Todos os dias, a primeira coisa que fazia de manhã assim que abria meus olhos era me lembrar do poema que Adrian mencionara “Se os seus olhos não estivessem abertos, você não saberia a diferença de sonhar e estar acordado”.
 A primeira vez em que o ouvi, o significado dessas palavras fora direcionado para Adrian. No momento, ele estava com medo que um dia ficaria louco por causa do espirito. Eu nunca esperaria que um dia essas palavras pudessem ser aplicadas a mim.
 Com os últimos acontecimentos, eu quase não conseguia mais distinguir a realidade dos sonhos. Ou melhor, dos pesadelos.
 Quando eu pensei que tudo fosse voltar ao normal, que eu finalmente conseguiria trazer a paz a Palm Springs novamente, Adrian arruinara tudo.
 Ele... ele me beijara. Como ele pôde me beijar? Como ele se atreveu? Por que ele não podia deixar as coisas como elas estavam? Ele não via como todos aqueles sentimentos eram contra as leis da natureza?
 Fechei meus olhos novamente. Não que isso adiantasse porque todas as vezes que eu os fechava eu via aqueles olhos verdes. Eu podia sentir como os lábios de Adrian eram tão suaves e quentes contra os meus.
 Abri meus olhos novamente tentando afastar esses pensamentos. Eu não podia sentir essas coisas. Era simplesmente errado.
 Eu era uma alquimista.
 Ele era um vampiro.
 Nós nunca poderíamos ficar juntos. Simples.
 Com esse pensamento, me preparei para a rotina tinha na academia Amberwood. Eu gostava da minha rotina de aula. Era reconfortante e quase relaxante.
 O dia passou rápido e assim que o sinal tocou anunciando a última aula do dia, andei em direção ao meu dormitório. Normalmente era assim que o meu dia terminava, eu iria para o meu quarto fazia tudo o que podia para não pensar no que Adrian fizera (o que até agora não tive sucesso) e finalmente iria dormir.
 Contudo, hoje eu tinha um compromisso.
 Uma vez por semana, eu tinha aula de defesa pessoal. Se há quatro meses alguém dissesse para mim que eu faria aulas de defesa pessoal, eu realmente não acreditaria, mas desde que eu fora atacada e não pudera fazer nada eu me sentia inútil. Uma donzela em perigo.
 Então, Adrian sugeriu que nós fizéssemos aulas de defesa pessoal. No começo, tudo estava bem, mas, depois de um tempo, Adrian abandonou o curso. A principio, eu não entendera o porquê, mas no dia... no dia em que Adrian me beijou ele me contara. “...Acredite, eu tentei parar de pensar em você. Mas não existe bebida, ou arte ou qualquer outra distração no mundo para isso. Eu tive que parar de ir ao Wolfe porque era muito difícil estar tão perto de você, mesmo que fosse só para fingirmos que estávamos lutando. Eu não conseguia aguentar o contato. Era agonizante porque significava algo para mim e eu sabia que não significava nada para você...”
 De qualquer forma, o que importava era que ele parara de ir às aulas. Eu, por outro lado, não podia parar. Eu precisava aprender a me defender.
 Assim que estava pronta entrei em Latte e fui em direção à casa de Wolfe, o professor de combate. Quando cheguei, Wolfe me cumprimentou e eu me dirigi à sala onde aprendíamos a lutar.
 Como sempre eu chegara cedo. Sentei em um dos tatames e esperei os outros alunos chegarem. Quero dizer, alunas. Apesar de a aula ser aberta a homens e mulheres, Adrian fora o único homem escrito. Ele constantemente reclamava sobre isso.
 Um sorriso se formou em meu rosto. Por mais que eu odiasse admitir, eu sentia falta de Adrian. Por que ele tinha que arruinar tudo?
 –Onde está seu amigo? – ouvi Wolfe dizer sério. – Só estamos esperando por ele para começarmos.
 Olhei para cima e fiquei surpresa em ver o professor olhando para mim. Olhando para os lados vi que todos haviam chegado.
 –Ele não vem, senh –
 –Estou aqui – ouvi a voz de Adrian dizendo.
