- Você nunca mais... ?

      - Não. – respondeu simplesmente, passando a olhar na direção da prima, que já esperava o seu pedido.

      Manu estava estupefata.

      - Mas você é linda! Qualquer pessoa adoraria ficar contigo.

      Alicinha riu debochadamente.

      - Não sirvo pra essas coisas. Sou tão ruim que você passou a me detestar depois que transamos. Não quero correr o risco de ser rejeitada mais uma vez.

      Pierrot ficou pálida e sem fala. Nunca pensara que sua atitude pudesse ter causado tanto mal. O aperto no coração aumentou e ela percebeu como fora injusta com a garota.

      - Nossa, que clima pesado! Aconteceu alguma coisa? – perguntou Cínthia voltando pra mesa.

      - Estávamos relembrando o passado. – respondeu Alice. – Quanto deu?

      Elas pagaram seus lanches e foram em direção ao cinema. O casal de namorados ia à frente rindo e conversando enquanto as duas iam atrás, em silêncio. Cada uma submersa em seus pensamentos.

      - O problema não foi você, Alicinha. – falou Pierrot de repente, fazendo a mais nova lhe olhar curiosamente. – Fui eu.

      A garota ia perguntar o que isso significava, mas não teve tempo.

      - Vocês por aqui? – perguntou Babi cumprimentando Cínthia. – Parece que todo mundo resolveu ir ao cinema.

      - Vocês vão assistir qual filme? – perguntou Arthur.

      - Ainda não decidimos. – respondeu Naná olhando para Alice com cara de poucos amigos.

      Manu lhe olhou tentando entender o motivo daquela reação, mas a catarinense lhe olhou com raiva e foi abraçar a namorada, que aparentemente, não percebera nada.

      - Então decidimos juntos. Que tal? – perguntou Cínthia.

      Escolheram uma comédia romântica e foram para a sala.

      - Gente, vou comprar uns chocolates e já alcanço vocês. – disse a vocalista.

      - Vou contigo, Manu. Quero comprar pipoca. – falou Naná.

      - Caramba, você já está com fome? Acabamos de almoçar! – comentou Bárbara surpresa.

      - Cinema sem lanche não é cinema. Sem contar que todo mundo já veio com comida. Pode deixar que não demoro.

      Pierrot achou aquela situação estranha, mas nada disse. Continuou andando até chegar à fila pra pegas os chocolates. Tinha dado aquela desculpa pra ficar um pouco sozinha e pensar naquela conversa que tivera com Alicinha.

      - Não vai dizer nada? – perguntou Helena, brava.

      - Desculpa, tava pensando numas coisas...

      - Tava pensando na pirralha, né?

      A carioca levantou uma sobrancelha. Se ainda tinha alguma dúvida, aquele tom comprovava tudo.

      - Desde quando? – perguntou calmamente, deixando a outra confusa.

      - Desde quando o quê?

      - Desde quando você percebeu que fez a escolha errada?

      Colombina pegou sua pipoca e saiu da fila, com a escritora andando atrás de si. Não respondeu aquela pergunta porque não sabia o que dizer. Estava com ciúme sim, não tinha como negar, mas por outro lado, amava a namorada e não se arrependera da escolha.

      Manu a seguia aliviada. Tirara um peso enorme das costas ao ver que só sentia amizade pela catarinense. Entretanto, estava preocupada com Alicinha. Se sentia responsável por ter causado uma grande decepção na garota.

      Entraram na sala de cinema e após avistarem os amigos, Naná se sentou ao lado de Babi e Manuella no lugar vago entre Cínthia e a prima.

      Se fosse antes, teria sentado em outra poltrona, porém agora tudo mudara. E com um sorriso encantador, ela fez o coração de Alice disparar ao dizer:

      - Toma esse pacote de m&m´s. Lembrei que você adora e comprei pra ti.

      A menina ficou olhando pro pacote com um sorriso bobo, enquanto a escritora se sentava, abria o seu pacote e oferecia aos amigos.

      - Não vai me oferecer também? – Alicinha perguntou no ouvido da garota.

      - Ué, já te dei um pacote inteiro.

      - Mas vou guardar pra mais tarde. – falou marotamente.

      - Você é muito exploradora! – brincou Manu dando-lhe o pacote.

      A garota colocou tudo na mão e devolveu o pacote vazio.

      - Heeeey! Você não deixou nada pra mim... – reclamou achando graça.

      - Tá aqui na minha mão, é só você pegar. Mas também posso colocar na tua boca, se você quiser... – disse piscando um olho.

      Manuella lhe olhou ainda de bom humor e percebeu como a menina estava mais linda do que nunca, como aqueles olhos estavam vivos e radiantes como ela só vira no dia que transara com a mais nova.

      - Eu tenho namorado, Alicinha. – contou como se falasse com uma criança.

      - Não sou ciumenta. – argumentou.

      - Ele não ia gostar de saber disso.

      - Então não conte.

      - Eu o amo.

      - Eu também posso fazer você me amar.

      A mais velha suspirou e então percebeu que seus amigos estavam prestando atenção naquele pequeno debate. Então, se ajeitou na poltrona e passou a prestar atenção no trailer. Entretanto, quando o filme começou, ela não viu a mesma cena que os outros pois sua mente estava muito distante dali...

