Voltamos para a casa de Sirius um pouco mais aliviados. Essa experiência de quase ter sido expulso do meu mundo deu-me uma nova perspectiva de vida. Eu estava aliviado, feliz e animado depois dessa audiência.

O Sr. Weasley parecia mais aliviado do que eu e foi, quase, o caminho inteiro falando sobre como Dumbledore era um excelente bruxo e como sempre tinha argumentos que o Ministério não poderia questionar. Não era mentira, mas ainda estava em minha cabeça quando ele saiu sem nem ao menos olhar na minha cara e dirigir-se a mim como se eu fosse apenas um desconhecido que ele estava defendendo no tribunal.

Tirei isso da minha cabeça e me concentrei no jantar, sim eu já tinha voltado para a sede.

Anabelle terminou de jantar, pediu licença e se retirou, eu tinha algumas perguntas para fazer a ela, por isso levantei-me também.  Sai da sala de jantar e vi Anabelle subindo as escadas rapidamente.

- Anabelle! – a chamei, a mesma se virou para mim, então cruzou os braços.

- Sim – respondeu.

- Podemos conversar?

- Já estamos conversando – disse olhando-me completamente sem expressão.

Essa menina não abaixava a guarda nunca?

- Ok, se voce quiser conversar na escada... – dei de ombros.

Anabelle bufou – Certo, vamos para o meu quarto – e entrou no quarto que dividia com Gina e Hermione.  Ela se sentou na cama e olhou-me como quem espera que eu começasse a conversa.

- Porque não me disse que ia na audiência também? – perguntei.

- Porque eu só descobri que ia dez minutos depois que voce saiu.

- Porque Dumbledore não queria que Hermione e Rony me mandassem cartas? – eu sabia que ela sabia de alguma coisa.

Anabelle se remexeu na cama – Não sei, isso é com meu padrinho.

Ergui as sobrancelhas para ela – Você mente muito mal.

- E voce é muito curioso – retrucou. Sempre com uma resposta na ponta da língua! – Se voce está chateado porque Dumbledore não parou para falar com voce, não fique. Ele é um homem ocupado e teve que ser impessoal com voce na frente do Ministro, se não realmente vão começar a achar que vocês estão tramando algo contra o Ministério, o que não é verdade. Satisfeito?

Eu não sabia o que dizer. Eu tinha mais perguntas, mas depois de um tempo notei que essas perguntas que eu tinha não era nada sobre Dumbledore, era sobre a própria Anabelle.

- Algo mais, Harry?

- Caramba, tem como abaixar a guarda um momento da sua vida? – perguntei – Ontem voce estava super legal e hoje está toda estranha.

Anabelle desviou os olhos dos meus e mirou a parede escura do quarto.

- Desculpe. – disse com seus olhos transbordando sinceridade – Acabei descontando em voce, desculpe.

Ali eu notei que eu não era o único com problemas. Ultimamente eu estava sendo bem egoísta, achando que apenas eu era o problemático.

- Quer conversar sobre isso? – perguntei sentando-me ao seu lado. Eu não era nada bom em conselhos, mas era bom ouvinte.

Anabelle suspirou e exibiu um sorriso triste – É só algumas complicações com Midnight, nada demais. – abanou a mão.

Ficamos um tempo em silencio – Quando conheceu Midnight?

Anabelle relaxou a face e exibiu-me um sorriso característico seu, um sorriso doce e gentil.

- Eu tinha 5 anos. Estávamos em nossa casa em Verona. – tornou-se saudosa enquanto falava – Até que minha mãe disse que eu voltei com um gato bem pequeno, siberiano cinza. Então minha mãe viu que não era um gato comum, no inicio tentou despachar, mas logo viu que eu me afeiçoei muito ao gato. Com 10 anos eu contei a ela que Midnight não era apenas um gato, era algo muito além disso. – deu de ombros – No ano seguinte recebi minha carta e tudo fez sentido.

- É legal? Ter um lâncatropo?

Ela suspirou – Depende – disse mordendo a parte interior da bochecha – É bom por vários motivos, Midnight é minha parceira em tudo, me ajuda quando preciso, não é completamente protetora querendo me colocar em uma bolha, como na maioria dos livros falam. Porem as pessoas me julgam muito tanto por ter um animal perigoso por perto quanto por ser dona de um lâncatropo. Acham que eu sou muito frágil e me subestimam com muita facilidade. Isso é um saco. Eu nunca dependi de Midnight para me proteger e é por isso que ela é bem desencanada em relação a mim, sabe que eu posso me virar, porque confia em mim, mas os outros acham que eu sou frágil demais. – rolou os olhos.

Eu não me imaginava com um lâncatropo, mas pelo o que Anabelle descreveu para mim, não era nada de como eu imaginava ter um.

- Eu só sei as coisas que sei, em relação a Ordem – disse – Porque Midnight é da Ordem e não eu. Sabem que ela irá me contar, então não tem por que me manter afastada.

- Não acho que deva ligar para essas coisas – dei minha opinião – Você sabe o potencial que tem e é isso que importa, ficar querendo que os outros saibam é algo quase impossível. Todos acham que eu menti em relação a volta de Voldemort, mas eu pouco me importo com isso, porque eu sei o que eu vi. E ter poucas pessoas que acreditam em mim, pessoas importantes para mim, já é o suficiente – dei de ombros – Você tem seu padrinho, Midnight, sua mãe e irmãs, todas elas sabem do seu potencial e, em minha opinião, é isso o que importa.

Anabelle me olhou surpresa. – Harry Potter, esse é o maior discurso que eu já ouvi voce fazer, em vez de perguntar – ela disse rindo e eu a acompanhei. – Você tem razão – me olhou doce – Não deveria me importar, tem coisas muito piores acontecendo para eu me importar.

- Concordo plenamente – assenti brincando com ela, que riu.

- E voce, Sr. Potter? Não acha que está na hora de deixar o orgulho de lado e o passado no passado? – levantou-se.

- Do que está falando? – franzi o cenho.

- Você tem incríveis amigos lá fora, Harry, amigos que nunca te abandonaram e por mais que voce ache que eles o fizeram, eles não fizeram. Eu não vou ficar dando motivos para voce acreditar no que eu digo – sorriu de lado – Mas deveria voltar a falar direito com seus amigos, pois como voce mesmo disse, pessoas importantes acreditam em voce. – bagunçou meus cabelos e saiu do quarto, deixando-me sozinho com meus pensamentos.