 Meus olhos se arregalaram e tive de me controlar para não abrir minha boca de surpresa. Eu não podia acreditar. Adrian dissera que pararia de vir.
 –Desculpem pelo atraso – ele disse. Adrian caminhou em minha direção e se sentou ao meu lado.
 –Bom – Wolfe disse -, então podemos começar.
 Enquanto o professor começou a explicar alguns movimentos, olhei discretamente para Adrian. Ele também estava olhando para mim, mas nada discretamente. Não pude evitar corar. O que ele estava fazendo aqui? Ao meu lado?
 Não importa, só se concentre nas palavras de Wolfe, eu disse para mim mesma.
 –Então – disse Wolfe após um tempo -, vocês podem praticar agora.
 Todos levantaram e para minha surpresa Adrian se posicionou na minha frente.
 –O que você está fazendo? – perguntei.
 –Sage, essa é a parte em que nós devemos praticar – ele disse com um sorriso torto. – Você não prestou atenção em Wolfe?
 Ele estava calmo demais, o que só me irritou.
 –Você sabe o que eu quis dizer – eu disse entredentes.
 –Vocês dois estão conversando muito – Wolfe disse seriamente enquanto passava por nós.
 –É o que eu sempre digo a ela – Adrian disse com tom desaprovador.
Wolfe continuou andando, mas lançou um olhar desaprovador em nossa direção. Eu odiava quando as pessoas faziam isso.
 –Viu o que você fez? – eu disse.
 –Você quis dizer o que você fez – ele disse ainda sorrindo.
 –Eu pensei que você não viria mais – eu disse indignada. – Você me disse que era muito difícil para você.
 –Eu disse – ele afirmou. – Mas eu estou aqui.
 –Por quê?
 –É difícil estar aqui, mas é ainda mais difícil ficar longe de você.
 Senti meu coração bater mais rápido.
 –Você é louco se pensa que vou fazer dupla com você.
 –Eu até posso ser louco – Adrian disse. – Mas todos já têm dupla. Você não tem escolha.
 Eu estava prestes a dizer que preferia não fazer nada a ter que fazer dupla com ele quando ele voltou a falar.
 –Além disso, se isso não significa nada para você, não tem porque você se importar. – Adrian disse como se ele acreditasse o contrário.
 –Não significa nada para mim – eu disse.
 –Se você está dizendo – Adrian sorriu. Seu tom de voz dizia que ele realmente acreditava que eu sentia algo por ele.
 Adrian se posicionou atrás de mim. Ele iria ser o agressor primeiro. Sorte dele, pensei. Porque eu realmente queria ataca-lo.
 Os braços de Adrian me envolveram, era como se ele estivesse me “capturado”. Eu deveria agora me libertar. Só que... eu não conseguia.
 Cada centímetro do meu corpo que Adrian tocava estava queimando. Eu podia sentir sua respiração em mim. Eu podia sentir –
 –Eu pensei que isso não significasse nada para você – ele sussurrou perto da minha orelha.
 Isso era tudo o que eu precisava para voltar para a realidade.
 –Não significa – eu disse e apliquei o golpe com mais força do que era realmente necessário.
 Se Adrian se abalou com o excesso de força, ele não mostrou. Assim que estava livre envolvi meus braços em torno de Adrian. Agora eu era a “agressora”.
 A situação era um pouco cômica, uma vez que eu era centímetros mais baixa do que Adrian.
 Com os meus braços envolvendo a cintura de Adrian e os nossos corpos estando tão perto eu não pude evitar sentir o cheiro da colônia de Adrian. Sem pensar, eu apoiei minha bochecha nas costas dele. A sensação que aquele novo contato me trouxe era boa. Muito boa.
 Quando voltei a pensar, percebi que aquela não era uma posição que um agressor faria. Eu havia perdido o foco.
 –Desculpe – eu disse praticamente dando um pulo.
 –Tudo bem – Adrian disse com a voz um pouco rouca.
 Por que eu fora fazer aquilo?
 A resposta veio para mim mais rápida e verdadeira do que eu gostaria.
 Porque eu me importava.