Viram o pequeno grupo sair pela porta. Se entreolharam durante alguns minutos.

- Você está com fome? – Kanon perguntou, olhando Calipso, que balançou positivamente a cabeça, timidamente. – Eu vou ver o que fazer. – Disse se dirigindo para cozinha.

- Eu reclamo só para implicar com ele – Saga disse chamando a atenção da Ninfa que sorria – Mas ele cozinha bem.

Calipso não dizia nada, olhava para Saga intensamente, percebendo que alguma coisa o incomodava.

Saga olhou para o chão hesitando falar algo, até que deu um longo suspiro e, voltou o olhar para a Oceanide, que o encarou docemente.

- Calipso!? – Saga começou temeroso, mas tomou coragem ao ver a expressão calma a sua frente – Quando você diz que minha história passara de geração em geração…quero dizer... – Baixou o olhar – não é uma história bonita ou agradável. Não creio que ela servirá de estímulo para alguém, ao menos que me vejam como um martir. – Completou voltando a olhar para Calipso – Algo grave vai me acontecer, não é?!

Calipso mudou seu sorriso para um semblante triste, mas ainda calmo, assentindo em seguida.

- Dentre, muitos que se revoltarão – Calipso começou – Estará um dos discípulos de seu irmão. Em um determinado dia você terá cumprido seu destino, para que sua história floresça no meio daqueles que estão por vir.

Saga sentiu o coração apertar por momentos, voltando o olhar para o chão. Ficou assim durante alguns minutos.

Acordou de sua tristeza quando sentiu um toque em sua mão.

- Os Homens pensão que estão sozinhos neste mundo, que os Deuses apenas brincam com a sua existência, mas não é assim. Uma ação de alguém, mexe com todos, pois todos os seres do universo estão ligados entre si. Cada coisa feita tem suas consequências, mesmo após a morte, mas você já conseguiu a sua salvação, pois já obteve o perdão de todos. Você, assim, como todos aqui estão sendo aguardados fervorosamente, pois de todos que habitam a terra, são os que merecem o descanso e a paz.

Saga soltou um longo suspiro.

- O que vocês estão cochichando ai? – Perguntou Kanon, que entrou na sala com um bandeja, Sobre esta havia um prato com uma enorme omelete incrementada com queijo e outras coisas, que deixaram Saga com agua na boca e, um copo de suco de laranja – Estão discutindo quem é a amazona bonitona que vai casar comigo? – Perguntou colocando a bandeja na mesa de centro, diante de Calipso.

- Não – Respondeu Saga com um meio sorriso, meio apagado – Estava perguntando quem é a cega que ira se apaixonar por um bobão, mulherengo como você.

Kanon fez uma careta para o irmão e, em seguida voltou para a cozinha.

- Vou fazer um para você, mas não acostuma – Gritou da cozinha, para o irmão que agora voltava a uma cara seria.

- Não diga nada para ele – Pediu olhando para Calipso, que assentiu – Agora come, que isso é bom e não deve ter onde você mora.

Calipso apenas sorriu, começando a comer desconfiada, mas logo fez uma cara, que fez Saga rir e, começou a comer como uma criança que devora um sorvete que tanto desejava.

- Vejo que gostou – Kanon disse animado entrando na sala, com outra bandeja, com dois pratos com omeletes e dois copos de suco. – Não acostuma não hem!? – Disse para Saga já colocando a bandeja na mesa de centro.

- Pode apostar que não – Saga respondeu fazendo uma careta olhando para seu prato.

Kanon não respondeu, jantaram animados e depois acenderam a televisão. Depois de um breve susto de Calipso, com as imagens coloridas que passavam dentro daquela estranha caixinha, e uma breve explicação sobre o que era aquilo, Kanon e Saga fizeram-na assistir futebol.

O jogo já estava no segundo tempo quando ouviram Kamus entrar na sala conversando com Shaka.

- Os rapazes ficaram lá com Athena – Disse Miro entrando logo atrás dos dois Cavaleiros de Ouro.

- E então? – Perguntou Saga, se levantando.

- Está tudo certo – Shaka disse – Amanhã a noite temos a suposta festa de aniversário do Mascara da Morte.

Kanon e Saga respiraram aliviados.

- Então é melhor irmos andando – Disse Miro – Amanhã temos muita coisa para preparar. Eu e Shaka vamos a vila comprar algumas coisas, vocês se encarregam de espalhar a notícia.

