- Não, Leana, ele não morreu! Posso ouvir sua batida cardíaca daqui. 

Ouvi uma voz familiar e abri os olhos aos poucos.

Avistei Rick se virando para mim. Eu estava no chão do meu quarto. 

- Como eu vim parar aqui? - Perguntei com a voz fraca.

- Leana está fraca, não consegue mais levantar, então a trouxe para sua cama. Ficou me implorando pra te trazer para cá também.

Me levantei e avistei Lea deitada, com suor em todo seu rosto, parecia estar passando muito mal. 

Cheguei perto dela com dificuldade e a mesma derramou algumas lágrimas.

- Me desculpe por ter te mordido. - Passei dois de meus dedos em sua pele gelada e suada. Sorri.

- Não sem problema. Descanse, ok?

Fui em direção ao Rick e me desequilibrei, o mesmo chegou mais perto de mim, para que eu me apoiasse nele.

- Cara… Você não tá legal. Está muito fraco.

- Bom, vou melhorar.

- Não, você não vai. E você sabe. - O olhei por alguns segundos, parecia angustiado. Dei um sorriso torto.

- Relaxa.

- Não vou relaxar.

Ri por alguns segundos.

- São os traços de amizade aparecendo. - Debochei, enquanto sentava no chão, apoiando minhas costas na parede.

- Babaca. - Rick sentou no chão ao meu lado e me assustei pois o mesmo mostrou-me seus caninos.

Engoli em seco.

- Você não vai terminar de me matar, vai?

E então, aconteceu algo que eu não esperava. Rick mordeu seu pulso. Seu próprio pulso. Porém, o mais estranho foi quando aquele líquido um tanto grosso vermelho foi colocado em minha boca.

- Tome bastante.

Comecei a engolir com um certo nojo mas, como se fosse mágica, fui recuperando minha força aos poucos. 

Arregalei meus olhos, estava impressionado.

- O que você acabou de fazer? - Perguntei, incrédulo.

- Eu vi que você ia morrer. E não adianta fingir que estava tudo bem. Então te dei um pouco do meu sangue, para que você curasse.

- Sangue de vampiro cura as pessoas de qualquer coisa? - Rick assentiu com a cabeça, franzi o cenho. - Então por que não dar um pouco de sangue para Leana?

Rick deu uma gargalhada, senti minhas bochechas corarem.

- Se fosse tão fácil assim… Sangue de vampiro cura apenas humanos.

Desviei meu olhar para o chão por alguns segundos e, em seguida, fitei os olhos negros de Rick. 

- Notícias de Brian?

Rick abaixou os olhos. Abaixei os meus olhos também. Não queria me conformar, mas… Brian estava estranho, com certeza não tinha achado nada sobre uma cura. 

E então, minha campainha tocou. Bufei e me levantei, indo em direção à porta. 

Quando abri, avistei Brian. Meus olhos se arregalaram.

- Cara, você não morre tão cedo.

- Eu sei. Meu feitiço se assegurou nisso.

Cocei minha cabeça, constrangido.

- Foi modo de falar, cara. - Parei por alguns segundos. - Quis dizer que eu e Rick estávamos falando sobre você agora e…

Um homem com uma regata, mostrando suas inúmeras tatuagens nos braços e seu piercing nos lábios, calça jeans e tênis apareceu. Fiquei fitando o homem por alguns segundos.

- James, este aqui é o Zacky. Ele me ajudou com a cura. Ele é um mago também.

- Bom, por favor, - Abri a porta para que eles visualizassem minha sala - entrem. 

Brian andou, com passos calmos, até meu quarto e Zacky o seguiu. Fui atrás e vi Rick de braços cruzados, apenas observando, encostado na parede. Brian estava sentado ao lado de Leana, acariciando seu rosto e Zacky estava em pé, do lado da cama.

- Bom… Trouxeram a cura? - Ouvi a voz de Rick, um tanto baixa, quebrando o silêncio.

Todos no quarto o olharam ao mesmo tempo.

- Eu disse que ia trazer. - Brian disse com um sorriso fraco. Virou seu rosto para Zacky, que o fitava sério.

Zacky tirou de sua calça jeans um frasco que continha um líquido verde claro dentro. 

- Isso daqui é uma mistura de várias ervas, porém, seria inútil sem um feitiço. - Ouvi a voz rouca do mago, pela primeira vez.

Brian se afastou de Leana que estava quase inconsciente e veio ficar ao meu lado, junto de Rick. 

