O Corredor escrita por Valkeera


Capítulo 6
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Notas iniciais do capítulo

Fiquei um tempão sem postar nada pois fiquei um bom tempo sem internet, mas isso não acontecerá de novo!



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Como sempre, o ser seguia seus passos no grande espaço branco, sem rumo algum. Nada habitava seus olhos opacos e invariáveis. As memórias ocasionais que passavam vívidas pelas paredes provinham de lugar nenhum, afinal, o ser não retinha memórias. Talvez elas fossem uma parte dele, que nunca se desprenderiam independentes de quantos passos desse até o nada.

Pelo reflexo de seus olhos sem vida, podiam-se ver as cores que brotavam novamente no corredor. Um calor invadiu novamente o lugar. O café desprendia um vapor do copo de isopor que James segurava. Ele olhava sem expressão para o café, como se esperando uma resposta para seu problema. Pareceu finalmente ter entendido, então tomou um gole do café, quase queimando a língua.

Estava no escritório, na salinha do café, no momento vazia, até que seu colega Raphael, um homem alto de cabelo loiro cacheado e um sorriso esperto, entrou na sala, pegando uma bolacha recheada do potinho de vidro ao lado da cafeteira. Ele se sentou no sofá em frente ao que James estava e tentou puxar assunto.

– E aí, ainda falta muita coisa para terminar antes de feriado? – Ele disse, mordendo a bolacha e soltado farelos pelo carpete cinza. Raphael vestia uma calça preta e sapato, com uma camisa azul clara comum.

– Nem me fale. E ainda tem aquela reunião, que estou vendo que não vai dar nenhum resultado – Disse James, tomando outro gole do café quente. Ele também vestia uma calça e sapatos pretos, usava uma camisa branca, porém tinha uma gravata fina preta. Estava com o rosto cansado, como se tivesse ficado trabalhando até tarde algumas vezes. Ele coçou os olhos, e bebeu os últimos goles do café, logo se levantando. – Tenho que ir. Felizmente hoje saio mais cedo! – Por um instante ele sorriu.

– E qual o compromisso? – Disse Raphael, pegando outra bolacha e observando o recheio com interesse. Ele a abriu e comeu apenas o recheio, logo depois comendo a bolacha. Que estranho.

– Ah, aniversário de 5 anos de casamento! – Disse ele sorridente, olhando para o anel em seu dedo, sua maior conquista. Logo depois se deprimiu – E de 5 anos sem nenhuma promoção ou aumento.

– Dureza – Disse Raphael, olhando para a porta para a saída da sala, como que incriminando o escritório inteiro. – O chefe não é um cara lá muito generoso, não é?

Nesse instante, ambos ouviram passos se aproximando da porta, e congelaram, calados. A porta se abriu, e o Sr. Matthews entrou sério, logo sorriu ao ver James e Raphael.

– Ah, olá Sr. Stuart, olá Sr. Williams. Estão fazendo uma pausa para o café?

– Ah, sim, chefe. Mas logo estaremos de volta, apenas relaxando por alguns instantes. – Disse Raphael, logo querendo justificar. O Sr. Matthews era aparentemente muito legal, com aquela cara gordinha simpática, mas tinha uma língua venenosa. Usava um fino terno e uma gravata um pouco estampada de mais.

– Assim espero. Espero não encontrar vocês com muita freqüência por aqui, ou se não alguém vai ter que fazer o trabalho não terminado durante o feriado. – Disse ele, roubando uma bolacha e logo se retirando.

James e Raphael suspiraram, como se tivessem sobrevivido por pouco, mas logo se endireitaram ao ouvir a porta se abrindo de novo.

– Ah, Sr. Williams, acho que não será possível que o senhor se retire mais cedo, tenho mais alguns papéis para você sobre sua mesa. – o Sr. Matthews fechou a porta, e James fechou a cara.

– Lá se vai meu jantar especial... Quando eu for para casa, Lauren já estará dormindo e provavelmente zangada. – Disse James, bufando.

– Relaxa, cara – Disse Raphael, saindo pela porta – O feriado está próximo, vocês vão poder aproveitar. E Lauren vai entender.

James terminou seu café, já frio, e se retirou da pequena sala que era seu refúgio do escritório, indo para sua mesa e quase chorando com o tamanho da pilha de papéis que tinha que terminar.

Estacionou seu carro na pequena garagem do condomínio, pegou suas coisas do carro e estava prestes a abrir a porta da frente quando notou alguém na frente do prédio. A princípio ignorou, e destrancou a porta e estava para entrar, quando se virou e encontrou o fantasma que parecia segui-lo até o inferno e além. A morena alta de olhos claros e inocentes o observava curiosamente da entrada do portão. Tinha os cabelos ondulados cortados na altura dos ombros, usava um vestido discreto e um pouco de maquiagem, mas nem assim deixou de reconhecê-la.

– Vanessa – Disse James, quase deixando a chave cair. Ele estava boquiaberto e com os olhos vidrados, aterrorizado. Ele não se movia, e ela estava apenas sorridente olhando para ele, parecendo ignorar sua reação; deu alguns passos e subiu as escadas da entrada do prédio, em frente a James, que pareceu se afastar um pouco, como tivesse medo que em algum momento ela o atacasse.

