O Teatro escrita por GabrielleBriant


Capítulo 1
O Ato Final




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O TEATRO

Gabrielle Briant

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"Acreditar em nossa própria mentira é o primeiro passo para o estabelecimento de uma nova verdade."

Carlos Drummond de Andrade

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I

O ATO FINAL

Talvez os gritos de alegria pudessem ser ouvidos a quilômetros de distância... Talvez o alívio daquele povo pudesse ser sentido por todo e qualquer ser do universo, sendo ele mágico ou não. Mas o fato é que, naquele início de manhã do segundo dia de maio do ano de 1998, os primeiros raios solares pareciam iluminar a alma de cada uma daquelas pessoas que, na madrugada anterior, presenciaram a batalha que definiu o destino da sociedade bruxa.

Voldemort estava morto – e daquela vez era definitivo. O mal fora derrotado... e, aparentemente, todos tinham que agradecer a Harry Potter, o grande herói. O menino que sobreviveu agora era o menino que salvara o mundo... o menino que enfrentou o mal com uma coragem inimaginável e que para sempre seria lembrado pelo seu sucesso...

Mas a alegria não reinava absoluta naquela manhã... Em meio aos vivas e aos copos erguidos em sua homenagem, Harry Potter também observava com pesar que, nos cantos escuros e escondidos do Salão Principal de Hogwarts, famílias e amigos empilhavam os seus mortos e, chorando baixinho, velavam-nos.

Os seus olhos lentamente vagaram para a porta que levava ao salão de entrada da escola. Lá, ajoelhados e chorosos estavam os Weasley, velando o seu filho e o casal Remo e Nymphadora Lupin. O garoto suspirou, e teria se encaminhado para dar palavras de apoio à família, não fosse por uma figura que passou como um raio pela porta ao lado dos Weasley ganhou imediatamente a sua atenção.

Era uma mulher. Seu rosto fino era pálido como uma vela, destacando-se nele as grandes olheiras escuras, e emoldurado por longos e desgrenhados cabelos muito loiros. Ela vestia uma camisola de seda branca... talvez pela batalha, estava rasgada em alguns pontos e respingada de sangue... sangue que despontara provavelmente de um ferimento em sua cabeça.

Confusa, ela olhava de um lado para o outro, como se procurasse alguém. Uma ruga de preocupação formava-se em sua testa e ela mordia fortemente o lábio inferior enquanto vasculhava com os seus olhos acinzentados o salão.

Diferentemente da esmagadora maioria das pessoas que estavam no local, Harry tinha certeza que jamais vira aquela mulher antes. No entanto, o seu rosto lhe era familiar: ela lembrava assustadoramente as feições de Draco Malfoy; talvez fosse a sua tia. Mas o que poderia estar fazendo ali, sozinha e trajando uma roupa de dormir?...

Os seus devaneios foram interrompidos logo que ele sentiu a sua mão ser enlaçada por outra mão. Era Gina Weasley que, carinhosamente, aproximava-se.

 - Ela é a esposa de Snape.

Harry franziu a testa e, confuso, olhou para a namorada.

 - Esposa? Você tem certeza?

 - Sim... Ela esteve aqui durante todo o ano letivo. Eles passavam a imagem de casal feliz, sabe? Ela se sentava ao lado dele à mesa e o defendia o tempo inteiro!... ainda assim, algumas pessoas confiavam nela. Ela estava do nosso lado, eu acho.

 - Snape era apaixonado por minha mãe, Gina.

 - Eu sei... Mas parecia ser dar bem com ela, também.

Harry virou o rosto para fitar novamente a mulher, mas ela não estava mais parada à porta. Ao contrário, vinha em sua direção, olhando diretamente para ele. Quando conseguiu driblar a multidão, mirou Harry com os seus olhos acinzentados e pousou as suas mãos alvas e frias sobre as dele.

Os lábios finos e rosados tremeram um pouco antes das palavras saírem, ligeiramente tremidas.

 - Você sobreviveu... – Ela deu um meio-sorriso, antes de fazer a pergunta que tão claramente temia. – Onde ele está?

Harry baixou levemente os seus olhos, incapaz de ver a expressão da mulher quando desse a notícia... sentiu as suas entranhas se revirarem à mera lembrança do que ocorrera com o seu ex-professor.

 - Ele se foi... eu sinto muito.

Pelo canto do seu olho, ele viu a mulher respirar fundo. Em seu braço esquerdo, notou uma Marca Negra que aos poucos desaparecia.

 - Você o viu antes de--?

 - Eu vi acontecer.

Ela assentiu lentamente. Harry atreveu-se a olhá-la; os seus olhos estavam cheios de lágrimas e o vinco em sua testa aumentava.

 - Onde... onde ele está agora?

O garoto engoliu seco antes de responder:

 - Na Casa do Grito.

Mais uma vez, a viúva assentiu lentamente e começou a se encaminhar para o salão de entrada de Hogwarts. Ele limitou-se a observá-la por um tempo até que teve uma idéia; ele teve a idéia de fazer alguma coisa pelo seu antigo professor, desde que Snape o ajudara tanto em segredo e ele jamais fizera nada pelo homem. Com os passos largos, o garoto começou a seguir a mulher, com o intuito de guiá-la para onde o corpo estava.

Quando a alcançou, ela já descia as escadas do salão de entrada e vislumbrava os jardins. Harry pôs a mão no ombro dela, parando-a.

 - Espere! Eu posso te levar lá. Eu posso ajudar.

Ao longe, Minerva McGonagall e Kingsley Shacklebolt, que tentavam apagar dos jardins as terríveis marcas do combate, começaram a observar a cena.

