E então, ao olhar no fundo de seus olhos culpados, eu entendi mais uma vez tudo o que havia realmente acontecido.

- Você não teria coragem - eu disse, dirigindo a palavra á ela pela primeira vez e já a afrontando. Franzi os olhos e não sei ao certo que expressão eu fiz, mas pelo visto foi bem assustadora e raivosa, já que Jenna dava grandes passos pra trás, voltando pra cozinha. A essa altura eu já estava com os punhos cerrados com força, ao ponto da palma de minha mão doer por causa da pressão de minhas unhas contra ela.

Me dei conta de que eu havia esquecido do mundo ao meu redor. Quando "voltei pra realidade" percebi que Jeremy havia soltado Josh, e ambos encaravam Jenna. Jeremy com a expressão de raiva que eu provavelmente estava, e Josh com uma expressão entristecida, do tipo "não quero acreditar que isso seja verdade". Taylor segurava meus braços, e eu achei aquilo realmente estranho.

Me esquivei dele. - Hayley, pelo amor de Deus, não faz isso - disse ele, sério. Aí que eu fui me dar conta de que eu estava quase dando um soco na Jenna sem perceber, de tanta raiva que eu tava.

- Sua filha duma égua - eu disse entredentes, me segurando pra não chamar palavrões cabeludos ali. - Só não faço isso agora porque tu estás grávida - eu quase gritei essa última palavra.

- Do que você está falando? - disse ela. - Por que você iria me bater se eu não fiz nada?

Hipocrisia realmente me dava nos nervos, e a minha única vontade era de pular em cima daquela vaca oxigenada.

- Jenna, você... Você realmente fez isso? - perguntou Josh, num tom baixo.

- Isso o que, meu bebê? - disse ela, forçando uma voz melosa.

- Por favor, né, Jenna. Isso que eles estão me acusando. De ter ligado pra gravadora e cancelado o contrato da banda.

- Você acha mesmo que eu faria isso, meu bebê? Assim, nesse estado que eu estou? – disse ela, pondo a palma da mão sobre a protuberância em sua barriga, agora forçando o choro mais falso que eu já vi. Bati o pé em um tom de impaciência, encarando-a feio.

- Galera, acho melhor a gente sair daqui – disse Taylor, sempre o mais controlado de todos nós. Jeremy soltou com força seus braços que estavam cruzados. Taylor segurou minha mão, e eu sabia que ele tinha feito isso pra provocar Josh. Disfarçadamente, olhei pra trás, e vi que Josh olhava pra nossas mãos entrelaçadas, logo em seguida fitando Taylor da cabeça aos pés.

P.O.V. Josh

Eu não podia acreditar mesmo naquilo. Eu não conseguia acreditar que Jenna, a mulher que havia me feito desistir de meu sonho, havia me apunhalado pelas costas. Em razão de nada, já que o pessoal nunca havia feito nada a ela. Eu a encarava, não querendo acreditar que fosse verdade.

- Jenna, você... Você realmente fez isso? – perguntei.

- Isso o que, meu bebê? – respondeu ela. Revirei os olhos.

- Por favor, né, Jenna. Isso que eles estão me acusando. De ter ligado pra gravadora e cancelado o contrato da banda.

- Você acha mesmo que eu faria isso, meu bebê? Assim, nesse estado que eu estou? – ela respondeu, chorando e com a mão sobre a barriga. “Isso não a impediria de ter feito”, pensei. Jenna estava mentindo pra mim. Ela realmente havia me apunhalado.

- Galera, acho melhor a gente sair daqui – disse o Taylor num tom mais calmo. Os três saíram, e ao chegar perto da porta, Taylor entrelaçou sua mão com a de Hayley. Fiquei encarando aquela cena, e então eu senti uma coisa estranha, algo que eu nunca havia sentido pela Hayley, nem quando eu estava com ela. Ciúmes.

A porta se fechou em um ruído surdo, me fazendo submergir de meus pensamentos.

- Josh! Eu estou falando com você – disse Jenna, que “de repente” havia parado de chorar.

- Jenna – eu olhei bem no fundo de seus olhos e segurei seus ombros. – Você está mentindo pra mim?

Ela se esquivou de mim e se jogou sentada no sofá. – Bom, é que... – ela hesitou.

- Que...?

- Você parecia tão tristinho ontem... – disse ela, se levantando e arrumando a gola de minha camisa. – Me contando sobre o que havia acontecido no apartamento da Hayley... – continuou, agora com as mãos em minha nuca. Ela nunca chamava a Hayley de “Hayley”. Jenna sempre se referia a ela como “curupira” e coisas desse tipo, então eu peguei sua falsidade desde já. – Achei que eu poderia dar uma mãozinha...

- Dar uma mãozinha, Jenna? – agora eu falava alto. – Você achou mesmo que daria uma mãozinha, Jenna? – agora eu a afastei de mim. – JENNA, ELES NÃO TE FIZERAM NADA! Até mesmo eu, que levei um soco deles na cara não fiz uma coisa desse tipo! – agora eu gritava com ela. “De repente” ela começou a chorar de novo. Chorar, sei.

- Mas Josh...

- Não tem “mas”, Jenna. Como você pode fazer isso?

Ela respirou fundo e fechou os olhos. – Eu odeio aquela banda. Com todas as minhas forças. Odeio o fato de essa banda ser o sonho da sua vida. – eu a encarava, perplexo. – E odeio mais ainda a presença daquela garota estranha nessa banda que você tanto ama. – agora ela falava de Hayley. – Entende, meu bebê... Eu fiz isso por amor.

- AMOR, JENNA? Você destruiu a banda dos meus sonhos por AMOR?

- Josh, não grita comigo... – ela disse, pondo a mão sobre sua barriga e chorando mais. Como sempre usando essa gravidez como pretexto.

- Chega, Jenna. Acabou – eu disse, me virando e saindo pela porta da frente.

- Como assim “acabou”, meu amor? Você vai me abandonar assim, grávida de você?

Eu a olhei com a expressão mais desprezível do mundo. – Se é que esse filho é meu.

Meu irmão e meus amigos me odiavam, e eu odiava minha... esposa (agora ex). Bati a porta atrás de mim, marchando pela rua sem destino.