Até As Nerds Sabem Lutar! escrita por Lise Muniz


Capítulo 19
Capítulo 19 - Damos uma voltinha no Mundo Inferior




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Foi uma luta para colocar a Gwen no elevador! Ela é claustrofóbica e por isso não é muito fã de elevadores, principalmente os que só descem e não sobem. Ela só ficou calma, quando o elevador começou a andar para frente e se transformou no famoso barco do Caronte. Alice ficou em pé na parte da frente do barco de braços cruzados. Eu sabia que ela ainda estava brava comigo por causa do que eu havia falado ao Nico. Acho que eu nunca me senti tão culpada em toda a minha vida! Porém, quando eu ia pedir desculpas, Nico chegou perto dela e falou:

    - Parece loucura, mas eu acho legal você ser alienígena! Tenho certeza de que o seu planeta é muito melhor do que a Terra. Aqui é muito chato!

    - Na verdade, eu não lembro muito bem do meu planeta. Eu saí de lá quando tinha 3 anos. Só lembro-me de pequenas coisas, como o carvalho que tinha no jardim do palácio e um chafariz com a escultura de Eros segurando um vaso grego que jorrava água.

    - E por que você veio para a Terra? O que aconteceu lá?

    - Bom... Meu pai ameaçou me matar e minha mãe resolveu fugir comigo.

    - Nossa! Eu sinto muito! Desculpa perguntar, mas como sua mãe morreu?

Os olhos da Alice se encheram de lágrimas e chorando ela disse:

    - No dia do meu aniversário de 13 anos, ele apareceu na minha casa e tentou me matar, mas minha mãe pulou na frente e...

Alice não conseguiu concluir a frase e Nico a abraçou calorosamente tentando consolá-la. Até que os dois davam um casal bem bonitinho. Eu fiquei tão ligada na conversa dos dois, que esqueci completamente da Gwen. Quando percebi, ela debruçada na balaustrada do barco tentando tocar a água do Rio Estige. Se eu não a tivesse puxado pela camisa para dentro do barco, ela teria queimado diante dos meus olhos como um papel sendo aceso por um isqueiro.

    - Você está maluca? Quer morrer? – eu disse balançando os ombros dela

    - Desculpa. Eu só tentei pegar um distintivo que estava na água. – ela disse inocente – Eu iria devolvê-lo aos
encanadores.

    - Eu admiro você querer fazer isso, mas o mínimo contato de um mortal com a água do Estige o incineraria completamente em questões de segundos.

    - Aqui é onde vocês ficam. – Caronte disse parando o barco na frente de um portão de ferro

Os primeiros a descerem do barco foram Alice e Nico e logo em seguida eu e a Gwen. Após atravessarmos o portão, entramos em outro grande salão onde mais algumas centenas de almas esperavam em uma imensa fila onde logo a frente, em uma placa, estava escrito: MORTE EXPRESSA. Ao lado dessa fila, havia um pouco menor onde em uma placa estava escrito: MORTE NORMAL.

    - Nossa! E cadê a placa de: PASSE DIRETO SEM NENHUM PROBLEMA? – eu perguntei

    - E agora? O que fazemos? Não estamos mortos! – Gwen disse

    - Vamos ter que fazer como o Percy e passar direto. – Nico disse

Eu não gostei muito da idéia do Nico, mas fazer o que? Era o único jeito! Entramos na fila da morte expressa (que apesar de ser grande era a mais rápida) e quando chegou a nossa vez, pulamos a roleta e entramos. Quando nós chegamos do outro lado, triunfantes, nos deparamos com um rotveiller de 4 metros de altura e três cabeças.

    - Esse é o Cérbero? – Gwen perguntou com medo

    - É ele mesmo! Em carne e osso. – Nico disse

O cachorrão inclinou uma das cabeças para perto de Nico, o cheirou e depois o lambeu feliz.

    - Também senti saudades suas, garotão! – Nico disse fazendo cafuné nas cabeças do Cérbero.

Alice tentou acariciar uma das cabeças do Cérbero e ele rosnou para ela mostrando os dentes, que não eram nada pequenos. Alice correu para trás de Nico e se escondeu atrás do blazer dele.

    - Hey garotão! São minhas amigas! Elas têm permissão para entrar. – Nico disse a Cérbero

Cérbero nos olhou com todos os seus seis olhos, hesitou um pouco e depois deixou que passássemos.

    - Bom garoto! Merece uma recompensa! – Nico disse tirando três bolinhas de borracha do bolso do blazer e as jogando para o Cérbero

     - Até que ele não parecesse tão assustador quando você o conhece! – Alice comentou – Achei que ele fosse, sei lá, mais sinistro!

