Amor Mascarado escrita por LunaCobain


Capítulo 9
Qual é o lado negro da força?


Notas iniciais do capítulo

Olha, primeiramente, eu mudei a faixa etária da fic porque eu não tenho certeza do que vai acontecer. Vi que de repente acontece qualquer besteira aí...Haha, sei lá, se eu decidir que não vai ter nada, eu tiro.
E eu estava pensando em fazer um POV Erik, mas não tenho certeza, o que vocês acham? Deem suas opiniões.



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 Eu não estava com forças para ir ver Matt, para me trocar, para nada. Deitei na cama do camarim, ainda como Christine Daaè, e tirei um cochilo. Não consegui dormir mais de meia hora, mas pelo menos não tive pesadelos.
     Aproveitando que ainda tinha longas horas para dormir, me troquei rápido, e fui para o meu quarto. Todas as meninas ainda estavam acordadas, apesar das luzes apagadas, e eu logo vi o porquê. Matt ainda estava lá, e todas as garotas estavam fascinadas pelo bonitão. Quando eu entrei, elas fingiram que estavam roncando. Não estava acreditando naquilo! "Tudo bem", eu pensei, me acalmando, "Matt é diferente de Arnaud, Arnaud está no lado obscuro da força, Matt ainda é do bem." Não pude evitar o pensamento infantil e deixei uma risadinha escapar.
    -Oi, Matt.
    -Oi. Você demorou. - ele disse, sorrindo
    -Eu sei... - eu disse, envergonhada. - Eu estava cansada. Acabei pegando no sono. - ele se levantou da minha cama, onde estava, e me entregou um buquê de flores. Eram rosas, mas eram rosas pretas - eu nem sabia que isso existia - e brancas. Eram lindas.
    -Obrigada, Matt. Você fez Raoul parecer um pouco mais legal, hoje. Normalmente, eu não gosto dele. -ele riu.
    -Você está sendo boazinha comigo, Catherine. Sabe perfeitamente bem que você foi a estrela de hoje.
    Não pude evitar, senti o sangue subir as faces e tive certeza que estava ficando um pouco vermelha. Pensei que ele fosse dar risada, mas ele só ergueu a mão e fez um carinho de leve no meu rosto, com um sorriso tímido que, tenho que admitir, era uma gracinha. Depois ele disse que tinha que ir, pois também estava exausto, e saiu do quarto.
    Me deitei, depois de colocar uma camisola rendada, e as meninas começaram a abrir seus olhinhos.
    -Parece que tem alguém apaixonado... - disse Sophie.
    -Eu não gosto dele. Não assim. - eu respondi, virando a cabeça no travesseiro.
    -Ah, mas ele gosta de você. E ele é bem melhor que o Arnaud.
    -Não é, não! - quem protestou foi Isabelle.
    Sophie e eu rimos e eu disse:
    -É, sim! Mas, de qualquer forma...
    -Ah, sem essas conversinhas. Ele te trouxe flores e você ficou vermelha perto dele. Você nunca faz isso!
    -Isso é diferente.
    -Não é! É a mesma coisa.
    -Vamos deixar isso para depois, pelo amor de Deus, eu estou exausta.
    -Deve estar mesmo, você foi perfeita hoje.
    Consegui pegar no sono de novo, um sono leve. Ás vezes, a gente dorme tanto que nada consegue nos acordar. Mas naquela noite, parecia que se alguém pensasse em se levantar da cama, eu abria os olhos, elétrica. Por maior que fosse o cansaço, eu não conseguia dormir. Estava eufórica.
    "O Fantasma da Ópera" ficou quatro semanas em cartaz. Adrienne voltou na terceira, e eu devolvi seu lugar como Christine, apesar de ela dizer que se eu quisesse poderia continuar. Erik não voltou a tomar o lugar de Bertràn, para minha infelicidade. Agora, mais um mês se passara. E eu estava ficando louca, sem Erik por perto, mas Matt de repente era meu melhor amigo. Arnaud ficava realmente enciumado.
     Hoje, Arnaud e Matt estavam assistindo aos ensaios para a próxima peça, "Contos de Inverno". Eu cheguei meio atrasada, pois estava verificando se a passagem do espelho estava aberta - não estava. Dei um "oi" rápido para Arnaud e sentei do lado de Matt.
