In Love With The Hero escrita por Jungie


Capítulo 15
Aliado


Notas iniciais do capítulo

De volta finalmente! Eu devia ter postado isso semana passada, mas Pokémon causou danos horríveis à minha produtividade. i_i
Pra tentar recompensar, mais um capítulo grande! Espero que me perdoem depois de tanto tempo rs. E ah, aproveitei que finalmente recuperei o Photoshop e fiz uma capa mais decente. :3



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Jessica fechou o livro pela última vez com um sorriso de satisfação no rosto. Sempre se sentia bem ao terminar uma edição da saga Harry Potter e havia ficado um tanto empolgada para relê-los assim que soube que Tiffany tinha a coleção toda. Botou o livro no criado-mudo e se enfiou debaixo das cobertas para dormir, relembrando mais um pouco sobre o mundo mágico que acabara de deixar.


Porém não demorou muito para que pensamentos que estavam frequentemente lhe atormentando nos últimos dias ressurgissem em sua mente. O beijo que Taeyeon havia lhe dado repetia em sua cabeça como um disco riscado que seu subconsciente se recusava a trocar. Afundou a cabeça no travesseiro e fechou os olhos, determinada a cair no sono o mais rápido possível.


Ei.


Jessica abriu os olhos ao ouvir o sussurro em seu ouvido. Olhou ao redor e, mesmo estando em um ambiente mal iluminado, percebeu que o quarto em que estava era diferente do seu. Como poderia ter parado lá? Alguém a levou enquanto estava dormindo? Ou talvez fosse tudo mais um sonho?


Suas indagações foram interrompidas quando sentiu um par de lábios quentes sobre os seus. Mal teve tempo de reagir quando a pessoa interrompeu o curto beijo e Jessica viu-se encarando os olhos castanhos e cheios de desejo de Taeyeon. Sentiu-se um pouco incomodada com o olhar um tanto intenso da outra e desviou o seu, notando uma familiar baixinha de cabelos curtos deitada em uma segunda cama.


– Sunny... – falou mais alto do que pretendia. Talvez por esperar que ela acordasse e a tirasse daquela situação, mas algo no olhar de Taeyeon a fazia querer se entregar sem resistência.


– Ela não vai ouvir – disse Taeyeon, quase a provocando. – Somos só eu e você.


Taeyeon selou seus lábios com os de Jessica novamente, desta vez com mais intensidade. Jessica fechou os olhos e tentou relaxar, mesmo que seu coração batesse furiosamente contra o peito. Não nutria sentimentos pela líder, mas o seu intoxicante cheiro de morango provocava reações inesperadas em Jessica; tão inesperadas que ela mesma se surpreendeu ao ser aquela a levar o beijo adiante, mordiscando o lábio inferior de Taeyeon.


A Kid Leader aproveitou a oportunidade e deslizou sua língua pela boca entreaberta de Jessica, que exalou lentamente o ar de seus pulmões ao senti-la tocando a sua própria. Elas se contorciam como uma dança muito bem coreografada, arrancando gemidos e suspiros da americana. Taeyeon interrompeu o beijo e recebeu um gemido frustrado como protesto.


– Espero que esteja gostando disso tanto quanto eu estou, Jung.


Jessica pôde ver um pingo de malícia por trás do sorriso e do tom de voz de Taeyeon. Normalmente se sentiria desafiada e devolveria com um comentário ácido, mas seu cérebro parecia incapaz de formular uma resposta. Então apenas contentou-se em assentir com a cabeça, sentindo-se até mesmo envergonhada pelo controle que ela conseguira exercer sobre si.


Taeyeon tornou a trabalhar em seu pescoço, mordendo, chupando, lambendo. E Jessica ia cada vez mais à loucura. O ritmo de sua respiração era descompassado e já não conseguia controlar o calor que lhe incendiava e bagunçava sua mente. Tudo piorou quando Taeyeon resolveu deslizar suas mãos pelos seus braços e percorrer quase toda a extensão do seu corpo.


Taeyeon botou as pernas de Jessica entre os seus joelhos e começou a rebolar os quadris contra os dela, causando uma fricção que irradiava ondas de prazer pelo corpo de ambas. Levou as mãos aos seios da americana e massageou-os enquanto voltava a atacar ferozmente a sua boca. Jessica fechou os olhos novamente e deu mais gemidos arrastados contra a boca de Taeyeon.


