Bruderlichkeit escrita por keca way, Duda_


Capítulo 8
O começo do fim




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- Trecho de Geh -


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Eu destruí sua luz
Suas sombras caíram em mim
Eu não nos vejo
Todas as sombras caíram em mim
Em mim
Suas sombras caíram em mim

-x-

 

 

 

Tom abriu lentamente seus olhos, era muito desanimador saber que viveria naquela casa dali por diante, ainda mais agora, em meio a tantas lembranças. Para cada canto que olhava naquela casa, alguma memória lhe vinha à mente, algum momento ele recordava. Queria esquecer, mas isso parecia ser impossível.

Tom fechou novamente os seus olhos, não sabia por que ainda sofria tanto, muito menos por que ainda pensava nesse assunto, já que o que realmente queria era esquecer. Depois de um tempo ainda deitado com seus olhos fechados, ele os abriu e olhou na direção da janela. Tudo indicava que já havia amanhecido, a claridade invadia o quarto pela cortina que se mantinha aberta desde a tarde anterior, ninguém havia se lembrado de fechá-la.

A noite não havia sido tão ruim como o mais velho imaginava e, pela primeira vez desde a morte do pai, Tom havia realmente conseguido dormir. O garoto relacionava aquela noite de sono simplesmente com o seu cansaço, mas não podia descartar o fato de que sua mente poderia estar tranqüila por ele estar finalmente com sua verdadeira família. De qualquer forma, sendo qual fosse o verdadeiro motivo para ele ter conseguido dormir direito, agradecia por aquilo ter acontecido, pois algo lhe dizia que seu dia seria horrível.

Ele se levantou lentamente espreguiçando-se e encaminhou-se ao banheiro, lavou seu rosto e escovou os dentes, depois foi novamente até a sua cama e sentou-se, passando a observar o garoto de maquiagem borrada e cara de boneca, que ainda dormia na cama à sua frente.

Tom não conseguia acreditar no que seu irmão havia se transformado. Até mesmo as sobrancelhas eram cuidadas como as de uma garota, e, diga-se de passagem, até melhor do que a de muitas que ele conhecia.

O garoto se perdeu em seus pensamentos e nem sequer percebeu que ficara observando Bill por mais de meia hora, ele só se deu conta disso quando ouviu a voz delicada do irmão, que se encontrava rouca por causa do sono, falando com ele.

- O que foi? Por que está me olhando assim? Pareço o Bozo?! – Bill perguntou, sentando-se na cama e passando a observar Tom com curiosidade.

Segundo Bill, seu irmão estava muito diferente, aqueles dreads pareciam nojentos. “Devem estar cheios de piolhos!”, Bill pensava enquanto uma careta se formava em seu rosto, mesmo sem ele se dar conta.

Tom sorriu cínico ao ver que o outro também o observava agora, e rapidamente deu uma resposta a Bill que o fez arregalar seus olhos, um pouco chocado.

- Não... Tenho certeza que o Bozo é mais homem que você! Você parece um travesti com a maquiagem borrada! – Tom mostrou um sorriso de vitória, que logo se apagou ao ouvir uma gargalhada vinda do irmão.

- É... Pode até ser, mas é melhor ser um travesti do que um moleque de rua seboso! – o garoto disse com nojo.

- Acho que não, hein? Prefiro honrar meu sexo... – Tom sorriu brincando com o piercing em seu lábio, só reparando agora, que Bill também tinha um na sobrancelha e outro na língua, assim como uma tatuagem enorme no braço, onde estava escrito “Freiheit 89”.

Bill sorriu e balançou a cabeça negativamente e disse sínico no mesmo tom do irmão:

- Honrar o sexo?  - ele perguntou, passando a rir ainda mais. - E essas roupas de balão ajudam?

- Claro que ajudam! As meninas morrem para ver o que tem aqui por dentro. - falou Tom, sorrindo maliciosamente.

Bill começou a rir mais ainda, irritando um pouco o irmão.