– Há quanto tempo, James! Por onde andou por todo esse tempo? – Disse ela, como se fosse uma velha amiga – Passarei uns dias aqui a trabalho e decidi conferir se você ainda morava nessa cidade.

– Vá embora – disse ele, quase sem mover os lábios.

– Ow, nem me convida para entrar, cadê o velho James que eu conheço? – Ela passou a mão pelo rosto dele, mas logo em seguida ele a tirou.

– Vá. Embora. – Repetiu ele, pausadamente, como se duvidasse da capacidade de compreensão dela.

– Saiba que não vou. – Disse ela, mudando seu olhar de amigável para hostil – Não até você me dar o que eu quero.

– Eu não te devo nada. – James falou duramente – E não tem nada para me chantagear. Vá embora brincar com a vida de outra pessoa.

– Por que se afeta tanto comigo quando apareço? – disse ela, se aproximando ainda mais, com o rosto quase colado no dele. Ele a contornou e desceu os degraus – Somos apenas ex-colegas.

– Foi mais que isso, você sabe – disse ele, nervoso.

– Sim, mas não justifica o fato de você fazer essa cara, de quem viu um fantasma.

– Vanessa, você me dispensou, voltou, me deixou, voltou, me deixou de novo e então aparece como se nada tivesse acontecido! – Ele quase chorava frustrado – Eu sei que você sabe como me deixou! E continua voltando, tendo a certeza que cada dia da minha vida é um inferno!

– Por que não me ignora? – ela lançava a pergunta como um desafio – Se realmente me odiasse, me ignoraria. – Ela desceu os degraus, em direção a ele – Mas você fica assim sempre que me vê. Por que será? – Ela segurou a gravata dele e o puxou devagar para mais perto dele, sem James provocar alguma resistência – Ainda sente algo?

Ele pareceu se liberar de um feitiço, piscando os olhos, confuso, e a afastou com cuidado.

– I-isso não é verdade.

– Veremos – disse então se tornando amigável de novo – Nos vemos por aí, James. – ela se afastou e seguiu caminhando pela calçada – Nos vemos.

Ele manteve sua posição até ela se afastar, então desabando abalado para dentro do prédio. Estava zonzo e fraco, sem saber exatamente por que. Ele não sentia nada por ela, e nada a ela devia. Por que ainda temia a volta dela ele não tinha idéia.

Subiu as escadas, devagar, até chegar ao seu andar. James pegou as chaves, quase as derrubando, e abriu a porta, entrando no pequeno e atulhado apartamento. Havia vários livros e revistas empilhados ocupando mesinhas, com caixinhas e decorações sobre eles. Também tinham algumas almofadas no chão, e no sofá, deitada, estava Lauren, segurando o controle e assistindo TV. Ela ouviu o barulho da porta se fechando e levantou a cabeça, vendo o marido entrar.

– Olá, querida. – Disse James, largando a mala no quarto e se ajoelhando ao lado dela, dando-lhe um beijo na testa. Ela não esboçava nenhuma expressão além de um pouco de irritação, fazendo um biquinho – Você fica adorável assim, irritada.

– São 23h, James. – Disse Lauren, fechando os olhos. Ela massageou sua pálpebra com os dedos, e se virou para o outro lado do sofá, deixando James olhando para suas costas – Podia ter ao menos me ligado. – murmurou ela.

James suspirou, arrependido de não ter trazido algum presente.

– Muita gente saiu antes para o feriado, - ele acariciou os ombros dela – e tive que fazer trabalho extra. Ainda houve o trânsito... A cidade fica terrível nessa época.

James ouviu Lauren chorar, soluçando, e assustado a virou para ele.

– O que houve, querida? – ele estava com os olhos arregalados – Por que está chorando?

Ela limpou os olhos e acalmou a respiração.

– Por que você não estava aqui nem para saber da notícia...

– Que notícia? – Ele não sabia do que se tratava, mas se preparou para o pior. – Aconteceu algo de errado?

– Não – Ela sorriu – É uma notícia boa.

– Vão te dar aquele aumento que você pediu? –Ela o interrompeu.

– Vamos ter um filho – Disse ela, derramando mais lágrimas e colocando as mãos sobre a barriga.

– Oh meu Deus! – James falou com a voz apertada, quase chorando também – Eu... – Colocou a mão sobre a mão dela, beijando-a nos lábios – ...Vou ser pai?

– Vai – Ela sorria ainda mais, acariciando o rosto dele. – Vai ser um ótimo pai. Desde que pare de chegar atrasado! – Ela disse, brincando, rindo um pouco, ainda chorando.

– Nunca mais vou me atrasar. – Ele falou sério. – Nada vai nos atrapalhar. Nada nem ninguém.

As últimas palavras ecoaram no cenário, que congelava aos poucos, e descascava as cores, de volta ao branco vazio do corredor.



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Notas finais do capítulo

Vamos ver o que acontece por agora...
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