Bruderlichkeit escrita por keca way, Duda_


Capítulo 17
Algo Além de Nós




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- Trecho de Schrei -


- x -


Volte ao ponto zero
Aqui vem seu tempo
Deixe-o saber quem realmente você é


Grite o mais alto que você conseguir!


- x -


 


 


   Fazia três dias desde o primeiro ensaio completo do “Tokio Hotel”, isso significava que também já havia se passado três dias desde a audiência do tão esperado concurso. Os meninos estavam radiantes, se tudo desse certo, aquela seria a chance deles se lançarem com força, o que também os deixava um pouco apreensivos. As datas das eliminatórias ainda não haviam sido divulgadas, o que só contribuía para aumentar a ansiedade dos garotos.


   A situação entre os gêmeos estava bem mais amena. Eles não ousavam se falar, somente durantes os ensaios, que a partir daquele dia ocorreram todos ótimos. Tom estava cada vez mais entrosado com a banda, a sonoridade das músicas tinha melhorado muito, e, finalmente, Bill se sentia completo no que se dizia respeito ao “Tokio Hotel”. Até mesmo as provocações entre os gêmeos já não eram mais tão vistas, eles se continham durante os ensaios, sobrando apenas os sorrisos de cumplicidade.


   Bill estava radiante, parecia que finalmente tudo voltaria a ser como era, ainda mais agora que sua mãe estava voltando. Estava morrendo de saudades de Simone, queria poder abraçá-la fortemente e passar muito tempo com ela.


   - Pai... Vamos logo, precisamos ir ao supermercado... Como quer fazer o jantar pra mamãe se não temos nada em casa? – Bill gritava das escadas para Gordon que estava em seu quarto trocando de roupa. Estavam planejando um jantar de boas-vindas para Simone, uma surpresa. – Vamos logo, pai... a vovó já deve estar nos esperando...


   - Calma, Bill, ainda é cedo, sua mãe só chega à noite. Não se preocupe, vai estar tudo pronto quando ela chegar! – Gordon dizia sorridente já descendo as escadas com as chaves do carro – Tom? Vai com a gente ou prefere ficar? – perguntou, olhando pro garoto que estava sentado no sofá, quieto até então.


   Tom se esticou demoradamente, e olhou na direção dos dois. Bill estava completamente produzido, maquiagem, unhas feitas, vestia um sobretudo preto, com correntes caídas pelo pescoço, anéis, calça jeans um pouco rasgadas no joelho, seu cabelo estava um pouco espetado e reparando bem, estava com um pouco de Gloss nos lábios. Tom sorriu de canto, vendo o olhar irritado do mais novo, apressado a sua frente, e disse calmamente:


   - Se der pra esperar dois minutos, eu vou... Preciso comprar algumas coisas... – Já se levantando do sofá.


   Sem nem mesmo perceber, Bill emburrou um pouco, mas Gordon fez um sinal de leve para Tom, que logo subiu as escadas, sem pressa alguma.


   - O que eu fiz pra merecer isso? – Bill disse levantando as mãos – Mein Gott! Ele faz de tudo pra me provocar!


   - Relaxa, Bill! – Gordon soltou uma gargalhada baixa, vendo a irritação do menor e logo concluiu. – Vou tirar o carro da garagem, ligue pra sua avó e diga que já estamos indo.


   Bill bufou e fez um sinal positivo com a cabeça. Pegou o telefone que estava jogado sob o sofá e ligou rapidamente para sua avó. Assim que desligou, viu seu irmão descer com a mesma roupa, calças e camisa largas, a única coisa que mudara era o boné, que trocara por um mais novo.


   Tom descia as escadas devagar, apenas para irritar Bill. O irmão não disse nada, esperou que ele descesse e logo ouviu a provocação vinda do mais velho, assim que passou por ele.


   - Toda essa produção é só pra ir ao supermercado? Quero nem ver como você vai pra uma festa! – rindo.


   Bill apenas respirou fundo e respondeu no mesmo tom do mais velho:


   - Eu não tô a fim de te aturar hoje, pelo menos não pareço um moleque de rua! – Tom só riu. Ele adorava provocar Bill, o moreno ficava muito irritado, e isso o deixava muito feliz, era a melhor parte de seu dia.


   - Ei! Posso te fazer uma pergunta? – Tom se virou novamente para Bill, fingindo não ter ouvido a resposta negativa, e logo completou – Você é gay?


   Bill olhou irritado para Tom.


  - Eu não devo prestar esclarecimentos da minha vida pra você... As garotas gostam do meu estilo, pelo menos elas não me batem depois de um beijo – rebateu referindo-se a Engel, tomando o caminho pra garagem logo depois.


