Aki No Ame (DESCONTINUADA) escrita por SilenceMaker


Capítulo 31
Visconde


Notas iniciais do capítulo

Qualquer dúvida, leia as notas finais, sim?
Qualquer erro, desculpem-me, vou arrumar assim que der.



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— Não parece muito chocado — disse o visconde Khan, o tom de desprezo se arrastando pelas sílabas.

— Só pode estar brincando — falou Hayato, cruzando os braços e arqueando a sobrancelha. — Como se algo desse calibre fosse me deixar chocado. Até parece que não me conhece.

— E não conheço. Você nunca me mostrou seu potencial por completo e tampouco sei o que se passa em sua cabeça.

Os lábios do albino se abriram em um sorrisinho, junto com uma única palavra.

— Bingo.

A um piscar de olhos, Hayato já não estava mais ali. Daichi, surpreso, apenas arregalou os orbes cítricos. Porém, por sorte, o bom senso do ruivo o fez voltar ao normal rápido. Deu uma sacudida rápida na cabeça para reorganizar os pensamentos e se abaixou, levantando Akita no colo com todo o cuidado para não piorar os machucados.

— Vamos levá-lo para outro lugar — disse voltando-se para Aiko, chamando-o. — Não seria nada feliz se o deixássemos aqui no meio de tudo.

O outro assentiu, seguindo o companheiro ginásio afora.

Theo só não os parou porque estava ocupado travando uma batalha incessante com Hayato, que, aos poucos, afastava-o cada vez mais do lugar em que estavam antes.

— Sei que pode fazer mais! — dizia o visconde quase histérico. — Vamos! Dê tudo de si!

Antes de responder, Hayato lançou mais facas, desviando flechas e tentando ataques, foi para o lado e usou vários suportes do longo da parede para subir. Pousou em uma das barras do teto, grossas e de metal, que sustentavam-no.

— Não preciso — disse apenas, com um olhar dificílimo de se ver em sua face, sombrio e doentio, beirando ao maníaco. Mas isso não durou mais de um segundo, embora continuasse mirando o “velho amigo” de cima, como um ser superior.

Não que Theo tenha gostado da resposta, na verdade ficou furioso. Ouviu uma clara declaração de que o mercenário de catorze anos era melhor que si, que havia muitos anos a mais de experiência.

— Não consegue nem aceitar a verdade? — disse Hayato, agachando-se na barra e segurando-se na que estava na vertical ao seu lado. — Apenas engula o fato de que sou melhor e pronto.

— Não seja tão arrogante!

Realmente, Theo não sabia um pingo da personalidade de Hayato. Akita, Aiko e Daichi teriam percebido na hora que o albino estava tirando sarro do visconde. Provavelmente até Yuurei, já que parecia inteligente e tudo mais. De alguma forma, Hayato conseguiu não rir da expressão simplesmente zangada do mais velho, apenas deixou que as flechas batessem na barra de ferro, sem nem precisar se mover.

— Por favor… assim que pretende ganhar de mim? — zombou o albino. — Não consegue nem acertar de uma distância miserável, quem dirá vencer-me!

Perdendo o restinho de paciência que tinha, Theo pulou pelos mesmos lugares que Hayato e subiu até lá. Pegou uma flecha afiadíssima e a preparou para lançá-la com a besta. Quando foi mirar que percebeu que o mais novo não estava ali.

Perplexo, procurou em volta, por acaso voltando o olhar para baixo. No instante em que subira, Hayato pulara para o chão. Mostrou-lhe a língua, obviamente caçoando do visconde, para então sair correndo, da mesma forma que criança depois de fazer bagunça, para a quadra externa. O visconde Khan, raivoso, seguiu-o sem pensar.

Algum tempinho depois de passaram de uma quadra para outra, Daichi entrou de volta no ginásio.

— Nem me esperaram? — falou para si mesmo, suspirando. Seguindo o som de lâminas se chocando, correu para a outra extremidade do lugar.

Aiko estava em uma sala de aula deserta, a primeira que encontrou, com Akita em cima da mesa do professor. Um pouco do sangue do pequeno gotejava no tablado. Sem que percebessem, alguém se infiltrou no cômodo e foi para trás de uma carteira da primeira fila. Foi com um pouco de atraso que Aiko viu-se ser coberto por uma sombra desconhecida, sem tempo para reagir.

