Everlasting escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 23
Capítulo 22: Infinito


Notas iniciais do capítulo

Hey, boa noite!

Como vocês estão?
Sei que estou sumida há muito tempo... Mas muitas coisas aconteceram. E minha vida virou de cabeça para baixo, a única coisa que me manteve presa ao chão foi a minha escrita que voltou.

Espero que gostem desse capítulo, aconselho que escutem "Saturn" da banda Sleeping At Last na leitura. Eu escrevi tudo em função dela.

Esse capítulo pode parecer repetitivo a vocês, mas lembro que estamos quase na reta final dessa fanfic... É hora de algumas coisas começarem a ser feitas, inclusive, essa conversa com a Rachel.

Bem, boa leitura!



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Tarde. 05 de Dezembro de 2012. Hospital de Lima, Ohio.

“With shortness of breath, I’ll explain the infinite... How rare and beautiful it truly is that we exist.”

(Saturn, Sleeping At Last)

Depois de mais uma excursão sem motivo ao hospital, ficara decidido que eu até sairia de lá (já que não encontravam nada de errado em meu corpo, mal sabiam eles que o problema era muito mais profundo), mas que eu deveria ter uma consulta, semanalmente, com um médico para que eles ao menos tentassem descobrir o que estava errado comigo.

Não que eu tivesse esperanças, muito menos que eu quisesse... Estava permitindo aquelas condições por causa dos meus pais e de Frannie. Os olhares dos três eram repletos de silencioso desespero, eles sentiam-se de mãos atadas diante dos meus apagões inesperados. Era a melhor forma de mantê-los tranqüilos. Mesmo que não fizesse diferença para o que se colocava cada vez mais próximo em meu destino, era o mínimo que eu podia fazer para vê-los felizes.

Então, no final da tarde, depois de muita argüição entre eu e Rachel, eu consegui convencê-la de me encontrar em casa, disse que era melhor se fosse assim. Porém, eu precisava de um pouco de tempo sozinha. Estava difícil lidar com o que acontecera com Puck.

Eu estava me exaltando?

Eu não sabia a resposta. Tudo que envolvia Rachel com outra pessoa era capaz de tirar o pouco que restava da minha lucidez e trazer o muito da escuridão que já estava instalada dentro de mim. O que não era compreensível, muito menos, sadio. Eu já deveria estar sendo capaz de lidar com o fato de que eu não ficaria com ela, pelo menos, não por muito tempo. A inevitabilidade de nossa despedida logo se faria presente, eu oferecia a ela a minha eternidade e realmente esperava que isso fosse o necessário para que ela pudesse seguir em frente.

Mortes acontecem, são inesperadas, cruéis e, muitas vezes, injustas... Mas acontecem. E devem ser superadas.

Só que, segundas chances como aquela que eu recebera não eram freqüentes e, conforme eu via Rachel invadir cada vez mais meus sentidos e inflamar, cada vez mais, a minha vontade de permanecer viva... Mais eu me questionava se eu estava aproveitando essa segunda chance da melhor forma. Era justo o que eu fizera com Puck recentemente? E o namoro dela com Finn?

Talvez e, só talvez, meu amor devesse ter sido enterrado junto comigo, sete palmos em direção ao centro da Terra. A minha “volta” estava mudando todo o futuro daqueles próximos a mim e eu não conseguia enxergar como essas mudanças estavam melhorando o que já era deles quando eu morri...

A incerteza, a dúvida... Tudo que envolvia o destino deles era tão misterioso quanto à escuridão que me tomava e que nublava o meu futuro dia 20 de dezembro. Eu não sabia o que me esperava, mas o que me desesperava era o fato de eu não saber o que deixava...

O fluxo de pensamentos em minha mente era tão rápido que as pontadas já martelavam de encontro as minhas têmporas, o meu tão familiar tique-taque soava em meio às cenas dos meus erros que se passavam como borrões em minha mente... Minhas investidas em Rachel quando ela ainda namorava, a fúria de Finn, o desprezo de Kurt, o confronto com minha família, a fuga, Puck...

Eu não conseguia entender como algo bom poderia se originar no meio de tanto egoísmo.

– Quando você faz essa careta, eu já fico achando que você vai desabar em meus braços a qualquer momento! - A voz de Rachel foi apenas um eco distante no meio das vozes que ecoavam em minha cabeça, com muito esforço, procurei me concentrar nela. Os olhos castanhos estavam arregalados e a preocupação só crescia dentro deles. Eu, confusa, tentava entender o que ela fazia em meu quarto. Porém, eu não tive tempo de perguntar a ela. A porta do meu quarto abriu mais uma vez e Santana entrou enfurecida por ela e esbravejando:

– Anã! Porcelana está lá embaixo querendo falar com você. Faça-me o favor de descer antes que eu arrebente aquela cara frustrada dele!