- Querem ver se existe realmente algo aí! – ele disse, tendo por fim um ataque de risos.

Tom estava muito irritado com aquela conversa toda, mas mesmo assim resolveu entrar no jogo de provocações de Bill, sem deixar que ele ficasse por cima da situação.

- Pois é, coisa que elas já sabem que não tem aí! – o garoto falou, apontado para o corpo de Bill.

- Garanto que elas gostam mais do que tem aqui... – Bill retrucou, colocando a mão sobre o cinto, sorrindo maliciosamente. – do que tem aí. – ele concluiu, apontando para a calça do irmão.

Tom olhou para o irmão por um instante parecendo espantado e, logo em seguida, não se conteve e se jogou para trás, deitando na cama e rindo sem parar.

Bill o olhou confuso, mas não disse nada, somente esperou o mais velho se recuperar e voltar a sentar na cama, ainda rindo baixo.

- Irmãozinho, vejo que você não entende nada da vida! Ninguém supera o que eu tenho guardadinho aqui dentro. - falou Tom apontando para o local.

“Irmãozinho?... Ele costumava me chamar assim quando...” – Bill balançou a cabeça fechando seus olhos logo em seguida, não queria se lembrar, afinal, o passado não voltaria mais.

Para ele, aquela conversa já estava passando dos limites, não queria mais perder seu tempo com o irmão. Ainda tinha que fazer algumas coisas antes de anoitecer, afinal, era dia 24 de dezembro, véspera de Natal, e ele ainda não havia comprado os presentes para seus amigos, mãe e avó, e agora também teria que comprar um presente para o “pai”, já que esse passaria a ceia com eles.

 - Tenho mais o que fazer do que ficar falando com você! – ele disse depois de muito tempo em silêncio. – Afinal, eu nem te conheço... E, ah, mais uma coisa! – Bill fez uma pausa, o que fez Tom parar de rir e passar a prestar atenção em suas palavras. - Não me chame de irmão... Eu não sou nada seu. – finalizou seco, dirigindo-se ao banheiro.

“Irmão? Eu não o chamei de irmão! Chamei?” – Tom estava confuso com toda aquela conversa, ele nem ao menos percebeu que chamou Bill por irmãozinho, da mesma maneira carinhosa que ele costumava chamá-lo antes de partir para a Califórnia, junto com o pai. Porém, o que mais o deixou nervoso naquele momento, foi ter notado que estava tendo uma conversa civilizada com Bill, uma conversa que todos os irmãos têm... Era isso que mais o chateava, ainda considerar ele como irmão apesar de tudo...

Tom se levantou um pouco confuso, não sabia o que estava fazendo, mas, mesmo assim, foi até a porta do banheiro, que se encontrava aberta, e ficou observando o irmão escovar os dentes. Perdido em suas próprias divagações acabou lembrando-se do fato da noite anterior que lhe parecia sem importância alguma até o momento, mas resolveu testar.

- Conheci sua princesinha ontem... – disse procurando ver a reação do irmão, tinha que admitir Bill tinha um bom gosto se o que lhe passou pela cabeça estivesse certo. – Uma gracinha ela! – concluiu, mordendo o lábio inferior, brincando com seu piercing.

Bill virou com a boca cheia de pasta de dente, e o olhou confuso.

- Minha princesinha? Do que você esta falando? Pirou de vez? – perguntou, lavando sua boca, o que fez com que Tom não entendesse direito a indagação, mas continuou, captando a idéia do irmão.

- Uma ruivinha! Tenho que admitir, mano, você tem bom gosto... – afirmou, arrependendo-se da última frase, que saiu espontânea novamente.

Bill o olhou bravo, parando tudo o que fazia, e encarando-o fundo nos olhos, dava para ver que Tom acabara de mexer com algo que Bill realmente se importava, e estava pronto para defender a qualquer custo.

- Fica longe dela! Se não...

- Se não o que? – o garoto perguntou, interrompendo-o.

