Na segunda feira, levantei e fui direto para cozinha. Não comia desde o almoço do dia anterior, e meu estômago estava roncando tanto que poderia ser considerado um animal.

Eu tinha melhorado desde o dia em que Kayla me confortou. Ou eu pensave que tinha melhorado. Minha tia ainda me olhava como se eu fosse doente, e eu não via mais meus primos, por não sair do quarto para nada além de comer. Normalmente eu só comia duas vezes por dia também.

Depois de comer cereal e tomar um copo de suco de uva, voltei para meu quarto, sem falar nada para Kayla ou para minha tia, que estavam no quarto. Quando estava chegando no quarto, Kayla me abraçou pelas pernas por trás. Ela sempre fazia isso. Era parte da rotina.

- Como você está hoje, Val?

- Igual a todos os dias, Kay. - respondi beijando seu rosto, então sorrindo e me afastando, me retirando para meu quarto.

Como sempre, dormi assim que deitei na cama. Mas dessa vez foi diferente. Dessa vez eu sonhei, algo que não acontecia a muito tempo.

No sonho, eu estava num campo. Um grande campo, cheio de flores coloridas e cheirosas. Meu cabelo estava solto e eu parecia completamente diferente do que estou agora. Eu estava no jeito que era antes de me mudar para Pheonix, quando eu tinha Sammy e Paul para brincar todos os dias. Só que eu estava com a idade que tenho agora.

E Ned estava a alguns metros de distancia de mim. Meu coração deu voltas de alegria quando eu o vi. Um sorriso surgiu nos meus lábios e eu corri em sua direção. Ele não abriu os braços para me receber, mas isso não me fez parar.

O abracei apertado, enterrando meu rosto em seu pescoço e forçando seu cheiro a entrar pelas minhas narinas.

- Porque você fugiu? Eu não aguento ficar sem você. - falei.

- Nós não podemos, Valerie. - ele respondeu, me afastando com brutalidade de si - Eu não te quero.

- E eu sei porque. - falei - Porque você não me quer.

Um canto de sua boca se levantou, um quase sorriso.

- E porque eu não te quero?

- Porque você não é como eu. Não é humano. - respondi abraçando ele novamente, porém deixando espaço suficiente entre nós para poder vê-lo.

Seu sorriso sumiu, suas mãos me agarraram os braços e ele me encostou numa árvore muito rápido.

- Isso não é verdade. Não é possível. - falei ofegante.

- É mais que verdade, é muito mais possível do que você pode pensar. - ele disse, sua voz musical, envolvendo todos meus sentidos, tomando conta de mim.

Estava acontecendo, eu estava para descobrir a verdade sobre Ned. O mundo pareceu girar e então tudo se apagou e eu caí. Não, eu subi.