Fechou os olhos com força, esperando um ataque iminente. Se surpreendeu um pouco quando não sentiu nada e apenas ouviu uma exclamação de dor. Levantou o rosto para ver o que tinha acontecido, encontrando cabelos claros à sua frente.

— Ficarei de guarda — disse o outro, dando um passo à frente.

— Obrigado, Yuurei — agradeceu Aiko com um sorriso. — Preciso parar o sangramento dele, realmente é de grande ajuda que fique aí.

Yuurei apenas deu um aceno de cabeça como resposta, mas isso já era mais do que suficiente para Aiko. Voltou-se para o pequenino. Aos olhos de muitos pareceria um morto sem esperanças, mas não era verdade. Aiko segurou-lhe o pulso, sentindo um ínfimo bombeamento de sangue pelas veias. Fazendo uma linha suave com a mão para o lado, fez surgir uma espécie de névoa momentânea, cinzenta como seus orbes, que cobriu-lhe os dedos por um instante.

Do meio do nada, como se surgisse de ar solidificado, apareceu um frasquinho. Sim, um frasquinho com tampa de aço, colada ao vidro. Dentro havia um líquido incomum de tonalidade vermelha, igualzinho ao sangue de Akita.

Aiko abriu a boca do pequeno, abrindo o frasco e virando-o de leve ali, com cerca de quinze centímetros de distância. No meio do caminho, o líquido carmesim tornou-se repentinamente branco, como neve. Apenas um quarto do conteúdo tocou a língua de Akita, o resto foi mantido no frasco e retornado novamente com aquela mesma névoa.

— Isso deve bastar — disse, notando que os ferimentos já paravam de sangrar.

Para esclarecer algumas coisas, aquela era uma substância que incentivava enormemente as plaquetas a se multiplicarem por um certo tempo, diminuindo em muito o tempo de coagulação de feridas. Mas infelizmente fui proibido de contar-lhe o que é essa substância, então viva normalmente e saudável com o seu número comum de plaquetas no sangue, sim? Pode fazer mal para pessoas com estômagos frágeis.

— Está mais veloz, não é? — falou Aiko, respondendo a uma pergunta muda e implícita de Yuurei. — Aperfeiçoei no tempo que estive longe, acho que está mais útil. Lembra-se que antes levavam algumas horas?

O silêncio foi mantido pelo guarda-costas, que apenas fitou Aiko. Este sabia que era a melhor resposta que receberia, então não se importou.

— Devo dizer que me custou algumas cobaias, mas nada muito importante — continuou o mais baixo, sentando-se ao lado do companheiro. — Alguns detentos na prisão, só para “manter a integridade moral”, sabe como é…

— Você não gosta disso. — Não foi uma pergunta.

— É… foi problemático ter de procurar gente que realmente merecia estar na prisão. — Aiko terminou a frase com uma risadinha. — E agora, mudando um pouco de assunto, teremos de esperar até que Daichi venha.

Daichi e Hayato estavam sangrando, sangrando muito. E haviam perdido o visconde de vista.

Assim que o ruivo pisou no pátio externo, tudo aconteceu muito rápido. A porta fechou-se atrás de si, as luzes apagaram (seus olhos demoravam muito menos para se acostumarem com a escuridão, mas ainda assim demoravam) e… BUM!

Uma mina terrestre fora colocada no chão, sabe-se lá quando, e apitava baixinho, incessantemente e imperceptivelmente. Daichi e Hayato foram jogados para lados diferentes. E foi nesse momento que as luzes acenderam.

O visconde não estava ali, e sim um monte de gente encapuzada que nunca tinham visto antes.

Dejá vu — sussurrou Hayato, lembrando-se ligeiramente da vez em que ele e Akita foram encurralados em um parque ecológico.

            E foi daí em diante que, com os corpos já doloridos e feridos, tiveram que combater aquele mundaréu de gente sem morrer. Sim, é um grande desafio. Mas para quem já estava acostumado não era nada demais.

