Bruderlichkeit escrita por keca way, Duda_


Capítulo 7
Solidão




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- Trecho de Beichte -

Por favor não sejas tão egoísta
       Dá-me uma outra chance ou duas....
Ou em último caso deixa-me ser um anjo no inferno.

 

 

Tom ganhou agilidade rapidamente, via imagens embaçadas de pessoas passarem por ele, por várias vezes quase esbarrou em crianças e derrubou compras de Natal. Mas não parou nenhuma vez de correr. Não pararia com a única coisa que o deixava respirar naturalmente, como se o ar não faltasse. Como se ele pudesse voltar no tempo e sua garganta não mais ardesse avisando-o que lágrimas estavam prestes a cair de seus olhos. Era como se ele fosse completamente livre e aqueles pensamentos negativos não mais o dominassem. Era como se aqueles momentos o pudessem levar de volta para casa, para um tempo que ficou esquecido no passado.

Finalmente ele parou de correr, agora caminhava lentamente, sem direção. Só aí percebeu que seus pés nunca esqueceram onde deveriam pisar, sua mente nunca esqueceu o caminho. Ele estava certo que chegaria a algum lugar, mesmo que não se importasse qual seria. O caminho para casa também nunca seria esquecido e, só agora, ele havia notado isso.

Sua mente o levava de volta a discussão com o irmão constantemente, e o silêncio gritava em seus ouvidos as verdades que ele não estava pronto para escutar. Seus avós não o amavam. Quem era o Bill para atingi-lo com aquilo em um momento tão inóspito? Como ele podia estraçalhar um coração que já estava partido? Como podia ter sido tão fácil para ele dizer palavras que poderiam facilmente derrubar alguém que já pensava haver perdido tudo?

“Estou cansado. Estou cansado e não quero ter que começar isso tudo sozinho... Em que lugar ficaram perdidas as minhas alternativas? Por que eu não posso escolher?! Eu queria poder voltar... Voltar no tempo, voltar ao meu verdadeiro lar, ter junto a mim as pessoas que realmente se importam comigo, que realmente me amam...”, Tom abateu-se por um momento e deixou-se descansar em um banco que havia próximo a ele. Começou a lembrar-se de todos os momentos felizes e de todas as pessoas que amava, tentando com aquilo sentir-se melhor. Alguns sorrisos brotaram timidamente em seu rosto graças a certas lembranças e, quando lhe veio à mente que nenhuma daquelas pessoas estava agora ao seu lado, uma lágrima vagou sorrateiramente pelo seu rosto, e ele decidiu ligar para a única pessoa que poderia fazê-lo sentir-se melhor naquele momento. Pegou seu celular no bolso da calça e discou aquele número já tão conhecido, então, colocou o telefone no ouvido e pôs-se a esperar por aquela voz que tantas vezes já o acalmara. Cada toque não atendido aumentava a ansiedade de Tom. “Vamos Louis, atenda... Eu preciso de você”, ele repetia constantemente. Acabou caindo na caixa postal e Tom deixou-se satisfazer pela gravação da garota pedindo para que lhe deixassem um recado. Ligou mais algumas vezes e, quando perdeu as esperanças de que ela atendesse, ligou apenas para escutar sua voz na gravação. Foi então que seu corpo começou a se dar conta do frio que, até agora, havia passado despercebido. Não havia saído agasalhado o suficiente para o tempo que fazia, e a pergunta que agora se repetia em sua mente era o que congelaria mais rápido, seu corpo ou a sua alma.

 

- Emily! Olha só quem está ali! É o Bill! Ele mudou novamente seu estilo... Foi mais rápido dessa vez...

- E mais radical também. – comentou a garota de cabelos pretos. – Tem certeza que é ele?!

- Claro! O rosto continua o mesmo... – a ruiva afirmou. – Vamos lá falar com ele!

- Já que você tem tanta certeza que é ele, pode ir sozinha... Fora que eu não quero atrapalhar o casal... – Emily disse, forçando um sorriso.

- A gente não é um casal. – a garota falou, fingindo irritação.

- Ainda, Engel, ainda... Mas da última vez foi por pouco... Por muito pouco, que vocês não realizaram uma aproximação mais carnal. – a outra riu-se.

- Pois é! Talvez se você não tivesse interrompido, não é?! – Engel perguntou, tentando sorrir. – Mas talvez tenha sido melhor assim... Eu e o Bill...