    -E aí, a peça vai fazer sucesso? - perguntei, dando um soquinho no ombro dele
    -Tenho certeza que sim! Os ensaios estão ótimos. - ele falou, bocejando e aproveitando para colocar o braço em volta do meu ombro.
    Eu olhei para ele e ri. Ele era mesmo uma graça. Que pena que ele não se interessava pelas outras meninas, Audrey iria adorá-lo.
    -Dá pra vocês pararem com isso? - disse Arnaud, irritado.
    -Isso o quê? - Matt fingiu não saber do que o primo estava falando
    -De ficarem agarrados. - a reação de Arnaud só me fez rir mais, e logo Matt e eu estávamos gargalhando.
    -Parem, parem com isso! Vocês já vão entender do que estou falando - o ruivo disse, se levantando para sentar na cadeira vazia à minha esquerda.  Deu um tapinha na mão de Matt, a fim de tirá-la de perto de mim, e colocou o seu braço pálido em volta do meu ombro.  Eu, imediatamente, afastei-o. - Está vendo? Você me repele, mas deixa Matt ficar perto de você.
    Ele realmente não tinha jeito. "Mas que saco."
    -Eu não gosto disso. Matt, venha cá. - ele disse, conduzindo o primo para fora do salão, entrando numa porta há alguns metros do palco, que daria para o corredor.
     Fiquei distraída, olhando para o que acontecia no tablado, enquanto esperava os dois voltarem. A protagonista, dessa vez, era Charlotte. Ela estava usando um vestido verde que ficava perfeito nela, ressaltando o longo e cacheado cabelo ruivo.Matt apareceu na porta, fazendo sinal para que eu fosse com ele.
    -O que aconteceu? - perguntei
    -Arnaud queria brigar. Ele disse que quem vencesse podia ficar com a senhorita. Ridículo.
    -Concordo.
    -Ele deve estar com um olho roxo, agora, mas vai ficar bem.
    Olhei para ele com os olhos arregalados. Depois, ele abriu um meio sorriso e eu relaxei, rindo de leve. Nós estávamos subindo as escadas, que dariam para uma espécie de terraço.
    -Você não sabe quantas vezes eu já quis fazer isso! - exclamei, bagunçando seu cabelo - sabia o quanto ele detestava isso. Nós dois caímos na gargalhada.
    Chegamos ao terraço. Dava pra ver Paris inteira dali, e o dia estava lindo. Nós nos sentamos, e eu fiquei olhando a torre Eiffel.
    -Mas numa coisa ele tem razão. - disse Matt, pedindo minha atenção
    -O quê? - perguntei, virando o corpo pra ele, para conseguir vê-lo melhor.
    -Você sabe que eu gosto de você, Cat... - era incrível como cada pessoa inventava um apelido diferente para mim -Por que fica tão perto? As vezes me deixa pensar que tenho chances. - "Ah, por quê?", pensei. Será que eu ia perder ele também?
    -Matt, por favor! Eu também gosto de você,  juro que gosto, só que não desse jeito.
    -Então... Por quê, Catherine? Sabe, isso me machuca, às vezes.
    -Matt, não diga isso. Você disse que ia me ajudar, e eu preciso de você.
    Ele parou, de repente, de olhar pra mim, virando para a frente. A expressão ficou vazia, os olhos vagando sem rumo, por qualquer lado, menos perto do meu rosto. Talvez a pessoa prestes a desmaiar, papel que eu já ocupara muitas vezes, agora fosse Matt.
    -Que foi, Matt?
    -Nada...
    -Matt, como assim? Que foi?
    Ele olhou nos meus olhos e começou a aproximar o rosto, fechando os olhos quando ficou a centímetros do meu. Pensei que ele fosse repetir sua proeza, como da primeira vez - que eu me lembre - em que o vi. Mas ele parou.
    -Eu também prometi que não faria isso de novo, não é?
    -É, é sim. - eu disse, aliviada.
    -Tudo bem. Acho que eu devia ir ver se está tudo bem com Arnaud - Matt estava todo sem jeito, envergonhado. "Quase", pensei.