— Eles estão demorando… — comentou Aiko após esperar cerca de meia hora pelo retorno de Daichi. Desceu da carteira que estava sentado. — Vou ver se aconteceu alguma coisa, ok? Cuide de Akita por um tempinho, já volto.

Sem esperar a resposta que obviamente não viria, ele saiu da sala andando normalmente. A impressão era de que estava indo ao banheiro no meio da aula.

Calmamente, chegou ao ginásio, atravessou-o cantarolando e chegou até a quadra externa. Abriu a porta devagar, atrapalhando-se com a maçaneta e viu Hayato e Daichi com os joelhos quase cedendo à frente. Ambos ofegavam um pouco, tinham vários machucados por todo o corpo e suas roupas estavam manchadas em vermelho. Nem notaram quando a porta atrás se abriu.

— Nossa, vocês estão acabados — comentou Aiko casualmente. — Tem assim tanta gente?

— Se olhar um pouco para a frente vai ver! — exclamou Daichi, após quase dar um grito de susto pela repentina aparição do colega.

Aiko assim fez, deixando escapar um “uau” quando viu as paredes cheias de gente. Parecia que um exército completo tinha se reunido. Só não estavam atacando por causa da alta poeira que levantava do piso destruído, esperando-a baixar.

— Por que não acabam com isso logo? — perguntou.

— Como?! — disse Daichi, alto o suficiente para Aiko ouvir bem e baixo o bastante para os outros não escutarem.

— Ora, Hayato não pode transformá-lo em uma arma? — Aiko dizia com tanta clareza que explicitava o quanto pensava que os dois eram lentos. — Não é simplesmente fazer aquela transformação milagrosa de Selected Children e pronto?

O albino e o ruivo se olharam por uns instantes, realizando o quão óbvia era a solução.

— Ah — disseram ao mesmo tempo quando finalmente caiu a ficha.

— Fala sério… — disse Aiko. — Posso acabar com alguns daqui para encurtar o tempo, mas segurem a respiração antes de tudo. Seria triste se fossem afetados também.

Assim fizeram os dois.

Aiko fez o mesmo gesto de antes, puxando dessa vez uma flor. Esta tinha uma coloração estranha, um misto de arroxeado e verde. Foi como se uma de suas pétalas se transformasse em água após girada entre os dedos finos. A gota caiu misteriosamente em uma poeirinha que esvoaçava, mudando-a de cor para vermelho. Esta foi infectando todas as outras em uma velocidade impressionante. Em poucos segundos parecia que a quadra estava infestada de sangue em pó.

Tossidas agoniadas puderam ser ouvidas por tudo, repetindo-se e depois parando. Em pouco tempo o pó se dissipou, revelando inúmeros cadáveres jogados por aí como se fossem bonecar.

— Que idiotas — disse Daichi, permitindo-se respirar. — Acabaram inalando tudo.

— Então falta só o Theo! — falou Aiko alegremente.

— Não é ele ali? — perguntou Hayato, apontando uma cabeleira loira inconfundível vagando pelo estacionamento ao lado, visível através da grade.

Antes que pudessem dar um único passo, uma granada sem pino escorregou da mão do cadáver mais próximo, rolando até eles. Hayato teve mais um desagradável dejá vu.

Conseguiram escapar da explosão a tempo, sem querer indo um para cada lado. Theo com certeza ouviu a explosão, virando-se bruscamente para trás. Com mais um olhar de desprezo, pegou sua preciosa besta e, de alguma forma, encaixou cinco ou quatro flechas ali. Mirou-as um pouco e atirou.

Deu tempo de Aiko reagir, no momento em que Hayato e Daichi colocavam os pés no chão. Pegou uma placa de metal solta do chão e, por causa de sua fisionomia não muito forte, precisou fazer força para levantá-la e girá-la, arrebatando todas as flechas e fazendo-as fincarem ali. Jogou a placa para longe depois disso, sentindo o vergão em suas mãos.

Tudo foi muito rápido.

Daichi estava ao lado de Hayato, segurando o antebraço ensanguentado do albino e vice-versa. Foi igual ao que aconteceu com Akita, quando o corpo do pequenino se desfez em plumas. Mas não eram brancas. Eram negras da mesma forma que uma ônix. Elas se concentraram em dois pontos, agrupando-se e em um piscar de olhos estavam formadas.