Tom sorriu ao ver que havia acertado com seu palpite, aquela garota que ele conhecera na noite anterior realmente representava algo para o irmão, só ainda não sabia o que ela era realmente dele, o que não o impedia de descobrir.

- Eu acabo com você... Ela não é para seu bico!

“Hum... Pela reação dele, namorada não é... O que ela será afinal? Bem, isso não importa agora, vou poder atingir ele, o que é mais importante.”, o garoto pensou, analisando o irmão.

- Não é pro meu bico?! - Tom riu, triunfante. - Pois saiba você que ela será minha...! – Tom adorava uma competição, e essa seria ainda melhor se ele pudesse tirar algo de Bill.

- Por que você esta fazendo isso? – Bill perguntou sem querer realmente uma resposta, pois já sabia que era só para provocá-lo. - Você não pode magoá-la... Ela é inocente, frágil... Eu não vou deixar você nem se quer encostar nela! – concluiu alterado, já parado em frente a Tom, prestes a começar uma briga.

- Inocente? Frágil? Eu não vou encostar nela? Isso é o que nós vamos ver... - Tom falou, saindo do quarto, sem deixar que Bill tivesse alguma reação.

Bill tentou falar algo mais não conseguiu, sentiu um ódio muito grande de Tom, não permitiria que ele brincasse com os sentimentos de Engel, ela era especial muito pra ele. Conheceu a garota pouco depois de seu irmão ter o deixado, passava por um momento difícil e Engel, mesmo sem saber de nada, ajudou-o a conviver com tudo aquilo, tornando-se sua melhor amiga. Na verdade, já há algum tempo ele nutria mais que simplesmente um amor de amigo, mas todas as suas tentativas de demonstrar algo para a garota foram frustradas, o que não o fez desistir dela.

“Se ele encostar em Engel...”, pensava com raiva enquanto vestia uma roupa. Apesar de toda a exaltação, ainda tinha que sair para comprar os presentes de Natal, só rezava para que sua mãe não o obrigasse a levar Tom com ele, pois aquele garoto tinha passado a ser um estorvo em sua vida.

 

O resto do dia foi tranqüilo. Para felicidade dos gêmeos, Simone não obrigou Bill a levar o irmão para nenhum lugar. Tom permaneceu o dia inteiro no quarto trancado, ouvindo música. Toda aquela situação deixava Simone muito chateada e triste, mas ela sabia que teria que dar um tempo para ele, compreendia que estava sendo difícil para o garoto e que não era de uma hora para outra que ele aceitaria tudo aquilo.

Eliza acabou indo mais cedo para a casa da filha, sempre a ajudava a preparar a ceia e ainda queria ver Tom, já que não havia conversado direito com ele da última vez. Eliza, apesar dos 10 anos que haviam se passado, ainda via em Tom a mesma criança de antes. Apesar de ele ter mudado muito aparentemente, ela conseguia enxergar em suas atitudes o menino que ele nunca deixara de ser. Tom sempre foi mais cabeça dura que Bill, além de ter um comportamento mais explosivo que o do mais novo, porém, era com ela que ele realmente agia naturalmente, deixando transparecer o lado meigo e carinhoso que escondia de todos os outros, e isso não havia mudado, apesar de Tom ter tentando esconder isso dela.

Eliza o fez ajudar com a ceia e, pela primeira vez desde que chegara a casa, Tom sorria realmente, sem falsidade. “Talvez seja o espírito do Natal que faz com que eu me sinta bem...”,  ele pensava e então fitava a avó e aquele sorriso frouxo dela o fazia notar que era a sua presença que realmente o fazia sentir-se bem. Por um momento até pensou em desculpar-se com a mãe e o irmão, idéia que foi descartada ao ver como Simone tratava bem Gordon, como se ele fosse mais importante na sua vida do que seu falecido pai, o que Tom não conseguia aceitar.

