Apolonyx escrita por Veneficae


Capítulo 19
Estatua Viva




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Sai do salão, passando pelo portão de ouro e pude ver parado na escadaria branca uma carruajem puxada por cavalos negros alados e dois homens – um centauro velho e um jovem semideus negro.

Pierce acenou, por algum motivo não senti nada do que sentia antes.

– Oi. - murmurei. Quíron era um centauro de pele e pelos escuros, barba e cabelo com alguns fios brancos e olhos pretos. Ele era igualzinho a alguns centauros que vi pelo Acampamento, só que mais velhinho.

Abracei Pierce.

– Há quanto tempo, né?

– Uhum. - sorriu. - Tudo bem?

– Eh... estamos nos preparando para uma guerra, não?

– Culpa sua?

– Em parte.

– E os outros? Beccs e...

– Estão bem, acho. Já faz um breve tempinho que não os vejo. - virei-me ao centauro. - Quíron. - cumprimentaram.

– Você então é a tão falada Dafni Pandora, que fugiu do meu acampamento com uma filha de Zeus e um deus da morte?

Corei, envergonhada.

– Não fique assim, menina. Só acho que vou ter que reforçar a segurança.

– Desculpe.

– Tudo bem. Agora vamos?

Assenti.

Entramos na carruajem. Quíron pegou pegou as rédeas e então os Testrálios começaram a voar, levando a carruajem consigo. Não posso dizer muito sobre a viagem, pois ficamos a maior parte do tempo a cima das nuvens.

O sol foi se pondo, já era tarde.

Passamos por várias árvores e nevoeiro até acharmos a Colina Meio-sangue do Acampamento, com a árvore de Thalia ao lado. Quíron estendeu a mão quando chegamos perto da fronteira, um raio desceu do céu e então ultrapassamos um tipo de plastico gelatinoso.

– Para quê isso? - perguntei a Quíron.

– Autorizar os Testrálios a entrar no acampamento, tenho de fazer isso com animais sombrios. Por precaução.

– Hum... - a carruagem pousou a poucos metros da Parede de Escalada, vazia. Era tarde, com certeza todos estavam almoçando no Pavilhão do Refeitório agora.

Pierce me ajudou a descer, Quíron despachou os Testrálios para o estábulo – onde algum semideus guardaria a carruagem. Estávamos indo para meu chalé quando me impediram de ir adiante.

Arqueei as sobrancelhas.

– Antes de chegarmos lá, quero que fique ciente de uma coisa. Logo após que saiu do acampamento, quando os monstros declararam guerra, nos atacaram.

– Como se está tudo intacto?

– Queriam mandar uma mensagem clara e forte para todos os semideuses, criaturas, seres, deuses, ninfas e você. Eles arrebentaram nossas defesas em grande número e atacaram o santuário de suas lembranças. Sinto muito.

– Hein? Você não está dizendo que... - comecei correr em direção ao meu chalé.

Pierce correu atrás de mim, dizendo:

– Nós resistimos ao ataque, dizimamos muitos, mas o estrago foi grande. Se prepare para o que vai ver, Pandora.

De repente parei, incrédula com a visão.

– Como posso me preparar para ver parte de mim destruído? - murmurei, catatônica.



Eu diria que... sabe quando seus sonhos viram pesadelos? Quando o mais puro dos anjos tem as suas assas queimadas? Bem, esta foi o impacto da visão em mim.

Destruído, tudo destruído.

Atravessei o tecido de proteção danificado e caminhei pela trilha do meu jardim de papoulas mortas. Cada passo que eu dava uma lágrima caia, triste, desamparada. Eu sentia a dor daquele solo, os machucados dos escombros do chalé pisoteado. Entrei onde seria o salão principal, com a fonte toda destruída e quartos também.

No chão, o retrato de minha irmã – quebrado.

Desabei, olhei para o céu e gritei com toda a força dos meus pulmões.

Pierce se aproximou.

– Pandora...

Era difícil escutar enquanto se chora.

– Pandora... éh... Dafni...

Olhei para ele.

– Sei que é difícil, mas... - gritei novamente.

– Sai daqui! Sai! - atirei um pedregulho nele. - Sai da minha casa! Fora!

Quíron empurrou Pierce para fora do perímetro do meu chalé, sumindo de vista.

Gritei novamente.

Arfando, levantei. Por mais incrível que pareça nenhuma estátua tinha quebrado, arranhado, etc. O de minha mãe ainda estava lá, enorme e resistente. Abracei-a com os olhos fechados – tive impressão de que me abraçara de volta, mas fora só impressão mesmo.

Enraivecida, tirei o par de luvas de metal pendurado no meu cinturão – a arma/wolverine que Nyx me dera e comecei a retaliar as árvores em volta do meu chalé. Esgotei todas as minhas forças e forças negativas ali.

Cansada, encostei-me na estátua de minha irmã Filotes.

– O que vou fazer agora? - suspirei.

Logo ouvi passos.