Nico até que era um bom guia. Ele nos guiou desde a entrada das almas até o nosso destino. Passamos perto dos Campos da Punição, o que foi sinistro por causa dos gritos aterrorizados das almas sendo torturadas. Passamos pelos Campos de Asfódelos, que estava mais lotado do que o jogo dos Lakers conta os Yankees e passamos pelos famosos e belos jardins de Perséfone, ao qual eu fiquei tentada a entrar e pegar uma fruta. Por fim, chegamos aos Campos Elíseos. Algum dia você já imaginou o paraíso? Vai por mim, sua imaginação não chega aos pés da realidade!

Nico parou em frente aos portões dos Elíseos (que por sinal estavam trancados) e procurou algo dentro dos bolsos da calça e do blazer.

    - O que você está procurando? – eu perguntei confusa

    - A lista dos Elíseos é claro! Sem ela não podemos entrar! – Nico disse como se fosse óbvio – Achei!

Nico tirou um pedaço de papel de dentro do bolso da calça jeans e começou a ler.

    - Elvis Presley, Marilyn Monroe, Michael Jackson, Lady Diana, Princesa Rosellie Shane Johnson e Rainha Katherine Shane.

     - Nossas mães são as últimas. – eu disse – Rose e Kate Shane.

    - Ok! Então... Eu, Nico Di Ângelo, filho de Hades (o senhor do Mundo Inferior), ordeno que as portas dos Elíseos se abram para que possamos ver a Princesa Rosellie Shane Johnson e a Rainha Katherine Shane. – Nico disse e os portões o obedeceram (o que foi muito estranho)

    - Então você é uma Lady, Lana? E você é uma princesa, Alice? – Gwen perguntou e ambas coramos

    - Por que não vamos em frente? – Nico disse salvando a nossa pele

Eu realmente não tenho palavras para descrever como eram os Campos Elíseos. Mas eu vou tentar. A grama era de um verde muito vivo, havia lagos e rios de água totalmente cristalina, árvores cheias de frutas e campos de todos os tipos de flores a cada 10 metros. Além disso, havia almas douradas vagando tranqüilas sem nenhuma preocupação por todo o campo. Procurei em todo o lugar a alma da minha mãe e da minha tia e quando estava a ponto de desistir, avistei duas moças loiras e um rapaz moreno embaixo de um carvalho conversando. Os três usavam túnicas e sandálias gregas, além de coroas de louros enfeitando os cabelos. Quando uma das moças loiras me viu, franziu o cenho, levantou e veio até nós. A outra moça a seguiu e o rapaz as olhou confuso. Logo que as duas saíram, outro casal chegou.

    - Lana? – a primeira perguntou surpresa – Alice? O que fazem aqui?

Eu sabia exatamente com quem eu estava falando. Era a minha mãe! Eu sorri e senti as lágrimas rolarem pelas minhas bochechas. Em um impulso irracional, eu agarrei minha mãe em meus braços. Ela afagou o meu cabelo, me abraçou também e beijou minha cabeça. Agora você deve estar se perguntando: “Se sua mãe era uma alma, como você conseguiu abraçá-la?”. Bom... Essa foi uma das perguntas que foi feita em seguida.

    - Se elas são almas, como a Lana e a Alice conseguem abraçá-las? – Gwen perguntou a Nico

     - Helenas. Elas têm esse benefício. Assim como a minha irmã. – Nico respondeu

 Quando me soltei dos braços da minha mãe, vi Alice aos prantos novamente, abraçada a tia Kate. Gwen sorria ao lado de Nico e o rapaz moreno e o casal nos olhavam confusos.

    - Ai Meus Deuses! Eu estava com tantas saudades de você e do seu pai! – minha mãe disse – Você está tão grande! Nem parece mais aquela Laninha de antes! Como conseguiu chegar aqui? Os portões estavam trancados!

    - Tivemos a ajuda de um amigo! – eu disse apontando para Nico

    - Nico? Você as trouxe aqui? Se seu pai descobre...

    - Calma aí! Primeiro: Vocês se conhecem? E segundo: Hades deixou que viéssemos como uma recompensa.

    - Sua mãe é a alma mais gentil e doce de todo os Campos Elíseos. Ela conversa comigo e com a minha irmã toda vez que eu venho aqui. – Nico disse meio constrangido

    - Hades a recompensou? O que você fez para receber tanto?

    - Nada demais! Ela só salvou o mundo todo e o Apolo, recuperando o Carro do Sol que havia sido roubado por Éris, a deusa do caos! – Gwen disse

Nesse momento, eu senti meu rosto tão vermelho quanto um tomate.

    - Ah! Então isso explica as roupas rasgadas e chamuscadas! – tia Kate disse – Mas não explica por que você está se vestindo assim, Alice.

Essa foi a vez de Alice corar. Ela agarrou a mecha rosa do seu cabelo e a torceu, nervosa.

