Eu estava num dia comum, morrendo de tédio e lendo livros.  A janela do meu quarto é bem grande, e tem tipo um banquinho na frente. Eu ficava sempre sentada ali, olhando o Joe da casa dele. Ah o Joe...que saudades dele. Enquanto estava concentrada lendo, meus pais estavam trabalhando. As férias do meio do ano haviam começado. E eu nem tinha ideia do que fazer nelas.

Ouço um barulho na casa que era de Joe. Havia uns carregadores deixando malas e caixas. Olhei para a janela aberta do ex quarto de Joe e havia um garoto nele.  Praticamente loiro, tinha um tipo de corte arrepiado com uma franja (o corte atual do Justin). Ele vestia um moletom azul claro e uma bermuda preta. Ele olhou para a minha janela e eu, numa tentativa fracassada de me esconder, cai para trás e isso rendeu risos do meu novo vizinho gato.

Assim que levantei, ele tinha ido embora. Decidi tomar um banho. A água quente, acalmava o meu corpo. Que por muitas vezes pensei em o ferir, cortando meus pulsos, ou bater em mim mesma. Eu precisava de alguma maneira de tirar a raiva, a dor, de mim. Foi nessa hora que eu vi, que nem tem razão para fazer isso. Acho que se você acredita em Deus, confie nele que tudo vai melhorar.

Terminei o banho e me vesti, com um vestido florido. Decidi que hoje, eu iria passear pela vizinhança. Fui direto para a porta, olhei para o lado na casa vizinha e vi uma mulher de 30 e poucos anos, com cabelos pretos e lindos olhos azuis, eu sorri, ela devolveu o sorriso. 

Fui para o lado oposto, andei e vi um carrinho de sorvete. Em Atlanta estava quente demais. Continuei a andar, tomando sorvete. Vi muitas crianças brincando e sorrindo. Vi Ryan e Chaz andando de skate, eu estudava com eles, até eu ter aulas particulares. Dei um sorriso e acenei, eles fizeram o mesmo. Fui para o parque, fiquei sentada admirando a vista por um tempo e depois segui para o meu lar, doce lar.

Entrei em casa e vi a mulher de olhos azuis que vi antes de sair e o garoto gato da janela sentados com os meus pais que deveriam ter chegado mais cedo hoje. Todos pararam a conversa e me olharam sorrindo, o garoto, ainda nem havia visto que eu estava ali, e logo depois ele virou e me fitou sorrindo de lado por alguns segundos. 

– Venha sentar aqui e conhecer nossos novos vizinhos Amy. – disse minha mãe

– Oi, tudo bem? –perguntei timidamente

– Sim querida, e você? Me chamo Patty e meu filho Justin. 

– Tudo sim! Se vocês não se importarem, eu queria ir para o meu quarto, estou muito cansada. 

– Claro filha. Mas leve o Justin para conversarem um pouco. – mamãe disse e eu quase derreti com o olhar doce que Justin me lançou.

– Ok, vem Justin. – subi as escadas e ele estava vindo comigo.

Abri a porta do meu quarto e sentei na cama, disse para Justin sentar junto.

– E então Justin, me fale sobre você.  – perguntei e olhei para ele que sorria timidamente

– Bom... meu nome é Justin, mas isso você sabe –risos– Eu tenho 17 anos. Sou canadense, me mudei para Atlanta porque minha mãe conseguiu um emprego, depois de muito esforço. Eu não sou o tipo de cara rico, que geralmente as meninas pensam que eu seja. Tenho uma casa nova, tenho roupas novas, e comida. Mas antes nem era assim. Mas tudo vai mudar com o emprego de Patty. Me orgulho dela, por sempre lutar. Eu gosto de brincar com os outros e fazer piadas. Sou um cara educado e romântico. Acho que foi culpa da minha mãe eu ser assim. 

Ele parou de falar e olhou para mim com um sorriso lindo, percebi que sempre quando ele sorria, todos os seus sorrisos eram lindos. Senti que ele era um bom garoto. Além de lindo,   romântico. Assim como...Joe.

– Amy, sua vez agora.

– Eu tenho 16 anos, daqui a alguns meses, farei 17. Sou tímida, romântica e gosto de ler livros. Sou brasileira e me mudei para Atlanta aos 5. Conheci um garoto que foi o amor da minha vida, mas infelizmente ele faleceu e eu me tornei uma pessoa fechada para tudo...e todos.

Tive que parar de falar, a lembrança do dia que eu perdi Joe doeu em mim, me fazendo deixar escapar algumas lágrimas. Nem olhei para Justin, sentir o olhar de pena sobre mim, isso eu não queria. Enquanto ficamos num silêncio que agoniava, eu derrama lágrimas que cada vez mais saiam de teimosas. 

Justin pegou a minha mão e entrelaçou com a dele, logo me abraçou. Senti o perfume dele invadindo minhas narinas, e o corpo quente dele junto ao meu. Pude sentir meu coração, no momento que ele me abraçou, ele se acalmou. E batia calmamente, como se eu estivesse mais segura do que nunca.

Ficamos assim por minutos, até que Justin sussurrou em meu ouvido.

– Eu te conheci hoje, mas eu prometo que sempre vou estar aqui por você.