Quando abriu os olhos, tudo havia sumido. Estava de volta ao seu quarto, novamente em sua cama. E Taeyeon estava junto de Sunny na outra, lugar de onde provavelmente não deveria ter saído a noite inteira.
A única coisa que permaneceu foi a incômoda umidade em sua calcinha.


“Eu não acredito que acabei de ter um sonho molhado com Kim Taeyeon,” pensou, incrédula.


– Malditos sonhos... – murmurou baixinho. Era difícil de engolir que além de seus pensamentos, a baixinha planejava em habitar seus sonhos também.


Jessica levantou da cama resmungando. Certamente precisava de um copo d’água e uma bela chuveirada gelada. Caminhou em passos lentos até a cozinha e viu alguém deitada no sofá. Curiosa como era, aproximou-se; quem teria tido o azar de ser expulsa de seu respectivo quarto aquela noite?


Quando examinou suas características faciais, notou que não eram igual a de nenhuma de suas companheiras. Instantaneamente um frio percorreu pela sua espinha. A pessoa deitada não era nenhuma das garotas, mas um homem.


What the fuck! – gritou instintivamente. O rapaz se levantou de imediato, assustado.


– Quem é você? – perguntou confuso, coçando a cabeça.


– Você invade a minha casa e ainda pergunta quem sou eu? – Jessica estava histérica, porém pronta para atacar se necessário.


– Garota, calma! – ele olhava apreensivo para os lados.


– Quem é que está gritando aí? – exclamou Yuri ao bater a porta do seu quarto com força, irritada com o barulho. Parou e arregalou os olhos ao ver o jovem parado no meio da sala de estar. – Changmin?


– Você o conhece? – Jessica ergueu as sobrancelhas.


– Nós todas conhecemos – respondeu Sooyoung com um largo sorriso no rosto ao vê-lo. – Não acredito que você está de volta!


– Shim Changmin, prazer – estendeu a mão para Jessica, mas ela apenas virou o rosto e cruzou os braços. – Então a novata gosta de se fazer de difícil. Tudo bem, adoro um desafio. – Sorriu.


– Changmin oppa? – disse Yoona esfregando os olhos.


– Como vai, Yoona? – acenou com um sorriso surpreendentemente amigável. – E uau. Essa é a mesma Seohyun de três anos atrás? – deu uma piscadela para Seohyun, que corou com o comentário.


– O filho pródigo à casa retorna – disse Taeyeon. Jessica sentiu suas bochechas arderem ao vê-la. – Por que voltou, Changmin?


– Não posso voltar porque tive saudades? – Changmin fez uma cara triste e deu de ombros. – Estava esperando que ainda tivesse algum lugar para mim nos coraçõezinhos atraentes de vocês, sabe. E ah, gostei do cabelo, Taeng.


– Não estou a fim de receber desertores de braços abertos.


– Peraí, qual é a da agressividade agora? Você sabe muito bem que eu não estava em um momento bom! – o tom de Changmin era defensivo.


– Muita coisa mudou por aqui durante os anos em que você esteve fora, Changmin – disse Sunny. – Se você realmente estiver disposto a integrar nossa equipe novamente, terá muito com o que se acostumar.


– É, percebi – Changmin coçou o queixo. – Onde estão os garotos? E a maknae? E quem exatamente é a novata que já não gosta de mim?


– Eu lhe fiz uma pergunta primeiro – respondeu Taeyeon com voz firme e assertiva. – Quero uma resposta antes de sanar qualquer uma de suas dúvidas.


– Certo... – Changmin sentou-se no braço do sofá. – Alguém me procurou oferecendo uma quantia mais do que generosa para que eu fosse atrás de “uma jovem um tanto especial”. Eu tive esse pressentimento estranho de que vocês tinham alguma coisa a ver com isso.


– Não esperava que justamente você fosse um mercenário, Changmin – Taeyeon cerrou os dentes. – Se quiser levar qualquer uma das minhas garotas, terá de passar por cima do meu cadáver.


– E eu não esperava que você fosse pensar que eu aceitei! – Changmin cruzou os braços, se sentindo ofendido. – Eu posso ser muitas coisas, mas certamente não sou um traidor.


– O que lhe traz aqui então? – Taeyeon ainda mantinha uma postura defensiva.


