Kenichi, Akita, Oliver e Suuji fizeram expressões confusas. Porém todos os outros expressaram entendimento em seus rostos, que foi substituído por outras assim que um arrepio congelante subiu pelo sangue.

— Alguém do outro time chegou — sussurrou Hayato, abrindo um sorriso que beirava entre o doentio e o ansioso.

Akita, sendo a pessoa com maior sensibilidade entre todos, sentiu uma sensação simplesmente horrível apossando-se de si — que obviamente não vinha de Hayato. Era medo. Estava sendo oprimido pela presença que se aproximava, como se esta fosse feita apenas de intenção assassina.

Deu uma estremecida forte.

Não houve explosão para alertá-los. Akita ouviu um barulhinho bem baixinho, um “crec crec” contínuo. Estranhou o som, fechando os olhos para apurar os ouvidos. Quando percebeu de onde vinha, já era meio tarde. Um dos postes duplos de iluminação, alto, pesado, de repente começou a se inclinar para o lado cada vez mais. Estava caindo.

Hayato, Daichi, Jin e Oliver estavam bem na área Já estando acostumados com esse tipo de situação, o ruivo e o albino imediatamente saltaram para longe. Mas o loiro continuou parado, mirando chocado o pedaço de aço enorme caindo em sua direção. No último segundo, quando viu que o mesmo nada faria, Jin puxou-o pela gola da camisa, pulando para fora da área que seria atingida.

Todos os olhares de todos os onze se voltaram para lá, um pouco assustados. A primeira coisa que viram foi uma lâmina de prata reluzindo, com seus enfeites talhados no cabo parecendo meio turvos por causa da distância. Logo depois puderam ver quem segurava a arma — uma alabarda, mais especificamente. Um homem alto, os cabelos negros espetando para todos os lados, estava parado logo atrás da base do recém caído poste.

Seu rosto inteiro estava encoberto por faixas — até mesmo a boca —, deixando apenas os penetrantes olhos visíveis e ainda olhe lá. Suas roupas eram rasgadas, porém não velhas, e levava às costas outra alabarda, esta estilo japonesa.

Ele passou os olhos por cada um deles, que não se moveram, congelados. O primeiro a sair do “transe” foi, inesperadamente, Oliver. O loiro — assim que sentiu o tão famoso e desagradável arrepio por todo o corpo — estava distante do homem no momento, apoiou-se no banco de concreto à sua frente. Tirou do suporte de couro comprido um rifle negro, com cerca de um metro, o final do cano era fino e havia uma mira na arma.






No segundo dia em Aqua, por volta das cinco da manhã, a luz da sala estava acesa e a televisão ligada baixinho. Alguém estava sentado no sofá, trocando continuamente de canal, entediado. Outra pessoa desceu as escadas, as roupas um pouco amassadas. Aiko conseguiu ver, por cima do encosto do móvel, uma cabeleira loira despenteada. Aproximou-se.

— Acordado a essa hora? — perguntou o Tsugumi.

Oliver deixou o controle remoto de lado e se virou. Abriu um sorrisinho.

— Não consegui dormir — respondeu.

— Tem insônia?

— Algo do tipo. E você?

— É normal para mim acordar bem cedo.

O loiro lançou-lhe um olhar de “você é louco”, mas deixou o assunto quieto.

— Enfim, eu preciso conversar sobre algo sério com você — falou Aiko, indo até um armário ao canto.

— Diga.

— Lembra-se de quando quis testar sua mira, em uma floresta de Terrae?

— Claro.

— Então — do armário, pegou algo comprido de couro —, estou lhe dando um presente.

— Presente? — repetiu Oliver, desconfiado.

— Isso. — Tirou de dentro um rifle preto e longo. — Eu mesmo que fiz, baseado em alguns modelos que já existem. Claro, fiz adaptações minhas também. Não se preocupe, funciona perfeitamente.

Estendeu a arma de fogo para o menor, que segurou-a impressionado.

— É tão… leve — disse.

— Carregado ou descarregado, não terá mais que um quilo e meio, dependendo do tipo de munição. Ele se ajusta a todos os tipos de bala que o cano comporte.