    - Depois que a senhora veio para cá, eu fiquei inconsolável. E os únicos a me oferecerem apoio foram as garotas de um grupo emo. Eu achei legal o estilo delas e resolvi me vestir do mesmo jeito. – Alice disse cabisbaixa

    - E essas manchas de sangue na sua camiseta, Lana? – minha mãe disse preocupada

    - Digamos que algo muito estranho aconteceu. – eu disse – Encontramos o tio Robert.

    - E ele a feriu? Típico dele. Ele ajudou Éris a roubar o Carro do Sol, não foi? – a tia Kate perguntou

Eu contei a elas o que exatamente havia acontecido. Falei de como encontramos o Bluesky, da nossa jornada até ali, dos poderes da Alice, da visita ao Olimpo e de tudo mais o que aconteceu. Quanto terminei de contar a história toda, o rapaz aproximou-se de nós.

     - Poioi einaí autoí; - o rapaz perguntou em grego

Lembrei de todas as aulas de grego que minha mãe havia me dado quando eu era pequena e traduzi o que o rapaz havia falado. Aquela frase significava: “Quem são elas?”. Minha mãe sorriu para ele e respondeu também em grego:

    - Essa é a Lana, a minha filha e aquela é a Alice, filha da Kate. Lana, essa é Noah Rocco.

Vasculhei na minha memória e alguns segundos depois, lembrei-me quem era aquele rapaz. Ele havia sido simplesmente o rapaz que sacrificara a vida para salvar a da minha mãe. Eu estendi a mão para ele e ele a apertou com um sorriso tímido.

    - Escute Lana, quero que você conheça duas pessoas muito importantes para mim, venha! – minha mãe disse me dando a mão

Eu, Alice, a tia Kate e o Noah a seguimos até o carvalho onde o casal que eu havia visto antes estava sentado. Quando eles nos viram levantaram com um sorriso no rosto.

    - Estes são Sophia e Pedro Shane, meus pais e seus avôs. – minha mãe disse – Pai, mãe, essa é a Lana, minha filha e neta de
vocês.

A mulher era morena e tinha os olhos acinzentados como os da Annabeth e o homem tinha os cabelos negros e os olhos verdes como Percy.

    - Vocês são servos de Atena e Poseidon, não são? – eu perguntei

    - Somos sim! Mas... Como você sabe? – minha avó perguntou

    - Vocês têm as características principais dos dois. Os olhos acinzentados e os cabelos castanhos de Atena e os olhos verdes e os cabelos negros de Poseidon – eu disse – Como eu sei disso? Acabei de encontrar os dois no Olimpo há uns 15 minutos.

Meus avôs ficaram me olhando abismados até que Nico apareceu do nada e pigarreou impaciente.

    - Nós precisamos ir embora, Lana. Meu pai deixou que vocês viessem, mas é legal não abusar. – ele disse

    - Você tem razão. Nós precisamos voltar. – eu disse com um suspiro – Pode nos dar só um minuto?

    - Claro! Eu estarei ali com a Gwen, ok? – ele disse apontando para onde a Gwen estava

Eu acenei com a cabeça e ele voltou para perto da Gwen. Foi aí que algo totalmente humilhante aconteceu... Minha barriga começou a roncar de fome. Alice me deu um sorriso torto, eu corei e minha mãe riu.

    - Acho melhor vocês irem mesmo! Se não é capaz de você desmaiar de fome, Lana. – ela disse

     - Eu nunca vou lhe esquecer, mãe! Eu te amo! – eu disse abraçando-lhe com força

Minha mãe brincou com meu cabelo e secou as lágrimas do meu rosto dizendo:

    - Eu sempre estarei com você, Lana. Não importa onde você esteja. Agora vá! Você precisa voltar para casa e comer alguma coisa. Diga ao seu pai que eu estou morrendo de saudades!

Alice me fitou com seus olhos azuis escuros e borrados de rímel e lápis de olho e eu entendi que deveríamos ir logo, antes que ela recomeçasse a chorar. Nós fomos até a Gwen e o Nico e no meu do caminho minha mãe chamou.

    - Lana! Lembre-se de uma coisa. Tudo o que é meu é seu. Ou melhor, tudo o que um dia foi meu, agora é seu. Tudo mesmo.

De início, não entendi por que ela havia falado aquilo, mas quando minha mãe falava esse tipo de coisa, era por que ela tinha um motivo. Ela sabia de algo que ia acontecer, mas não quis me contar o que. Mais cedo ou mais tarde eu acabaria descobrindo.

Nico pediu que nós o seguíssemos e lhe desse as mãos. Ele iria nos tele transportar de volta para o Olimpo. Dei uma última olhada para a minha mãe e ela sorriu para nós.

     - Você parece muito com a sua mãe. – Gwen comentou
– Vocês parecem até irmãs.

     - Vou sentir falta dela! Ela é a pessoa
que eu mais amo nesse mundo! Nada nem ninguém nunca me farão esquecê-la. – eu disse fitando a grama verdinha dos Elíseos


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?