Come Back escrita por sankdeepinside


Capítulo 30
Destroya


Notas iniciais do capítulo

Olááá´, ai mano estou postando sem atrasar mais do que o normal, to até postando antes do domingo pq esse fds pretendo adquirir um livro q eu to namorando na vitrine há meses e provavelmente qd eu tiver ele em mãos eu vou degustar aquele livro quase tendo orgasmos e provavelmente atrasando as postagens (mas pode ser q isso n aconteça tb e eu acabe postando normalmente, vamos ver).
Vou dar esse capitulo de presente de aniversário atrasado pra
Núzia S que está completou 16 aninhos de vida dia 19 (Já pode doar sangue véi *u*)
N vou me prolongar demais, ah o titulo do cap é uma música do MCR, n sei se alguém aqui curte, mas como eu to ouvindo essa musica no repeat desde quarta feira acabei me inspirando com o cap.
Beijos pro meu pai, pra minha mãe, pra xuxa e pra desgraçada da Lalis q betou o capitulo.
Espero que gostem *cabo purpurina, n se iludam*
Qualquer comentario é bem vindo
Boa Leitura
Beeijos suas lindas



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- Samuel! Ah meu amor! – Max me puxou com uma força desnecessária pra um abraço apertado em que ele fungou muito no meu pescoço – que bom que você veio!

- Puta que pariu, virou o barril de cana na cara foi? – eu disse o afastando de mim.

Ele riu feito um retardado, mas sinceramente não acredito que realmente estivesse tão bêbado assim, talvez fosse mais uma brincadeira de suas brincadeiras. Allie tirou o dia para sair com o Sullivan e com Shannon, eu ia ficar mofando em casa um pouco paranoico imaginando em que partes daquela casa ele havia comido minha mulher, mas antes que eu tivesse tempo pra isso Max me ligou. Ao que parece, resolveu aproveitar que Johnny estava na cidade e dar um pequeno churrasco, mas daquele tipo de churrasco sem carne, apenas com bebida de todo tipo.

Cumprimentei os rapazes bem rapidamente, eu sabia que eles não ficariam mais confortáveis do que eu com aquela situação, afinal, o melhor amigo deles me odiava, e por mais que eles não tivessem nada contra mim, acabava existindo um clima desconfortável.

Não conseguia tirar por nenhum instante da minha cabeça que o idiota do Sullivan ia foder com tudo, ele sempre fodia, não seria ele se não fodesse, mas eu temia pela Shannon e fingia que não temia pela Alison, mas isso era o que eu dizia pra ela. Tinha muito medo de que eu perdesse aquilo tudo, mas isso era algo meio que inevitável, mas eu não queria que Allie e Shannon saíssem machucadas, James é um bêbado maluco e eu sentia meu corpo vibrar só de imaginar o que aconteceria se um dia ele usasse alguma coisa mais pesada e chegasse em casa do jeito que já chegou do Sugar Shack alguns anos atrás, talvez esse meu medo tenha me tornado um pouco agressivo e idiota, porque eu necessariamente estava agindo feito um idiota, mas apenas temia pela minha pequena e pela Allie também, por mais que eu estivesse tentando negar.

Peguei uma garrafa de cerveja e fui para sala, lá não precisava aguentar o olhar estranho de ninguém, já que estavam todos no jardim. Infelizmente meu sossego durou pouco.

- Samuel? – levantei os olhos e quase os revirei de impaciência, mas eu estaria sendo mal educado demais, até para mim mesmo.

- Oi Leana.

- Ah, nossa – ela sorriu e se sentou do meu lado, como se o fato de eu a ter reconhecido nos fizesse os melhores amigos do mundo – Você ta tão diferente! Está muito bonito. – abri um sorriso extremamente forçado, minha cara estampava que eu não estava pra conversar com ninguém, mas pelo visto ela realmente estava disposta a me forçar àquilo – É verdade que você se casou com a Alison?

Dei um gole na cerveja e exibi a aliança dourada no meu dedo com o mesmo sorriso forçado de antes.

- Parece que sim não é? – eu disse um pouco impaciente, não fazia a menor ideia de onde ela queria chegar, mas realmente não estava com saco de esperar qualquer outro interrogatório.