– Eu estava preocupado. Passei um tempinho procurando vocês por toda Seul. Alguns meses, na verdade.


– Oppa, a pessoa que lhe fez essa proposta... – disse Seohyun com seu pequeno caderno de anotações em mãos. – Como exatamente ela lhe abordou?


– Ah, não foi de uma maneira muito agradável... – balançou a cabeça ao reviver as memórias. – Uns dois caras mascarados me pegaram de surpresa enquanto eu andava na rua à noite e então me drogaram, não pude usar o meu poder... Na verdade não lembro de muita coisa. É como se alguém tivesse bagunçado a minha memória daquele dia depois de eu ter recusado.


– Taeyeon unnie, posso falar com você a sós por um momento? – Seohyun franziu a testa.


– Uh... Seohyun, estou no meio de algo importante agora. Não pode ser depois?


– Não! – exclamou. – É algo mais importante do que isso. Por que não deixamos as unnies atualizarem Changmin oppa sobre o que aconteceu durante os anos em que esteve fora enquanto conversamos? Eu sei que ele tem boas intenções, não há por que esconder nada dele.


– Certo então. Sooyoung, você é boa com histórias, hora de usar o seu talento.


– E Jessica unnie? – disse Seohyun. – Preciso que venha conosco também.


“Tá brincando com a minha cara...” pensou Jessica. Depois do sonho que acabara de ter, ficar sozinha em um quarto com Taeyeon e a maknae estava longe de ser algo que lhe deixaria o mínimo confortável.


Seohyun guiou Taeyeon e Jessica até o seu quarto enquanto Sooyoung começava a narrar acontecimentos de anos atrás de maneira dramática, arrancando risadas das outras garotas e de Changmin. Ao entrarem, Seohyun fechou a porta e deu um longo suspiro.


– Tudo faz sentido agora – disse, balançando o caderno na mão. – Eles não estão atrás de você, unnie. – Dirigiu-se a Jessica.


– Maravilhoso! Então quer dizer que vocês me tiraram da minha casa, da minha família, me trouxeram para um país do outro lado do mundo e me meteram em toda essa confusão para absolutamente nada? – Jessica soltou uma risada sarcástica.


– Não, não é isso! – Seohyun gesticulava, sentindo-se nervosa ao estar sob o olhar mortal de Jessica. – Você se encaixa na história de alguma maneira, mas não é exatamente a peça principal. Taeyeon é.


Jessica involuntariamente virou a cabeça para Taeyeon, que demostrava surpresa com seus olhos levemente arregalados e sobrancelhas erguidas.


– Eles querem a Taeyeon unnie – Seohyun bateu a palma da mão contra a própria testa. – E estava tudo tão óbvio! Eu deveria ter solucionado tudo isso bem antes. A nossa sorte é que ainda temos tempo de traçar um plano e...


– Espera aí, Seohyun – interrompeu Taeyeon. – Eles podem querer a mim, mas até onde sabemos estão atrás de todas nós.


– Estávamos focadas na hipótese de que queriam alguma coisa com Jessica, não é? Mas e se tudo isto for uma distração?


E se! – Taeyeon gesticulou. – Isso são apenas suposições de sua parte, Seohyun. Não estou duvidando da sua capacidade de raciocínio, mas não entendo muito bem como você tem tanta certeza desta sua hipótese quando as pistas que temos são mínimas!


– Já chegarei lá. Antes de tudo, eu queria pedir desculpas por ter lido a mente de vocês por tantas vezes, mas foi necessário – curvou-se para as mais velhas com uma expressão culpada em seu rosto.


– Sabe, eu estava pensando outro dia... como é que você consegue ler meus pensamentos, afinal? Eu ainda penso em inglês! – exclamou Jessica.


– Dá para você parar de repetir essa palavra, Jung? – disse Taeyeon. – É “pensamento” demais para uma frase só.


– Os incomodados que se mudem! Por que você se importa com o jeito que eu falo, hein?


– Argh, calma, princesa! – Taeyeon balançou a cabeça.


– Se as duas permitirem, eu gostaria de continuar, por favor – disse Seohyun séria. Jessica e Taeyeon abaixaram a cabeça quase ao mesmo tempo, envergonhadas. – Naquela vez em que foram atacadas, Taeyeon foi atraída por alguém que chamava o nome dela, certo?


