Dark Life escrita por Cami


Capítulo 2
Monstro.




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A cama rangia enquanto eu me balançava para frente e para trás, abraçando os joelhos e pensando no que fiz. À minha frente, jazia o corpo de um homem, de aparentes cinquenta e poucos anos. Meu rosto ainda estava coberto de sangue, assim como minhas roupas. A cena ainda se passava em minha mente.

Eu abri a porta, e dei de cara com ele. Nas poucas palavras que ele disse, o homem foi amável, apesar de estar com um medo que lhe tingia os olhos. Perguntou-me se eu estava bem, mas eu não respondi. Estava concentrada em seu pescoço, fino e pálido, com as veias azuis pulsando com o sangue. Meus músculos moveram-se sozinhos, e enquanto eu drenava a vida daquele ser, eu me senti bem. Senti-me satisfeita.

O líquido quente escorria pela minha garganta, saciando a ardência que agora vi que era sede. Mas não sede de água. Sede de sangue, de morte. Apesar da ardência estar muito mais leve, eu me sinto suja. Não porque minha roupas estão manchadas ou meu cabelo ensopado de sangue, mas porque eu acabei de matar uma pessoa, e meu corpo reage muito bem a isso.

Nesse momento, eu não sei o que fazer. Não faço ideia do que sou. Sei que o termo normal não se encaixa à mim. Sei que não pertenço a esse mundo humano. Sinceramente, começo a pensar em mim mesma como um monstro.

Quero sair dali o mais rápido possível. Me suprimir da humanidade, esconder-me de tudo e todos, onde ninguém possa me encontrar. Mas o que fazer com esse corpo? Simplesmente o deixo ali, no chão sujo, até que alguém o ache? Não me pareceu justo.

Assim, enrolei-o em um cobertor velho que encontrei no guarda-roupas. Abri a porta e espiei o corredor mal iluminado. Silêncio. Apenas respirações suaves de quem dormia. Então eu peguei o corpo sem nenhum esforço, como se o homem tivesse o peso de uma criança. Carreguei-o por cima do ombro, descendo cuidadosamente as escadas e parando na fachada do prédio. Na rua, apenas o vento frio.

Andei pela rua, carregando o homem e temendo que alguém me visse. Felizmente, devia ser tarde o bastante para todos estarem em seus quartos. Caminhei por quase meia hora, até que encontrei a entrada para um bosque, ao lado de um prédio de três andares abandonado.

O bosque estava escuro e frio, e galhinhos quebravam quando eu pisava. Deitei o homem debaixo de uma árvore alta, sem saber se o enterrava ou não. Decidi deixá-lo desse jeito, pois assim, alguém o encontraria e lhe daria um enterro adequado.

Rapidamente saio do meio das árvores, encontrando novamente o asfalto gelado. Começo a percorrer as ruas, voltando ao prédio em que estava.

Quando cheguei a meu quarto novamente, tranquei a porta e decidi que não a abriria mais. Ficaria trancada ali, até saber me controlar e saber o que era.

No guarda-roupas, achei uma troca de roupa, jeans esfarrapados e uma blusa preta simples. Entrei no banheiro e tentei ligar o chuveiro. Para minha surpresa, uma água morna caiu, fazendo nuvens de vapor encherem o cômodo minúsculo.

Já trocada e de cabelos penteados – com uma escova que achei também no guarda-roupas – sentei-me na cama, observando o quarto. Mas não me concentrei, em minha mente, eu revivia as últimas horas.

Não podia acreditar que matara um homem e o abandonara na floresta. E eu não me sentia culpada, ou pior. Sabia que eu era horrível; que devia ser tachada de monstro; mas eu não me importava. A ardência em minha garganta passara, apenas um incômodo fraco demais ainda resistia.

Na mesinha de cabeçeira, acho um celular. Estico-me até alcançá-lo e o abro. Como papel de parede, está uma foto minha e uma outra garota. Ambas sorrimos enquanto nos abraçamos. Percebo, com grande choque, que na foto meus olhos estão azuis e minha pele está mais bronzeada. A menina a meu lado, aparentemente tem a mesma idade que eu, com uma pele azeitonada e cabelos cacheados e escuros. Seus olhos estão focados na câmera e posso ver claramente seu tom caramelado. Sinto que a conheço, mas não lembro de seu nome e nem de sua voz.

Começo a vasculhar o celular, achando a agenda. Lá diz que eu tinha uma festa à ir, no sábado à noite, às oito horas. Seria na casa de um garoto chamado Lucas e seria para comemorar o campeonato de basquete que a escola ganhara. Voltei a primeira página do telefone, só para ver que hoje era quarta-feira.

Na lista de contatos, vários nomes. A maioria meninas. Achei um com nome “Casa”; fiquei tentada a ligar e falar com minha mãe ou pai, ou seja lá quem morasse comigo. Mas o que eu diria? “Oi, eu não sei quem sou e talvez você more comigo. Ah! Mas eu matei alguém e acho que não sou humana.” Rídiculo.

Na pasta de fotos, muitas fotografias minhas com outras pessoas. A garota de cabelos cacheados apareceu novamente em outras fotos. Em apenas uma foto havia legenda: Os melhores do mundo, Bianca e Chris. Lembrei de ter visto esses nomes na agenda, mas não ousei ligar para eles.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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