      A festa era um sucesso. A família de Cínthia era muito conhecida e se via entre os convidados vários artistas, políticos, atletas famosos e, claro, a maior parte da alta sociedade carioca.

      Beatrice, sua mãe, insistira para que a festa de 15 anos da filha fosse num salão apropriado, mas a garota queria que fosse em sua casa.

      A mansão estava ricamente decorada e a pista de dança fervia graças ao DJ internacional que fora contratado.

      Todos se divertiam, exceto uma pessoa.

      - Já é a quinta taça de champanhe que você toma, Manu. Já passou da hora de parar. – falou Letícia.

      - Olha como eles dançam. Como se não tivesse mais ninguém na face da Terra. Por que ela não olha pra mim como olha pra ele? – perguntou observando Beta e o namorado.

      A tecladista virou a garota para a sua direção.

      - Você escutou o que eu disse? Esse é um dia muito importante pra Cínthia. Não estrague isso!

      A vocalista abaixou a cabeça.

      - Eu sei que é duro ver quem você ama nos braços de outra pessoa, mas encher a cara não vai servir pra nada. Pensa na Cínthia e no tanto que ela estava animada com essa festa.

      - Você tem razão, Lê. A Cínthia merece uma festa perfeita. Só que não vou agüentar ficar aqui vendo aqueles dois.

      - Então vai pro quarto de hóspedes. Você ia dormir aqui mesmo. Se melhorar é só voltar, tá?

      A escritora beijou a face da amiga e foi pro quarto. Assim que fechou a porta, se permitiu chorar. Depois que as lágrimas diminuíram, ela ouviu duas batidinhas suaves na porta. Enxugou o rosto e a abriu.

      - Oi, Manu. – disse a menina meio sem jeito.

      - Olá, Alicinha. Aconteceu alguma coisa?

      - Não. – respondeu após um suspiro. – Vi você saindo da festa e quis saber se estava tudo bem.

      Pierrot suspirou e foi se sentar no chão, com as costas apoiadas na cama. A menina entrou, fechou a porta e foi se sentar ao lado dela.

      - Não fica assim, Manu. Ela não merece o teu amor. – comentou acariciando o rosto da mais velha, ao mesmo tempo que o secava.

      - Você ainda é muito criança pra entender o que é amar. Um dia você vai conhecer alguém que também não merecerá o teu amor, mas você vai amá-lo do mesmo jeito e então vai entender o que estou sentindo nesse momento.

      - Eu não sou mais criança, Manuella. – falou séria, fazendo a outra sorrir achando graça. – Com doze anos muitas mulheres já são mães. E eu já amo alguém... – acrescentou timidamente.

      A vocalista sorriu mais uma vez. “Até que essa conversa está me fazendo bem” pensou.

      - Pra mim você sempre será uma criança. Eu te vi tomando mamadeira! – comentou rindo. – E quem é o felizardo? É um garoto da escola?

      Alicinha estava irritada. Cruzou os braços e ficou em silêncio.

      - Ah, conta! Prometo que não conto pra ninguém.

      - Você parece estar muito melhor... – comentou a mais nova ainda irritada.

      - Você me fez bem. O melhor momento dessa noite está acontecendo agora, graças a você. Obrigada!

      A loirinha sorriu toda contente e acariciou o rosto da escritora mais uma vez.

      - Promete que não vai mais me ver como uma criança?

      - Ai, Alicinha, já te disse que não tem como... – a frase ficou pelo meio ao sentir o dedo indicador da garota tocar o seu lábio.

      Manu lhe olhou sem entender nada e a outra lhe deu um selinho. Após o choque, Pierrot se levantou e sentou na cama.

      - Já está tarde, é melhor você voltar pra festa ou ir dormir.

      - Manu...

      - Vai, Alicinha. Você é só uma criança e isso não está certo. Vai embora, por favor!

      A mais nova se levantou, sentou na cama e empurrou a escritora, que depois das taças de champanhe, já não estava tão sóbria como deveria, deitando-se por cima dela.

      - Uma criança faz isso? – perguntou mordendo o pescoço dela, enquanto sua mão ia direto ao encontro do sexo da mais velha.

      - Pára, Alicinha... – pediu tentando empurrá-la.

      A loirinha então lhe beijou. No princípio as duas línguas duelavam. Uma queria espaço e a outra não queria ceder, porém em pouco tempo as duas começaram a seguir o mesmo ritmo.

      Pierrot conseguiu empurrá-la e trocar de posição, ficando por cima e mantendo alguma distância entre seus corpos.

      - Por que você está fazendo isso?

      - Porque eu amo você! Me faz sua? Eu quero que você seja a minha primeira, Manu. – falou meio vermelha.

      A mais velha tocou aquele lábio inferior carnudo que a garota tinha. Dentro de si uma batalha era travada. Queria e não queria. Podia e não devia.

      Alicinha beijou a ponta do dedo da vocalista e a puxou para baixo, colando seus corpos.

      - Esquece o resto. Me leva ao paraíso, Manu, me faz tua mulher. – sussurrou mordendo o lábio e encarando-a.

      Aquilo acabou com qualquer receio e logo a boca da mais nova era invadida por um beijo quente e extremamente excitante...