— Que legal!

Os olhos castanhos brilharam.

— Eu ainda sei que um dos fracos de armas de fogo é o barulho que fazem quando atiram — continuou Aiko. — Por isso eu coloquei um silenciador também. O som vai ser completamente abafado, e mais: consegui arrumá-lo para que a distância efetiva dele chegue a mais ou menos 1500 metros.

Oliver ficou ainda mais impressionado.

— Mas para quê isso? — perguntou. — Quer dizer, um presente trabalhoso desses assim dificilmente vem à toa.

— É, você tem razão… Para ser bem direto, é pelos motivos que expliquei antes. Estamos todos correndo perigo e você não pode ficar indefeso, simples assim.

O menor levantou o rifle, sem tocar no gatilho para não disparar sem querer. Apoiou o cabo atrás do gatilho no ombro, encostando o olho na mira telescópica. Virou para a janela, onde dava-se para ver o jardim ainda escuro. Parecia noite.

— Dá para ver no escuro — comentou.

— Mira para dia e noite. Para mudar de lente é só virar aquela coisinha ali ao lado.

— Genial.

— E por último: vou lhe dar cartuchos de balas sempre que precisar, mas às vezes posso estar impossibilitado de fazer isso. Por isso, sugiro que encontre um comerciante confiável como plano B.






“Vamos ver como isso aqui funciona”, pensou Oliver. Mirou, em um segundo, e apertou o gatilho. Com um rifle comum, por causa da potência do disparo, um estrondo teria sido feito. E mais, o loiro teria sido jogado para trás. Isso não aconteceu. A bala não pôde ser vista nem mesmo por Hayato, mas…

Com um único movimento — até com folga de tempo —, o misterioso homem desviou a bala com a lâmina.

— Deixe-me fazer uma apresentação antes de tudo — disse ele, quase educadamente. — Meu nome é Hiroki, sou um dos peões.

Daichi arregalou os olhos. Alguém com um poder dessa magnetude é apenas um peão? Jura?!

Só aí que Akita notou o motivo pelo qual se sentiu tão amedrontado.

Do meio do nada, uma presença surgiu atrás de si. Aquela presença. A lâmina afiadíssima da alabarda descia na direção de seu pescoço.

Um tinido soou.

Akita foi empurrado para trás, sendo amparado por Kenichi antes de cair. Hayato havia dado um jeito quase milagroso de parar a grande arma com duas de suas facas, mas estava tendo problemas. Seus músculos tremiam por causa da força externa que recebiam. Notando que seria seria ruim se se mantivesse ali, ele desviou um pouco a direção da alabarda, apenas o suficiente para que pudesse sair do caminho e pular para longe.

“Isso não é nada bom”, pensou Hayato, tenso mesmo depois de ter recuado.



○ ○ ○



Não havia como saber o que realmente aconteceu ali, foi rápido demais, mas em menos de cinco minutos, todos eles foram inevitavelmente derrotados. Apenas Kenichi continuava intocado. Jin, após acidentalmente levar alguns golpes e ganhar ferimentos, conseguira afastar o enfermeiro — ele não podia se machucar, afinal, quem machucado consegue cuidar de outras pessoas? Ambos estavam escondidos atrás de um banheiro com paredes de tijolos juntamente com Akita. O pequeno fora levado até lá por Hayato, que o convencera a não sair de lá, usando poucas palavras. E mais, para aumentar o prejuízo, Akita havia deslocado o ombro quando desviara de um ataque.

E quanto ao albino e Daichi, os dois estavam caídos para o mesmo lado da praça, sangue escapando impiedosamente de seus corpos. Entre todos eles, eram os mais feridos — não, mentira; Mikato estava completamente acabado também.

Escondido atrás de um arbusto particularmente grande estavam Oliver e Mikato, o mais velho desacordado. O loiro prendia a respiração, o rifle seguro nas mãos cansadas, com um corte grande na testa e outro na perna. Apesar de não ser familiarizado com esse tipo de situação, sabia muito bem que o cheiro de sangue que os dois emitiam era como um rastreador, não importando a quantidade de som que fizessem. Estava temeroso.