– Espera, Kurt está aqui?! - Eu dei voz às dúvidas, tanto minhas como de Rachel. A minha pequena resmungou alguma coisa, irritada e me empurrou levemente de encontro aos meus travesseiros. Eu olhei para ela e não precisei que ela me olhasse de volta para entender que aquela não era a primeira vez que Kurt vinha até ela. - O que ele está fazendo aqui, Rach?

– Ele não para de me procurar. Desde que soube que nós voltamos, tem ligado sem parar, tanto na minha casa quanto em meu celular. - Rachel respondeu contrariada, aconchegando-se em meus braços e não fazendo menção alguma de ouvir as palavras de Santana. Minha melhor amiga revirou os olhos e cruzou os braços, batendo o pé sem parar enquanto olhava entediada para nós duas. Desconfortável, pigarreei e aconselhei:

– Então, você deveria falar com ele.

– Ótimo! Aí, você fala com o Noah, também. - Rachel contra-atacou frustrada e afastando-se bruscamente de mim. Eu tentei alcançar seu pulso, mas o meu corpo reclamou de dor, os pedaços de vidros parecem cortar meu braço de um lado ao outro. A careta em meu rosto fez Santana aproximar-se perigosamente de Rachel, com um olhar meu, ela recuou revoltada. Eu suspirei, cansada e respondi:

– Faça o que achar certo, Rachel. Eu não vou mais discutir contigo.

– Lembrem-se de que, enquanto vocês duas discutem, eu posso ir lá embaixo e matá-lo. Ele não importa tanto assim para mim. - Santana murmurou ameaçadora, minha namorada olhou horrorizada para ela antes de sair porta a fora, batendo-a com demasiada força. Santana sorriu vitoriosa e, com o máximo de sorriso que a minha dor permitia, eu comentei:

– Você não presta, Lopez.

Santana deu de ombros, mas gargalhou logo em seguida. Aproximou-se da cama e sentou-se aos meus pés. Nenhuma de nós duas trocamos um olhar ou proferimos uma palavra. Nossa amizade era assim, feita de extremos que incluíam o silêncio e a gritaria.

Em momentos tão sensíveis e delicados como aquele, geralmente, o silêncio falava por nós. Pelo empenho de Santana em encarar meu edredom, eu sabia que ela queria perguntar algo, mas que tinha medo do que podia provocar em mim, ainda mais diante do meu suposto estado de saúde. Santana era tão insensível diante de certas coisas, mas em outras, ela era simplesmente sutil e cuidadosa.

E essas outras situações incluíam todos os momentos em que ela se fez essencial em minha retaguarda. Santana era meu plano B. E, principalmente, meu apoio quando eu me encontrava sozinha. E o mais importante: ela sabia quando era necessária.

Desde o momento que ela entrara abruptamente em meu quarto, ela sabia que deveria estar lá porque eu e Rachel acabaríamos nos machucando novamente. Estávamos muito frágeis para ficarmos juntas, naquele instante, e Santana sabia que eu precisava de um tempo.

E, assim como ela me dava tanto nessa amizade tão curiosa, eu precisava retribuir e, diante disso, iniciei a conversa sincera, sabendo que ela queria tocar nesse assunto:

– Você falou com o Puck?

– Um dos motivos de eu estar tão ansiosa para bater em alguém é, justamente, porque aquele idiota beijou a Berry. - Santana respondeu entre dentes, erguendo os olhos escuros para mim, pude sentir a onda cruel sair dela e me encontrar. Mordi o lábio e disse fria:

– Você não precisa estar brava com ele por minha causa.

– Lamento lhe dizer, mas o mundo não gira em torno de você, loira. - Santana respondeu com escárnio, mas o sorriso de canto que ela me lançou deixou claro que ela estava me bronqueando e brincando ao mesmo tempo. - Puck não consegue segurar as calças no lugar e também, possui um péssimo hábito de foder as coisas de forma irreparável. Ele, simplesmente, juntou essas duas coisas. É por causa disso que eu estou com tanta raiva dele.

– E como Brittany está em relação a essa briga? - Perguntei temerosa, mas imersa na onda de calor que foi injetada no meu interior com as palavras dela... Santana conseguia ser incrível quando queria. Santana ajeitou-se em minha cama e respondeu desconfortável:

– Ela está chateada contigo. Mas você sabe como ela acredita em perdão e tal... Ela também não fica brava por muito tempo, logo ela vai esquecer.