- Uau, ela tem tudo isso em casa e fica correndo atrás do namorado dos outros? Qual o problema dela? – Acho que isso foi uma tentativa de elogio, então por que eu só conseguia me imaginar enfiando a cabeça dela dentro da churrasqueira?

- O que você quer Leana?

- Eu só fiquei curiosa por que... Jimmy foi atrás dela, não sei se você sabe...

- É claro que eu sei.

- Mas então por que está aqui? Você gosta de ser chifrado? – ela falou um pouco incrédula, acho que esperava que eu desse uma de marido com ego ferido e armasse um barraco, mas aquela situação era complicada demais pra cabecinha limitada dela.

- Olha Leana, eu deixei de me importar com quem a Allie quer ficar, a única mulher que é minha prioridade no momento é outra, e ela mede menos de um metro de altura.

- E como ela é? – notei um pouco de timidez da parte dela, talvez ela não fosse tão desgraçada quanto Allie gostava de ressaltar.

- É linda, tem a cara da mãe, com o coração do idiota do pai – não consegui evitar o sorriso que brincou no meu rosto.

- Será que Allie me deixa ver ela?

- Claro que não, Allie não gosta de você.

- Mas o Jimmy deixaria, afinal ela é filha dele.

Franzi o cenho quase que imediatamente, “filha dele”. Até algumas semanas atrás ela era minha filha. Levantei-me e deixei Leana sozinha, eu estava impaciente demais, não precisava de ninguém no meu pé. Caminhei aleatoriamente pelos cômodos da casa do Max, até que meu telefone tocou, era ela.

- Oi Allie.

Só então notei que ela chorava e soluçava muito angustiada.

- Sam, vem pro hospital agora, a Shannon... – ela não conseguiu terminar a frase, estava chorando muito.

Assim que ela pronunciou a palavra hospital eu já peguei as chaves do carro e sai correndo.

- O QUE ELE FEZ COM ELA? – Eu berrei já imaginando infinitos pequenos deslizes que o Sullivan poderia ter cometido pra machucar minha pequena.

- Não – ela soluçou – Não foi culpa dele.

Lali

- Dança comigo Lali, meu deus como você é linda! – o anfitrião, já mais do que bêbado, me puxou como se eu fosse uma dama da corte para uma dança sem música, eu não consegui negar, primeiro que praticamente havia sido forçada e segundo por que ele era um rapaz extremamente maluco. De perto era bem bonito, nada extraordinário considerando que era um pouco narigudo, mas ele tinha olhos que pareciam duas estrelinhas, além da barba espessa do mesmo tom do cabelo, em castanho claro puxando um pouco pra um tom avelã.

Rodopiei algumas vezes até ele se desequilibrar e acabar tombando sozinho no chão, algo que rendeu um ataque histérico de risadas, estendi a mão para ele que por ser mais pesado e mais forte do que eu me fez cair por cima dele.

- Você é um desastre! – eu disse rindo

- Agora me conta uma novidade – ele sorriu para mim, parecia um nerd muito simpático, e assim que terminou a frase me abraçou e me deu um beijo no rosto – Ah como você é linda, deixa eu te amar.

Antes que eu fizesse qualquer coisa senti um puxão forte em meu braço que me deixou de pé quase que num piscar de olhos. Brian tinha a expressão dura.

- Se machucou? – ele disse sem tirar os olhos de Max, que agora se levantava.

- Não.

- Hum – ele grunhiu e se afastou de mim, fiquei com uma cara de perdida por não fazer a menor ideia do que estava acontecendo.

- Não é nada com você – Max disse baixinho enquanto tirava um pouco de areia da bermuda – Ah, eu sujei sua blusa, me desculpe.

Só então notei que havia uma mancha com formato de dedo lambuzado de alguma substância indecifrável na minha blusa, Max me indicou um banheiro perto da área de serviço e caminhei até lá, mas estava ocupado e então esperei um pouco. Dali de onde estava pude ouvir uma voz feminina, conversando em outra língua, eu conhecia muitas por ter trabalhado num bar que vivia cheio de turistas europeus, e quase tinha certeza que o que ela falava era russo, mas eu não compreendia quase nada, apenas pouquíssimas palavras e o nome de Max. Sem perceber já estava quase com o ouvido colado na porta tentando compreender algo quando uma mão no meu ombro quase me fez saltar de susto.

- Brian! Ai pelo amor de deus, quase me mata de susto!