A tarde passou rápido, e, quando se deram conta, já passava das onze horas da noite, Bill havia passado a tarde inteira fora, tinha saído para comprar os presentes com Gustav e Georg, que acabaram obrigando o garoto a comprar um também para Tom, mesmo que a contra gosto. Agora ele se encontrava em seu quarto, sozinho, observando um pouco constrangido o embrulho, não iria entregá-lo a Tom, não podia, na verdade não sabia como.

- Bill? – o mais novo saiu de seus pensamentos ao ouvir a voz da mãe lhe chamando a porta. – Venha comer meu querido, a ceia já está na mesa, estamos só esperando por você!

- Eu já vou... – disse baixo, observando Simone sair do quarto.

Ele ficou por mais alguns minutos encarando o embrulho e depois desceu, discretamente colocou-o embaixo da árvore, ele não sabia se Tom iria gostar, para falar a verdade nem sabia o gosto do irmão, mas, mesmo assim, deixou o embrulho lá, com o nome dele escrito em um papelzinho.

Bill se sentou ao lado da mãe, de frente para Tom e Eliza, e colocou apenas uma fatia de peru em seu prato e algumas batatas assadas, e começou a fitar a comida. Não sentia fome, mas teria que comer, ou sua mãe o obrigaria a ir a um médico, já que ela achava que ele estava com anorexia, como o doutor havia falado.

- Bill, coloque mais um pouco de comida... Estou preocupada, você está comendo muito pouco.

O garoto apenas olhou sério para a mãe, como se a repreendesse pelo que ela havia dito. Nessa hora, Tom riu, balançando negativamente a cabeça, enquanto brincava com a comida no prato. Os que estavam à mesa olharam-no desconfiados, sem entender o porquê dele estar rindo.

- Não entendi a graça. – Bill falou, levantando uma sobrancelha.

- Não precisava entender. – Tom rebateu, passando a fitar o irmão.

- Eu quero saber. – Bill afirmou, com um misto de indignação e raiva na voz.

- Já que você faz tanta questão de saber...  Por mim tanto faz, é tão óbvio mesmo. – disse Tom, balançando os ombros.

- Fale... De uma... Vez! – Bill exclamou, olhando sério para o irmão.

- Meninos, por que nós não voltamos a comer, ham? - Dona Eliza perguntou, mas foi ignorada pelos outros dois.

- Como você está estressadinho hoje, hein? – Tom provocou. – Eu ri simplesmente porque é engraçado o fato dessa mulher fingir se importar com alguma coisa.

- Ela... Ela não finge! Ela realmente se importa! – Bill exclamou, fechando a mão.

- Vai tomar as dores da mamãezinha agora, é?! Por que você não faz como ela e aceita a verdade calado?! – Tom provocou mais uma vez.

- Tom... – Simone tentou falar, mas o filho mais novo não deixou que ela terminasse.

- Seu... Seu idiota! – Bill exclamou, levantando-se rapidamente e dando um soco na mesa que acabou se rachando no local, devido à intensidade do impacto.

- Meninos, parem com isso agora! – Simone pediu, levantando-se também.

- Isso, escutem sua mãe... – Gordon pronunciou-se, fazendo Tom olhar de relance para ele.

Um sorriso curvou timidamente o canto dos lábios do garoto e ele também se levantou, parecendo satisfeito.

- Essa reuniãozinha de família feliz para mim já deu. Vou para o meu quarto. – Tom falou, começando a caminhar em direção a escada.

- Vai fugir assim como você e o Jörg fizeram há 10 anos atrás, é?! – Bill indagou, tentando não ficar por trás.

Tom parou de caminhar no mesmo instante, seus punhos se cerraram e seu coração estremeceu de ódio com aquelas palavras. Não deixaria aquele garoto brincar daquele jeito com a imagem de seu pai. Tom caminhou de volta à mesa e segurou sua borda com força, fitando o irmão com desprezo.

- O que foi mesmo que você disse?! – Tom indagou.