Nós três observávamos os movimentos de Zacky. Ele puxou o pulso de Leana, pingou o líquido uma vez e botou uma de suas mãos em cima do ferimento. 

Ficou alguns segundos com os olhos fechados, parecia concentrado em algum feitiço. Após uns instantes, Zacky tirou a mão que cobria o pulso de Leana e ele estava totalmente intacto. 

Eu, Rick, Brian e Leana sorrimos.

- Obrigada. - Leana disse com a voz fraca, porém sua aparência já estava bem melhor. O resultado foi milagroso.

Zacky deu um sorriso fraco e assentiu com a cabeça. Se virou para nós três e parou seu olhar em Brian.

- Bom, meu trabalho está feito aqui. Vamos?

Brian foi até Leana e beijou sua testa e acariciou seu rosto. Aqueles gestos fizeram com que meu corpo ficasse quente, porém de um jeito ruim… Eu estava com ciúmes, precisava admitir. 

- Sempre que precisar. - Brian disse, olhando em seus olhos e Leana correspondia. - Eu estarei aqui. 

Ela assentiu a cabeça e sorriu fraco.

- Obrigada. 

Brian sorriu da mesma forma e foi para o lado de Zacky.

- Cuidem melhor de Leana da próxima vez. - Brian disse por fim, antes de desaparecer do meu quarto, junto de Zacky. 

Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que ouvi a voz de Rick.

- Bom. Acho que vocês tem muito o que fazer. - Rick sorriu malicioso, saindo do quarto. - Até mais. 

Sorrindo, sentei ao lado de Leana na cama. Acariciei seu rosto, olhando bem dentro de seus olhos cor de mel e via que ela olhava dentro dos meus olhos azuis também.

Cheguei meu rosto mais perto do dela e selei nossos lábios, o que fui correspondido. 

- Estava com tanto medo de te perder. - Falei em um sussurro.

- Mas não perdeu. - Leana levou seus braços até meu pescoço e continuou a falar, olhando diretamente em meus olhos. - Eu ainda estou aqui.

Sorri e ela fez o mesmo, porém, sua expressão foi ficando séria aos poucos. 

- James… - Leana começou a falar. Parecia estar pensando nas próximas palavras antes de continuar. - Eu queria tanto te proteger disso tudo. 

Ficamos em silêncio por alguns segundos, queria realmente saber onde ela queria chegar nisso. Continuei a olhando, com a expressão séria, esperando que continuasse. E assim o fez. 

- Mas não creio que possa te proteger de seres sobrenaturais… Se eu sou um deles. 

- E onde você quer chegar com isso? - Perguntei tentando em vão manter minha voz firme, porém a mesma saiu falhando. 

- Eu acho que devemos parar por aqui, James. - Leana disse, com a expressão triste em sua face, enquanto acariciava meu rosto. 

Suas palavras entraram em meu ouvido como navalhas. Senti um aperto no coração que não sentia a muito tempo.

E então, antes que eu pudesse falar ou, pelo menos, pensar no que falar, algo me surpreendeu. Na verdade, algo nos surpreendeu. 

Ouvi o estalo da janela do meu quarto se quebrando. Me abaixei rapidamente para que não fosse atingido pelos vidros.

- Que porra que aconteceu? - Perguntei, com meus olhos arregalados.

Haviam jogado um… Tijolo pela minha janela? 

Cheguei mais perto do objeto e pude perceber que nele havia um pedaço de papel preso. Visualizei melhor e lá estava escrito:

“Quer sua preciosa Taylor de volta, James? Você sabe onde me encontrar, venha até a minha casa que, até a muito tempo atrás, era nossa. 

Ass. C.S.”

- Não pode ser… - Falei com os meus botões.

Senti Leana atrás de mim, lendo o bilhete. Olhei para seu rosto que carregava a mesma expressão de pavor que a minha. 

- C-carolline? - Leana me perguntou, como se não fosse obvio. Estava com a voz fraca e falhando.

- É… - Continuei a fitar seu rosto. - E agora? O que faremos?

Leana ficou andando de um lado para o outro, parecia aflita e pensativa.

- Foi um erro ter te contado sobre Carolline. Isso tudo é minha culpa.

Fiquei em sua frente, segurando seus braços, obrigando-a me olhar.

- Isso não é sua culpa. É tudo minha culpa. - Fitei seus olhos, respirei por alguns segundos antes de continuar. - Minha meia-irmã por qual eu me apaixonei é um demônio. Eu conheci uma mulher maravilhosa que me salvou no deserto que é vampira. Arranjei briga com um vampiro, que agora é uma das unicas pessoas que se preocupa comigo. A melhor amiga da minha ex namorada é um lobisomem. - Acariciei seu rosto e dei um sorriso fraco. - A culpa é toda minha, Leana. 