Ambas assentiram com a cabeça.


– E no segundo ataque, Taeyeon unnie estava sozinha. Estou severamente inclinada a pensar que isso não foi uma simples coincidência – Seohyun sentou-se em sua cama. – E agora o relato de Changmin oppa. Como se alguém tivesse bagunçado a mente dele. Soa familiar, unnie?


Taeyeon franziu as sobrancelhas. Aquilo lhe soava familiar demais para o seu gosto. Era como se tudo ao seu redor insistisse em lhe recordar da pessoa que mais queria esquecer.


– Eu sei de tudo. Sei que você encontrou a Jieun, sei que ela está do lado deles. E se está do lado deles, há uma chance muito alta de ter sido ela a pessoa que apagou as memórias de Changmin naquela noite.


– Agora sei aonde quer chegar – Taeyeon sentou ao lado de Seohyun e encolheu-se feito um animal assustado, abraçando as próprias pernas e apoiando a cabeça nos joelhos. – Então eles estariam usando Jieun para me desestabilizar, certo?


– E o oppa também – acrescentou. – Sabemos que Changmin é habilidoso em combate e seu poder é um tanto útil, mas quem garante que a razão maior para ele ser abordado não tenha sido pelos laços que o ligam a você? Quer dizer, Jessica unnie não teria razão para sentir-se sensibilizada se Changmin ou Jieun a atacassem, mas seria bem chocante para qualquer uma de nós se encontrássemos um antigo companheiro querendo nos matar. Principalmente para você.


– Se Jieun tivesse aparecido no meio do meu combate com CL eu estaria completamente vulnerável – suspirou. – Você não acha que planejam ir atrás de Henry ou Amber, acha? – Taeyeon olhou preocupada para Seohyun. Sabia muito bem o que poderia acontecer caso Amber fosse visada pelo inimigo.


– Eu particularmente acho bem provável sim, unnie.


A reação imediata de Jessica foi cruzar o quarto e levantar Taeyeon pelo colarinho, encarando-a intensamente. O sentimento estranho que havia permanecido com Jessica após o beijo e o seu sonho parecia ter se dissipado no meio do misto de sua raiva e preocupação.


– Isso significa que a minha irmã corre perigo? – o tom de Jessica era ameaçador.


Taeyeon respirou fundo e desviou seu olhar. Pela primeira vez a líder parecia assustada diante de Jessica.


– Me responda Taeyeon! – exclamou.


– Nós... vamos fazer o máximo para que isso esteja fora de questão.


Jessica empurrou Taeyeon com força contra a cama. As palavras da mais velha não lhe transmitiam um pingo de confiança e isso a deixava ainda mais irritada.


– Se alguma coisa, por menor que seja, acontecer a Krystal e a minha mãe – ergueu o indicador e o apontou para Taeyeon. – Eu juro que vou bater tanto em você que irá preferir apanhar da sua preciosa Jieun.


Taeyeon e Seohyun se entreolharam após Jessica se retirar do quarto em passos pesados e bater a porta com força. A mais velha abaixou a cabeça e deixou os curtos cabelos cobrirem seu rosto para que a maknae não notasse o rubor que tinha certeza de que se fazia presente em suas bochechas.


As últimas palavras da americana demoraram-se na sua mente. Podia jurar que quando ela se referiu a Jieun havia em seu tom um pingo de... ciúmes?


Não. Era definitivamente coisa de sua cabeça. Jessica Jung era a última pessoa que teria motivos para sentir ciúmes de si.


Porém, como ela sabia sobre Jieun afinal? Taeyeon não conseguia se recordar de nenhuma ocasião em que sequer havia mencionado seu nome na frente dela.


– Talvez Tiffany tenha falado alguma coisa – disse Seohyun, quebrando o silêncio.


Taeyeon olhou torto para Seohyun.


– Desculpe, estou lendo sua mente de novo? – Seohyun fechou os olhos e massageou as têmporas. – Às vezes isso acontece sem querer. É por isso que ando sabendo de tanta coisa ultimamente.


– Você está perdendo o controle do seu poder? – Taeyeon sentou-se repentinamente. – Isso não é bom, Seohyun!


– Nem me fale. Não queira estar na minha pele quando a Yuri começa a pensar em coisas indecentes.


