A Casa De Klaus escrita por Bellah102


Capítulo 49
Capítulo 48 - Espera


Notas iniciais do capítulo

Isso vai acalmar algumas. E incitar outras a me perseguirem com paus. Enquanto estoco comida e me escondo, por favor, aproveitem.



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Nessie

           

            -Não, eu lhe imploro.

            Disse Elijah colocando-se a frente de mim.

            -Quem quebra as regras merece morrer. É a regra. É a lei.

            Disse Klaus, solene e calmamente, encarando-me com seus olhos vermelhos. O que era aquilo? Raiva? Frustração? Engoli em seco. Eu sempre soube que esse dia chegaria, mas nunca esperei que fosse justamente depois que eu reencontrara Jake e a vida com ele inclusa estava entrando nos eixos. Minha reação foi congelar enquanto Elijah discutia com Klaus.

            -Ela não estava tentando fugir!

            Elijah me defendeu.

            -Eu penso o contrário.

            Disse Klaus, ainda calmo.

            -Você não pode fazer isso!

            Esbravejou Elijah. Ao nosso redor, os times surgiam como sombras das árvores, atraídos pelos gritos, vindo ver o que estava acontecendo conosco. Klaus estreitou os olhos para Elijah.

            -E porque eu faria o que você me pede?

            Elijah suspirou, parecendo determinado. Corri até ele, peguei sua mão e o fiz olhar para mim.

            -Não faça nada que vá te por em risco.

            Pedi, baixinho. Elijah suspirou, mas a determinação em seus olhos não diminuiu. Olhou para nossas mãos, soltou a mão da minha e virou-se para Klaus.

            -Me leve no lugar dela.

            -O QUÊ?! NÃO!

            Protestei, empurrando-o para trás e para longe de Klaus, mas ambos me ignoraram.

            -Isso não é comum.

            Elijah pareceu frustrado, mas não desistiu.

            -Pai. Como seu filho, eu lhe peço. Eu lhe imploro.

            Ele disse, com todas letras. O silêncio mortal. Dei um passo atrás, tonta, como se uma força estranha me empurrasse para trás, o derradeiro golpe. P-p-pai e filho? Até mesmo meus pensamentos gaguejaram. Não podia ser... Elijah? Filho de Klaus?! Todas as suas respostas diplomáticas, seus mistérios e traumas... Agora tudo aquilo fazia sentido. Porque Klaus odiava Elijah. Porque não suportava que Angela fosse mencionada. Ele a amava e Elijah a tirou dele.

            Senti-me enojada, enganada, iludida. Por Deus, aquele era Klaus, o homem que arruinara a minha vida e tantas outras! Nós havíamos lutado contra ele e seus tentáculos com todas as fibras do nosso ser. Aquela luta também era uma mentira?

            Klaus estreitou os olhos e observou atentamente o... Ugh... Filho.

            -Está bem. Por nosso parentesco, que assim seja.

            Ele virou-se para nós. Não sorria como parecia fazer sempre que uma execução se aproximava.

            -Renesmee Cullen. Elisabeth Forbes. Elena Gilbert. Meredith Sulez. Bonnie Bennet. Caroline Forbes. Jacob Black. Tyler Lockwood. Vocês estão convocados.  – Virou-se para Elijah, olhando em seus olhos, hipnotizando-o com seu poder de Original.  – Siga-me.

            Enquanto ele partia, com Elijah em seu encalço, Tyler tentou alcançá-los, mas foi em vão. Tudo o que Scott teve que fazer foi empurrá-lo contra uma árvore que ele começou a chorar, e, ainda mais irritado, começou a arremeter loucamente contra o vampiro até que não pudesse mais levantar do chão. Só uma pequena parte da minha mente ouvia os gritos de Caroline, que pareciam vir do fim de um túnel muito distante.  

            Paralisada, assisti à Elijah partir com o mesmo andar mecânico dos nossos professores. Não podia me mover. Não podia falar. Não podia sequer respirar. Qualquer movimento significaria ser jogada novamente nessa realidade, um mar agitado de mentiras e verdades confusas em um grande turbilhão que me afogariam com certeza. Só o desespero me esperava do lado de fora da minha falsa bolha de calma, eu bem sabia. Senti o calor do braço de Jake me envolver e me puxar para perto. Pisquei, voltando para o presente daquela realidade assustador.