- Ta fazendo o que aí? E por que está cochichando?

Suspirei e me afastei da porta o puxando pelo braço.

- Nada, o que você quer?

- Precisamos conversar.

A porta do banheiro se abriu e uma mulher baixa de cabelos curtos e negros, muito bonita e cheia de postura saiu, ao nos ver ali sorriu educadamente e depois foi se sentar ao lado de Max.

- Para de olhar pra bunda dela – Brian disse.

- Eu não... arg você é um idiota.

Entrei no banheiro e Syn veio atrás de mim, sem fechar a porta já que eu só estava tentando amenizar um pouco a mancha amarelada na minha blusa.

- Por que estava dando tanta trela pro Turner? Pensei que tivesse medo de homens! – notei um tom de irritação na voz dele.

- Ficou maluco Haner? Eu não tenho medo de homens, e não estava dando trela pra ninguém, foi só uma brincadeira. Me explique você o motivo dessa atitude idiota que você está tendo!

- Max é um traidor okay? Não fique achando que é cem por cento fofura da parte dele.

- Traidor? Isso tem algo a ver com o fato da Michelle não ter vindo?

Brian passou a mão pelos cabelos castanhos e soltou um longo suspiro.

- Tem.

- O que aconteceu Haner? – falei já sem tanto fervor.

- Eles foderam. – Brian abriu um sorriso triste.

- Ah – eu não sabia o que dizer, podia dar tapinhas nas costas dele e esboçar um sorriso falso, mas seria uma grande merda, não fazia a menor ideia de como se consolava cornos.

Acho que ele acabou percebendo meu embaraço e abriu um sorriso.

- Não precisa dizer nada, eu sou um corno mesmo. Mas confesso que realmente quero saber por que você tem medo de caras, ou melhor, por que tem medo de mim?

- Quem disse que eu tenho medo de você?

Eu nem consegui piscar, Brian empurrou meus quadris com força contra a porta do banheiro, fazendo com que ela fechasse com um estrondo e me imobilizou com seu corpo, o rosto dele estava tão próximo do meu que eu podia sentir as baforadas quentes de sua respiração se confundindo com as minhas próprias. Não pude evitar a expressão de espanto que se formou em meu rosto.

- Você está tremendo e nem sequer consegue olhar por mais de dois segundos nos meus olhos, o que tem de errado com você Whisper? Por que não tem medo do Max e tem medo de mim?

- Me solta Brian – ao invés de se afastar ele se aproximou ainda mais, colocando uma das coxas entre a minha – isso não tem graça nenhuma Haner.

- Então me responde Whisper, o que te faz correr de mim?

Senti minhas pernas enfraquecerem, eu estava literalmente tremendo.

- Se afasta de mim, por favor – eu disse já com a voz trêmula.

Brian me soltou e me fitou um pouco preocupado.

- Eu não sabia que te perturbava tanto, me desculpe.

- Sim você perturba – eu respirei fundo e o fitei, Brian não era exatamente um cara bonito, pelo menos eu não achava, ele era, sei lá, sexy, e isso acabava fazendo com que ele parecesse bonito. Mas caras como ele eram os mais perigosos, eram os que mais machucavam quando partiam.

- Desculpa – naquele pedido de desculpa a fisionomia dele mudou totalmente, era visível que estava esgotado e magoado. O olhando ali eu tinha certeza que ele não encostaria um dedo em mim – Não devia ter brincado desse jeito, eu gosto de você Lali, você uma ótima garota, eu não devia ter invadido seu espaço.

Dei um longo suspiro ao me dar por vencida.

- É você.

- Quê?

- O problema é com você, com o que você representa Brian. Eu sei o que você é, e sei o que caras como você gostam de fazer com mulheres como eu. Não é bonito, não é divertido, machuca, magoa, eu já passei por isso uma vez e... Não quero que aconteça outra vez.

- Mas nós somos amigos Lali, eu não...

- Deixa essa desculpa pra sua mulher, acha que eu não sei pra que me arrastou com você?

Ele abaixou a cabeça, envergonhado.

- Se sabia então por que aceitou?

- Por que eu precisava sair da droga do Canadá.

