O resto das preliminares transcorreu sem muita emoção a mais. No caminho de Trunks havia passado um lutador na casa dos trinta anos, alto e robusto que se dizia o discípulo número um do Mr Satan e que afirmava que após vencer o Torneio Mundial de Artes Marciais iria pedir a mão da filha de seu mestre em casamento, a quem ele se referia como “a linda e adorável Videl”. Não foi preciso mais de um soco do meio Saiyajin em sua barriga para que tal lutador caísse vencido. O outro adversário fora um sujeito peculiar, com um caráter um tanto quanto introspectivo. Era um lutador oriental, que usava um velho kimono de karate na cor branca, uma faixa vermelha amarrada na testa e carregava uma pequena mochila consigo, chamado Hoshi. Dentre suas técnicas de luta, Hoshi possuía um poderoso gancho para o alto em meio a um pulo, que além de ser um golpe forte era um eficiente antiaéreo e um chute rotatório no ar, onde ele girava o corpo diversas vezes numa velocidade incrível e ainda era capaz de cair em pé. Por um momento, Trunks teve a certeza de que sentiu o lutador concentrar o próprio ki nas mãos, como se fosse utilizar alguma técnica de energia mas o lutador se limitou apenas a atacar com suas palmas. Talvez fosse o humano mais forte que o jovem rapaz havia conhecido em sua linha temporal, mas ainda assim foi capaz de vencê-lo sem dificuldades, acertando-lhe um chute com a sola do pé em seu peito e o mandando para fora da arena. Ao final desta luta, Hoshi havia cumprimentado amigavelmente Trunks, e disse que havia gostado bastante daquela luta e que treinaria duro para uma revanche um dia, para em seguida se retirar do evento com sua mochila nas costas.

Do lado de Stolz, as coisas iam igualmente bem. Como havia previsto, seu próximo adversário fora o lutador de wrestling que se achava extremamente forte. A cena dele sendo humilhado em combate por um garoto de porte pequeno quase conseguia ser cômica, se não fosse surpreendente. O jovem rapaz o atingiu diversas vezes na barriga e no rosto, com socos ligeiros como os de um boxeador peso mosca e com uma canelada na têmpora muito parecida com as utilizadas por seu adversário anterior, Ting, para vencê-lo. Assim como ocorrera com Trunks, uma de suas lutas também havia sido no mínimo curiosa: seu adversário era um velho hindu de barbas brancas chamado Nam, que dizia não só já ter participado do Torneio no passado como também havia treinado duramente durante toda sua vida. O homem conseguia defender com maestria os ataques do jovem Stolz, detendo todos os seus socos e chutes com os braços e pernas não importando o estilo que o garoto utilizasse, mas sem atacar nenhuma única vez. Ele apelou para golpes de Kung Fu Tradicional, Karate, chutes muito parecidos com os do Taekwondo e seus já conhecidos socos de boxe velozes, mas nada fora capaz de realmente atingir Nam. E, eis que de repente o velho hindu simplesmente ergueu seu braço e anunciou sua desistência ao juiz.

– Mas... como é?! Que tipo de piada é essa, velho?! – o rapazinho bradou, com raiva por ter obtido sua vitória através da desistência de seu oponente, embora aquilo não fizesse o menor sentido pois ele estava sendo completamente dominado pelo hindu.

– Um dia, jovenzinho... você irá compreender o verdadeiro sentido das Artes Marciais... Você luta muito bem e merece estar aqui neste lugar. No entanto é evidente que eu e você temos níveis de técnica diferentes. Eu poderia ter ganhado esta luta, mas eu não busco vitórias nem competições, vim apenas relembrar os velhos tempos e transmitir minha mensagem para alguém. No dia que você compreender as Artes Marciais mais do que simplesmente seus golpes, você se lembrará deste dia e tudo irá fazer sentido... Namaste...

O velho o saudou e então se retirou do dojo onde aconteciam as preliminares, deixando um perplexo Stolz para trás, que não continha a própria indignação diante do desfecho anticlímax que aquela luta havia tomado.

– Ora, velho maluco! Falando um monte de besteiras e filosofias baratas... Porque tinha de desistir?!

Mas, agora era chegado o momento final das preliminares, e os dois únicos lutadores que haviam restado subiram na arena, sendo um deles o jovem meio Saiyajin, Trunks e o outro, o garoto com ares de rebeldia, Stolz.

Ambos pararam diante um do outro, sérios e respeitadores. Trunks permanecia com uma expressão serena, enquanto Stolz parecia ansioso para o início do combate. No entanto, o juiz ainda estava conversando com outros staffs do Torneio, o que acabava rendendo tempo para que os dois pudessem ter um breve diálogo.

