Aquele dia tinha começado normal. Eu tinha me levantado e ido para o McKinley High de carro do mesmo jeito que eu fazia todos os dias. Sempre olhando as pessoas nos olhos, não temendo ninguém que se aproximava de mim. Eu podia não ser mais a HBIC, mas eu ainda era Quinn Fabray e ao menos, um pouco de decência ainda podia ser vista em minha presença.

            Eu me lembro de ter visto Rachel no corredor... Ela estava discutindo com Finn e eu não pude deixar de sorrir, não por causa dele e sim, por causa dela. No instante em que nossos olhares se encontraram, ela abrandou a expressão e acenou para mim. Finn pareceu irritado por ser deixado de lado e exigiu atenção dela.

            Ela tinha me dito que não estava mais apaixonada por ele, ela tinha me dito que esperou as coisas se estabilizarem para entender a natureza do sentimento dela e que, quando entendeu, ela não o quis mais perto dela. Rachel me disse que estava apaixonada por outra pessoa, disse que confiava o bastante em mim para contar...

            E eu sorri, encorajando-a a seguir em frente sem Finn. Porque, mesmo sendo uma bitch na época em que escrevemos as canções, eu estava sendo sincera. Eu sabia que ela brilhava mais do que qualquer um ali, eu sabia que a vida dela não era em Lima. E eu tinha ficado feliz em poder falar aquilo abertamente agora que éramos amigas.

            Como eu tinha dito: Rachel evitara que eu fizera a maior besteira da minha vida e ao menos um pouco de respeito ela merecia, eu só não imaginava que nossa amizade cresceria da forma como cresceu. Eu me via ao lado dela sem menor esforço e como atual melhor amiga dela, tudo que eu queria saber era quem tinha roubado seu coração de Finn.

            Eu nunca cheguei a saber, pelo menos, não naquele dia.

            No final dia, eu saí sozinha do colégio. Tinha passado algumas horas na biblioteca e o cansaço já me batia. Ficar no colégio até tarde, estudando, era uma das formas que eu tinha encontrado de não voltar tão cedo para casa. A Mansão Fabray era meu inferno particular na Terra desde que meu pai voltara e minha mãe se entregara, mais uma vez, aos abusos dele.

            Eu me lembro de ter respirado fundo enquanto caminhava pelo estacionamento escuro. Estava frio e eu me diverti com o ar quente que saía da minha boca. O meu celular vibrou e eu vi que era uma mensagem de Rachel. Ela foi bem direta em suas palavras, o que indicava claramente que ela não estava bem:

Eu preciso falar com você, urgentemente. Tem como você passar aqui?

            Eu não respondi, porque desde o começo da nossa amizade, gostei de surpreendê-la. Eu sorri diante da probabilidade de ficar mais um tempo longe de casa e ainda por cima, de conseguir ficar próxima a Rachel. Eu desconhecia a razão de querer ficar próxima a ela, quer dizer, eu desconhecia naquele momento.

            Porque, depois, tudo fez sentido.

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            Eu me lembro de ter ligado o carro e ter saído cantarolando uma música qualquer pela estrada escura e coberta de neve. Meus dedos tamborilavam no volante e por um breve momento, eu fechei os olhos sentindo a melodia ecoar em meus ouvidos e a minha voz preencher o ambiente aquecido do veículo.

            Honestamente? Eu não deveria ter fechado os olhos, porque eu nunca mais cheguei a abri-los de verdade.  

            Deixe-me explicar direito.

            Sou Lucy Quinn Fabray e faleci no dia 20 de dezembro de 2012, ás 23h53min minutos. Vítima de um acidente de carro em uma rua coberta de neve, estava a 15 metros da casa de Rachel Berry.