    Ele saiu do terraço, me deixando sozinha. Ah, céus, tinha tanta coisa em que eu precisava pensar. Mas não conseguia, as coisas não passavam pela minha mente. Fiquei ali, sentada, observando a luz que o sol do meio-dia proporcionava iluminar toda a cidade. Tinha que me lembrar de voltar ali durante o pôr-do-sol. Era um lugar lindo. Passei ali mais meia hora, eu acho, depois tive que ir almoçar.
    -Catherine! Catherine! -gritou uma vozinha fina em algum lugar, quando em andava pelo corredor depois de ter saído do refeitório.
    -Oi, Adrienne.
    -Você sabe que depois de amanhã é meu aniversário, né?
    -Aham. - eu disse, distraída com meus próprios pensamentos, afirmando com a cabeça.
    -Então, eu resolvi fazer um grande baile, aqui na Ópera. Claro, vai ser aberta ao público, não poderia ser de outro modo. E vai ser um luxo. Você vai ver.
    -Quando vai ser?
    -Vai começar as nove horas da noite.
    -Tudo bem.
    -Ah, vai ser tão legal! - Adrie saiu saltitando pelos corredores, avisar o mundo - e quem  mais quisesse vir - para sua festa.
    Recomecei minha caminhada, seguindo caminho para o quarto. Meus 'pais' estavam no Teatro, como eu já sabia, então evitei andar pelo caminho que eles conheciam, inventando alguma rota nova. Acabei chegando na ala D, o canto mais escuro daqueles corredores... O lugar onde eu ficara saber quem era o Fantasma da Ópera... Ah, eu não devia ter mudado o caminho! Encontrar Michelle e Luigi não seria tão ruim quanto ter de encarar as lembranças. Saí dali correndo, pegando o caminho mais rápido para o meu quarto.
    Quando eu cheguei lá, caí na cama, afundando a cabeça no travesseiro. Eu nunca me esqueceria de Erik, mas fazia algum tempo que eu simplesmente não pensava nele. As lágrimas vieram, mais rápido e em maior quantidade do que o normal. Era um choro desesperado e assustador, eu não podia acreditar que vinha de mim. Mas também estava feliz que o quarto ficasse vazio nessas horas.
    -Catherine... Cathy... - a voz vinha das paredes. A Voz. Esse era o jeito que ele tinha arrumado, então?
    -Erik? - perguntei, em meio ao rio de água salgada que em que eu transformara meus olhos e meu travesseiro.
    -Ah, Catherine, não chore. Não chore! - eu percebi que a outra voz soava como a minha - desesperada, embargada. Ele estava chorando.
    Era tão ruim ter que ouví-lo sem poder vê-lo, tocá-lo. Mas ao mesmo tempo me dava alguma esperança, força para continuar. Para não fazer Erik chorar. Aquilo, com certeza, doía em mim mais do que o mue próprio sofrimento - o sofrimento dele.
    -Erik, você está chorando? - eu disse, sem saber para onde olhar.
    -Sim, Catherine, o que mais eu poderia fazer? Posso vê-la aonde quer que você esteja, mas de nada me adianta zelar por você vendo o quanto já está ferida. Não queria que estivesse assim.
    -Eu também não queria que você estivesse assim.
    -Eu já estou acostumado. Mas você, Catherine, não deveria chorar. Pare com as lágrimas, por favor.
    -Ah, Erik...
    Ouvi passos do lado de fora do quarto, o ruído abafado aumentando.
    -Eu te amo - disse Erik, a voz num sussurro, e eu tive certeza de que ele estava indo embora.
    Algumas garotas entraram no quarto, e eu entrei debaixo das cobertas, acordando só na manhã do dia seguinte. Ainda ia ter que lembrar de ir ver o pôr-do-sol. Matt não foi no Teatro, mas Arnaud foi. Estava, realmente, com um olho roxo, mas pareceu alegre. Eu só conseguia pensar que além de ter perdido Erik, eu perdera Matt - como amigo, eu não mentira quando disse que eu só gostava dele desse jeito. Agora eu tinha certeza disso, não estava mais nem um pouco confusa. Mas é claro que meu cerébro parava um pouco quando ele ficava perto de mim, e então a confusão voltava.