- Nós precisamos fazer alguma coisa. 

- Tudo que podemos fazer é ir até onde Carolline quer que eu esteja e tentar resgatar Taylor.

- E qual é o plano? - No fundo dos olhos de Leana, parecia que ela tinha uma esperança de que eu pensasse em algo bom. Dei de ombros.

- Não morrer. 

Busquei uma de suas mãos e a puxei para descer as escadas, chegando na sala onde, para minha surpresa, ainda encontrei Rick. Franzi o cenho, tinha certeza de que ele já havia ido embora. Ficou três dias tendo que me aturar, era sem sentido continuar aqui.

- O que faz aqui ainda?

- Me acostumei com o ambiente. - Rick falou, indiferente. 

- Bom, já que está aqui, precisamos de sua ajuda.

Rick ficou calado por alguns segundos, apenas olhando para Leana. Depois para mim.

- Em que posso ajudar? 

xxx

Lembro-me de pegar na mão de Leana e ela pedir para que eu fechasse meus olhos. Senti que estava sendo levado e, em questão de segundos, já estávamos no Canadá. 

Quando abri meus olhos, mal pude acreditar que aquilo realmente aconteceu. Ser um vampiro não era tão ruim assim então, não é?

- Bom. - Rick quebrou o silêncio. - Onde ela pode estar?

- Se a conheço bem… - Me virei para visualizar melhor o local onde eu estava. - Acho que Carolline está na pequena floresta que há atrás de nossa antiga casa. Ela não teria coragem de fazer nada em publico.

- Duvido. Carolline é uma vadia. - Leana entrou na conversa. - Mas eu também acho que ela deve estar na floresta. Vamos.

Leana e Rick me seguiram até que, um pouco distante, avistei Taylor presa em uma árvore, ela estava desacordada.

Corri em sua direção e tirei o canivete que estava no meu bolso e cortei as cordas que amarravam os pulsos de Taylor nos troncos da árvore. 

- Taylor. - A chamei, pegando ela pelos ombros e a balançando, porém foi em vão, ela continuava desacordada. Com um tanto de esforço, a segurei no colo.

Me virei e vi Rick, apenas. Cheguei mais perto do mesmo, olhando para os lados.

- Onde está Leana?

- Ela disse para eu esperar aqui, parecia ter ouvido os passos de Carolline.

- O que? Leana quer ir atrás de Carolline? - Perguntei indignado, Rick apenas deu de ombros. Bufei e olhei para Taylor por alguns segundos. - Tem como segurá-la? Vamos levar Taylor para algum lugar seguro.

Rick assentiu com a cabeça e, com cuidado, pegou Taylor no colo.

- Não sei o que Carolline fez porém o coração da garota ainda está batendo, ela está viva. Não se preocupe. 

- Obrigado, Rick.

- Disponha. - Ele dei um sorriso travesso. - Eu sei que eu sou mais forte.

Ri por alguns segundos.

- Idiota. - Minha expressão ficou séria novamente. - Não por isso… Por tudo, você tem sido um bom amigo. 

- É claro que eu sou um bom amigo.

- Pensava que você era apenas um babaca. 

- Vai se foder, cara. - Rick deu um sorriso de lado.

Nós dois rimos e então sua expressão mudou, seus olhos estavam arregalados.

- James! Cuidado!

De princípio não entendi muito bem com o que tomar cuidado , porém, quando tentei me mexer, já era tarde demais.

Senti uma lâmina fria me apunhalar pelas costas.

- Não! - Ouvi Leana gritando. - O que você fez, sua vadia?!

Ouvi uma risada feminina.

- Queria fazer isso a muito tempo. - Me virei e visualizei o rosto de Carolline.

Minha visão foi escurecendo aos poucos. 

- Leana! James… - Ouvi a voz de Rick.

Minha visão já estava completamente escura, estava sentindo meu corpo caindo no chão úmido aos poucos.

- Não! Ele não pode morrer!

- Ele não vai! - Ouvi Rick gritar. - Ele está com meu sangue em seu sistema. - As ultimas palavras saíram mais como apavoradas, como se estivesse tentando digerir o que estava falando, Rick parecia aflito. 

- O que?! - Ouvi Leana e Carolline gritarem, pareciam surpresas. 

E então depois eu apaguei completamente.