POV Sadie

Estive em nossa cabana. Peguei a flor negra que Anúbis tinha me dado, tudo fazia sentido. Eu não pensei. Após o segundo que Zia havia me dito que eu ainda conseguia salvar Anúbis eu disparei. O tempo corria contra mim, mas não ia permitir perdê-lo novamente. Já havia o perdido uma vez, e isso fora horrível, algo que eu não desejaria a ninguém, nem mesmo a Melanie. Eu tentava correr o mais rápido possível. Eu corria pela noite escura até o portal mais próximo no Cairo. Não olhava para a noite de lua cheia que era tão linda se alinhando às pirâmides, nem mesmo o meu redor. Só olhava para frente e além. Precisava chegar a tempo. Lágrimas corriam pelo meu rosto enquanto lembrava de quando eu o vi pela primeira vez, de como ele me chamava de irritante, e de como ele dizia que me amava.

Cheguei na cidade do Cairo rapidamente, principalmente pela minha motivação, Anúbis. As pessoas ainda andavam nas ruas, um amontoado geral, eu não conseguia ver o horizonte. Eu empurrava, pedia licença enquanto passava correndo pelas pessoas. Elas me olhavam, resmungavam e reclamavam pela minha pressa.

-Cuidado garota!

-Mal educada!

Eles gritavam para mim em egípcio. Eu não me importava, eu não olhava sequer para elas, o meu foco era encontrar Anúbis, antes que fosse tarde.

-Linda moça, compre uma de minhas tâmaras... Por que tanta pressa?

-Me desculpe, não posso...

Ele me bloqueou.

-Só uma, elas parecem tão deliciosas...-Ele disse olhando em meus olhos. Eles era terrivelmente estranhos e familiares, como...

-Tudo bem, somente uma. Quanto custa?

-Nada minha querida, é de graça para um moça tão linda...

Eu peguei a fruta e a mordi. Tão deliciosa. De repente eu queria ficar ali admirando a paisagem. Mas uma alerta veio em minha mente. Anúbis! Precisava salvá-lo.

-Me desculpe, mas preciso ir.

-Espere. -O homem disse me segurando.

Eu não me contive. Me soltei com toda a força e continuei correndo. O pequeno homem ficara para trás. Logo me lembrei de onde aqueles olhos eram conhecidos. Eram os mesmos olhos da serpente da lan house... Mas não pensei mais nisso.

Segui em frente em uma rua, corri até o seu final, ao meu destino, o portal. Não era um grande templo, pois se localizava na cidade. Era um prédio, não muito alto, antigo. Em sua frente, na entrada, havia uma pequena escadaria, e aos lados do começo dela, haviam duas esfinges feitas de pedra, do mesmo tipo das do prédio.

Abri um portal, que surgiu no topo da escadaria. Eu subi correndo e praticamente me joguei para dentro dele. Fui transportada para o Duat, na sala do trono. Olhei em meu relógio, já eram 10:59! Eu levei um susto, faltava 1 minuto! Eu chorei com o esforço, não iria conseguir.

Estava na sala do trono e não sabia o que fazer. Anúbis não estava lá, não sabia aonde procurá-lo. Esqueci dessa mínima informação. Bom, ele estava no Duat, mas que parte dele? Eu acabei gritando o meu pensamento. Eu caí de joelhos e chorei. Olhei em meu relógio, 11:00. Tarde demais...

Minhas esperanças foram degradadas. Quanto ao menos eu queria ter dito que eu o amo, que sempre me derretia quando ele me olhava com seus olhos chocolate derretido, quando ele me chamava de irritante, quando ele me beijava e eu tinha somente para mim, quando eu me sentia segura em seus braços. Quantas vezes ele me salvara...

-Anúbis!-Gritei enterrando minhas mãos no meu rosto. -Eu quero vê-lo!

Minha voz era quase inaudível, com o choro engasgado em minha garganta.