- Eu nunca faria nada contra a sua vontade Lali

Escorreguei-me na parede até o chão e massageei as têmporas, abrir a boca e contar tudo aquilo não era algo exatamente fácil pra mim, trazia tudo de volta à tona, me fazia lembrar tudo, da decepção do meu pai ao me encontrar, daquela dor, daquele frio, daquele vazio.

- Você me faria desejar o que quer que fosse Syn, e depois diria que a culpa de tornar as coisas mais difíceis era minha.

Brian sentou ao meu lado e me puxou para que eu me aconchegasse em seu peito.

- Por que acha que seria assim? Alguém já fez isso com você?

- Não é óbvio? – eu disse já sem conseguir conter as lágrimas, que droga. Eu odiava parecer frágil, odiava aquelas palavras de consolo vazias, odiava essa fraqueza que voltava a brincar no meu rosto.

- Eu nunca faria isso Lali, minha consciência não me permite brincar assim com as pessoas. Sei que é difícil de acreditar, ainda mais isso saindo da minha própria boca, mas eu não sou tão canalha quanto pareço.

Ri sem humor.

- Se você está dizendo.

- O que ele fez com você?

- Ele me matou, matou tudo que tinha dentro de mim. Ele me fez de idiota, e eu me odeio por isso.

Eu fui obrigada a me abrir com Brian, por algum motivo idiota ele me parecia sincero e achei que talvez pudesse confiar.

Quando você se apaixona por alguém e não recebe o mesmo amor de volta, machuca, mas quando o que você recebe de volta é o tratamento que eu recebi, você simplesmente surta se não for forte, e eu infelizmente não era forte. Não namorei muitos homens em toda a minha vida, aquele havia sido o último, ele havia debochado de mim, havia agido como se eu fosse um verme insignificante, e eu não soube lidar bem com aquilo, me deixei entrar em parafuso. Eu tinha marcas profundas em meu braço que me lembravam do quanto eu havia sido fraca. Não tinha o hábito de me cortar, eu nem sequer sabia qual era o lugar certo que você cortaria e morreria de uma vez, apenas em um dia de desespero e angústia corri até a cozinha e escorreguei a faca pela minha pele, eu queria morrer, era melhor que aquela depressão, era melhor do que me sentir uma inútil. Na primeira vez que Brian segurou meu braço quase achei que ele tivesse visto algo, mas pra minha sorte ele só estava querendo bancar o macho e não viu nada.

Faz cerca de quatro anos que só uso blusas que cobrem os cotovelos, o Canadá contribuía com isso, passei a sair com pessoas do mesmo sexo por simples medo de ser humilhada e diminuída como a mulher fraca que eu era. Namorar garotas também não era algo tão ruim, elas são mais gentis, doces, suaves, e se machucam da mesma forma que você. Era uma vida que eu conseguiria levar com tranquilidade, se eu não tivesse cansada de viver naquele lugar que só me trazia recordações ruins.

Brian queria me arrastar para a Califórnia, mas eu tinha quase certeza que ficaria ali em Wisconsin, havia gostado da cidade e não era tão fria assim. Claro que Brian ainda não sabia de nada disso, mas mesmo que ele soubesse, não podia me forçar a nada. Não deixei que visse as marcas, não contei tudo pra ele, não queria que ele mudasse comigo, apesar de que isso era algo um pouco inevitável já que ele sabia de um terço do meu problema.

- Hey vocês tão é se pegando é? Eu quero mijar porra.

- Já estamos saindo Zacky – Syn berrou e olhou pra mim em seguida – Está tudo bem?

Levantei-me e exibi um sorriso não tão sincero quanto parecia.

- Claro – saímos do banheiro e voltamos pra mesa, quando me sentei a mulher de cabelos curtos olhou rápido pra mim, ela sorria muito e parecia tentar se aproximar de Max a todo custo. Lembrei-me do que havia ouvido da conversa dela no banheiro. Eu não conseguia entender russo muito bem, mas o nome do Max e a palavra “matar” eu consegui distinguir perfeitamente.

Jimmy

- Parem com isso, vocês vão destruir meu carro! – Allie resmungou sorrindo enquanto eu tentava fazer Shannon pelo menos entender que baquetas não são para morder, o que era algo extremamente difícil já que eu estava no banco detrás e tinha quase dois metros.