– Parece que vai ser bem como você disse – falou Trunks ao garoto, com toda a serenidade que lhe estava sendo evidente – A última luta desta etapa será entre eu e você.

– Trunks, eu quero te pedir uma coisa. Não contenha as suas forças em nenhum momento. Eu quero que você lute dando tudo de si, para que eu possa vencê-lo de uma forma justa! Embora eu ache que se eu puder te vencer aqui e agora, não restarão bons oponentes no Torneio de Artes Marciais, mas mesmo assim não me importo. Meu objetivo é simplesmente ganhar do mais forte!

– Eu admiro a sua obstinação... mas se importa se eu perguntar de onde vem todo esse seu desejo de lutar e vencer pessoas mais fortes? Porque você quer tanto provar a sua força assim?

– Porque? Ora, como assim porque? O único motivo pelo qual se entra num Torneio de Artes Marciais é para provar sua própria força, eu não tenho nenhum outro motivo para isso!

– Você não me engana – rebateu o jovem de longos cabelos, sentindo o ki do garoto - Eu sei que tem algo a mais em você... uma mágoa profunda, uma revolta, seus motivos vão muito além da competição...

Stolz travou os punhos, visivelmente enraivecido, enquanto seu olhar pareceu se perder durante alguns instantes em algum lugar em suas lembranças. Quando voltou à realidade, parecia mais feroz do que de costume.

– Se você quer mesmo saber, Eu fui criado em meio às ruínas de uma cidade há alguns quilômetros da Capital do Sul. Eu sempre vaguei faminto, sozinho e ferido desde que meus pais foram mortos por aqueles malditos Androides... Durante tanto tempo, eu sempre quis me vingar... não, eu vivia apenas para me vingar. Mas os Androides eram poderosos demais. Eles tinham uma super força e lançavam raios explosivos com as mãos, como esperar que eu pudesse vencê-los? Eu nem sabia lutar...

“Foi então que eu conheci meu mestre. Um poderoso lutador que também vivia em minha cidade. Eu tentei roubar a comida dele e ele me impediu, e quando eu tentei lutar com ele fui imobilizado sem dificuldade. Ele era um homem fora do normal, que vivia e treinava exaustivamente, mesmo em meio a toda aquela crise. Ele conhecia diversas artes márcias, estudava-as com afinco e dedicação, e quando eu fui vencido tudo que eu consegui fazer foi implorar para aquele homem que ele me aceitasse como discípulo. E pra meu espanto, ele aceitou... foi o começo dos meus treinos. Durante anos, eu e ele treinamos juntos... ele não era um homem que pegava leve em seus treinos, mas eu também não era do tipo que queria moleza. Em poucos anos eu já era um bom lutador que conseguia feitos quase que inalcançáveis para outros seres humanos, e éramos felizes vivendo daquela maneira. A fome, o frio e as dificuldades que passávamos já não pareciam mais ser um problema tão grande e planejávamos deixar a cidade para irmos viver num local afastado nas montanhas... até que veio aquele dia. Os malditos Androides nos encontraram, durante um ataque a nossa cidade. E meu mestre, sempre tão sensato e sábio, cometeu a burrice de desafiá-los para me proteger. Se tivéssemos ficado quietos e escondidos, talvez eles não tivessem nos encontrado... mas ele teve de ir lutar, teve de ir desafiá-los para um combate e pra que? Apenas para ser morto em vão?! Mas que tolice, porque ele tinha de ser tão burro, tão idiota?! Minha raiva e meu ódio por eles só fez aumentar ainda mais, e eu jurei que um dia, eu iria destruí-los com minhas próprias mãos. Eu iria vencê-los, custasse o preço que fosse! Mas, quão surpreso eu fiquei ao saber que um belo dia, os Androides foram vencidos por um certo lutador fantástico de cabelos dourados? Como você acha que eu fiquei, quando a única razão da minha existência havia simplesmente desaparecido? Eu me senti vazio... sem direção! Durante toda minha vida eu sempre quis destruí-los e desde a morte de meu mestre que eu apenas treinava sem parar, mas agora já não havia mais motivos para lutar! Por mais que fosse bom viver em paz, sem o medo e o terror daquelas máquinas assassinas, mas a vida normal de paz e prosperidade que eu nunca tinha visto me era completamente estranha... Seja quem for este tal guerreiro de cabelos dourados, só posso dizer que ele me deixou sem direção por muito, muito tempo!”

Stolz estava trêmulo, após relembrar toda sua história. Um par de lágrimas brotou em seus olhos, mas ele se recusou a chorar. Engoliu suas emoções, vidrando seus olhos em Trunks que ouvia atentamente cada palavra do rapazinho.