            -Ei, você está bem?

            Ele perguntou, virando meu rosto para ele. Quando pisquei, as lágrimas vieram.

            -Eu... Eu não sei. Acho que vou vomitar.

            Disse, ainda sem me mover. Podia sentir meu estômago dar voltar vertiginosas. Empurrei-o para o lado e dobrei-me sobre mim mesma, colocando meu café da manhã para fora. Fiquei um tempo na mesma posição, tremendo. Ele me ajudou a levantar e limpou o canto da minha boca com o polegar.

            -Vem, vamos para a Casa.

            Fiz que sim, incapaz de tomar qualquer decisão.

            -Liz...

            Sussurrei, de repente, olhando ao redor, procurando a pequenina. Ela estava encolhida contra uma árvore, assistindo à luta de Scott e Tyler.

            -Liz!

            Chamei-a, a voz trêmula. Ela olhou para mim e correu na minha direção. Recebi-a com um abraço forte e lágrimas. Troquei um olhar com Bonnie e então com Elena. Meredith perguntou se eu estava bem sem som, gesticulando com a boca e eu fiz que não. É claro que não. Nada ia ficar bem. Elijah mentira para mim, desde o início, mentira o tempo todo. Não havia futuro. Não ali. Nunca houvera.

            -Ei.

            Disse Jake entrando no quarto, trazendo uma caneca fumegante. Lizzie chorava abraçada à mim. Eu não estava chorando. Não porque queria parecer forte, mas estava chocada demais para chorar. Aquela dor... Não parecia certo que eu chorasse lágrimas comuns por ela. Sofrê-la em silêncio parecia melhor. Parecia uma punição maior. Agora o pai de Lizzie nunca voltaria da guerra que fora lutar, e Elijah fora o único pai que ela jamais conhecera. E tudo porque eu quis pegar uma bola.

            -Ei.     

            Respondi com o olhar perdido, sem parar de acariciar os cabelos louros de Liz. Ele se sentou a nossa frente, estendendo a caneca. Alcancei-a, cheirando o conteúdo como reflexo. Camomila. Ótimo para os nervos. Tomei dois goles de uma vez, ansiosa por qualquer coisa que me acalmasse.

            -Ei Forbes.

            Ele disse, tocando as costas de Lizzie. Ela desviou os olhos vermelhos e inchados do meu colo para ele.

            -Ei, Jake.

            -Como você está?

            -Klaus vai matar o Elijah, Jake.

            Ele fez que sim.

            -Eu sei.

            -Ele matou Rose, e Jenna. E agora ele vai matar o Elijah...

            Falou, apertando minha cintura com os bracinhos fininhos.

            -Pessoas que amamos às vezes morrem. Temos que aceitar isso. É parte da vida.

            Jake disse calmamente, como um pai explicando para um filho porque seu gatinho de estimação fora atropelado.

            -Mas Elijah devia viver para sempre!

            Ela disse, respirando fundo e reprimindo um soluço. Levantou-se da cama de repente, calçando as botas e dando dois tapinhas na cabeça de Nova, assobiando para convidá-la a segui-la.

            -Aonde você vai?

            -Dar uma volta.

            Respondeu indo em direção à porta com a mão pousada sobre a cabeça de Nova, como se ela fosse um corrimão eterno, acariciando-a de forma desanimada e cabisbaixa. Riley pulou para cima da cama, deitando-se no canto dela, como que meu guardião. A porta se fechou e eu suspirei, tomando mais um gole de chá e deixando a caneca de lado na mesa de cabeceira. Aproximei-me de Jake, abraçando sua cintura e encostando a cabeça em seu peito.

            -Olhe, eu sei...

            Ele começou, passando os braços ao meu redor.

            -Sh... – Pedi, interrompendo-o. – Ainda não.

            -Por quê?

            -Quero curtir o silêncio antes da tempestade – Suspirei, concentrando-me no som rouco dentro do seu peito, batendo e batendo, uma vez após a outra, em um ritmo calmo e tranquilizante. – Gosto de ouvir seu coração batendo. Corações me acalmam.

            Ele sorriu, pousando o queixo sobre o topo da minha cabeça.