Eu estava apaixonado por aquela criança, toda vez que ela falava “gigante” era como se meu cérebro inteiro esquecesse o universo e se concentrasse só naquela coisinha. Allie resolveu nos levar para o ancoradouro de um dos lagos, não era muito longe da casa dela, e como ela disse era um ponto muito frequentado da cidade. Como ela foi dirigindo eu aproveitei pra ir no banco de trás com Shannon, eu parecia meu pai babando em cima daquela menina, caramba, acho que quando contar  que tenho uma filha pra minha mãe ela vai ter um treco.

Realmente tinha adorado a água turva daqueles lagos, assim que chegamos Shay já parecia familiarizada com o lugar, notei que até alguns pescadores acenavam pra ela.

- Olha só parece que alguém é famosa por aqui – disse dando um leve toque no ombro da garotinha – Como que até os pescadores te conhecem?

- São amigos do tio Max.

- Ah quer dizer então que é pra cá que ele te traz em segredo? Bom saber – Allie disse se fazendo de zangada.

- Não conta pro tio Max que você sabe mamãe, não conta!

- Onde já se viu trazer uma menininha sozinha pra perto de um lago enorme.

- NÃO CONTA! – A menina começou a gritar e eu a peguei no colo de surpresa.

- Ela não vai contar nada, não é mesmo Allie? – eu disse com a menina em meu colo e nós dois olhamos para Allie fazendo cara de cachorrinho pidão. Alison revirou os olhos e jurou segredo. Depois Shannon viu um vendedor de algodão doce e quase rolou no chão para querer um.

Allie era um pouco rígida com besteiras, mas eu acreditava que se você quer uma coisa, independente do que seja, você pode ter. Lutei minha vida inteira com esse pensamento, claro que não poderia fazer isso o tempo todo, mas se a garota queria o algodão doce, e estava a beira de me estrangular por ele, então ela poderia ter. Eu pretendia fazer com que ela acreditasse nisso quando crescesse, ela poderia ser o que quisesse.

- Você quer aquele algodão doce?

- Quero!

- O que seria capaz de fazer pra ter um daqueles? – Allie me olhou sem compreender o que eu estava tentando fazer, fitei bem o rosto de Shannon, ela parecia pensar, como estava demorando a responder continuei colocando pilha – O quanto quer aquele algodão doce?

- Muito!

- Então me faça acreditar em por que eu deveria comprar um daqueles pra você.

- Jimmy para com isso, ela só tem três anos.

- Eu quero aquele algodão doce por que ele vai ficar muito mais feliz na minha barriga! – A menininha disse agitando as mãos como se fizesse a observação do século. Soltei uma risada meio descontrolada com a resposta dela.

- Temos que trabalhar mais nas suas motivações Shannon! – ela não pareceu entender o que eu queria dizer, então a coloquei no chão, saquei a carteira do bolso e dei uma nota de um dólar para ela, que correu e comprou um algodão doce maior do que a própria cabeça.

- Você é um idiota James – Allie sussurrou no meu ouvido – ela vai te dobrar a vida inteira sabia?

- Eu não me importo – dei um selinho rápido em Allie, que logo me afastou com alguns tapinhas no ombro. Ela tinha medo que Shannon nos visse e acabasse ficando confusa com a situação.

Subimos na ciclovia da ponte, não tinha muita gente, lá de cima dava pra ver boa parte da cidade, os prédios enormes e as avenidas largas. Não fomos muito adiante na ponte porque Allie não quis, vertigem ou medo, ela não quis dizer. De onde estávamos ainda era próximo da margem, mas ainda dali havia uma altura razoável, uns cinco metros talvez. A água era de um azul escuro forte, com pouco movimento, sem ondas.

- Tem baleias lá embaixo? – Shannon disse ficando na pontinha dos pés para olhar para a água turva.

- Só se o Zacky resolver nadar.

Allie sorriu da piada, mas Shannon não entendeu.

- Zacky é a sua baleia? – eu gargalhei alto.

- Não Shannon, ele é aquele meu amigo gordo que estava naquele dia do show comigo, lembra?

Os olhos da pequena nem sequer piscavam, ela olhava para água como se estivesse hipnotizada.

- É, lembro.

Acho que Allie também notou o estado da menina e me olhou um pouco confusa.

- Ahm, acho melhor voltarmos, está começando a ficar nublado, acho que vai chover. Anda Shay, vamos indo. – Allie se aproximou de Shannon para pegar em sua mão, mas o que se sucedeu levou apenas uma fração de segundos.

