Passagio escrita por Nymphadora, Mirackles


Capítulo 4
Capuccino - Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Mais um! *oo* Sou uma campeã!!! u.u
Espero que gostem, porque eu gostei de escrever =DDDD



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"Olha, eu não sei o que aconteceu.

E nem venha reclamar. Eu realmente não achei NADA que pudesse servir de nome para você. E não é sobre isso que eu vim falar.

Eu vim dizer que estou confusa, chateada e completamente irritada. Irritada porque eu não poderia saber menos o que eu quero. Sobre nada. Eu não sei, não sei e... ah!"


E foi assim, entre suspiros e lamentos, que ela conversou com seu confidente diário naquela noite, depois de – a muito custo – fazer os exercícios.

Na manhã seguinte ela acordou cedo e se sentiu exausta. Ela queria faltar o dia de faculdade, mas não podia se dar ao luxo. Colocou então uma saia preta de pano que ia até acima do joelho e uma blusa regata salmão, com uma sandália de dedo com algumas contas cor-de-rosa e o cabelo preso em um coque frouxo no alto da cabeça. Pegou a bolsa, os livros e um casaco de lã preta e foi a pé. A manhã estava fria o suficiente para que ela não soltasse uma gota sequer de suor. Para não correr nem o risco, ela tinha acordado bem mais cedo e ia devagar, divagando sobre um milhão de coisas ao mesmo tempo.

Chegou exatos cinco minutos antes da primeira aula, o que não dava para ela tempo de fazer nada. Ela não reclamou, afinal de contas era exatamente o que ela queria e o que estivera procurando. A primeira aula dela era junto com Ricardo, e normalmente era no meio da sala, onde ele também se sentava, que ela ficava. Mas não naquela sexta-feira. Ela foi até um dos cantos do fim da sala e ali sentou, com a bolsa em cima da mesa.

Ricardo estava com seu casaco cinza, o capuz na cabeça. Ficou um pouco confuso quando viu Carla se dirigir para o fim da sala, onde ela evitava ficar. Ela sempre dizia que na frente era implorar por atenção e atrás por uma nota ruim ou uma advertência do professor. E mesmo assim lá estava ela. A confusão, é claro, durou pouco. Ele não tinha achado que ela ia levar o acontecimento anterior tão a sério, mas pelo visto esteve errado. Prestou pouca atenção na aula, desejando apenas olhar para o lado e ver os olhos azuis a lhe encantar. E por mais que quisesse, ao seu lado não tinha ninguém. A não ser, é claro, no outro lado, onde estava seu amigo Fabriccio, que reclama com Maria por estar cutucando suas costas, ao tentar falar com Ricardo. Este fingia que não estava vendo. O humor para falar com ela tinha que estar muito bom, e ele estava longe disse. Maria cismava com tudo muito rápido.

O sinal bateu e Ricardo saiu da sala e foi esperar Carla no armário dela. Tinha conseguido de esquivar de Maria, que provavelmente estava na porta do banheiro masculino esperando um namorado que jamais sairia dali.

Ela chegou, com a cabeça baixa, na bolsa, procurando pelos livros que ia guardar no lugar dos outros. Quando levantou a cabeça a dois passos dele e o viu, ela deu um para trás e estava para sair quando ele pegou o braço dela e a encarou.

A mesma mão que antes acariciara a sua estava agora a lhe exigir atenção. Ela não queria, queria sair dali e dar a ele um tempo para pensar direito, mas agora já não mais podia. Deveria ter esperado por isso,ele em seu armário. Como nada mais podia fazer, deu as costas a ele e foi abrir o armário. Trocou uns livros por outros e se virou para ele com uma das mãos na porta do armário.

– Eu estava querendo falar com você – ele começou.

– Você deveria estar querendo falar com Maria. Ela está no outro corredor – ela disse, apontando para o corredor que sumia à sua direita.

– É isso – ele disse, e foi pelo caminho que ela tinha indicado a passos largos e pesados.

Carla pesou a mão esquerda, que estava na porta do armário, e o fechou com um estrondo. Para não ter que responder aos olhares acusadores que muitos iriam lhe lançar, ela encostou a cabeça na porta do armário e ali ficou até que a cabeça não mais doesse por causa de tantas perguntas latejando para todos os lados.

Ela foi caminhando pelos corredores, vendo as pessoas passarem por aqui e por ali. Alguns sorrindo, alguns sérios, alguns com caretas e alguns ouvindo música e as cantarolando. Ela já tinha visto cada um deles pelo menos uma vez, talvez até assim mesmo nos corredores, de passagem. Mas jamais parara para conversar com nenhuma daquelas pessoas como tinha parado para conversar com Ricardo nos intervalos da aulas, nos almoços, no longo caminho até o portão principal e muitas vezes até o estacionamento dos alunos, onde cada um ia para o seu canto.

“Nem todo mundo vem sabendo o que quer. Mas é sempre bom se convencer que sim. Acho que eles fazem isso até que realmente saibam o que querem”, ele dissera.

E provavelmente era o que ela vinha fazendo até então. Ela achou que sabia o que queria, pelo menos em relação a Ricardo. Achava que a única pendência era seu futuro, mesmo que não o imediato. Agora tudo era turvo, era confuso. Ela simplesmente não sabia o que fazer.

Mal ela sabia que, em algum lugar no labirinto de corredores, Maria esperneava, a procura do seu namorado.