– Nenhuma envolvendo minha irmã, eu espero – Taeyeon revirou os olhos e segurou a mão de Seohyun. – Mas eu não falo apenas por você saber do que não devia. Depois de todos esses anos você já devia tê-lo sob controle, especialmente com você sendo... você.


– Não se preocupe unnie. Deve ser apenas passageiro. – Seohyun sorriu e deu um aperto reconfortante na mão de Taeyeon. – É com você que devíamos nos preocupar agora.


– Estou bem ferrada, não é? – Taeyeon soltou uma risada curta. – Alguém por aí está querendo a minha cabeça, o grande e único amor da minha vida está de volta para ferrar com a minha mente e ainda terei de enfrentar a fúria de mil sóis de Jessica Jung se algo acontecer à irmãzinha dela.


– Talvez Jieun não seja o amor da sua vida, unnie – disse a maknae após alguns segundos de silêncio.


– Não sabia que estava entrando no ramo de conselhos amorosos agora, Seohyun. – Taeyeon retraiu a mão e virou o rosto.


– Eu posso não ser a melhor nesse assunto, mas... se você ama uma pessoa não deveria abandoná-la, não acha?


– Às vezes quando se ama você deve deixar o outro ir.


– Mas não do jeito que ela lhe deixou, Taeyeon! Sei que você não pode mandar nos seus sentimentos, mas deveria pensar nisso.


Seohyun engatinhou até a outra ponta da cama e enfiou-se embaixo das cobertas já bagunçadas. Taeyeon tomou o gesto da maknae como uma deixa para retornar ao seu próprio quarto e ter mais algumas horas de sono antes de ter de digerir o que Seohyun havia acabado de lhe contar. Encontrou suas irmãs na porta ao sair, despedindo-se de cada uma com um beijo de boa noite na testa.


Ao ouvir o clique da fechadura do quarto ao lado e ver todas as portas fechadas, Taeyeon percebeu que era a única ali além do recém-chegado Changmin. O rapaz estava sentado no sofá com os cotovelos apoiados nas pernas e a cabeça entre as mãos; o que Sooyoung lhe disse claramente havia o deixado transtornado.


– Não tão durão agora, não é, Shim? – Taeyeon sentou-se ao lado de Changmin.


– Eu poderia tê-los salvado – ergueu a cabeça. – Não todos, é claro. Mas alguns. Eu me sinto tão impotente agora, você não tem ideia...


– Ei, você não tem culpa – botou uma mão no ombro de Changmin. – Sabe, eu entendo mais do que imagina. Provavelmente até muito mais do que você.


– Tentarei não ir embora de novo. Eu prometo.


– Lembrarei dessa promessa quando você estiver com um pé para fora da porta – brincou, dando um soco de leve no braço de Changmin. – Bem-vindo de volta à equipe, oppa. Estará sob o meu comando agora.


– Então virou a Kid Leader de vez? – sorriu e deu tapinhas de congratulação no ombro de Taeyeon.


– É, acho que dá para se dizer isso – Taeyeon levantou-se, retribuindo o sorriso. – Sooyoung tem uma melhor postura de líder do que eu. Mas como foram as garotas que me escolheram... – deu de ombros.


– Com certeza devem ter uma boa razão para isso – assentiu. – Kid Leader fighting! – abriu um sorriso exagerado e levantou o punho fechado em um gesto de encorajamento.


– Acho que você é mais uma criança do que eu agora – Taeyeon não conseguiu impedir que uma risada grave escapasse de seus lábios.


– Temos que manter o bom humor, não é? – Changmin deitou-se no sofá e puxou o lençol cuidadosamente dobrado que estava ao seu lado, embrulhando-se com ele feito um casulo. – Na situação em que estamos é melhor rir de coisas bobas do que ficar chorando pelos cantos.


– Tem toda a razão, oppa. – Taeyeon concordou com a cabeça. – Boa noite, e me desculpe pela agressividade. Alguém tem de fazer o papel de mamãe ursa por aqui.


– Só não imaginava que esse alguém fosse você, baixinha.


Taeyeon parou no meio do corredor para lançar um olhar mortal a Changmin. O mais velho estava enrolado até o nariz nas cobertas, mas seus olhos denunciavam que estava sorrindo feito um garotinho travesso.


– Me chame de baixinha outra vez e nem o seu teletransporte idiota poderá te ajudar.