    O dia passou rápido. Adrienne estava animada, espalhando cartazes pelo grande salão. Queria que a sua festa fosse a mais linda de todos os tempos. Arnaud não me amolou muito, só pediu que eu deixasse ele ficar por perto durante alguns minutos. Dei uma risada leve e assenti. Era incrível como a maioria das pessoas era extremamente tirana ou se rebaixava a extremos. Ou oito ou oitenta, certo?
    Quando o pôr-do-sol estava próximo, eu me lembrei de subir ao terraço. Peguei o caminho que levaria a ele, passando longe da ala D, ou do camarote número cinco, ou qualquer coisa do tipo, e subi as escadas. Lá estava, o terraço e o maravilhoso pôr-do-sol francês. Fui me sentar mas vi uma figura no banco. Matt! Eu não o tinha visto o dia inteiro, como é que agora ele podia estar bem ali?
    -Oi, Matt. - eu disse, sentando do lado dele, a expressão cautelosa.
    -Oi. É lindo, não é? - ele ainda olhava para o céu em chamas.
    -É. Passou o dia inteiro aqui?
    -Sim. Esse lugar é ótimo.
    -É.
    O clima estava um pouco tenso entre nós, e eu queria pensar em qualquer coisa para amenizá-lo, mas antes que eu pudesse fazê-lo, ele começou a falar de novo.
    -Eu vou voltar para casa.
    -Como?
    -Estados Unidos.
    Eu parei de pensar. Eu estava certa, realmente o perdera. Mas não podia culpá-lo por querer voltar para casa. Se eu tivesse uma casa, gostaria de ficar lá.
    -Quando?
    -Depois de amanhã.
    -Ah. Nossa. Pensei que você fosse ficar mais tempo.
    -Eu também, mas meu irmão voltou do exército e eu tenho que ir vê-lo.
    -É. Tudo bem. - eu disse, como se ele precisasse do meu consentimento para ir. -Você vai na festa da Adrienne, amanhã?
    -Você quer que eu vá? - ele perguntou, os olhos faiscando com esperança. Soltei o ar pela boca, separando os lábios. "Vamos lá, você não pode mais ter Erik. Ah, Erik!"
    -Quero. - eu disse, e novamente vi ele se aproximando.
     Virei o rosto, de modo que não ficasse que este não ficasse de frente para Matt, mas ainda assim eu conseguisse vê-lo. Não funcionou, ele já estava quebrando a promessa.  Ergueu minha cabeça com sua mão, segurando o meu queixo e seus lábios tocaram os meus. Eu fiquei sem reação por um instante, e depois tentei empurrá-lo. Foi inútil. Completamente inútil. Ele era realmente forte. Não, não, porque ele estava fazendo aquilo? Erik podia aparecer daquele seu jeito misterioso, agora. Ele distanciou um pouco o rosto de mim, puxando o ar pela boca. Eu estava com os olhos arregalados. Matt fechou os olhos, lambendo os lábios.
    -Quebrou sua promessa. - murmurei.
    -Desculpe. - ele disse, um sorriso bobo brincando no canto de seus lábios. Eu comecei a resmungar qualquerr coisa sobre Arnaud bater nele. E depois pensei em Erik. "Posso vê-la aonde quer que você esteja", ele disse. E se ele tivesse visto? Eu conseguiria explicar para ele? Isso se eu conseguisse ao menos vê-lo - ou ouvi-lo - de novo.
    -Ah, Erik! - eu sussurrei, sem me dar conta de que o fizera.
    -Catherine! Erik?! Ainda pensa nele? - eu afirmei com a cabeça, ignorando a fúria repentina de Matt. - Brigitte me contou sobre ele. O Fantasma da Ópera, não é?
    -Cale a boca, Matt!
    -Cala você! - ele berrou -Por que ele, Catherine? É só o que eu ouço, 'Erik, Erik'. O que que ele tem de tão especial? Ele é deformado!
    Não aguentei. De repente, eu senti que eu era perfeitamente capaz de dar um tapa nele.
    -Primeiro, ele nunca me forçou a fazer nada. Ele é inteligente, um músico, e ele me entende, Matt. Você... Eu achei que talvez você pudesse ser meu amigo, mas você é nojento.