- São dois abestalhados! Não sei como o Bill teve coragem de tentar uma aproximação mais carnal da última vez... – Emily falou, sorrindo. – Vai lá falar com ele , vai! – ela disse empurrando a amiga. – Eu fico aqui te esperando...

A ruiva ficou em dúvida se deveria ir até o amigo ou não. Olhava de Emily para o garoto diversas vezes, nitidamente indecisa.

- Vai logo! Olha! Ele já tá indo embora! Vai! Vai! – Emily falou, empurrando a amiga.

Engel tentou sorrir para a amiga e depois foi até o rapaz, que já havia começado a andar. Ela o alcançou rapidamente e tocou em seu ombro.

- Oi... – Engel disse assim que ele se virou.

- Oi. – Tom respondeu, desconfiado.

Os dois ficaram em silêncio durante um bom tempo, e Tom aproveitou esse período para observar a garota. Ela era quase do seu tamanho, seus cabelos ruivos e ondulados eram longos, chegando quase a cintura da garota, e seu corpo possuía curvas bem definidas. Quando Tom resolveu finalmente fitar o rosto de Engel, percebeu que seus olhos eram de um azul vivo e intenso, que o fitavam com certa insegurança, e os lábios finos se curvavam num sorriso tímido. Tom então sorriu, e a fitou com interesse, já que a garota não falava nada, ele mesmo resolveu quebrar o silêncio.

- E então...? – ele perguntou, esperando que ela falasse algo.

- Bem, você andou meio sumido, não é? Vai passar o Natal por aqui mesmo? – ela indagou, tentando puxar assunto.

“Hum... Ela pensa que eu sou o meu irmão... Como não pôde perceber as diferenças?!”, Tom pensou antes de responder a garota.

Enquanto os dois conversavam, Emily os observava chegando um pouco mais perto, mas sem aproximar-se a ponto deles notarem sua presença. Ela olhava para o garoto desconfiada, não acreditava que poderia ser o Bill, apesar de suas mudanças constantes de estilos, algo mais a incomodava. “Talvez o modo de sorrir... Ou o jeito de olhar... Não sei. Não é ele, não pode ser...”, ela repetia enquanto o observava de diversos ângulos.

 

- Não é por nada não, garota, por mim, eu ficaria aqui com você a noite inteira, mas estão me esperando em casa e eu tinha dito que não iria demorar... – Tom falou, precisava arranjar uma desculpa para ir embora, o frio o incomodava cada vez mais.

- Ah! Não tem problema... Se a gente não se vir mais, até o colégio...! – ela disse, sorrindo.

- Até lá então! – Tom respondeu, beijando o canto da boca da garota e saindo às pressas para casa.

Engel ficou paralisada, olhando o garoto ir embora, com os dedos sob o canto onde ele a beijou. “O Bill está realmente diferente...”, ela concluiu em seu pensamento.

 

Assim que viu o irmão sair correndo para fora de casa, Bill sentiu um aperto em seu peito, ele sabia que não estava fazendo a coisa certa, sabia que não podia ser tão egoísta a ponto de ferir uma das pessoas que mais amava na vida, só por causa de um passado há muito vivido. Mas simplesmente não conseguia ignorar, sentia necessidade de expor tudo o que sentia, mesmo sabendo que isso prejudicaria, e muito, essa nova relação que a mãe estava tentando fazer crescer novamente entre eles.

 

Bill tinha vontade de correr na direção do irmão, encontrá-lo e abraçá-lo o mais forte possível, pedir desculpas, mas nunca faria isso. Não daria seu braço a torcer, não depois de tudo que falara... Seria forte, sabia que um dia Tom lhe perdoaria, pelo menos era isso que ele esperava.

 

“Ele vai me perdoar, eu tenho certeza... Mas e eu? Será que eu estou disposto a perdoá-lo?”

 

Muitos pensamentos para o futuro, como seu novo e forçado relacionamento com o irmão, vinham em sua mente, fazendo-o travar uma pequena guerra particular com seu subconsciente, guerra essa que só foi quebrada pelo abraço do padrasto. Gordon, ao perceber o sofrimento do garoto parado ao seu lado, envolveu seu ombro em um abraço amigo, dando-lhe um pouco de consolo.

 

- Você vai passar o natal com a gente, pai? – o garoto perguntou ainda meio atordoado, recebendo somente um sorriso feliz dos lábios do mais velho e um sinal positivo, mas nenhuma palavra fora pronunciada, deixando o incômodo silêncio tomar a sala novamente.