Pensei que fosse Tánatos ou Becca, mas eles não teriam chegado tão rápido assim. Além disso, os passos deles eram leves e silenciosos como de predadores. Estes de agora quebrava um galho fino ou outro – ótima audição, eu sei.

Um grupo de pessoas apareceu no horizonte, chegando rapidamente até a mim, armadas de arco e flechas.

O líder, um garotinho de no mínimo 14 anos vinha na frente. Tinha cabelos loiros e parecia-se realmente com meu pai, o que presumi que eram filhos de Apolo.

– Pandora. - cumprimentou. - Nós resolvemos abrigá-la no nosso chalé. Lamentamos pelo acontecido. - aquela era uma criança mesmo?

– Obrigada, mas não precisa.

– Bem, já sabemos de tudo. Nosso pai já nos avisou. - então Apolo sabia do acontecido e não tinha me avisado? Quanta consideração!

Sorri.

– Olha, não precisa. Eu...

– Insistimos. É nossa irmã, claro. Temos de ajudar uns ao outros.

– Mesmo, não precisa. Vou viajar. Procurar minha mãe... - olhei para o céu. - tenho de pegar o antidoto.

– Podemos ajudá-la.

Suspirei.

– Eu só preciso... de um professor. Sei que é estranho, mas não sei usar ainda arco e flecha.

O líder sorriu.

– Grecta! - uma menina morena de olhos azuis se aproximou, saindo da multidão. - Pode fazer este favor a nossa irmã?

– Claro. - curvou-se.

– Agora, Pandora, venha conosco. Só por hoje.

Novamente suspirei.

Os filhos de Apolo, meus irmãos eram bem insistentes. Tive de aceitar, claro, mas pedi para ir depois – queria ficar um pouco mais com minhas estátuas. Eles entenderam, sabiam da dor que eu sentia. O chalé é sua única casa, moradia em que não precisávamos nos esconder, nosso coração, a única ligação que temos com nossos pais deuses que estão longe e não podem nos ver.

Já era tarde quando fui dar uma última olhada nos meus irmãos e irmãs deuses. Deixei Tánatos por último, como o último salgadinho do pacote. Admirei sua feição, o contorno de seu costo, os lábios fartos e vermelhos, braços e abdomen em forma.

Como a lava que sai de um vulcão em erupção, a saudade explodiu de mim e escorreu pelos meus braços. Abracei a estátua, dura, fria e parada.

Dessa vez eu podia jurar que a estátua me abraçou, beijou meu pescoço – foi isso que fez-me afastar, assustada.

Tánatos-estátua se mexeu, desceu do pedestal de pedra e sacudiu a poeira. A brancura aos poucos foi sumindo, dando lugar a uma pele levemente menos pálida. O cabelo tornou-se negro como o vazio do infinito, lábios ficaram avermelhados, olhos que eram entradas de tuneis da morte e finalmente tornou-se uma pessoa normal – quer dizer, aparentemente normal.

Tropecei, caindo no chão.

– Calma, Dafni. - se aproximou. - Sou eu.

– Você... é você? - levei a mão a boca.

Tánatos estendeu a mão, me ajudando a levantar.

Respirei fundo.

– Como chegou tão rápido?

– Posso usar essa estátua como portal... todos os nossos irmãos, na verdade. - segurou por um bom tempo minha mão, sorrindo. - Posso continuar a ser uma estátua se quiser.

– Não, estou feliz. - e o abracei. - Onde está Beccs? - perguntei, sussurrando.

– Foi pedir a Zeus sua carruagem emprestado.

– Por quê?

– Ela vai atrás da nossa mãe.

– O que?! - dei um passo para trás. - Ela não pode...

– Calma. Ela está mais protegida do que qualquer um de nós. Fique tranquila – pegou a minha mão e beijou a palma. - Sorte que um dos seus irmãos me avisou antes. Eu estava prestes a piorar tudo...

– Como assim?

Pôs o seu dedo indicador sobre meus lábios.

– Shiii... quieta. Deixa eu aproveitar este momento. - e ficou a me observar por vários minutos.

De repente senti um calor em mim, por algum motivo tive a sensação de que tinha de ir para o Chalé de Apolo.

Tánatos percebeu algo estranho no meus olhos.

– É o sinal dos filhos de Apolo. Conheço essa técnica feita através do sol. - murmurou tristemente, mas só por um momento. - Pandora, posso lhe perguntar uma coisa?

– Sim, mas rápido.

– Ainda gosta daquele tal Pierce?

– Bem... - olhei para o sol. A luz não era tão forte para mim, eu via a bola de fogo perfeita no céu. O calor pela primeira vez parecia me fortalecer, embora em parte me enfraquecesse. Sol não combinava com a noite. Ao mesmo tempo que era beneficiada, mas também enfraquecida – este era um tipo um daqueles tipos de paradoxo irônicos que nos surpreende aparecendo em nossa vida.

Buscando coragem, respondi:

– Não. - sorri. - Com certeza não.

Ele sorriu também.

– Então isso resolve um problema entre nós. - e me




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