Eu não respondi, apenas acenei com a minha cabeça e desviei meus olhos de Santana, focando-os na imensa janela que havia em meu quarto. Concentrei-me na frágil luz do dia que estava, aos poucos, desaparecendo.

Mais um dia estava terminando e eu me via tão perdida que mal conseguia tatear às cegas dentro da minha própria escuridão. Sentia que caminhava a esmo, tomando decisões, impulsionada por minhas emoções e mais ferindo do que curando... Não parecia mais tão justo o que eu fazia.

Eu já tinha aquela dúvida antes, mas agora, diante da briga com Puck... O remorso estava falando mais alto. Eu não conseguia entender porque tantas cicatrizes eram necessárias, a minha existência infinita parecia pequena. Logo mais, eu não estaria mais presa a Terra. Mas Rachel e os demais iriam.

Quem ia consertar Puck? Quem tiraria a fúria de dentro de Finn? Quem estaria lá para reaproximar Rachel dos demais? Quem seria capaz de reconstruir minha família?

Minha cabeça logo doeu e, quando eu voltei a mim, Santana já não estava mais no quarto. A porta, mais uma vez, se abriu. Rachel entrou por ela, caminhando lenta e timidamente. Meu coração acelerou e eu procurei, em meio à escuridão, encontrar a luz que me guiava a ela. Rachel sorriu para mim, seus olhos brilhavam quando ela disse radiante:

– Kurt mandou um beijo.

– Vocês estão bem? - Perguntei curiosa e ela apenas acenou, voltando a se sentar em minha frente na cama. Nós duas nos olhamos e eu me senti incapaz de tocá-la sem me sentir mal. Rachel, porém, rompeu tudo que nos separava e segurou minha mão. Ela ainda sorria quando me bronqueou:

– Tire essas rugas de preocupação da testa e pare de pensar besteira, Fabray.

Eu não consegui evitar o riso que irrompeu do fundo do meu peito, em meio aos sons da minha risada, eu encontrei o som da risada dela. E meus olhos encontraram os dela, o momento durou o infinito que eu tanto almejava e tanto queria para nós duas. Aquele minuto tinha tudo da eternidade que eu procurava com ela.

Meus batimentos cardíacos estavam vitais e em mesma freqüência que os dela. Nossas mãos estavam envolvidas em um laço apertado, vivo e forte. Nossas peles, quentes, estavam próximas, uma a outra, fazendo o exterior a nós parecer frio e distante. A risada dela ecoava na minha porque a alegria dela trazia uma nova fonte de energia vital dentro de mim. Os olhos dela serviam como espelhos aos meus porque neles eu enxergava todo aquele amor que eu trazia dentro de mim e que era perfeitamente retribuído por ela.

Naquele momento, éramos infinitas porque éramos iguais. Estávamos vivas, tínhamos uma à outra e, o mundo lá fora parecia distante porque não era compreensível diante daquilo que nos unia. O amor e somente ele, sem suas conseqüências ou efeitos colaterais, era o que estava presente naquele quarto. E sendo amor, ele era infinito. Mais que a minha alma, mais que a minha existência, mais que a minha morte.

Porém, eu não viveria para sempre. Eu morreria dali a duas semanas, eu sabia disso. Não tinha mais dúvidas, assim como não tinha mais dúvidas em relação às pessoas que eu machucara para viver o que vivia ali, naquele quarto. E parecia que, quando eu partisse, toda aquela tênue linha que me ligava à eternidade em Rachel seria arrebentada e eu vagaria pela minha própria escuridão... Sem segunda chance.

– Você acredita em eternidade, Rachel? - Eu perguntei, abruptamente, tão sufocada que não percebi quando as palavras chegaram a minha boca. O sorriso de Rachel desapareceu e, afobada, ela tocou a minha face com a ponta dos dedos, questionando preocupada:

– Por que essa pergunta agora, Q?

– Diante de tudo que está acontecendo comigo... Não seria um absurdo perguntar, não é? - Eu tentei disfarçar com um sorriso, mas pude ver a agonia estampada nos olhos de Rachel. Eu procurei, em meio à confusão que estava em minha mente e em meu coração, achar uma resposta, mas não a encontrei. Rachel desviou os olhos de mim e suspirou pesado ao dizer:

– Nós não sabemos o que você tem, mas isso não quer dizer que você vá morrer.

– Mas...! - Eu não consegui retrucar porque os olhos dela, tão intensos quanto o fogo, interromperam meu raciocínio. Rachel voltou a olhar para mim e respondeu:

– Eu me recuso a acreditar que você vá morrer, Quinnie.