Sem que Oliver notasse o que estava acontecendo, uma sombra surgiu do nada atrás dele. Quando sua cabeça estava prestes a ser rachada no meio, Suuji saiu de trás da árvore que se escondia. Sacudiu o bastão dourado, “desdobrando-o” e se colocando entre o loiro e Hiroki. Podia ter bastante força física, mas de nada adianta se não tiver real habilidade, nesse caso.

Tanto que, por isso, Hiroki tirou o bastão do caminho tão facilmente que podia ter sido meramente um tapa. Logo, um espaço entre as costelas de Suuji — um pouco distante dos pulmões — foi perfurado por uma lâmina que o atravessou como se fosse manteiga.

Paralisado pela dor horrível que lhe impedia até mesmo de gritar, o jogador de baseball só conseguiu cair para o lado, imóvel.

Jin acordava aos poucos, embora continuasse parado sobre a grama.

— Vocês são… tão fracos — disse Hiroki em alto e bom som, tendo plena consciência de que todos estavam conscientes.

Não tem como descrever as expressões de todos, mas todas — exceto de Kenichi, que se sentiu mal pela reação dos companheiros — tinham algo em comum: humilhação.

— Não se confundam, não vim para matá-los — Hiroki continuou, recolhendo a alabarda com toda a calma do mundo depois de retirar o sangue da lâmina. — Fui apenas ordenado para testá-los superficialmente.

Orbes safira se arregalaram de um choque indescritível quando as palavras chegaram aos ouvidos do albino. Talvez chegasse a ser… medo.

— Agora que cumpri meu objetivo, retornarei. — O homem com rosto enfaixado, antes de ir embora, disse duas palavras: — Duas semanas. — E sumiu.

Daichi manteu o olhar fixado no local onde Hiroki estivera antes, para então baixar a cabeça e escondê-la entre os braços. Tremia de raiva, talvez. Cada partezinha mínima de seu corpo doía muito. Mas… algo novo surgiu nos seus olhos cítricos marejados assim que eles puderam ser vistos. Parecia que ele queria se controlar para não fazer algo.

O ruivo sorriu, para surpresa de todos. Até mesmo um gesto banal como sorrir se destacava brutalmente naquela atmosfera pesada.

Ele riu alto, gargalhou mesmo, como se ridicularizasse suas feridas profundas na carne. Olhos se arregalaram.

Daichi continuou sem dizer uma palavra, parou de rir, mas a expressão mudou para uma que chegava a ser prazerosa, embora pontuada por dor.

— Nunca pensei… que eu ficaria assim fora de um quarto — sussurrou o ruivo, sem dar a mínima para os outros que ouviam tudo. — Problemático.

“Droga!”, pensou Hayato, amaldiçoando muito. “Justo agora?!”

Os olhos de Jin e Mikato se estreitaram quase ao mesmo tempo.

O albino se recompôs, respirando fundo. Endireitando-se o máximo que conseguiu, disse:

— É melhor sair daqui o mais rápido possível. Mesmo que alguns civis tenham prometido não voltar até o fim do dia, aposto que outros vão ser atraídos para cá por causa do barulho.

— O que você falou para convencê-los? — perguntou Akita admirado, porém meio desconfiado.

Hayato fitou-o por uns momentos com um ar vazio, até desviar o olhar e dizer numa voz de vago desinteresse:

— O que será que eu disse?

Akita amarrou a cara, mas não retrucou. Levantou-se e correu até o albino, fingindo esquecer-se do assunto anterior, para ajudá-lo a levantar. Mikato foi erguido por Jin e Suuji foi auxiliado por Kenichi.

— E quanto a Daichi? — quis saber Oliver, perguntando se conseguiria suportar o peso do ruivo.

Hayato soltou um suspiro pesado, meio derrotado.

— Agora que ele ficou assim, não já muito o que fazer — falou. O ruivo ainda sorria, como se deliciado com algo. — O psicológico dele pode estar meio abalado, mas ele ainda tem bom senso. Ele vai sair daqui por conta própria assim que se recompor. Não o toque, Oliver, senão não posso garantir o que vai lhe acontecer.