            -Ele é se até o seu último batimento.

            -Podemos, por favor, não falar sobre últimos batimentos? – Suspirei e respirei fundo. – Elijah esteve lá desde o começo. Ele se importa. Eu sei disso. Ele não é como o pai. Ainda assim... Porque ele mentiria para mim sobre isso?

            -Talvez você não tenha dado chance à ele.

            -Não precisava de chance alguma. Era só pegar um dos milhares de minutos do dia que estivemos juntos e dizer “Yo Nessie, meu pai é o psicopata que mantém você aqui, colega”.

            Disse, imitando seu sotaque e sentindo uma massa quente subindo-me até o peito depois disso. A vozinha na minha cabeça me perguntava como eu tinha coragem de tirar sarro do jeito que ele falava depois do que aconteceria em pouco tempo?

            -Yo? Não acho que esse seja o estilo de Elijah.

            Jake comentou, tentando fazer gracinha, mas não consegui nem ao menos lhe dar um sorriso. Aquela pergunta era o que me impedia de entrar em um verdadeiro luto pelo meu verdadeiro amigo.

            -A linguagem indifere. A questão é que ele podia ter me contado.

            Ele fez que não, suspirando.

            -Nessie, você está sempre dizendo o quanto odeia Klaus e tudo o que ele faz. E embora isso seja compreensível, o que você acha que ele pensou que aconteceria caso ele te contasse?

            Pensei um pouco sob a perspectiva de Elijah. Ele me amava e teve medo. Eu era a única pessoa além de Tyler que havia conseguido enxergar e penetrar sua armadura, e ainda assim, criara um ambiente insustentável para que ele pudesse ser quem ele realmente era. Por inteiro. Será que Tyler sabia? Pensei, mas isso não durou mais que um segundo. Ele teve medo que eu não o aceitasse completamente por causa de suas origens.

            -Ele tinha medo? De mim?

            -De te perder. Eu não posso culpá-lo. Eu tenho bastante experiência em manter segredos por medo.

            Olhei para o seu rosto, séria.

            -É diferente.

            -De que jeito? O cara adorava você e não queria que isso mudasse o jeito que você olhava para ele.

            Levei as mãos à cabeça, sentindo-a latejar de repente.

            -Dá para parar de falar nele no passado? – Puxei as pernas para perto de mim, me afastando dele. Soltei o ar – Eu sou um monstro.

            Constatei, baixinho.

            -Não, você não é. Você é humana... Pelo menos boa parte de você. E isso inclui duvidas sobre como você pode reagir. É imprevisível.

            -Isso é só outro jeito de dizer o que todos vem tentando me dizer a vida toda, Jake. – Balancei a cabeça, cobrindo o rosto e deixando-me desabar sobre o travesseiro. – Tudo vai ficar bem enquanto ninguém me disser a verdade.

            Choveu naquela noite. Acredite se quiser, mas o sacrifício foi adiado. Elijah foi confinado em algum lugar que não seu quarto até o dia seguinte. Mesmo com o som hipnótico da chuva batendo no telhado, era impossível pregar os olhos, tanto para mim quanto para Lizzie. No meio da noite, quando desistimos de tentar dormir, a luz tinha sido cortada, como Klaus fazia todas as noites depois do toque de recolher para desencorajar atividade noturna. Descemos as escadas de mármore de mãos dadas aterrorizadas, indo atrás de velas na cozinha.

            O cômodo estava lotado de velas acesas.

            -Ah ótimo. O que VOCÊ está fazendo aqui?

            Perguntou a voz de Elena. Katherine. Corrigi-me. Estava tão cansada que a ligeira diferença me escapou.

            -Só viemos atrás de uma vela.           

            Respondi, baixinho, sem vontade alguma de respondê-la.

            -Não dá para dormir.

            Explicou Lizzie, apertando minha mão.

            -Nós também não conseguimos.

            Disse Elena, encostando-se ao peito de Damon. Ele apertou o braço protetoramente ao redor dela.

            -Só de pensar que esse tempo todo tinha um filho de Klaus dormindo sobre o mesmo teto que nós... É estranho.