– Então, você não acredita no infinito depois da morte? - Perguntei receosa enquanto sentia as minhas dores castigarem cada pedaço de mim. O tique-taque acelerou-se em minha cabeça. Eu sabia que fora inconseqüente, estava fazendo a pergunta da minha vida para Rachel.

Era a primeira vez que eu levantava a hipótese de morrer para ela. De forma clara, objetiva e direta, da mesma forma que eu agira quando quisera conquistá-la. Eu estava, pela primeira vez, me mostrando por inteira a ela. Fazendo os meus medos preencherem os medos dela. Sentia que estava, finalmente, sendo totalmente sincera com ela.

Rachel arregalou os olhos e falhou em me responder. Cada vez que ela perdia as palavras, eu sentia que um pedaço de mim era perfurado e sangrava... Talvez, eu nunca fizera aquela pergunta por que sabia que a resposta me mataria. As lágrimas rapidamente chegaram aos meus olhos e molharam minhas maçãs de rosto. Rachel colocou-se em pé e caminhou pelo meu quarto.

Dentro de mim tudo explodia. Sentia a linha esfiapar e permanecer presa por um único fiapo... A esperança. Era tudo que me mantinha presa a Terra e a ela. Minhas dúvidas calaram no fundo da minha cabeça, presas dentro de uma caixa, enquanto eu via tudo que me preenchia ser, lentamente, esvaziado pela ausência das palavras dela.

Rachel parou de caminhar, de costas para mim e eu me vi impotente, presa à cama, sem ter coragem de sequer lutar por aquilo tudo. A morena respirou fundo e, com a voz trêmula, perguntou:

– Como você pode questionar se eu acredito no infinito?

Eu não respondi. As palavras não chegaram a tempo em minha língua. Rachel virou-se para me olhar e, dessa vez, a intensidade deu lugar a fragilidade. Ela voltou para perto de mim e seu corpo chocou-se ao meu. Rachel me abraçou apertado, tentando marcar meu corpo ao dela, tentando dizer naquele gesto o que ela não conseguia expressar por palavras. Eu duvidara dela, mais uma vez e ela me provava, mais uma vez, que eu estava sendo egoísta e arrogante... Indigna dela.

– Você me deu o que possuímos, Quinn. - Rachel disse em meu ouvido e não foi a rouquidão em sua voz que me fez tremer e sim, as lágrimas dela que molharam meu ombro. Tentei afastá-la para olhar em seus olhos e dizer que ela não precisava responder, mas ela me manteve em meu lugar, respirando pesadamente. - Você me deu o infinito naquele dia, quando aceitou o desafio de me amar e ontem, quando me perdoou e me fez compreender que você seria capaz de me amar em qualquer circunstância. Eu não acho que devemos falar disso, mas se lhe é tão necessário, eu acredito no infinito e na eternidade por sua causa. Porque, mais importante do que lhe ter, é saber o que você sente por mim. E do quão forte e imutável é isso.

Eu me calei, sem saber o que fazer. Apenas sentindo minhas dores darem trégua e o tique-taque ficar cada vez mais baixo dentro de mim, enquanto tudo era preenchido por ela. Rachel afastou-se lentamente de mim e eu observei seu rosto baixo e seus suspiros pesados, enquanto seu corpo tremia diante de seus soluços sôfregos. Ergui seu rosto com minha trêmula e, com meus olhos tão molhados quanto os dela, aproximei e beijei delicadamente os lábios dela. Rachel sorriu entre o beijo e quando nos afastamos, ela murmurou:

– Você me deu o infinito quando eu era efêmera e passageira. Você fez de mim tão eterna, quanto você é e tudo isso aconteceu por causa do nosso amor, Quinn. Não precise duvidar, nós duas somos eternas uma para outra. Nós duas somos o infinito uma da outra. O que a gente tem não é para ser medido agora, mas além...

E quando eu estava prestes a morrer, ela injetava em mim uma dose tão intensa de vida que eu me sentia viva, de novo. Sem tique-taque, sem dor fantasma... Sem nada. Rachel fazia de mim uma adolescente apaixonada quando eu sabia que era tudo mais complexo que isso.

Com ela, o infinito parecia ir além do compreensível. Com ela, eu finalmente sabia que seria infinita. Com ela, eu sabia que existia a eternidade além da morte efêmera e terrena.

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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, peço desculpas ao meu novo desaparecimento... Não quero me explicar, mas espero que me compreendam :/

Aguardo reviews.

Beijos e até a próxima,
FerRedfield

PS: Dêem uma passadinha em meu perfil. Tem one-shot nova, chamada "Pretty Hurts".