4ºCapítulo: Pressentimento

POV Bella

  Acordei cedo sentido que algo iria acontecer, tomei banho, escovei os dentes, me maquiei um pouco e desci para a cozinha preparar meu café da manhã. Fiz ovos mexidos e comi com pão, tomando leite. Depois escovei meus dentes novamente, peguei as chaves do meu carro e sai de casa. Não sei por que, mas novamente senti que algo iria acontecer, eu sentia no fundo da minha alma, e isso me assustou, porque depois de tudo o que eu vivi e vi eu sei o quanto pode ser preocupante esse meu pressentimento. Apesar de ter certeza de que algo realmente iria acontecer, tinha um lado meu que torcia para que eu estivesse errada, depois de tanto tempo tentando me distanciar “DISSO”, parecia que novamente essas coisas voltavam para me assombrar.

  Imersa em meus pensamentos, quando dei por mim já estava na frente do hospital principal de Phoenix. Sai do meu carro e entrei no edifício, as pessoas já acostumadas com a minha presença me cumprimentavam a todo instante, me encaminhei para o segundo andar apressadamente. Conforme o percurso, tirei da minha bolsa um nariz vermelho e uma peruca roxa e vesti, passei pela porta dubla e segui pelo menor corredor até a quarta porta da direita e então entrei.

  Meu sorriso se abriu no mesmo instante, lá estavam meus tesouros. Todas as crianças começaram a festejar a minha chegada, e enquanto isso eu passava de uma em uma lhes entregando línguas de sogra e chapéus de festa.

-- Bella ninguém aqui está fazendo aniversário—exclamou Megg. Uma menininha linda de olhos verdes vivos, gordinha e no momento careca, devido ao seu tratamento contra leucemia.

-- Eu sei disso, mas isso é pra comemorar o que eu consegui pra vocês—disse transbordando felicidade.

-- E o que foi?—todos perguntaram em coro.

-- Eu consegui autorização para que vocês fossem levados pela irmã Dulce ao zoológico—falei devagar para dar mais suspense. Quando todos assimilaram as minhas palavras, foi uma gritaria geral de alegria.

-- Tia Bella eu te amo cada vez mais—disse Mary batendo palminhas. E eu como sou uma manteiga derretida comecei a chorar.

-- Tia o que foi que eu disse de errado? Se eu te magoei me desculpa—apressou-se Mary ao ver o meu estado.

-- Não querida você não me magoou-disse para tranquiliza-la—eu estou chorando de alegria pelo que você disse. Mas mudando de assunto sei que vocês vão adorar o passei e como trabalhinho, quero que vocês façam desenhos e anotações sobre o que vocês verem e acharem interessante durante o passeio. Ok?

-- SIM!!!—todos deram gritinhos.

As horas ao lado dessas ferinhas passavam rapidamente. Eu adorava trabalhar como voluntaria, adorava por um sorriso no rosto dessas crianças que sofrem tanto. Eu bem sei o que é isso, talvez por isso eu de tanto valor a esses serviços comunitários, porque já senti na pele oque é sofrer nessa idade e até em outras. Mas enfim quando olhei para o relógio tive que dar tchau a todos e ir para a próxima fase do meu dia.

  Estacionei o carro de frente para o Teatro Municipal e o adentrei. As minhas queridas alunas já estavam a minha espera.

-- Professora! Bom dia como estas?—perguntou-me Lauren.

-- Muito bem e obrigada por perguntar. Agora todas em seus devidos lugares a aula vai começar—falei alto nessa ultima parte para todas ouvirem. As horas foram passando, e eu ia analisando a desempenho de cada uma, sabia que muitas ali se tornariam grandes bailarinas. Quando olhei no relógio, percebi que era hora do almoço, dispensei todas as garotas e fui para o restaurante mais próximo.

     Decidi que iria comer algum prato italiano e optei por Carpaccio, prato que consiste em cinco fatias de carne crua temperada com molho de mostarda. Após devidamente alimentada, paguei a conta e notei que havia esquecido um de meus celulares no teatro, então peguei o retorno e cheguei lá em aproximadamente quinze minutos. Entrei no prédio e procurei meu aparelho, onde havia deixado minha bolsa pela manhã. Nada. Não consegui encontrar em lugar nenhum, decidi procurar no pequeno estúdio atrás do palco. Ao chegar ao recinto tentei ligar a luz, e estranhei ao perceber que nada ocorria. Senti o ambiente ficar pesado, e de repente as lâmpadas se acenderam.

   Tensa. Essa era a palavra que me definia. Tentava a todo custo fingir que não sabia o que estava acontecendo. Só consegui pensar: “Não pode ser, deixe de ser idiota Bella”. “Você está enganada”. “Depois de tanto tempo não pode ser”.

-- BELLAaaaaaaaaaa—várias vozes ao mesmo tempo começaram a falar.

-- Não, isso de novo não. Vocês são fruto da minha imaginação—sussurrei desesperada. Não era MEDO. Apenas aquilo me atormentava.

-- AH! Bella, não é hora de brincadeira—uma voz taciturna.

-- O que vocês querem?—perguntei a plenos pulmões.

-- Você—uma das vozes disse.

-- Ajudar-lhe—outra disse.

-- Avisar-te—mais uma.

-- Deixe-me entrar Bella. Não precisa mais sofrer—um vozear sinistro exclamou.

-- Sumam já!!—gritei.

  Um estrondo insuportável acabou por abrandar as vozes. Notei que havia fechado os olhos e fiz questão de abri-los. Vi então todos os espelhos rachados, mostrando minha imagem horrorizada.

-- Não tenho muito tempo Bella—exprimiu uma voz calma—Esse pressentimento que se apossou de ti, hoje pela manhã, é correto. “Eles” estão vindo por ti. Cuide de seus sentimentos, não se confunda. Cuidado na hora de julgar. Algo grande está por vir, tudo o que passastes se deve ao que está a caminho. Lembre-se: eles estão vindo atrás de você bons e maus. Cuide-se—e assim a voz foi sumindo aos poucos.

-- Eles? Quem está vindo? Por quê? O que vai acontecer? Responda-me—mas já era tarde ninguém iria responder as minhas perguntas. Tentei abrir minha mente para encontrar novamente o dono daquela voz, no entanto nada ocorreu. Eu precisava treinar urgente, algo iria acontecer eu estava certa. Quem estava vindo por mim? E por quê?

   Não tinha mais cabeça para procurar nada nem ficar pela rua. Dirigi para casa em busca de um lugar para pensar, treinar e quem sabe recorrer por proteção. Ri sem humor algum nessa ultima parte. Não haveria ninguém me esperando e sempre seria assim, devido ao que eu sou e ao que ou quem está atrás de mim desde sempre.