            Disse Meredith, balançando as pernas, sentada em cima de uma mesa, de mãos dadas com Miles. Levei Lizzie até a bancada, pegando duas velas do pacote de cem e dois pires do armário. A sala permaneceu em completo silêncio, nos observando. Julgando-nos. É claro que julgavam. Haviam feito isso com Elijah sem ao menos saber seu segredo e tudo o que ele tinha para esconder. Porque não fariam agora? Elena me ofereceu a vela para que eu acendesse as nossas e eu agradeci com um aceno de cabeça. Enquanto eu grudava as velas aos pires, Katherine resolveu atacar, surgida do nada.

            -Você deve se sentir a mais traída de todas, não é? Quer dizer, o cara estava grudado em você o tempo todo. A menos, é claro, que você soubesse.

            -É claro que não sabia!

            Defendi-me entregando com cuidado a vela de Lizzie a ela. Mas é claro que Katherine não desistiria tão fácil.

            -Ele bateu em você? Te ameaçou? Disse que não contasse a ninguém ou ia machucar o filhote de sol? – Ela lançou um olhar de desprezo à Lizzie antes de continuar – Como ele era na cama? Era agressivo? Ele falava como o pai? Tentou te matar alguma vez?

            -ELE NÃO É ASSIM! – Gritei, empurrando-a para trás. – Ele é bom e gentil, de um modo que metade de vocês jamais será! E não me importa que ele seja filho de Klaus ou do próprio demônio na terra, ele é um dos melhores amigos que eu já tive na vida, e amanhã ele vai morrer no meu lugar! – Soltei o ar, frustrada com todos os olhares perplexos ao meu redor – E eu realmente não preciso das suas críticas agora, sua vadia.

            Eu disse, voltando-me para a bancada e tremendo enquanto pegava minha vela. O silêncio flutuou pela sala como uma folha caindo lentamente. Lizzie pegou minha mão e eu sorri de lado para ela.

            -Ter um pai mau não é uma sina – Disse Nahuel em algum lugar nas sombras. Tive dificuldade de enxergá-lo, mas lá estava ele, com as pernas cruzadas sobre a mesa, os olhos escuros brilhando sob a luz das velas – Eu sei como é isso. Se você diz que ele não é assim... Ele não é.

            Agradeci-o com o olhar. Mas o silêncio dos outros continuou.

            -Ele mexeu com a cabeça dela – Disse Isobel, sentada de braços cruzados sobre uma mesa – Eu ainda acho que ele era um espião.

            -Eu concordo.           

            Disse Katherine, sua linguagem de corpo me provocando. Abaixe a vela um pouco mais e queime a roupa maldita.

            -Eu achei que vocês duas, acima de qualquer um, tivessem aprendido com Greta e Vicki, a guardar suas opiniões para vocês mesmas, porque ninguém quer ouvi-las. E se me dão licença, eu vou para o meu quarto, chorar a perda do meu melhor amigo, que vocês estão difamando sem ao menos conhecer.

           

            -Nós devíamos fazer um jogo.          

            Disse Lizzie, penteando tristemente sua boneca. Baixei a tela do laptop onde escrevia meu diário na forma de Jazmyn, algo que eu não fazia há muito tempo. Qualquer coisa que me tire da realidade. Qualquer coisa.

            -Que tipo de jogo, querida?

            Ela deu de ombros.

            -Algum alegre.

            Suspirei e fechei o computador, balançando a cabeça e deixando-o de lado.

            -Não tenho ânimo para isso.

            -Eu também não.

            Ela disse, baixando o olhar. Duas batidinhas soaram na porta.

            -Está aberta.

            A porta se abriu devagar e o rosto de Meredith espreitou pela pequena fresta aberta na porta.

            -Hei... Podemos entrar?

            Dei de ombros e fiz que sim. Nova levantou a cabeça e Riley rosnou para a porta, sentando-se na cama. Acariciei-o para que se acalmasse, e Nova logo voltou a deitar quando reconheceu a presença. Meredith entrou no quarto seguida de Elena e Bonnie, cada uma carregando a sua vela.

            -Você está bem?

            Perguntou Bonnie. Fiz que não, mas não disse nada mais.

            -Katherine não o conhece. Tenho certeza que ela está muito arrependida.

            Elena explicou-se. Como se fosse culpa dela que ela tivesse aquela coisa como parte da família.