Foi então ao banheiro e lá lavou o rosto e prendeu o cabelo um pouco mais firme, se olhando no espelho por um momento. Os olhos azuis que a encaravam eram mais pálidos do que os a que ela se acostumara, e as orelhas gritavam que ela não tinha dormido direito.

Mas ela não tinha tempo para se analisar, em poucos momentos começaria a próxima aula.

E assim ela foi passando pelas aulas. Ricardo estava em todas elas, mas ela foi uma ou duas vezes mais ágil que o normal e conseguiu fazer com que ele não a visse. Em todas as aulas ela prestou pouca atenção. Vagava de novo e de novo para a expressão magoada com a qual ele dissera aquele “É isso”.

Quando o sinal da última aula bateu o professor sorriu para ela quando saiu da sala e balbuciou um Fecha a porta, como se não quisesse interromper os devaneios da garota. Era boa, essa compreensão das pessoas. Era como se todos achassem que todo jovem artista tivesse suas excentricidades de vez em quando, por mais que fossem contidas, e simplesmente a deixassem com isso. E por mais que ela quisesse estar ali como estava, com a cabeça na carteira, para sempre, ela não podia. E a faculdade já deveria estar mais vazia, então ela tinha que sair. Desabotoou o casaco e pegou a bolsa, e com o resto de energia que tinha ela saiu da sala e percorreu todos aqueles corredores mais uma vez.

Quando estava quase no portão principal viu Maria andando em sua direção, e por isso parou de andar por um momento. A garota vinha com toda a energia que tinha – fruto, muito provavelmente, de uma noite bem dormida – com os olhos a fulminar os de Carla.

Assim que ela parou e seus cabelos pretos se acalmaram – não se podia dizer o mesmo de sua respiração – Maria deu um sorriso amargo e deu um tapa com tudo na bochecha direita de Carla. Antes que pudesse se recuperar do tapa, percebeu que Maria já andava para longe, para o primeiro prédio da universidade.

Carla olhou ao redor e enrubesceu quando viu que uma boa parte dos alunos que não tinham saído ainda a olhava com confusão no rosto. Não era de se surpreender. A própria mal soubera porque levou o tapa, quanto mais aqueles alunos, que desde sempre nada tinham a ver com sua vida. Os olhos ficaram embaçados e o nariz começou a coçar, mas ela não ia chorar ali. Saiu andando com pressa dali e quando se deu conta já virava a primeira esquina.

Ricardo lutava contra o carro, tentando ligá-lo numa pressa impossível. O motor rugiu e ele deu a partida.

Carla ainda lutava contra as lágrimas e a bochecha ardia. Para uma patricinha até que a menina tinha uma força... notável. Esse pensamento a fez soltar um riso amargo, mas parecia que ela tinha feito uma careta por causa da força que vinha fazendo para não chorar.

Olhou para trás uma vez, para ter certeza que não vinha ninguém, como já era de costume, mas só ouviu o roncar de algum motor, e ninguém na rua. Parou e encostou-se ao muro, com os olhos fechados.

Não ficou ali nem por um minuto e ouviu o motor ficar mais calmo e uma porta se abrindo. Abriu então os olhos e viu Ricardo vindo em sua direção, os olhos na sua bochecha que deveria estar bem vermelha àquela altura. Um vento frio passou, fazendo com que o cabelo dele batesse, rebelde, contra seu rosto. Ela se desencostou automaticamente do muro e ficou de pé, com o punho cerrado contra a alça da bolsa e uma vontade louca de sair correndo dali. Talvez fosse seu olhar preocupado, ou seu andar determinado até ela, que não a deixou ir embora. Fosse o que fosse, ela não foi.

E ele chegou perto, e quando estavam a dois passos um do outros ele estendeu a mão e a puxou pela cintura, colando em seguida sua boca com a dela.

A bochecha não ardia mais, nem o nariz. Os olhos pararam de lacrimejar, e uma única lágrima – que já se espreitava há temo – caiu, de pura alegria. A bolsa caiu de sua mão, que foi involuntariamente agarrar os fios curtos de cabelo loiro, em urgência.

Ele sentia necessidade dela, e a puxava para si o máximo que podia. A mão esquerda se juntou à outra em sua cintura.

Ela não tinha mais dúvidas. Não era amizade há muito tempo. Ela o amava, e necessitava daquele calor contra seu corpo, tanto quanto necessitava de sua voz, de seu cheiro. Ele a beijava com ternura, mas com tanto amor que ela derreteu em seus braços.

Depois do que poderia ter sido uma eternidade, mas que nada era para eles, que poderiam ficar ali para sempre, os rostos se separaram, e ambos ficaram com a respiração ofegante, as testas unidas. Ricardo estendeu umas das mãos e acariciou a bochecha vermelha. Carla fechou os olhos e simplesmente sentiu aquela presença contagiante.

Nada disseram.

Ela abriu os olhos mais uma vez e Ricardo os fitou, maravilhado como sempre ficava. Beijou a bochecha que estivera acariciando e formou o caminho de volta à boca da mulher que ele amava.



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Notas finais do capítulo

*oo* Review, ok?
O próximo capítulo vai demorar, creio eu, porque vou consultar Dahdy, pra ver se ela resolve me ajudar no enredo kkkkkk'
Review, ok?
(Dahdy, se você estiver lendo isso, amiga, tô falando só dos detalhes, viu? u.u tu devia ter terminado o SEGUNDO, imagine só - ♥)
Review, ok?
Só... Review.



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