Shannon pendeu em direção a água e seu corpinho caiu, mas se eu não tivesse a plena consciência de que ela é apenas uma garotinha sem muita noção do perigo, afirmaria com toda certeza que ela havia se jogado.

Allie soltou um grito estridente e no segundo seguinte eu saltei na água. O choque foi doloroso, a altura era dolorosa até para mim, imagina para Shannon. Meu peito estava disparado pelo medo, a água era muito turva, tentei pular o mais próximo de onde ela caíra, mas ainda assim estava difícil. Meu peito ardia, meu ar estava acabando, eu estava começando a entrar em desespero quando senti algo batendo contra meu braço, apenas a agarrei e puxei para superfície.

Elevei o corpo o mais alto que consegui, sentindo o ar entrar queimando pelos meus pulmões, olhei para a menina no meu colo, ela estava quase desacordada. Usei toda a força que eu tinha e não tinha nos músculos do meu corpo e nadei o mais rápido que consegui até a margem, mas parecia que quanto mais eu nadava, mais longe ela ficava, minha força não parecia o suficiente, gritei de irritação e frustração o quanto pude, logo avistei uma equipe de bombeiros jogando uma boia, coloquei o tronco de Shannon quase todo encima dela e me segurei com uma das mãos sem parar de bater os pés.

Assim que ficou raso o suficiente a peguei no colo e saí correndo, dois bombeiros vieram ao meu alcance e a tiraram dos meus braços, colocaram-na no chão e logo iniciaram os procedimentos para socorrê-la. Meu peito ardia e minha respiração parecia não normalizar nunca. Merda, eu estava tendo um daqueles pequenos surtos, mas aquilo não importava, meus olhos já ardiam pelas lágrimas, Allie nem sequer olhava para mim, ela chorava desesperada tentando se aproximar da menina mas um bombeiro a segurava com força.

Prendi a respiração, já fazia quase um minuto que eles massageavam o peito da menina sem nenhuma resposta, um deles já fazia a respiração boca a boca pela terceira vez, e nesse instante Shannon tossiu e em seguida começou a chorar. Soltei o ar e deixei o choro escapar pela minha garganta também, mas aparentemente eu era o único aliviado.

- Levem-na logo para a ambulância, ela está tendo uma parada. – o bombeiro falou e eu achei que ia despencar no chão.

Eu estava desesperado, e agora meu próprio peito pulsava dolorido.

Allie

- Eu não quero porra de tranquilizante nenhum caralho! – Bati a mão com raiva no copinho com comprimido que a mulher me oferecia pela segunda vez, ela apenas saiu rápido da sala antes mesmo que eu tivesse consciência suficiente para pedir desculpas.

Shannon havia tido lesões internas por causa do choque com água e como se isso já não fosse grave o suficiente, ela teve a primeira parada cardíaca de sua vida, causada pela falta de oxigenação do afogamento e com toda a certeza catalisada pela cardiomegalia. Só a ideia de perder minha princesinha já me deixava alucinada o suficiente pra destruir um prédio inteiro. Havia gritado por todo aquele hospital.

Eu estava em choque, minhas mãos tremiam, minha respiração estava meio bloqueada desde que a vi despencando diante dos meus olhos naquela imensidão escura. Jimmy passou mal no meio do caminho também e eu não sabia se gritava, chorava ou acelerava o carro para chegar logo no hospital. Quando eu achei que tudo já estava fodido o suficiente Samuel entrou feito um furacão na sala.

O rosto dele estava vermelho, não tinha certeza se era por causa da corrida ou por pura raiva.

- Onde ela está?

Eu não dei ouvidos ao que ele disse, apenas me levantei e fui em sua direção para abraçá-lo, mas ele estava mais furioso do que eu imagina e me segurou pelos pulsos com força, seus olhos estavam inflamados de raiva.

- Onde ela está? – ele falou entre dentes segurando o máximo que podia para não chorar na minha frente.

- Na UTI.

Ele me soltou e levou as mãos aos cabelos escuros boquiaberto, uma lágrima já havia começado a escorrer pelo seu rosto.

- O que ele fez com ela?

