"Nada é permanente, exceto a mudança." (Heráclito)

Me levantei feliz e ao mesmo tempo triste pelo o quê havia acontecido. Olhei para o lado e dei um pulo na cama.
– AUSTIN!? - Percebi que eu estava usando uma camisola muito larga e somente uma de suas alças estava em meu ombro. Encaixei a alça e me cobri com o lençol. - O quê você faz aqui? A... A essa hora?
– Eu te trouxe um café-da-manhã que eu sei que você vai adorar.
– Tá, mas... Da próxima vez avisa, né?
Em resposta, ele enfiou uma rosquinha na minha boca. Fui comendo e percebi que eram donuts de framboesa.
– Hum... Como é que você adivinhou?
– Porque eu te conheço.
– E como você entrou aqui, mister-conhecedor-da-amiga?
– Eu enrolei aquele seu tutor esquisitão. Você contou pra ele, né? Tudo bem, não tem problema. Ele deixou eu vir morar uns tempos com vocês.
– COMO ASSIM? - Gritei, imaginando a cena de Fredd me buscando em casa e Austin olhando com um olhar desprezivo para ele. - E seus pais?!
– Já falei com eles. Eles acham que eu estou fazendo intercâmbio.
– E se eles resolverem te ligar?
– Eu dei o telefone daqui. Relaxe, está tudo sobre controle.
E o abracei. Depois de me desvencilhar do abraço, me ajeitei na cama e resolvi que era hora de me explicar.
– Austin, sobre o quê aconteceu ontem...
– Não precisa se preocupar. Eu entendo. Ficou com medo que eu fizesse a sua cabeça para você voltar para casa e ligou para seu amigo para ele te dizer que era seu namorado, eu ficar com ciúmes e ir embora. Mas não funcionou tão fácil.
Eu, infelizmente, não pude segurar o riso.
– Quem te disse isso? - perguntei, tapando a boca para não rir mais.
– Eu mesmo. - respondeu de cenho franzido.
– Desculpe, Austin, mas está tudo errado - respirei fundo antes de começar. - Fredd é mesmo meu namorado.
Dessa vez quem riu foi ele.
– Não precisa mentir para mim, Gwen. Você nunca namoraria um mauricinho daqueles. Nunca.
Não pude deixar de dar um soco no braço dele. Enquanto ele gemia, continuei.
– Nunca mais fale assim do meu namorado. Se não acredita em mim, pense: como eu iria chamá-lo sendo que você estava ao meu lado o tempo todo? Por telepatia? Seu tonto!
– Então quer dizer que... - ele soluçou e não conseguiu completar. Acho que ele estava chorando.
– Austin, você não... - nem eu consegui completar. Só dei um abraço nele. E ficamos assim até ele começar a falar (acho que a essa altura tinha parado de chorar).
– Eu... Sempre... Gostei de você, Gwen. Gostei mesmo. Sempre quis você para mim. Nunca disse nada porque sempre achei que você gostasse do Nathan e não queria acabar com a nossa amizade. Para você não desconfiar, fingi que gostava da June, mas na verdade eu sempre odiei aquela patricinha magricela.
Ele me fez chorar. Muito. E como se não bastasse, ele me forçou um beijo. É sério! Eu o empurrei com força (claro, eu era mais forte que ele) e disse:
– Não quero que nossa amizade acabe. Mas eu amo Fredd. Entenda!
Ele pegou meu rosto e disse bem perto
– Me desculpe, eu... Eu não aguentei. Sinto muito, de verdade. Espero que não fique magoada comigo depois disso.
– Claro que não. - respondi, nos abraçamos e ele foi embora.
Ainda bem que ele tinha deixado os donuts, minha única companhia, em quem eu poderia me "abrir" e me "apoiar" o suficiente para entender que nada mudaria dali em diante. Ou pelo menos eu torcia para que fosse assim.