– Só que agora, temos esse Torneio de Artes Marciais... E ele veio para mim como uma benção. Meu novo objetivo de vida consiste em ser o mais forte, não importa como. Eu não ligo para fama ou dinheiro, só decidi entrar para que eu pudesse derrotar todos os meus adversários e provar a minha força para mim mesmo e para a memória do meu mestre! E agora, eu vejo o lutador mais forte da minha vida, diante de mim como meu adversário! Eu não acredito que haja ninguém melhor do que você em nenhuma das outras alas. Você, Trunks, sem a menor dúvida tem tudo para ser o campeão deste Torneio... e é por isso que eu tenho que vencê-lo, aqui e agora! Por isso eu repito: não contenha as suas forças!

– Se é assim que você quer... se é assim que você deseja, Stolz... então você terá a sua grande luta – Trunks disse, com um tom de voz mais sério – Você sofreu muito durante a época dos Androides... talvez tenha sofrido ainda mais do que eu que cresci sem conhecer meu pai e ainda tenho minha mãe até hoje... Mas você não reconhecer o que representou o sacrifício de seu mestre é uma ofensa à memória dele... Pode vir. Não vou conter a minha força.

– Isso era tudo que eu queria ouvir!

Veio então o juiz, com sua prancheta em mãos, observando atentamente os dois lutadores após dar uma ligeira ajeitada em seus óculos de armação fundo de garrafa. Fez mais alguma anotação e pigarreou, antes de começar a falar:

– Esta é a luta final da fase das preliminares do Torneio Mundial de Artes Marciais, ala oito. O vencedor desta luta conseguirá uma vaga nas lutas principais do Torneio, podendo assim disputar o prêmio de quinhentos mil! Lutadores, vocês já conhecem as regras, portanto... lutem!

Sem nem ao menos hesitar, Stolz saltou em direção a Trunks e lançou um chute semicircular direcionado ao seu rosto, que foi evitado pelo meio Saiyajin apenas recuando sua cabeça um pouco para trás. O garoto já caiu em pé, assumindo uma base de Kenpô e lançando mais alguns socos, que não passaram nem ao menos perto de Trunks. Sua velocidade era algo que o garoto nunca havia visto antes, e parecia que antes mesmo que ele lançasse algum ataque, o jovem de cabelos lavanda já o havia antecipado. Seus velozes socos de boxe eram magistralmente evitados, uma rasteira que deveria ter atingido uma das pernas de Trunks passou batida com um simples passo para trás e um chute direcionado ao seu peito foi desviado com apenas uma mão, deixando o jovem Stolz com a outra perna completamente vulnerável. Se aproveitando daquela brecha, Trunks atingiu o calcanhar do garoto com o peito do pé, fazendo com que ele perdesse o equilíbrio e caísse com as costas no chão. Stolz rolou pelo tatame, se levantando na mesma postura de Kenpô de antes, mas para sua surpresa, Trunks parecia simplesmente ter desaparecido.

– Eu estou bem aqui – disse a voz do meio Saiyajin às costas do garoto, que instantaneamente desferiu mais um vigoroso chute para trás, mas que não acertou nada novamente. Outra vez, Trunks parecia ter sumido.

Stolz podia sentir a movimentação sutil de Trunks por detrás dele, embora não conseguisse compreender como ele conseguia ser tão rápido. Ele se virou bruscamente lançando um soco que foi detido no meio do caminho pelo braço do meio Saiyajin que revidou com uma cotovelada que o acertou em cheio no meio da testa, derrubando-o sentado no chão. Ao contrário do que havia dito no começo da luta, Trunks havia contido bastante a sua força, e talvez por isso o jovem ainda permanecesse acordado, embora estivesse com ambas as mãos na testa.

– É assim que espera me vencer? É com essa força que você espera me derrotar e ser o mais poderoso do mundo? Não me faça rir, Stolz. Você nem sequer consegue acompanhar meus movimentos.

O tom de voz de Trunks era sério e severo, como há muito tempo não era utilizado. Sua expressão facial também denotava bastante rigidez, evidenciando os traços físicos que havia herdado de seu pai Vegeta. O garoto se colocou de pé novamente, embora estivesse sentindo bastante dor no lugar atingido pela pancada.

– Cale a boca... não vou deixar que você fale assim comigo!

Outro soco foi lançado pelo garoto, ávido e selvagem em direção ao rosto de Trunks que desta vez não fez a menor menção em desviar-se do golpe: recebeu o impacto do golpe em cheio na face esquerda, porém para o espanto daqueles que assistiam o combate e mais ainda, para a total surpresa e incredulidade de Stolz, o meio Saiyajin parecia completamente inabalado. Era como se o garoto tivesse socado uma estátua de pedra, pois nem sequer a posição do pescoço ou da cabeça dele havia se alterado.