Nesse momento, não havia mais ninguém sentado à mesa, todos já haviam levantando-se e fitavam assustados os garotos, que olhavam-se com igual intensidade.

- Eu perguntei se você iria fugir assim como o seu papai, que você tanto ama, fez. – Bill respondeu, deixando que um sorriso aparecesse em seu rosto.

O corpo de Tom tremeu na hora e, acompanhado de um grito rouco, ele virou a mesa. Todos se afastaram por puro reflexo, enquanto a ceia de Natal se estraçalhava pelo chão. Simone acabou sendo atingida por uma jarra de suco, que se quebrou ao colidir com o seu pé, cortando-a e espalhando o líquido por todos os lados, foi aí que ela soltou um grito fino, que foi abafado por outro barulho, vindo do filho mais velho.

- Não ouse falar assim dele! – Tom gritou, movendo-se rapidamente até o irmão.

Gordon, assim que percebeu o garoto avançar na direção de Bill, pôs-se na frente dele, abrindo os braços para proteger o menino e, ao mesmo tempo, impedi-lo de sair de trás dele.

- O que você está fazendo?! – Tom perguntou, agitado. – Saia daí agora!

- Tom, acalme-se... – Gordon pediu com cautela.

- Seu imbecil! Não se dirija a mim! Apenas saia da frente! – Tom exclamou.

- Eu não vou sair. – Gordon disse, sério.

Tom olhou com ainda mais raiva, tentou suspirar, mas acabou não conseguindo mais se controlar. Vendo que o homem realmente não sairia da frente de seu irmão, acertou-o em cheio com um soco no rosto, que fez Gordon cambalear e um filete de sangue escorrer pelo seu nariz. Tom não esperou que o homem se recuperasse, empurrou-o de encontro à parede, mas, antes que pudesse acertá-lo novamente, foi puxado por alguém que o jogou com tudo na porta do banheiro. Tom caiu tonto no chão, segurando a cabeça, foi aí que Bill correu até ele e o ergueu do chão pela gola da camisa, sacudindo-o mais uma vez contra a porta do banheiro.

- Nunca... Nunca mais bata no meu pai! – Bill gritou, preparando-se para socar Tom, mas acabou recebendo do garoto, que já havia se recuperado, um chute entre as pernas, fazendo com que ele se curvasse e gritasse de dor.

- Seu pai está morto entendeu?! Esse cara aí não é nada seu! NADA! – Tom gritava desesperado, passando a chutar repetidamente o irmão.

O garoto tentava se defender, mas parecia não conseguir. Acabou caindo no chão, enquanto recebia os golpes do irmão, que anularam suas chances de se proteger. Bill segurou uma das pernas do irmão, sentindo que o ar em seus pulmões se esgotava a cada nova investida dele. Tom havia perdido todo o controle sob o seu corpo. Estava cego, surdo e mudo de raiva, era apenas essa que movimentava seus membros agora. Não ouviu os pedidos desesperados de sua mãe para que ele parasse, nem percebeu quando quebrou uma cadeira no tronco de Gordon quando este tentou ajudar Bill. Ele já não tinha noção da força com a qual batia no irmão, nem o quanto ele estava fazendo todos sofrerem com tudo aquilo. Não sentia que seu corpo tornava-se mais pesado a cada golpe, nem percebia que a dor que tanto machucava seu peito apenas aumentava. Ele estava deixando que toda a tristeza e raiva acumulada ao longo daqueles 10 anos tivessem sua vez de esvaírem-se, tivessem sua chance de deixá-lo.

- Eu te odeio! COMO EU TE ODEIO! – ele repetia constantemente, tentando não escutar a voz que ecoava em sua cabeça dizendo que ele o amava, que o que ele sentia por Bill não havia mudado em nada durante todo aquele tempo, ele não podia admitir que aquilo era verdade, não podia.