A viúva não se virou para encarar Harry. Apenas parou a sua caminhada por um momento, virou levemente o seu rosto e deixou um breve e amargo sorriso tomar conta dos seus lábios.

 - Muito obrigada, Sr. Potter, mas acho que você já fez demais por hoje... no mais, eu tenho que fazer isso sozinha...

Ela, então, fechou os olhos, deixou uma lágrima cair, e retomou a sua caminhada. Harry observou o seu andar fantasmagórico até que ela finalmente chegou ao Salgueiro Lutador. Logo mostrou saber usar aquela passagem secreta. O jovem apenas suspirou e virou-se para voltar aos seus amigos... mas foi impedido pela aproximação da professora e do auror.

Kingsley tinha o seu olhar fixo na entrada da Casa do Grito quando falou:

 - O que a mulher de Snape está fazendo?

Harry suspirou antes de responder.

 - Acho que ela quer se despedir. Eu disse onde estava o corpo.

 - Sim... – McGonagall disse lentamente num tom resignado e levantando os óculos para enxugar um pouco de sangue, um pouco de suor e um pouco de lágrima. – Pobre mulher... Era fácil ver como amava o marido. Pelo que você viu, no entanto, jamais foi amada.

 - Ela era um Comensal da Morte – Harry comentou displicentemente. – Snape deve ter casado com ela para convencer Voldemort de alguma coisa.

  - Ela era? – Kingsley perguntou surpreso. – E você a deixou ir?

Harry suspirou novamente, querendo apenas encerrar aquela conversa e voltar para os seus amigos o mais rapidamente possível.

 - Ela só quer se despedir.

 - Eu não creio que Linda Marie seja uma má pessoa, Kingsley. Pelo que Harry presenciou do caráter de Severo, ele simplesmente não ficaria casado com esse tipo de pessoa. No fim, ela provavelmente fazia parte de um grande teatro... do espetáculo de Severo. Não vamos crucificá-la ainda... Não quero julgar erroneamente mais uma vez.

 - Eu acho que o certo seria deixar o tribunal decidir isso, Minerva. Eu vou esperá-la na saída.

O auror, decidido, começou a se encaminhar em direção ao túnel que levava à Casa do Grito. E logo foi seguido por Minerva, que tinha a única intenção de defender a mulher, e por Harry... que simplesmente tornara-se curioso.

 - Como eu nunca ouvi falar nela?

Kingsley cruzou os braços.

 - Você nunca se ocupou com fofocas, Harry. O casamento de Snape foi um escândalo para a sociedade, já que a mulher dele é uma Malfoy.

O menino franziu o cenho.

 - Ela é tia de Draco? Quer dizer, irmã de Lúcio Malfoy?

 - Não; ela é sobrinha de Lúcio. Filha de Marco Malfoy. Ele jamais esteve nos holofotes durante as guerras e ninguém jamais encontrou indícios para acusá-lo de qualquer coisa... mas nós, aurores, acreditamos que ele era o grande financiador de Você-Sabe-Quem – Kingsley olhou para Minerva. – E é por isso que não podemos deixar a mulher de Snape solta! Como ela é Comensal, poderá provar definitivamente a ligação de Marco Malfoy com as duas guerras!

Minerva bufou.

 - Muito bem! Vamos esperar ela sair! Mas, por favor, nada de violência contra ela.

Kingsley assentiu, concordando. E, em silêncio, o trio apenas esperou... Mas os minutos se passaram, e ninguém parecia sair...

A paciência do auror já se exaurira... E, suspirando, ele olhou para a velha professora.

 - Acha que ela já se despediu por tempo suficiente?

Minerva assentiu brevemente.

 - Sim. Nós podemos aproveitar e tirar o corpo de Severo dessa sarjeta... ele merece coisa melhor.

 - Posso ir também? – Disse o garoto, ansioso para ajudar a carregar o corpo do professor.

 - Claro, Harry – Kingsley respondeu. – Mas deixem-me ir na frente... caso a mulher tente fugir.

Dizendo isso, o auror tomou a dianteira e penetrou no pequeno túnel que levava à Casa do Grito. Estranhamente, nenhum eco de choro, lamúria ou palavras de despedida eram ouvidas... Ao contrário, ali reinava o mais puro e absoluto silêncio.

Shacklebolt foi o primeiro a chegar ao seu destino... E não conseguiu conter a exclamação que escapou pelos seus lábios:

 - Merlin!

De Minerva a única reação que se teve foi o paralisante choque... E finalmente Harry, que pensava que já vira a sua quota de mortes e horrores, teve a sua vez de impressionar-se: segurando fortemente um vidrinho vazio e abraçada ao corpo de Snape estava a mulher que há pouco ele vira com vida, totalmente inerte. Os olhos vazios pareciam encará-lo... assombrá-lo.

 - Ela---?

Kingsley abaixou-se, pegando o frasco que descansava nas mãos dela e cheirando-o.

 - Poção do sono eterno. Não há nada que possamos fazer.

Minerva limpou rapidamente duas lágrimas que lhe escapara e abraçou-se.

 - Que amor insano é esse, que levou a mulher a tirar a sua própria vida?

Harry desviou o seu olhar dos olhos cinzentos.

 - Para responder a essa pergunta, Prof. McGonagall, teríamos que conhecer a história dela... então acho que nunca vamos saber, certo?

A velha suspirou.

 - Não... acho que não.

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Notas finais do capítulo

Sim, eu gosto MUITO dos vampiros da Stephenie Meyer.
Não, eu não abandonei o Sevvie por causa deles. XD

Anyways, revisem, por favor!

E bjão para a Shey, minha mana do coração, que está betando essa fic!