O loiro ia segurar o braço de Daichi para puxá-lo, mas ao ver o olhar sério que lhe era dirigido por Hayato, recuou. Juntou-se aos outros que saíam da praça. Antes de ir embora, Akita virou-se para o ruivo e gritou:

— Não se atrase para o jantar!

Como resposta, o sorriso de dentes brancos alargou.

Mikato olhou hesitante para o ruivo, mas deixou-o quieto.

Assim que eles haviam se afastado bastante, Daichi levou a mão ensanguentada aos lábios, passando a língua libidinosamente pelo líquido vermelho.

— Há quanto tempo Mikato deixou de ser meu cliente mesmo? — sussurrou em uma voz que divergia muito da sua travessa. — Não faz muito tempo… três meses, talvez?

Os rapazes chegaram na mansão de Jin, sobressaltando-se quando viram uma construçãozinha decorativa do jardim completamente destruída. E nas pequenas ruínas, havia sangue espirrado por muitos lugares. Akira quase paralisou de choque.

— AYUMU! TAKESHI! — gritou ele, correndo até duas sombras sentadas na base se um pilar semi-inteiro.

O servo Ayumu virou a cabeça para o pequeno, dando um sorrisinho meio esmaecido de boas-vindas. Tinha uns cortes no rosto, mas parecia mais cansado do que qualquer coisa. Ele afagava os cabelos loiro-alaranjados do jovem visconde deitado em seu colo, que não estava consciente. Takeshi tinha um ferimento bem grave no ombro e uma das pernas parecia arrebentada, embora nenhum dos dois sangrasse muito.

— Sentimos uma presença assustadora um tempinho atrás — contou Ayumu, em resposta aos olhares confusos dos outros. — Fomos lá para fora para ver quem era, então apareceu uma moça meio estranha, com uns treze anos, com olhos que mudavam de cor a cada segundo. Ela se apresentou como um peão do time branco, acho que se chamava… Akemi. Enfim, fomos meio massacrados. Ela não chegou a ficar três minutos aqui. Takeshi-sama geralmente cuida da luta corpo-a-corpo e eu fico mais longe, para acertá-la quando tiver oportunidade.

Ayumu não parecia muito feliz.

— Para não destruir nenhuma residência, voltamos para dentro e atraímos ela para o jardim, mas… — Ele olhou pesaroso para os machucados de seu patrão. — Como podem ver, não deu muito certo. Eu desci do telhado para tentar ajudar Takeshi-sama, mas também não consegui fazer muito. Ela disse que temos um prazo de duas semanas e foi embora. Aí eu pude fechar as feridas dele para que não sangrasse até a morte e depois disso Takeshi-sama perdeu a consciência.

Kenichi, que guiava Suuji, percebeu a expressão quase amedrontada do mesmo. Ficou preocupado.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou o enfermeiro.

Os olhos do jogador de baseball estavam arregalados e seu lábio inferior tremia um pouco.

— Akemi… você disse? — disse Suuji, quase num sussurro.

Ayumu, hesitante, assentiu.

— Eu não… acredito.

— O que foi? — Kenichi repetiu a pergunta, cada vez mais preocupado.

— Akemi… é a minha irmã mais nova… — Suuji não sabia como colocar as palavras, estava muito chocado. — Ela se matou quatro anos atrás! O QUE ELA ESTÁ FAZENDO AQUI?!

Akita prendeu a respiração, arregalando os olhos também. Oliver tentou manter-se calmo, mas algo martelava em seu cérebro, como se avisando-lhe: “essa furada toda vai custar-lhe a vida, idiota”.



○ ○ ○



Já de noite, quando todos já tinham se acomodado para jantar — inclusive Aiko e Riki (Yuurei estava do lado de fora, já que não necessitava de refeições) —, a porta da frente se abriu. Todos haviam dado um jeito de disfarçar bem mal o que Suuji havia dito mais cedo, mas ainda estavam meio perturbados. Akita, que levava um copo de vidro comprido até a mesa, correu em disparado ao ouvir o som da maçaneta virando. Seu rosto se iluminou de alegria ao ver o ruivo fechando a porta, seu ar descontraído de volta.

