Palavras na Brisa Noturna escrita por Charichu


Capítulo 13
Naufrágio


Notas iniciais do capítulo

Ser fã de Cecília Meireles e se inspirar nela para escrever, não significa que você vai concordar com ela...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/18279/chapter/13

Naufrágio                             

 

 

 

Era uma tarde fria e cinzenta. Em cima do mar da minha vida, o navio dos meus sonhos navegava. Assisti-o, por um tempo, apenas para constar o quão insignificante ele era perante as correntezas da vida que o puxavam. E, então, me pus a abrir o mar a fim de ver meu sonho naufragar...

Minhas mãos, que sempre julguei tão fracas e inúteis, adquiriram um uma força e vivacidade que jamais imaginei. O pobre navio submergiu. Ele até tentou resistir, pois sua capitã, a esperança, é uma lutadora incansável e não estava nem um pouco disposta a perder seu barco.  Mas, no fim, ela foi derrotada e seu barco submergiu naquelas águas escuras.

Ainda achando que aquilo não era o suficiente, comecei a chorar. Derramei todas as lágrimas necessárias para fazer o mar aumentar e esconder plenamente qualquer vestígio daquele navio irritante...

Quando, em fim, havia concluído a missão com sucesso, me pus a observar as conseqüências dos meus atos. Meus olhos, agora secos como pedras, certificaram-se com um certo orgulho que as águas da vida estavam lisas e ordenadas.  Tudo havia ocorrido como o planejado.

Então, dei as costas aquele mar e comecei a andar. No entanto, o inesperado aconteceu. O sol surgiu atrás das nuvens cinzentas, iluminando e colorido à passagem a sua volta. Desviei meus olhos de pedra daqueles raios incômodos e eis que vi o impossível: o navio havia emergido.

Por uns breves segundos, fiquei pasmada.  Como aquele maldito barco ousava desafiar-me?

 Um ódio intenso surgiu em mim, curando e dando as minhas mãos uma nova força. Voltei a me aproximar daquele sonho persistente e o ergui do mar. Estava disposta a não pegar mais leve com ele. Iria afundá-lo novamente, só que agora de forma rápida e fatal.

Porém, na hora de transferir o novo golpe, meu sonho me encarou com uma determinação assustadora. E, embora alguns de seus pedaços estivessem imersos nas águas negras da vida, toda sua essência ainda permanecia inteira, emanando uma aura bela e encantadora.

Foi então que o óbvio fez-se claro: não importava quantas vezes tentasse afogá-lo, ele não me daria esse amargo prazer. Nem mesmo se sacrificasse minha vida, ele morreria. Porque, o homem pode fracassar, morrer e ser esquecido. Mas, seus sonhos não sentem dor, não sangram e continuam a viver aguardando o momento certo para revolucionar o mundo. Afinal, esta é a verdadeira beleza do sonho: ele não depende do seu criador para se tornar real.

Não posso mais afogar meu sonhos, pois apaixonei-me pela sua essência. E não nutro um daqueles amores doentios e vis capazes de matar o dono de seu coração. Nutro um amor maternal, o mais forte e belo de todos os amores, cujo principal objetivo é ver seu filho feliz e realizado.

Comecei, então, a reparar todos os destroços perdidos do meus sonhos.  É provável que o tempo se esgote e eu nunca mais conseguirei vê-lo como era antes. Ou que surja outro alguém, muito mais competente, que finalize o conserto do meu sonho.

Mas nenhuma dessas hipóteses me abala. Para ser franca, acredito que elas seriam punições devidas para alguém que teimou afogar o que a vida lhe deu de mais precioso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Palavras na Brisa Noturna" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.