            -Está tudo bem. Eu sei que ela nunca gostou de mim e nem de Elijah. E ela não vai perder a chance de me atormentar por não ter percebido.

            -Não é assim... – Disse Meredith, mas então pensou melhor – Na verdade, Katherine não gosta de ninguém.

            Sorri levemente e puxei a pele de Riley para que ele desse um sorriso. Ele balançou a cabeça e deitou-se, ofendido.

            -Agora a boa notícia – Disse Bonnie. Levantei os olhos para ouvi-la. Boas notícias eram sempre bem vindas. – Posso contatá-lo. Para que ele fale com você.

            -Por quanto tempo?

            Perguntei imediatamente. Não era do meu feitio questionar Bonnie e mesmo que fosse, eu não o faria. Cada segundo que se passava, era um segundo a menos de Elijah no mundo.

            -Por quanto tempo?

            -Pouco.

            -Serve.

            Eu disse, fazendo que sim, o coração acelerando de expectativa.

            -Preciso de alguma coisa dele. Um retrato, uma roupa, qualquer coisa...

            Assenti, suspirando. Era o que eu temia.

            -Vamos para o quarto dele.

           

            Lizzie estava abraçada a um dos travesseiros de Elijah. Ela o cheirou e disse que cheirava como seu cabelo. Alecrim e papel antigo. Eu pensei, com um sorriso de lado. Era como ele cheirava. Eu e Bonnie sentamos uma de frente para a outra com um retrato antigo de Elijah entre nós. Meredith e Elena estavam sentadas sobre a cama, com Lizzie entre elas.

            -Me dê sua mão.        

            Bonnie pediu. Entreguei a ela.

            -Pode doer.    

            Ela disse, tirando um punhal do bolso.

            -Você carrega uma faca por aí?

            Ela deu de ombros.

            -É coisa de bruxa. Pode perguntar para Luka.

            Ela disse, tirando a faca da bainha. Ela aproximou a lâmina da minha mão e fechei os olhos. Senti o toque gelado do metal e gemi quando ela furou minha pele. Mas não foi muito ruim. A faca estava bem afiada, e Bonnie não precisava de muito. Murmurando, Bonnie fechou minha mão, fazendo o sangue pingar lentamente sobre o vidro do porta-retrato. Bonnie murmurou sua língua antiga e complicada de olhos fechados, concentrada. E então, uma imagem começou a se formar a minha frente, como se criada por um projetor. Elijah piscava, confuso e sonolento.

            -Elijah?

            Chamei, cheia de expectativa.

            -Nessie? Mas o que...

            -É uma projeção. Bonnie está criando para mim. O tempo é curto. Onde é que você está?

            Ele olhou em volta e tossiu.

            -Eu não sei. É escuro... E úmido. E acho que aquilo lá no canto é um rato muito grande ou um cachorro muito pequeno.

            -Você está bem?

            Perguntei, frustrada por não poder ir atrás dele. Ele deu de ombros.

            -Parece que Klaus esqueceu que sou alérgico à poeira.

            Disse, sorrindo. Seu pai, quis corrigi-lo. Klaus é seu pai. Meu coração apertou-se e um nó se formou na minha garganta.

            -Vocês podem sair um pouco?

            Pedi às garotas ao meu redor.

            -Eu vou ficar.

            Ditou Lizzie, levantando da cama e sentando-se ao meu lado, ainda abraçada ao travesseiro enquanto Elena e Meredith deixavam o quarto silenciosamente.

            -Hei Flor-de-Liz.

            -Ninguém vai machucar você, Elijah. Eu e Nova e Riley vamos formar um exército e não vamos deixar ninguém te machucar.

            Ela disse, parecendo tão determinada quanto uma criança daquela idade podia ficar. O que era muito. Ele sorriu de leve para ela.

            -Não há nada que vocês possam vocês, embora eu não duvide da sua coragem. É a lei de Klaus, e eu não quero que ele te machuque também.

            -Mas é tão injusto! Porque você?

            -Antes eu do que a sua mãe.

            Ele disse, sério e obstinado. Liz olhou para mim por um curto tempo e fez que sim, concordando com ele, conformada. Porque todas essas pessoas insistem em fazer da minha proteção o ponto alto de suas vidas?