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O clima da casa havia se tornado bem mais ameno ao amanhecer com a presença da nova figura, ajudando a dissipar um pouco da tensão e incerteza que se faziam presentes desde meses atrás. Aquele café da manhã foi atípico; todo mundo – exceto Jessica, que, como sempre, era a última a deixar o conforto de sua cama – estava reunido em diferentes pontos da pequena cozinha e da sala de estar em comemoração ao retorno de Changmin.


Sooyoung era a mais animada com a volta do rapaz. Ele era – e continuava sendo – seu oppa preferido. Cultivavam um relacionamento de irmão e irmã tão forte que um observador poderia pensar que eram realmente ligados por laços consanguíneos. Naquela manhã, dividiam memórias e piadas internas como se o mais velho não tivesse se ausentado por longos três anos.


A ocasião era tão especial que Hyoyeon havia até mesmo dispensado o seu maço de cigarros matinal, para a felicidade da maknae. Changmin, é claro, sentia-se lisonjeado com toda a atenção que recebia. Seu largo sorriso não deixou seus lábios por toda a refeição.


– Por que tão feliz, Changmin? – disse Yuri entre os dentes ao ver o rapaz enturmado até demais com Yoona. – Alegre por ser o único macho da casa?


– Eu, o único macho? Achava que você já cumpria esse papel, Yuri-yah! – Changmin deu uma risada curta e fez um elaborado toque com Sooyoung, que ria descontroladamente ao seu lado.


– Vá se foder, Changmin!


Yuri bateu o punho no balcão, assustando as garotas que gargalhavam harmoniosamente. Não se incomodara exatamente com a piada, mas sim ao ver Yoona praticamente debruçando-se no ombro de Changmin enquanto dava mais uma de suas risadas exageradas.


– Ah, me desculpe, Yuri-yah. Eu não sabia que esses anos haviam lhe tornado mais esquentada do que já é, se é que me entende.


– Ok, acho que todas nós podemos concordar que essa daí foi horrível – disse Sooyoung com uma mão no peito, tentando recobrar a respiração após uma sessão intensa de gargalhadas.


– Eu só estou feliz de saber que a minha garota aqui está viva e saudável – Changmin envolveu os ombros de Sooyoung com o braço. – E ainda se empanturrando de comida como sempre.


– As garotas vão ficar com ciúmes se você continuar me mimando assim, oppa! – brincou Sooyoung, inclinando a cabeça para o lado e piscando rapidamente.


– Não se preocupem, tem Changmin para todas! – riu alto. – Senti falta de vocês, até mesmo de quem eu não era tão próximo.


– Mas então, Changmin – manifestou-se Taeyeon não parecendo tão empolgada quanto as outras. Sua atenção estava voltada às notícias que passavam na TV e ao cafuné que fazia em Tiffany, que estava deitada em seu colo no sofá. – O que você andou fazendo durante esse tempo?


– Eu estava meio que foragido, digamos.


– Foragido? – Tiffany levantou a cabeça com um olhar preocupado e sonolento devido ao cafuné que recebia da irmã. – Tinha alguém atrás de você, oppa?


– Bem... exceto os malucos que me doparam, acho que ninguém até onde eu saiba – Changmin retirou o braço dos ombros de Sooyoung e tomou um longo gole de seu suco de laranja. – Mas ainda sim eu mantive certa discrição. Acho que dá para dizer que eu estava meio paranoico.


– Você fez certo. Um pouco de paranoia pode salvar vidas às vezes. – Taeyeon assentiu e levantou-se do sofá.


– Aonde você vai? – resmungou Tiffany, já sentindo falta do aconchego do colo da irmã.


– Eu volto já.


Taeyeon andou em direção ao corredor, e antes de entrar em seu quarto ainda conseguiu ouvir Tiffany pedindo a Yoona – ou melhor, quase a obrigando – para que retomasse as carícias iniciadas pela líder momentos atrás. Riu silenciosamente com o inusitado tom assertivo que a normalmente doce e gentil irmã utilizava.


Ao fechar a porta cuidadosamente para não perturbar o sono de Jessica, deparou-se com a americana deitada em sua cama de olhos abertos encarando fixamente o teto como se houvesse algo de extraordinário lá.


– Acordada desde quando? – Taeyeon começou a arrumar a cama em que dormia com Sunny.