   - Os meninos reclamam dos seus beijos? – perguntou com a intenção de provocar ainda mais o irmão, que ficava cada vez mais irritado.


   - Está tão interessado por quê? Se você tem vontade de beijar um garoto, o problema é seu! – disse sem o encarar.


   - Calma, irmãozinho... Eu não tenho preconceitos. Se você gosta, tudo bem...


   - CHEGA! – Gritou, parando subitamente e se voltando para o mais velho. – Já disse que não estou a fim de te aturar hoje! Chega, ok? – concluiu, olhando sério para Tom, fazendo o garoto se assustar um pouco com a atitude do irmão.


   Tom ficou quieto, esperou Bill começar a andar novamente, e o acompanhou até o carro, entrando na parte de trás, enquanto Bill se sentava na frente junto com Gordon.


   - Vocês demoraram... – Gordon disse, mas nenhum dos dois respondeu. Ele podia sentir o clima pesado, Bill continuava emburrado, e Tom estava quieto demais, pensando em como podia irritar o irmão. Foi nesse clima que eles seguiram para a casa de Eliza, que os acompanharia na ida ao supermercado.


   A casa de Eliza não era muito longe dali, e assim que chegaram puderam avistá-la esperando-os no portão. Bill desceu e deu um beijo demorado na bochecha da avó, estava com saudades; depois abriu a porta para que ela entrasse no carro, ao lado de Gordon, e foi sentar-se no banco de trás, junto com Tom.


   - Bom dia, meu amor! – Eliza disse olhando para trás para visualizar melhor o garoto, que sorriu ao ouvi-la – Está tudo bem com você? – ao mesmo tempo que perguntava a Tom, dava um beijo no seu genro, que apenas sorriu e conduziu o carro para o seu destino.


   - Está sim! A senhora está bem?


   - Sim, meu amor... – sorriu, voltando a atenção para Gordon que ainda dirigia – O que faremos para Simone?


   - Ainda não sabemos – Gordon respondeu sem tirar a atenção da estrada. – Alguma sugestão?


   Eliza ficou quieta por um tempo, pensando no que poderiam fazer para a filha, sabia que todos estavam muito ansiosos pela volta dela, estavam morrendo de saudades, e também sabia que já era uma tradição um jantar de boas-vindas. Mas esse, com certeza, seria especial, porque a família agora estaria completa com a presença de Tom.


   Eliza continuou conversando com Gordon e os garotos pelo caminho inteiro até o supermercado. Assim que chegaram, Gordon estacionou o carro, e todos desceram, já entrando pela porta principal do local. Gordon ia à frente junto com Eliza, e Bill e Tom seguiam mais atrás, quietos um ao lado do outro. Tom olhava em volta, ainda era praticamente tudo igual à antes, talvez esse fosse um dos lugares que nunca mudavam, tão diferente dos que havia na Califórnia, com corredores e mais corredores de diversos produtos.


   - Não sei pra que fazer um jantar... – Tom resmungava para ele mesmo baixinho. - Ainda por cima se nem sabem direito o que querem fazer... Era bem mais fácil ir pra um restaurante... Não dava trabalho e ainda seria mais divertido...


   - Essa é uma ótima idéia, meu amor! Como não pesamos nisso antes – Eliza sorriu, havia escutado o monólogo do neto e foi até ele dar um beijo em sua bochecha.


   Tom olhou-a sem entender, mas não deixou de sorrir em resposta.


   - Então, se vamos levá-la a um restaurante, não precisamos comprar muita coisa.


   - Pai, não tem nada em casa... Quer que a mamãe chegue e nem tenha um café-da-manhã decente pra ela? – Bill disse do nada, já começando a andar pelo supermercado sendo seguido pelo outros três.


   Acabaram por fazer algumas compras, passando por quase todos os corredores do grande supermercado do centro. Por todo o tempo, Bill e Tom não dirigiam sequer uma palavra um ao outro, somente para Eliza e Gordon que conversavam animadamente sobre a volta de Simone.


   Bill acabou por deixar o pai e a avó para trás, e entrou em um pequeno corredor, onde havia alguns doces. Parou o carrinho em um canto qualquer e fitou as prateleiras em busca de algumas gomas e chocolate.