Tom não parou de bater no irmão quando ele lhe implorou para que isso o fizesse, nem quando este parou de pedir. Não parou quando Bill rastejou pelo chão tentando escapar dos chutes dele, nem quando este parou de fugir. Quando suas pernas cansaram-se a ponto de não conseguir mais repetir aqueles movimentos, ele abaixou-se e passou a apenas esmurrar o garoto. Faria qualquer coisa para aquela dor passar, para aquela voz parar de sussurrar mentiras em sua mente. “Eu só quero que isso passe, eu só quero que essa dor passe, por favor! Por favor, ME DEIXE EM PAZ!”, ele gritava em seu pensamento, batendo desesperadamente no irmão, esperando que aquilo ajudasse a cessar a sua aflição.

Quando seus músculos já não tinham mais forças para continuar repetindo aqueles movimentos, ele finalmente parou. Olhou para Bill e o garoto encontrava-se imóvel no chão. Foi então que percebeu o que havia feito. Bill sangrava pelo nariz e pela boca, além de vários outros lugares. O chão da sala estava coberto de sangue e de coisas quebradas. Logo Simone apareceu ao lado de seu filho mais novo, segurando-o nos braços e gritando algo que Tom não conseguia escutar. Eliza segurava Gordon encostada à parede, e seus olhos demonstravam que ela parecia assustada demais para tomar alguma atitude. A última coisa que Tom escutou antes de sair correndo mais uma vez, foi a sirene de algumas ambulâncias, que chegavam para socorrer os outros dois. Tom saiu desesperado pela rua, sem saber o que havia feito, sendo segurado por alguns homens que falavam sem parar, mas ele não conseguia entender nada do que eles lhe diziam.  Segurou seu rosto e olhou para cima, procurando pela chuva que havia molhado sua face, mas não a encontrou. Tudo deveria estar acabado agora, mas a verdade é que não estava. A angústia que o garoto sentia só provava que ele estava errado, que o que ele fez não mudou em nada a dor que sentia, não mudou em nada o passado, nem tão pouco tornou as coisas mais fáceis. Ele sempre soube que tudo poderia mudar de uma hora para outra, que para os seus erros sempre haveria um pedido de desculpas, mas dessa vez algo o dizia que não bastaria dizer que sentia muito, que dessa vez não haveria como pedir desculpas.

Tom entrou no quarto de seu irmão, pretendo contar-lhe da nova garota que conhecera e encontrou Bill sentado no chão,com o olhar perdido, parecendo preocupado com alguma coisa.

- O que aconteceu Bill? – ele perguntou sentando-se ao lado do irmão, como este não lhe respondeu nada, ele continuou. – O que foi? São aqueles garotos de novo, é? Eles estão te perturbando? Estão ameaçando você?

Bill apenas fez que sim com a cabeça, olhando para Tom e deixando que o garoto visse o medo que havia em seus olhos.

- Não se preocupe, irmãozinho. Eu não vou deixar que ninguém machuque você... Eu te protegerei sempre! – Tom sussurrou para o mais novo.

“Desculpe-me, Bill... Eu quebrei a minha promessa... Não cuidei de você como deveria.”, Tom pensou, e então percebeu que a água que molhava seu rosto na verdade não caía do céu, e sim, saía de seus próprios olhos.

 


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Notas finais do capítulo

Preview do próximo cap.:
"... - Ou será que a verdade é o contrário? Simone Kaulitz espanca filhos e marido na presença da mãe durante a ceia de Natal? "

Geeente, a demora foi por causa do meu pc... Tive um prejuízo de quase 700 reais porque umas coisinhas nele queimaram (inclusive placa mãe) durante um apagão q teve aqui -.-'
Mas agora tá tuudo ok!
E se alguém aqui lê minha outra fic ('uma viagem pode mudar o destino?') podem esperar q os últimos caps. tão vindo por aí :D

Eu e a keca esperamos que vocês gostem desse cap. e próximo fds, se Deus quiser, tem mais!
Beeeijos a todos vcs!
E obrigada pelos reviews *.*