– Acho que meia hora mais ou menos – murmurou Jessica ainda olhando para cima, evitando a todo custo fazer contato visual com a menor.


“Certo, Jessica, aja normalmente,” ordenou mentalmente a si mesma. “Não é só porque a garota gosta um pouco até demais de você que irá tornar as coisas estranhas! Faça isso pela Tiffany.”


– E por que não se juntou a nós ainda? – perguntou Taeyeon.


– Eu... não queria atrapalhar o momento familiar.


– Não fale besteiras, Jessica – disse Taeyeon enquanto terminava de endireitar as cobertas. – Você também faz parte da família.


– Difícil aceitar isso quando ainda me sinto como uma estranha no ninho – Jessica respirou fundo e fechou os olhos.


– É apenas uma questão de tempo, Jessica. Você acha que as garotas não se sentiram assim no início? É normal. – Taeyeon tirou as cobertas de cima de Jessica com um puxão e gargalhou ao vê-la se debatendo para cobrir-se novamente. – Nada de voltar a dormir, agora é hora de tomar café. Isso é uma ordem.


Jessica cruzou os braços, franziu a testa e fez beicinho, sua expressão assemelhando-se à de Sunny quando a baixinha costumava irritar os outros com o seu aegyo matador. Taeyeon ergueu as sobrancelhas e apontou com a cabeça para a porta com um ar autoritário.


Mal Jessica sabia que por dentro, o coração da líder derretia com a cena.


– Tá, já estou indo! – resmungou, levantando-se em um salto da cama. Calçou os chinelos e deu um grande bocejo antes de dirigir-se à porta com passos arrastados. – Eu só espero não ouvir nenhuma gracinha do seu amigo, já não me basta a maldita Kwon Yuri.


– Ah, Changmin não é de todo mal... bem, pelo menos não costumava ser. De qualquer maneira, ele está feliz demais de reencontrar Sooyoung para perturbar alguém que mal conhece.


– Vou confiar no seu julgamento... – Jessica acidentalmente fechou a porta com força, impaciente para retirar-se do cômodo.


Taeyeon deitou-se em sua cama com as mãos atrás da cabeça, sorrindo involuntariamente ao repetir em sua mente o aegyo – proposital ou não – de Jessica. Não demorou muito para que logo estivesse recapitulando todos os momentos em que observava a americana sem ser notada, como se assistisse a um curta-metragem a que ninguém mais tivesse acesso. Relembrava os intensos treinamentos nos quais tinha de se controlar ao tê-la tão próxima de si, ao tocar o seu corpo suado, ao sentir a respiração ofegante em sua própria pele.


A líder foi desperta de seus devaneios pelo barulho agudo e irritante de seu celular que alertava a chegada de uma nova mensagem de texto. Taeyeon estranhou; eram raras as ocasiões em que as recebia, ainda mais quando todas as meninas estavam em casa. Esticou a mão para pegar o aparelho de cima do criado-mudo e checar o torpedo.


O conteúdo da mensagem era um tanto confuso para Taeyeon. O endereço de um apartamento no centro da cidade? Para quê alguém lhe mandaria algo como aquilo? Ir até lá provavelmente a levaria a um engano ou uma emboscada, conhecendo a situação em que estava. Ignorou e apertou o botão para retornar à tela principal do celular e ao fazê-lo, notou que havia uma mensagem de voz na caixa postal. Selecionou-a e pressionou o telefone ao ouvido.


E se o seu coração já batia forte com os pensamentos sobre Jessica, Taeyeon tinha certeza que ele seria capaz de dar uma pirueta em seu peito após ouvir aquela voz.


“Taengoo, é você? Espero de todo o coração que seja porque eu... eu realmente sinto sua falta. Gostaria que viesse me encontrar. Sei que você me reconheceu naquele dia no beco, então queria esclarecer algumas coisas. Não se preocupe, não é uma emboscada nem nada, eu só quero conversar. Mandarei-lhe o endereço do meu apartamento via mensagem. Estarei esperando a semana toda, então apareça quando quiser... E se você não for a Taeyeon, por favor, apenas ignore.”


Taeyeon abriu um largo sorriso – o maior e mais sincero que se lembrava de ter dado em muito tempo.


– É Jieun-ah... já faz algum tempo. – Suspirou. – E eu mal posso esperar.


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