Nesse momento, eu olhei para frente e abriu-se um portal. Eu havia o aberto? Talvez ele levasse a Anúbis... Tinha que tentar, afinal, já era tarde demais e queria vê-lo nem que fosse pela última vez...

Eu entrei no portal misterioso, e não sabia para onde iria me levar, a dor me consumia. Não tinha mais motivos para viver, se ele não existisse mais, eu também me mataria.

Cheguei no local onde o portal me deixara e me surpreendi. O salão de julgamento. Mais lágrimas foram derramadas pelo meu rosto. Tudo ali, me fazia lembrar de Anúbis, era onde realizava a cerimônia de julgamento. Olhei ao redor, nas paredes seu rosto como chacal era estampado...

Eu estava me virando, achando que aquele não era o lugar, quando me detive. Alguém mais estava ali. Me virei. Anúbis! Do outro lado do salão eu o vi. Ele estava ali, ao lado de uma grande mesa, uma forte luz incendia sobre ele, ele estava somente com sua calça jeans, seu peito nu era iluminado pela luz que tanto odiava, seu rosto era de pura dor. Ele estava com uma adaga prateada e iria com ela atravessar seu corpo. Ainda havia tempo. Não pensei.

-Anúbis!-Gritei.

Corri em sua direção e saltei sobre ele. Nós dois nos encontrávamos deitados no chão. Sentia seu perfume, sentia ele sobre mim novamente. Eu chorei sobre seu peito.

-Não faça isso, por favor! Por favor! Eu te amo!-Disse entre o choro que sai de dentro de mim, tudo que ainda estava engasgado.

-Sadie... Eu já morri? Não compreendo... Eu não deveria ir para a outra terra, do paraíso... Mas você está aqui comigo...

-Não meu amor! Você não morreu! Eu estou aqui! Sou eu Sadie Kane, olhe ao seu redor!

Ele abriu seus olhos chocolate derretido e eu chorei pensando que nunca mais iria vê-los. Acariciei seu rosto. Ele olhou diretamente para mim.

-Sadie... Mas como?

Coloquei meu dedo em seus lábios.

-Eu me lembrei de tudo que não deveria ter me esquecido nunca. Não precisei de nenhum extrato para me curar, o meu amor por você Anúbis é indescritível, maior do que um amor incondicional, eu te amo com todas as minhas forças. Eu me lembrei de como amo ver seus olhos lindos, me lembrei de como o melhor dia da minha vida foi quando eu te vi. Não posso viver sem você, não poderia ter feito isso comigo, eu quase morri quando soube o que iria fazer. Eu nunca amei Walt de verdade você é quem eu realmente amo, nem mesmo um feitiço consegue me separar de você, nada que aconteça irá ser uma exceção ao meu amor por você. -O resto do choro engasgado se dissipou.

Ele não sabia o que dizer, olhava para mim. Então acariciou o meu rosto e secava minhas lágrimas enquanto eu secava as dele.

Ele abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada. Então ele se aproximou e me beijou apaixonadamente e fervorosamente. O beijo que eu pensei que nunca mais iria sentir. Eu e ele nos juntávamos como um só. Eu o beijava e acariciava seus cabelos. Ele me puxou para si num abraço forte. Eu me sentia novamente protegida, segura. Ficamos um tempo indefinido assim, juntos novamente.

Ele se afastou para que eu pudesse respirar.

-Você não sabe o quanto eu estou feliz agora Sadie. Suas palavras me curaram. Eu achei que nunca mais a sentiria como minha, nunca mais sentiria o gosto de sua boca. Eu te amo tanto... Eu pensei em desaparecer, achei que nunca iria se lembrar de mim...

Eu o interrompi segurando seu rosto com ambas as mãos.

-Nunca mais faça isso!

Ele sorriu e me beijou novamente.

-Eu prometo!

Eu ri.

-Então irritante... Lembra da nossa promessa?

-Nós vamos ficar juntos aconteça o que acontecer. Achei que nunca mais o ouviria me chamar de irritante.

Ele riu alto e se sentou comigo ainda aninhada em seu peito.