    Minha mão estava formigando, tanta era a vontade de metê-la no rosto bonitinho de Matt. Eu fiz isso, colocando todo o ódio que pude encontrar no meu coração no meu punho. Ele arfou. Me preparei para virar e ir embora, mas ele segurou o meu pulso. Me fez virar para ele, e olhou nos meus olhos. O nariz estava sangrando. Não pude deixar de ficar horrorizada, principalmente porque eu tinha feito aquilo para ele. Mas ele estava mais irritado do que antes, e dessa vez, ele me bateu. Simplesmente assim. Só que não foi um soco no rosto, foi no estômago. Eu voei para trás, caindo no chão a alguns metros dele.
    E então o herói da história apareceu. Erik. Eu fiquei onde estava, sem conseguir me mexer. Estava doendo muito, Matt devia malhar todos os dias. Senti que ia vomitar. Eca. Mas eu só tossi. Uma tosse molhada. Era sangue. Erik estava socando Matt. Não era uma visão agradável, apesar de eu saber que Matt até podia me matar, se quisesse. Eu nunca pensei que ele fosse capaz de fazer isso. Mas ver Erik batendo em alguém, daquele jeito, me fazia pensar em seu lado... ahm... Obscuro.
    Senti aquela sensação conhecida. Minha consciência estava indo embora, lentamente. Fechei os olhos, fugindo do sangue. E já não estava muito consciente quando senti aqueles braços quentes em volta de mim. Eles tentaram me erguer, mas eu soltei um grito agudo de dor. Parece que na queda, eu machuquei as costas. Senti as mãos de Erik no meu rosto.
    -Catherine? Cathy, você está bem?
    Tentei murmurar alguma coisa em resposta, mas nem um ruído saiu da minha boca.
    -Catherine? - a voz dele estava desesperada. -Cathy, aguenta firme. - ele disse, e me levantou, ignorando os meus gritos. Mas depois que eu já estava em seus braços, a dor diminuiu um pouco.
    Eu ainda não conseguia abrir os olhos, mas soube que estávamos descendo as escadas, entrando nos corredores do Teatro. Os corredores em geral não eram tão silenciosos. Mas logo eu pude ouvir passos apressados, que não eram de Erik.
    -O que você pensa que está fazendo? - ah, ótimo, era Brigitte.
    -Bem, eu estou tentando salvar Catherine. Uma boa ideia, não acha? - essa era a voz de Erik, vindo de algum lugar acima de mim.
    -Você bateu nela? - perguntou a sra. Giry, e ouvi um barulhinho. Ela estava dando tapinhas nele.
    -Não, Brigitte, que ideia ridícula. Eu nunca faria isso. Quem bateu nela foi o americano pervertido, Matt, primo do ruivinho magrelo.
    -E você bateu nele?  - perguntou ela, a voz ficando mais calma
    -Naturalmente - como ele podia ficar tão calmo nessas situações?
    -Cuide dela, eu vou ver como está o garoto. A propósito, não pense que eu me esqueci do nosso acordo. Quando ela estiver melhor, volta tudo ao normal.
    Erik bufou.
    -Não devia se preocupar com o garoto, ele vai ficar bem um dia. Tenho que te lembrar que ele é um machista idiota. - não pude deixar de perceber que ele não concordou com o que Brigitte disse.
    Ouvi seus pezinhos se distanciarem e Erik recomeçou a caminhada. Não me lembro de nada depois disso, pois perdi totalmente a consciência.
    Acordei no meu quarto. Queria que poder dizer que estava no meu quarto na casa do Lago, mas não. Estava no quarto que eu dividia com as outras meninas. Abri os olhos devagar, olhando a minha volta. As janelas estavam abertas, e já era de manhã. Eu estava dolorida. Senti uma mão no meu cabelo e olhei para o lado. Erik estava lá, no meu quarto, sem se esconder de ninguém. Ele estava cuidando de mim. Mirelle, Matilde e Adrienne estavam lá também, e elas e Erik pareciam estar se dando bem. Ótimo. Atrás de Erik, tinha um senhor meio careca, o cabelo grisalho assim como a barba, os óculos na ponta do nariz, aumentando de uma forma bizarra seus olhos castanhos;  e ao lado dele, estava Arnaud. Estava me sentindo num quarto de hospital.