- Nada, eu juro que ele não fez nad... – sem que eu notasse, Jimmy saiu meio trôpego da sala de emergência, parecia um pouco zonzo e ainda estava com roupas úmidas, com toda a certeza ele havia teimado e se levantado do repouso. O problema é que Samuel conseguia ser extremamente agressivo quando estava magoado e assim que ele viu Jimmy, me empurrou sem nem sequer deixar que eu terminasse de falar e partiu para cima de Jimmy.

- FILHO DA PUTA! EU SABIA! EU SABIA QUE IA MACHUCÁ-LA, VOCÊ DETRÓI TUDO O QUE TOCA – Samuel deu uma porção de socos fortes no rosto e no nos braços que Jimmy usava como escudo, acho que ele não estava consciente o suficiente pra revidar.

- Para com isso Sam, não foi culpa dele!

- Ficou maluco Sam? – Jimmy tentava se esquivar, sem muito sucesso, foi então que me lancei sobre Sam e acabei levando uma cotovelada no nariz.

- Oh meu deus Allie – ele voltou a consciência, até que enfim. Samuel fez menção de tocar em mim.

- NÃO TOQUE EM MIM, SENTA ALI – apontei pra uma cadeira vazia enquanto tentava conter o sangue que jorrava do meu nariz.

- Me descul...

- SENTA CARALHO! – ele se sentou e soltou o ar se dando por vencido – Agora olha pro Jimmy e pede desculpas.

- O quê? Eu não tenho três anos, okay Alison?

- Você chegou aqui feito um maluco desgovernado acusando ele de algo que você supôs que era verdade, você bateu nele Sam, ele ta cuspindo sangue! E ele pulou na porra do Lago de cima da ponte pra salvar a Shannon.

Os olhos negros dele se voltaram para Jimmy.

- Você fez isso? – Jimmy confirmou com a cabeça enquanto tocava o corte na boca com a ponta do dedo – M-me desculpe... Eu não sabia, obrigada.

Jimmy arqueou as sobrancelhas como se aquilo fosse a revelação do ano, Samuel era um ótimo cara, mas tinha sérios problemas com o próprio orgulho (e recentemente com a agressividade).

Com um pouco mais de calma expliquei o que acontecera para Samuel e ele pareceu acreditar, depois me virei para Jimmy.

- Que porra você está fazendo aqui desse jeito.

A respiração dele estava tão pesada que parecia um idoso cansado, os olhos azuis pesavam, parecia que iam fechar a qualquer instante, ele respirou fundo e grunhiu, antes de falar.

- Eu preciso estar aqui quando ela acordar.

Soltei um longo suspiro, eu estava tendo que me preocupar com três crianças sem perder a sanidade mental.

- A médica disse que é pouco provável que ela acorde hoje, e mesmo que acorde não poderemos vê-la hoje. Precisa voltar lá pra dentro e se cuidar Jimmy, você não está bem.

- Não, eu preciso vê-la.

- Jimmy não é hora pra teimar.

Ele se levantou e começou a caminhar pelo corredor, troquei um olhar rápido com Sam e ele fez sinal com a cabeça para que eu fosse atrás de Jimmy, corri e o alcancei, mas nem por isso ele parou, dobrou no corredor da UTI e parou diante do vidro, levou um instante para encontrarmos em qual quarto ela estava. Quando a vi eu quis chorar.

Era a menor paciente ali, estava mais pálida que o normal, dava pra notar que o cabelo preto ainda estava molhado, mas eu mal conseguia ver seu rosto. Havia uma porção de tubos respiratórios cobrindo seu rosto, ela havia lesionado o pulmão e por pouco a hemorragia causada pela queda foi contida, a parada cardíaca complicou muito para que ela acabasse naquele estado. Jimmy a encarava atônito, nem sequer piscava, depois de um longo instante eu quis puxá-lo para que ele retornasse para o quarto em que receberia os cuidados para o problema cardíaco dele, mas ele não moveu um músculo.

- Você disse que viajou no tempo Allie, isso é mesmo verdade?

- É sim, eu disse, sei que prece loucura, mas...

- Dá pra fazer isso mais de uma vez?

- Bom isso eu não sei, o Max é que deve saber. Mas por que esse interesse agora?

- Por que... – ele respirou pesado mais uma vez, acho que também engoliu muita água – Eu quero viajar no tempo também.


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Notas finais do capítulo

Me amem ♥