-Tenho uma coisa para você, que eu fiz, na época em que você estava enfeitiçada... Ou melhor, não vamos falar disso. Eu guardei todo esse tempo, pois me fazia lembrar de você... Eu... Bom...

Ele pegou uma pequena caixa que estava no bolso de sua calça jeans. E abriu. Eu prendi a respiração. Um anel repousava ali. Era todo prateado, formava o desenho de uma hera, todo decorado com diamantes. Ele pegou a minha mão e a beijou, olhou para mim dando um meio sorriso, e vestiu o anel em meu dedo. Mais lágrimas corriam pela minha face. Era lindo. Quer dizer, os dois eram lindos, o anel e o meu amor.

-Eu tenho um igual ao seu. Eles têm os nossos nomes gravados... Você gostou?

Eu não consegui responder. Eu o abracei, nos derrubando novamente e beijei toda a extensão de seu rosto.

-Eu amei garoto chacal!

-Precisava nos derrubar?

-Precisava.

Nós ficamos ali. Eu admirava meu anel, enquanto ele acariciava meus cabelos, o que me fazia arrepiar sempre.

-Está tarde... É melhor voltarmos... -Disse ele.

-Poderíamos ficar aqui... -Respondi.

-Poderíamos, mas você não pode ficar por muito tempo aqui no Duat...

Eu fiz um biquinho. Ele riu.

-Vamos voltar... -Ele disse.

Ele se levantou e me ajudou a levantar. Ele me puxou para si. Conjurou sua jaqueta de couro e a vestiu.

Nós fomos saindo do salão do julgamento.

-Isso tudo me faz lembrar de você... -Eu disse simplesmente.

Ele sorriu e me deu um beijo.

-Não consigo acreditar que você correu tudo isso para chegar até a mim... Eu fico sem palavras...

-Eu corri tudo isso por você, porque eu te amo muito, eu já te disse isso. Eu achei que não iria conseguir, nunca me perdoaria se fracassasse.

Ele me beijou novamente.

-É bom que ninguém tenha a machucado...

-Não, ninguém fez nada. Eu estou bem, principalmente agora que estou com você...

Ele riu. Então nós saímos do salão de julgamento juntos novamente. Nossos anéis se juntavam como um só enquanto nossas mãos se juntavam.

Anúbis abriu um portal para o Cairo.

Novamente senti o ar da cidade, mas agora, haviam menos pessoas que andavam por ela. Eu não avistei o homem das tâmaras.

Enquanto atravessávamos a rua principal as pessoas nos olhavam, eu ria e ele também. Eu encostei minha cabeça em seu ombro.

Então Anúbis abriu novamente um portal fora da cidade e nós já estávamos no minuto seguinte no acampamento.

Carter, Walt, Zia, Bastet e Bes estavam conversando em frente à fogueira, provavelmente nos esperando. Eles olharam para nós.

-Já chegaram! Graças aos deuses!-Disse Bastet.

Eu sorri. Walt olhava para a minha mão junta com a de Anúbis triste. Ele analisava nossos anéis.

-Anúbis! Que bom que está bem!-Disse Zia

-Obrigado Zia. -Respondeu sorrindo.

Carter olhava para nós sorrindo.

-Que bom que tudo está bem... Querem sentar com a gente? Nos conte o que aconteceu...

-Ah Carter, acho que não, mais tarde a gente conversa. Eu quero um tempo com meu namorado. -Eu sorri para ele.

Anúbis riu e enterrou o rosto em meus cabelos. Walt nem olhava para nós, Zia sorriu.

-Ah tudo bem então... -Disse Carter.

-Vem garoto chacal. Hoje quero ficar com você, senti muita saudade... -Disse puxando sua mão

-Muita mesmo?-Perguntou rindo.

-Muita, muita mesmo.-Respondi.

-Você pediu!-Ele riu.

-O quê? Mas...

Não tive tempo nem de falar. Ele me pegou no colo facilmente e me beijou. Nós entramos na cabana ambos ríamos.