    -Bom dia, Cathy - disse Erik, me dando um selinho rápido (marcando território, eu acho). -Você me deu um susto. Como se sente? - ele se afastou e os olhos, apesar de aliviados, estavam tristes
    -Estou melhor, mas ainda estou muito dolorida.
    -Esse aqui é o Dr. Fritz. É o melhor médico que pudemos achar, mas só fala alemão. - Erik disse, apontando o senhor grisalho. - Você quebrou uma costela, a propósito, e sua perna esquerda... Bem, ela vai ficar muito dolorida. Vai ter que ficar parada por algum tempo.
    Bufei.
    -Kopfschmerzen? - perguntou o tal de Fritz. "Dor de cabeça?" , pensei, usando o básico de alemão que eu sabia. Eu não estava com dor de cabeça. Foi o que respondi.
    -Nein. - o médico sorriu, depois começou a anotar alguma coisa numa prancheta.
    -Fala alemão? - Erik estava rindo
    -O necessário.
    -Quantas línguas mais você fala? O necessário, quero dizer.
    -Bom, além do frânces e do alemão, tem inglês, português, italiano e espanhol. Sou uma pessoa muito culta. - eu disse, juntando minha risada à dele.
    Era tão estranho vê-lo ali, se misturando. Mas isso devia fazer algum bem a ele. As meninas foram saindo, dizendo que tinham que ensaiar, mas é claro que alguma delas deixou escapar um 'Temos que deixar os pombinhos em paz' e coisas do tipo. O médico aproveitou a deixa, murmurando alguma coisa que eu não pude entender, para se retirar também. Arnaud ainda não tinha dito uma palavra sequer, mas continuou ali.
    -Desculpe pelo meu primo. Eu nunca pensei que ele pudesse bater em garotas. Obviamente, me enganei.
    -É, eu sei. - respondi, tentando manter a calma.
    -Eu o fiz prometer que não voltaria para cá. Matt vai ficar na minha casa até que chegue a hora do voô dele, amanhã. - Arnaud disse. - Acho que agora, eu devesse deixar vocês dois sozinhos. - Ele estava tímido e nervoso, mas não parecia com raiva de Erik, só com um pouco de ciúmes.
    Ele saiu, tentando fazer o menor barulho possível ao fechar a porta. Fiquei encarando Erik.
    -O que foi aquilo? - perguntei, me referindo com o braço aos lugares que antes estavam cheios de gente.
    -Eu tive que me misturar, sabe como é. - ele disse num tom brincalhão, dando de ombros. Depois ficou sério. - Por muito tempo, eu tive que ficar me escondendo, Catherine. Mas você estava fraca e eu não podia te levar para a casa do Lago. E também não queria ficar longe, deixando outras pessaos cuidarem de você no meu lugar.
    Ah, Erik era tão lindo! Que fofinho. As borboletas no meu estômago estavam enlouquecidas.
    -Pode começar a se explicar agora? - ele voltou a falar.
    -Como assim?
    -O que aconteceu ontem á noite?
    -Eu não me lembro de muita coisa. - eu disse, tentando sugar alguma coisa do fundo do meu cérebro - Eu fui ver o pôr-do-sol e Matt estava lá. Não achei que fosse ser um problema. Mas depois ele me beijou. - Erik arregalou os olhos - Á força eu quero dizer, Erik. Eu não gosto dele. E depois, ele começou a falar mal de você. Ah, Brigitte contou a ele sobre você. - falei, me lembrando dos detalhes.
    -Sobre tudo?
    -Acho que sim. Ela não está brava por você estar aqui?
    -Eu não ligo mais para o que ela pensa. E, de qualquer forma, ela está viajando. A irmã dela ficou doente, e ela está em Londres, agora. Isso significa que vamos poder ficar juntos, durante... - ele hesitou um pouco, se aproximando -, tempo indeterminado.
    Não pude deixar de sorrir. Abri o meu melhor sorriso. Mas ele logo se apagou.
    -Não vou poder ir a festa de Adrienne?
    -Não, nem pensar, mas a boa notícia é que eu vou ficar com você. Se você quiser, é claro.