— Demorou, hein? — falou o pequeno, fingindo-se de zangado, mas claramente falhando.

— Dei uma passada no hospital e eles quiseram fazer uma transfusão de sangue, porque eu tinha perdido muito. — Revirou os olhos em aborrecimento. — Se eu precisasse tanto assim de sangue alheio, virava vampiro.

Akita riu.

— Não faça piada de algo sério assim — ralhou Kenichi, que acabara de entrar no cômodo. — Você realmente podia ter morrido de hemorragia! Não sei onde Hayato estava com a cabeça quando o deixou naquela praça. Aliás, como conseguiu sair de lá sozinho?

Daichi deu um sorriso.

— Acha mesmo que aquilo iria me matar? — Deu uma risadinha baixa. — Assim me ofende, não sou tão fraco.

Kenichi ficou meio chocado.

Fraco? Mas você… — Sentiu uma mão em seu ombro e parou de falar.

O enfermeiro levantou a cabeça para Jin, que lançava-lhe um olhar quase apologético.

— Nenhum de nós vai morrer de hemorragia com um hospital por perto — Jin disse. — Não me faça essa cara. Na verdade, não é como se fôssemos imortais, sabe? É apenas… conformidade com a situação. — Kenichi continuava com o olhar confuso. — Você vai entender logo.

Kenichi não entendia naquele momento, mas resolveu deixar para lá.

— Apressem-se — falou Hayato, colocando a cabeça para dentro da sala —, senão Suuji vai comer toda a comida. E eu não vou fazer mais, estou muito cansado.

— Aquele miserável! — Daichi exclamou, caminhando o mais rápido que podia para a sala de jantar.

Akita fez coro à risada de Hayato e ambos seguiram o ruivo pelo corredor, com Kenichi e Jin em seus calcanhares.



• • •



Fazia uns três dias desde que foram atacados por Hiroki e Akemi.

Todos estavam pensativos. Jin, por exemplo, embora fizesse suas tarefas normais, parecia absorto com outra coisa completamente diferente. Ayumu, que contara para o jovem visconde absolutamente tudo que acontecera enquanto ele estava inconsciente, dera uma folga para o patrão, tanto que Takeshi ficou na mesma posição o dia todo, pensando — sabe-se lá no quê.

Riki andava pelos corredores da mansão sem um destino certo em mente. Ouviu passos reconhecíveis se aproximando, mas não parou até ouvir seu nome ser chamado.

— Riki-san!

O Tsugumi abriu um sorriso e virou-se.

— Precisa de algo, Kenichi-kun?

O doce e gentil enfermeiro tinha um semblante sério, determinado. O outro esperou-o falar.

— Preciso de ajuda — disse Kenichi.

— Com o quê? — Riki fingiu-se de desentendido.

Kenichi respirou fundo.

— Diga-me como usar esse tal poder de cura que você mencionou outro dia.

— Por que não pede para Aiko? — perguntou Riki quase curioso. — Creio que ele saiba te ensinar melhor.

— Eu… não sei, sinceramente. Pareceu-me mais certo vir até você. Pode me ajudar?

“Então ele foi o primeiro a tomar uma decisão?”, pensou Riki. “Que… esperado.”

— Tem algum problema em ver sangue? — perguntou o Tsugumi, virando-se de volta e recomeçando a andar, um pouco mais lento.

— Não.

— Hum, isso é bom. O que está fazendo aí parado? Venha junto.

— Hã? Ah, tá.

Kenichi deu uma corridinha até o outro, agora receoso devido à súbita pergunta sobre sangue.



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Notas finais do capítulo

Putz, que capítulo ruim!!! x
Dúvidas? Críticas? Xingamentos? (mentira, eu excluo xingamentos) Por favor, coloque no review!!! :3
O pessoas antagonista tá começando a aparecer, né? heheh
Enfim, obrigada, MUITO obrigada por lerem!!! o/



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