            -Tem razão. Mas eu ainda quero você de volta. Eu te amo, Elijah.

            -E eu amo você, Liz. Mas não há nada que eu possa fazer. É um caminho sem volta.

            Pousei a mão em seu ombro.

            -Por favor, Lizzie. Preciso conversar com ele.

            Pedi. Ela não desviou os olhinhos um segundo sequer da projeção que flutuava a nossa frente. Seria a última vez que ela veria Elijah antes que ele fosse torturado até a morte na nossa frente.

            -Adeus, papai.           

            Despediu-se, chamando-o assim pela primeira e pela última vez. Elijah sorriu tristemente. Ele parecia prestes a chorar.

            -Adeus, Flor-de-Liz.

            Lizzie, abraçada ao travesseiro, saiu do quarto, quieta como um túmulo. Levantei os olhos para Elijah. Ele me olhava tristemente.

            -Porque você fez isso?

            Minha maior dúvida era esta, apesar de saber da verdade.

            -Porque eu te amo.    

            -Eu posso pagar pelos meus próprios erros.

            -Eu joguei a bola.      

            -E eu a peguei.

            -Mas você não merecia morrer.

            -E você merece, Elijah?!

            Ele ficou calado, encarando as próprias mãos. Mesmo depois de todos aqueles anos levantando-o do chão, ele jamais mudaria a ideia de que não era bom o bastante para o mundo. Você está errado, Elijah, tão errado. O mundo é que não é bom demais para você.

            -É tarde demais para mim, Nessie. Eu já tomei minha decisão. Klaus venceu dessa vez.

            -Não! Ele não pode...

            Ele levantou os olhos azuis intensos para mim.

            -Prometa que vai continuar.

            -O que?!

            -Prometa que não vai desistir de vencer meu pai.

            Respirei fundo e balancei a cabeça, desviando o olhar.

            -Eu não acho que consigo sem você.

            -Você tem Jake.

            -Nós não o conhecemos como você conhece.

            -Só não mencione Rebekka ou Angela. Vai ficar bem. Sempre ficou antes.

            Mordi o lábio, vendo que estava perdendo a discussão. Suspirei e olhei para minhas mãos, ansiosa para que algo aparecesse de repente nelas, algo que eu pudesse lhe dar ou lhe mostrar e que o fizesse desistir daquela sandice desatada. Mas ela continuaram vazias.

            -Eu só quero que você saiba que eu não me importo. Se... Você é filho dele. Você vai continuar sendo meu melhor amigo, e eu vou te amar para sempre do mesmo jeito.

            Ele sorriu, emocionado, desviando os olhos da projeção, desconfortável. Não queria que eu o visse chorando... Aquilo era tão típico, tão... Elijah. Ele respirou fundo e me encarou, os olhos azuis brilhando com as lágrimas.

            -Você não imagina como é bom ouvir isso.

            Ele disse, assentindo.

            -Vou sentir sua falta, meu pequeno Mikaelson.

            -Eu também, colega. Eu também.

            A imagem começou a tremular. Meu coração deu um salto, desesperado. O tempo estava acabando. Mas tão rápido? Eu não disse a metade do que queria dizer. Mas não havia mais palavras a serem ditas. Preferimos utilizar nossos últimos segundos de intimidade para nos olharmos uma última vez.

            -Lembra de mim dessa jeito, não importa o que Klaus faça comigo.

            Pediu, a voz transformada em um sussurro confuso e trêmulo que tentava atravessar um corredor. Fiz que sim.

            -Vou lembrar. Eu te amo.

            -Eu te amo, colega.

            Então as velas inflamaram suas chamas como se tivessem sido bafejadas com álcool, e a projeção diminuiu, tremulou e sumiu. Bonnie, à minha frente, abriu os olhos e soltou minha mão.

            -Bon – Chamei, fungando. – Seu nariz está sangrando.

            Avisei. Ela fez que sim, mas não realizou nenhum movimento para limpá-lo. ´

            -É normal, acontece o tempo todo. Você está bem?

            Assenti.

            -É. Acho que vou ficar. 


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Notas finais do capítulo

Sou malvada? Sim? Claro? Devia parar de escrever fics? Eu sei. Tudo bem. Tchau para vocês.