    Sorri de novo.
    -É claro que eu quero. E aí, será que você vai poder me levar para lá? - eu disse, animada, apontando para o espelho.
    -Hmm... - ele ficou pensativo. - Eu não sei, Catherine. Você não vai poder ficar se mexendo, sabe disso. Eu posso te levar no colo, se não for doer muito, mas tem que prometer que vai ficar quieta. Não quero que se machuque.
    -Tudo bem, prometo. Desde que você fique comigo.
    -É claro. - ele se aproximou, beijando minha testa. Depois afastou as cobertas e me levantou. Eu respirei fundo, tentando não resmungar, como era o meu costume, por causa da dor.
     Ele apertou o botão na parede com o ombro, dando uma risada - uma daquelas risadas angelicais - e me carregou pelos túneis. A parte em que tivemos que atravessar o lago no barco foi dolorida - tanto na hora em que Erik teve que me colocar nele quanto na hora de sair. Eu estava me sentindo tetraplégica. Depois, que ele me levantou, a dor demorou mais do que de costume para passar, mas mesmo assim era bom estar ali. Fazia um pouco mais de dois meses que eu não visitava o meu lugar favorito na face da Terra.
    -Quer ficar em qual quarto? - ele perguntou.
    -Depende. Você gosta de passar mais tempo no seu quarto ou no meu?
    -No seu! - ele disse, sorrindo.
    Erik abriu a porta com certa dificuldade, me deitando na cama. Arfei de dor quando ele fez isso, e seu rosto se contorceu numa careta de raiva quando ele fez isso. Mas ele não estava com raiva de mim, isso era óbvio.
    -Eu devia ter matado aquele garoto. - sibilou Erik, e eu arregalei os olhos.
    -Erik! Não fale isso de novo, pelo amor de Deus!
    -Certo, certo, me desculpe. Você tem razão -ele retomou um pouco da calma, sentando-se do meu lado -Mas eu não suporto ver você machucada assim. Dói a cada vez que você se mexe, por menor que seja o movimento. Isso é horrível.
    Erik, com cuidado, colocou minha cabeça sobre as suas pernas, começando a acariciar meus cabelos. Tudo o que eu pude fazer foi fechar os olhos, resmungando que não era justo eu ter que ficar parada nessas horas. Ele riu, com os dedos indo para o meu rosto. Abri os olhos devagar, encarando-o. Ah, Erik! Será que não cansava de ficar com aquela máscara? Eu descobri que gostava do roto dele, e principalmente, gostava quando ele não precisava se esconder. Ergui a mão, á procura do seu rosto, tentando tirar a máscara. Erik virou o rosto.
    -Por que quer ver isso, Catherine? - ele perguntou, com remorso
    -Porque eu gosto de você do jeito que você é, Erik; você é lindo. - eu sussurrei, olhando em seus olhos - Você não fica cansado de usar a máscara?
    -Eu nem percebo mais, Cathy. Faz muito, muito tempo que eu uso isso.
    Ele estava, obviamente, emocionado, como costumava ficar quando eu lhe dizia coisas assim. Eu virei o seu rosto para mim, ainda meio chateada por ter que ficar olhando para cima para vê-lo. Tirei a máscara do rosto dele, encarando-o novamente. Ele tirou a minha cabeça do seu colo, se afastando, para que eu pudesse enxergá-lo. Ele estava, agora, do meu lado, a mão na minha perna.
    -Era isso o que você  queria ver? - ele perguntou, apontando para o lado direito do rosto.
    -Sim. - eu hesitei - Erik, vem cá. Mais perto. Mais um pouco. - abri um sorriso, e o rosto dele se iluminou um pouco.
    Ele se debruçou em cima de mim, tomando cuidado para não me machucar, e me beijou. Era tão bom tê-lo pra mim de novo!, poder acariciar seu rosto, passar os dedos por seu cabelo, colocar os braços em voltas do seu pescoço. O único problema era eu ter que fazer tudo isso sem fazer grandes esforços. Mas tudo bem, deu certo. Erik estava ali comigo, e isso era tudo o que eu podia querer.