- Vamos dizer que é uma festa surpresa – avisou Kamus – assim parece mais real!

Todos assentiram.

- Então vamos logo – disse Kanon já se encaminhando para a saída, acompanhado dos outros – Estou morto…

Kamus fitou Calipso, que continuava sentada no sofá olhando a TV, durante um longo minuto.

- Vocês se divertiram por aqui – Comentou, agora, reparando nos pratos e copos sobre a mesa de centro.

Calipso lhe sorriu.

- Kanon preparou uma comida boa – Ela respondeu sem se mexer.

Kamus deu um pequeno sorriso e se aproximou recolhendo a louça, levando-a em seguida para a cozinha.

Depois de alguns minutos voltou para a sala encontrando Calipso no mesmo lugar olhando para a televisão, sem qualquer tipo de interesse.

De pé do lado da ruiva, viu que era futebol que estava passando, com times gregos que não se deu ao trabalho de saber quem eram.

- Está cansada? – Perguntou chamando a atenção da ninfa.

Calipso acenou positivamente.

- Vem – Disse estendendo a mão. Calipso segurou na mão do Cavaleiro de Aquário levantando e em seguida deixou-se conduzir até o quarto.

O quarto estava uma bagunça, mas Kamus estava cansado de mais para pensar em arrumar as coisas. Apenas a cama não tinha nada em cima, pois na noite passada tinha jogado tudo de qualquer jeito de forma a dormir.

Calipso caminhou para a cama e sentou na beira do colchão, fitando o homem em pé que parecia um pouco agitado.

- Você dorme aqui – Disse recolhendo um frasco de perfume do chão, tapando-o – Eu durmo na sala – Completou olhando para a ninfa que acompanhava tudo muito atenta, depositando o frasco em cima do criado mudo.

Voltou o olhar para a Ninfa.

- Ainda esta com medo? – Perguntou já se aproximando e sentando do lado da Oceanide.

Calipso o acompanhava com os olhos. Apenas assentiu com um piscar leve.

- E você? Está agitado – Ela disse baixinho.

Kamus se surpreendeu. Era difícil ter qualquer tipo de sentimento como medo, rancor ou até mesmo amor. Provava agora, depois de muitos anos, o sentido da palavra medo, mas sempre com a expressão calma e fria de sempre.

Nenhum dos amigos percebeu. Enquanto caminhava junto com Shaka e Miro para a Sala do Mestre, ouviu Shun, que estava mais atrás com os amigos, perguntar para Hyoga, como o Cavaleiro de Aquário conseguia ser tão frio. A moça que estava a seus cuidados corria perigo de vida e ele não se afligia.

- Não – Respondeu – Apenas cansado. – Concluiu se levantando para sair do quarto.

- Os Homens pensam que a vida deles é eterna – Calipso disse baixinho, chamando a atenção de Kamus que a olhou com um certo receio – Sabem que um dia a morte virá, mas nunca pensam que o dia seguinte pode ser o último. Assim deixam as coisas que realmente importam para amanhã, ou porque acham que são coisas pequenas, ou por medo…

Kamus sentou novamente do lado de Calipso a observando intensamente.

- Você é um homem maravilhoso, Kamus de Aquário – Calipso disse quase em um sussurro, olhando-o docemente, surpreendendo Kamus – Você já experimentou a morte um vez. Não caía no mesmo erro.

Kamus não sabia o que dizer. Não estava com raiva daquela menina que em tão pouco tempo despertara tantos sentimentos em seu coração. Realmente não sabia o que fazer.

Suspirou pesadamente, colocando a mão no rosto da moça que permanecia com olhar sobre si, acariciando-a de leve. Aproximou seu rosto de vagar, sempre fitando os belos olhos a sua frente, mas quando estava a milímetros de toca-los, franziu a testa e em um movimento lento e delicado subiu o rosto depositando um caloroso beijo a testa de Calipso.

- boa noite - disse se levantando bruscamente e, saindo, em seguida, do quarto sem se deter, fechando a porta atrás de si.

Apoiou as costas na porta que acabara de fechar e, inclinou a cabeça, apoiando-a na porta, de olhos fechados.

Sentia o coração pular descompassado.

“Para com isso!” – Ordenou a si mesmo, cerrando forte os olhos – “Amanhã volta tudo como era antes” – Sorriu ao pensar isso.

Continua…