Era um par de pistolas.

Uma delas era branca, com um leve tom metálico, e a outra parecia feita de matéria escura de tão negra. Ei, espere… Eram das mesmas cores que os brincos de Daichi! Isso! Eram iguaizinhas! A que estava na mão direita de Hayato era a alva, enquanto a outra era segura na esquerda. Eram levíssimas, embora parecessem pesadas.

Sem dar tempo nem para o visconde piscar, Hayato levantou as duas pistolas e, como se usasse-as sempre, puxou o gatilho. Primeiro a direita, depois a esquerda, com um espaço de tempo mínimo. Não que o fizesse de propósito, era reflexo para si puxar nessa ordem.

Das pontas das armas saíram não balas de chumbo, e sim umas que pareciam ser feitas de… um diamante reluzente. Elas passaram com perfeição pelo buraco longínquo da grade, indo em direção a alguns pontos fatalmente dolorosos.

— Era para ter acertado no peito — disse Hayato frustrado. — Perdi a prática com pistolas.

Aiko riu.

— VOCÊ NÃO ME MATOU! — gritou Theo alterado demais. — O QUE ESTÁ RECLAMANDO?! ACHA QUE TEM TEMPO PARA ISSO?! — Ele puxou de volta a besta com uma agilidade admirável, apontando-a para Hayato.

Antes que deixasse a flecha partir, uma outra muito mais longa, atirada por um arco de verdade, cruzou o ar e acertou certeiramente em seu peito. Uma nota de surpresa escapou de sua garganta antes de deixar a besta cair na grama e cair para trás junto com ela, como um boneco de ação derrotado.

Aiko, surpreso, debruçou-se na grade, procurando com o olhar outra pessoa na escuridão. Localizou, no alto de uma árvore, um garotinho de cabelos escuros e ondulados, com a franja presa no alto com um grampo e roupas de mangas grandes; segurava um arco de marfim de seu tamanho, talvez um pouco maior. Hayato seguiu Tsugumi, reconhecendo o garoto de imediato.

— Ayumu! — disse, dessa vez surpreso.

Sim, era ele.

Ayumu não lhe ouviu. Tinha uma expressão séria, divergindo da frágil que sempre tinha. Do pé da árvore de onde estava, saiu uma outra pessoa, de cabelos loiro-alaranjados até o pescoço. Era Takeshi, o sobrinho do visconde.

— Tio Theo — disse, aproximando-se do homem caído e olhando-o com desgosto —, pensei que tivesse um pouco de dignidade.

— Dignidade?! — repetiu o visconde incrédulo, como se fosse a coisa mais absurda do mundo, e dando uma gargalhada histérica. — Como se um mercenário tivesse dignidade! Como se traição por dinheiro fosse algo digno!

— Então achei que tivesse um mínimo de amor próprio. — Takeshi arrumou sua frase, tirando da bainha que tinha levada à cintura (na verdade eram duas, uma vermelha e uma cinza escuro,  pegou da vermelha) uma espada de esgrima, uma Espada para ser mais exato.

Como se fosse um lixo qualquer, ele deixou que a lâmina se fincasse bem na testa do tio, permitindo-o uma última respiração antes de virar um cadáver. Frio como gelo, Takeshi puxou de volta a lâmina, sacudindo-a para tirar o sangue da ponta e guardando-a de volta. Voltou-se para os três dentro da quadra.

— Então, vão ficar aí parados? — disse, o olhar entediado voltando ao seu rosto. — Faça o ruivo voltar ao normal e me ajudem a limpar essa bagunça. Precisamos pelo menos tirar os corpos daqui.


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Notas finais do capítulo

Ah, sei que deve ter ficado ruim, gomen T-T
Só para esclarecer, "Espada" é um tipo de espada de esgrima. Sugiro olharem nesse site (http://pt.wikipedia.org/wiki/Esgrima) para terem uma explicação, porque aí vão entender mais o motivo de terem duas espadas. A segunda de Takeshi vai aparecer depois.
Dúvidas, coloquem no review. Responderei tudo ^^



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