 

Bill se soltou do abraço olhando por muito tempo para Gordon, talvez tudo o que Tom tivesse dito fosse verdade. Apesar disso, Bill não conseguia imaginar que seu “pai” seria capaz de causar uma separação, mas, mesmo que sem querer, as palavras ditas por Tom plantaram uma dúvida enorme em Bill. O namoro de sua mãe e Gordon, assim como o casamento, aconteceram muito rápido, menos de um ano depois do sumiço do pai e do irmão, mas só agora o garoto viu isso como algo estranho, na época estava muito ocupado imaginando quando o irmão voltaria, ou mandaria notícias, o que nunca havia acontecido, até agora.

 

- Eu... Eu vou subir... Estou um pouco cansado! – ele disse ainda olhando para Gordon, como quem não quer acreditar na verdade mais pura do mundo.

 

- Você está bem, querido? – antes que Bill se distanciasse, Simone colocou a mão na testa do mais novo, um pouco preocupada com ele, já que Bill estava mais pálido do que o de costume.

 

- Eu estou bem! Não se preocupe! – o garoto sorriu, afastando-se rapidamente. – Só preciso descansar... Não consegui dormir direito na casa da vovó...

 

Simone sorriu para o filho e Bill subiu correndo para seu quarto. Precisava ficar sozinho e pôr seus pensamentos em ordem, pois o encontro com o irmão fora bem pior do que imaginava.

 

 

-Eu estou tão preocupada com o Bill! – Simone finalmente desabou, sentando-se no sofá. – Dr. Julien acha que ele está com anorexia nervosa... - Gordon sentou-se ao lado da esposa e a abraçou, secando algumas lágrimas que se formavam. - Ele está cada vez mais magro, quase não come, diz que não sente fome... Tudo começou quando ele soube que o irmão estava prestes a voltar... Agora ele está fraco, semana passada desmaiou no meio de um desfile da grife... Isso me preocupa tanto!

 

- Não se preocupe, eu estou aqui, vamos superar isso juntos... Ele vai se tratar. Mas agora temos que nos preocupar em como essa casa irá ficar com a chegada do Tom... Pelo visto não vai ser fácil...

 

-Você tem razão. – Simone o abraçou mais forte e finalmente desabafou em forma de lágrimas, ainda não havia falado sobre o problema do filho mais novo com ninguém, nem mesmo com a sua mãe, a pessoa em quem mais confiava.

 

 Gordon apenas a deixou desabafar, seria difícil, mas tudo seria superado com o tempo, e agora ele estaria ali, ao lado de sua família, nem que para isso tivesse que desistir de sua carreira. No momento eles precisavam mais do que nunca de um verdadeiro companheiro, um pai, e era isso que ele seria para seus filhos e sua amada esposa.

 

 

Bill deitou esgotado em sua cama. Ficou por muito tempo fitando o teto, depois observou as roupas que ainda estavam jogadas sob a outra cama. Seu olhar era de desprezo, mas, ao mesmo tempo, ele se recordava de vários momentos felizes que passara com o irmão, e, por um instante, vários pensamentos lhe vieram à mente.

 

“Olha só o que ele se tornou, parece um garoto de rua com todos esses trapos...” – sorriu – “Será que valeria a pena? Valeria a pena voltarmos a ser como antes? Éramos tão felizes... Ele sempre foi meu alicerce... – Uma lágrima escorreu involuntariamente de seus olhos. – “NÃO! Ele me abandonou, eu não posso perdoá-lo... Eu não consigo... – mais lágrimas brotaram de seus olhos ao lembrar-se dos anos que esperou por um telefonema do irmão, ou qualquer notícia que o fizesse saber que ele ainda se importava se Bill estava vivo. O cansaço se fez mais forte, ainda mais por causa das lágrimas que desciam involuntariamente de seus olhos, fazendo com que não resistisse nem mais um minuto. Bill acabou adormecendo do jeito que deitara em sua cama, vestindo a mesma roupa do dia anterior e ainda calçado com suas botas de cano alto.

 

- Eu nunca irei te abandonar... Eu prometo! Nunca te deixarei sozinho... Nunca...  

 

Preview do próximo capítulo: 'Naquele momento, Tom sentiu vontade de abraçar o garoto e esquecer tudo o que havia acontecido, mas não o faria, e não o fez.'

 


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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora, mas como tods já sabem estamos fazendo o máximo possivel para postar o mais rápido para você.
e mais uma vez muitoooo obrigada pelos reviews...
estamos muito felizes ;D
continuem nós mandando suas opiniões adoramos tds ela ;D
obrigada mesmo
bjoss! ;D