     Enquanto eu estava em seus braços, o resto do mundo não existia. Fizemos uma pausa para respirar e ele fez o que era de costume - o que eu amava. Beijou meu pescoço e meus ombros. Confesso que chegamos um pouco mais longe dessa vez - Erik beijou também o meu colo, que estava a mostra pelo decote do camiseta que eu estava usando. Não pude deixar de gemer, foi inevitável. Obviamente, não passamos disso, afinal, eu não podia me mexer. Tudo bem, eu era mesmo muito nova. Mas o fato de Michelle ter engravidao com a minha idade me fazia pensar que talvez eu mudasse de ideia logo... Ora, isso não importava. Por que eu estava me aborrecendo com coisas sem importância enquanto estava com ele? Adormeci ali, sabendo que poderia ter um pedacinho de Erik por "tempo indeterminado". Isso era bom. Rezei para que a irmã de Brigitte me desculpasse, mas naquela hora eu até desejava que ela continuasse doente por mais tempo.
    Quando eu acordei, Erik não estava mais lá, mas eu pude ouvir o som do órgão. Ele estava tocando, mas não era a minha música, ou a música que estava tocando naquela noite, a noite em que eu fui à casa no Lago pela primeira vez. Era uma música um tanto quanto furiosa. Genial, é claro. Era Erik tocando, e a música era muito bonita, e até um pouco sedutora, ás vezes. Mas ainda assim era furiosa, havia uma raiva enorme contida ali. Tentei me levantar, mas não deu certo. Gritei de frustração e dor, que saiu mais alto  do que o planejado. Joguei o travesseiro em cima da cabeça, mordendo a fronha para não berrar de novo. A música parou e eu ouvi passos. Ah, droga. Coloquei a cabecinha para fora do abrigo em que eu transformara o travesseiro.
    -Catherine?- disse Erik, preocupado, entrando no quarto. Depois, eu vi da onde ele tinha tirado a fúria que eu ouvira na música. -Catherine! - ele berrou e eu me assustei.
    Erik ainda estava sem a máscara e apesar de eu já ter confessado que o achava... bem, bonito, eu senti que estava provando um pouco da fúria do Fantasma da Ópera. Me encolhi. Por que ele estava tão bravo. Ele chegou mais perto, percebendo meu medo, e eu tentei com todas as minhas forças - ou aquilo que sobrara delas - não recuar. Eu vi a mágoa em seu rosto e sua expressão se acalmou, mas o olhar ainda estava um pouco furioso.
    -Está tentando se matar, Catherine? - olhei pra ele, a cara transformada em ponto de interrogação - Você não está vendo o quanto isso está sangrando? - olhei para baixo, para os lençóis, para minhas roupas. Tudo vermelho, manchado de sangue, assim como pude verificar que o chão também estava. Ah, como eu detestava sangue. Me dava enjôo.
    Fechei os olhos, respirando fundo.
    -Desculpe.
    -Acho que vamos ter que te enfaixar, Catherine. -ele disse, a raiva sendo substituída pela angústia e preocupação. Eu arregalei os olhos.
    -Nem vem.
    -Quer ficar sangrando?
    -Não estou sentindo nada.
    -É claro que não, por isso que você gritou, não é? E imagino que você não queira perder o que te sobrou de sangue. Quando será que você vai entender como eu fico magoado por ver você assim?
    As lágrimas vieram aos nossos olhos. Da minha parte, por causa das palavras dele, que ardiam em meu coração e, confesso, um pouco pelo ferimento, que latejava. Da parte dele, é claro, isso eu não tenho como dizer.
    -Eu já volto. - ele disse, me dando um beijo na testa e saindo do quarto.
    Depois coitado, ele voltou, limpando o chão, me ajudando a me limpar, tirando os lençóis da cama. Não queria ter feito esse estrago todo.
    -Er... Catherine? - ele disse, o olhar um tanto quanto nervoso, a expressão envergonhada. - Você... Acha que consegue tomar banho sozinha? E se trocar?
    Ah, não, não, nada disso! O problema é que eu não conseguiria mesmo fazer isso sozinha, nem com muita boa vontade. Arregalei os olhos e Erik me deu um sorriso triste e tímido.
    "Ferrou", pensei. "Droga".
   
   


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Notas finais do capítulo

Beijos,
Luna :*



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