– Isso... isso é impossível!! Como...? Como pode?

– Seus golpes são ótimos e suas técnicas são bem executadas. Mas você não tem o essencial para ser um guerreiro poderoso: você não trabalhou seu espírito durante seu treinamento. Um guerreiro forte possui mente, corpo e alma trabalhando em conjunto numa perfeita sincronia. Ele é disciplinado com seu físico, controlado em sua mente e principalmente é espiritualmente inabalado. Não importa quanto talento você tenha, se não puder canalizar tudo isto e transformar em poder real, não passará de um desperdício... Observe, vou te mostrar uma ínfima parcela deste poder real que eu estou me referindo!

Com um movimento com o punho quase instantâneo, Trunks desferiu um soco no ar, criando um fortíssimo deslocamento que não só atingiu Stolz em cheio com muito mais força do que qualquer golpe que ele havia recebido na vida, como também o lançou metros para fora da arena, seu corpo parando apenas quando atingiu a parede no outro extremo do dojo. O juiz, os staffs e os lutadores que ainda permaneciam no local apenas para assistir as lutas ficaram completamente espantados com o que seus olhos viam, sem poder acreditar naquilo. Trunks por sua vez desceu da arena como se nada tivesse acontecido, caminhando até o seu oponente vencido, que ainda não havia se levantado. Ele parou diante do garoto por uns instantes, esperando que ele se reerguesse sozinho. Quando finalmente Stolz conseguiu pelo menos se ajoelhar e encarar Trunks nos olhos, o meio Saiyajin começou a falar num tom um pouco mais suave do que ele havia utilizado durante a luta.

– Stolz, o motivo pelo qual tanto seu mestre quanto o meu morreram lutando não foi ignorância, prepotência ou como você mesmo disse, burrice. Os dois se sacrificaram para proteger a vida das pessoas que lhes eram mais importantes. Colocar sua própria vida como escudo diante da morte para defender alguém é a maior prova que você pode receber que alguém gosta e se importa com você, e tenho certeza que se mestre queria tanto o seu bem que preferiu se sacrificar em vez de te deixar morrer junto com ele. Espero que nunca em sua vida você se esqueça disso...

Quando Trunks virou as costas e iniciou a caminhada para fora do recinto, no entanto, foi detido pela voz do garoto, que agora parecia ter finalmente se recuperado o suficiente para ao menos poder falar.

– Espera...!

– O que foi? Você tem algo a dizer?

– Você... é muito mais forte do que eu pensava... eu me achava forte, mas nem sequer consegui te arranhar. Você falou sobre o verdadeiro poder... por favor, me ajude a conseguir este poder! Eu ainda quero ser forte, mas agora... droga, eu não sei nem o que falar! É como se você tivesse me acertado por dentro, não por fora. Por favor... me ajude a ser mais forte, a ser mais forte do que eu sou agora...

O jovem meio Saiyajin pareceu ponderar durante alguns instantes, pensando no pedido do garoto. Deveria ajuda-lo? Encaminha-lo a um caminho melhor, ou simplesmente deixa-lo lá? Nesta hora, ele tentou pensar no que Gohan faria. E após refletir durante alguns instantes, ele virou-se para o garoto, que ainda permanecia de joelhos e com uma das mãos na altura do estômago.

– Venha assistir as lutas de amanhã, e depois do Torneio vou te levar até a minha casa... acho que poderemos começar seu treinamento por lá mesmo... – ele falou finalmente, em meio a um sorriso – Lá é um lugar grande, se for o caso você poderá passar a noite lá e tudo. E não se atrase, ok? Amanhã muita gente vai querer vir assistir as lutas, então é bom que você chegue cedo para poder conseguir entrar logo. Se demorar, não vão sobrar lugares bons.

– Ah... sim! Combinado! Muito obrigado, Trunks...

Trunks continuou a sorrir, deixando o dojo para trás em meio a uma confiante caminhada. Sabia que no dia seguinte haveria um grande evento e deveria manter a sua palavra para com sua mãe, de vencer a competição e levar o dinheiro para casa para poder levantar novamente a Corporação Cápsula. Só não sabia que do alto do dojo onde havia lutado durante todo o dia espreitava uma sombra que se camuflava juntamente com o céu noturno que já se estabelecia, observando cada um dos seus movimentos sem desviar seu olhar cheio de maldade um único instante.

Ah Trunks... amanhã será sem dúvidas um grande dia... Não somente porque iremos nos confrontar numa luta decisiva de vida ou morte, mas sim porque amanhã a criatura finalmente será despertada de acordo com a vontade do Mestre Babidi e esse mundo inteiro se tornará um inferno sem precedentes!