   - Você deveria ver os supermercados da América! Você iria pirar – Tom disse sorrindo ao entrar no mesmo corredor, vendo Bill pegar alguns doces e colocá-los no carrinho. – Tem vários corredores lotados de doces, todos os tipos que você possa imaginar, eu sempre pensava... – Parou bruscamente o que ia falar, vendo o olhar curioso de Bill sobre ele, mas não fez menção de continuar. – Ainda são seus favoritos? – perguntou, mostrando uma caixa de skittles vermelha.


    Bill não disse nada, apenas estendeu a mão e pegou a caixinha que o Tom segurava. Olhou-a e depois passou a fitar o irmão. Achava que com todos os anos que passaram longe um do outro, ele não saberia os seus gostos; mas como esquecer, se esse também era um dos preferidos dele?


   Tom não insistiu, talvez estivesse pensando o mesmo que Bill, mas como o garoto não respondia nada, apenas deu as costas e saiu do corredor para procurar a avó e Gordon. Assim que ele saiu, Bill sorriu e sussurrou baixinho:


   - Fico feliz de ainda se lembrar – mantendo um sorriso bobo nos lábios, enquanto terminava de colocar mais algumas coisas no carrinho.


 


   O dia passou rápido, e logo já estava de noite. Estava tudo decidido, Gordon levaria Eliza e os meninos a um dos restaurantes preferidos de Simone. Acabou conseguindo uma reserva em cima da hora graças a uma desistência, já que o restaurante estava lotado pela semana inteira. Também já havia ligado para Simone e confessando os planos dele e dos garotos, já que ela teria que vir vestida apropriadamente para a ocasião.


   Tom já estava pronto, sentado no sofá da sala esperando os outros. Estava se sentindo um tanto quanto desconfortável, vestia uma camisa social branca, um terno preto, com calças e sapatos da mesma cor, além de uma gravata borboleta que apertava seu pescoço e, pela primeira vez, não usava roupas acima de seu número, estava completamente elegante e encantador.


   Tom não estava acostumado a usar esse tipo de traje e, pra falar a verdade, odiava tudo aquilo, já que seu pai sempre o obrigava a usar em situações especiais, assim como Gordon fez há pouco. Talvez o que mais irritasse Tom não fossem as roupas, e sim toda aquela autoridade que o homem teimava em exercer sobre ele, afinal, ele não era nada seu.


   Depois de alguns minutos ouviu o chamado de Gordon para saírem, pois ainda tinham que passar no aeroporto para buscar Simone.


   - Tom, cadê seu irmão? Ainda não desceu? Vamos nos atrasar assim...


   - Ainda deve estar passando maquiagem... – disse sem interesse, sem nem ao menos virar o rosto para encará-lo. Mudava os canais da TV sem prestar atenção no que via; o fato era que ele estava ansioso, ansioso demais para pensar em outra coisa que não fosse a chegada da mãe


   Bill ainda se encontrava no quarto, não conseguia arrumar seu traje direito. Por mais que tentasse, ainda pensava que estava horrível; boa parte dessa insatisfação era causada simplesmente pela falta de costume. “Droga! Eu não consigo ajeitar isso...”, pensava em frente ao espelho, tentando colocar a gravata. “Por que tenho que usar isso, afinal? Ok, é pela mamãe!”, tentou mais uma vez, mas acabou apenas se irritando.


   Acabou resolvendo pedir ajuda a Gordon, gritando por ele sem sair de seu quarto. Gordon subiu correndo, um pouco assustado pela agitação do filho, e logo o encontrou emburrado sentado na cama.


   - Pai, por que colocar isso é tão difícil? – Gordon riu, e, sem dizer nada, colocou a gravata de Bill e ajeitou seu paletó.


   - Prontinho... Falta de costume, filho... – sorriu, ainda vendo Bill sem jeito pela sua vestimenta. – Agora vamos... Não quer que sua mãe fique nos esperando a noite toda, não é mesmo?


   - Ainda não tô pronto! – exclamou rapidamente, levantou-se e foi correndo até o espelho – Falta algo! – concluiu, olhando para seu cabelo baixo.


   - Nem pense em levantar sua crista, Bill... Está ótimo, acho até que ficaria melhor sem essa maquiagem toda... A ocasião pede algo mais discreto...


   - Ah pai, eu não me sinto eu sem isso! – gemeu, referindo-se a maquiagem – você sabe disso...


   - Sei sim, Bill... Vamos fazer assim, deixa tudo do jeito que está... Está tudo ótimo! Seu cabelo fica bem assim... – disse sorrindo – E pode ficar com a maquiagem... Mas vamos andando...


   - Ok... – falou desanimado, mas faria esse sacrifício pela mãe. Estava feliz por ela voltar, e não deixaria que essa felicidade e a chegada dela fossem estragadas por conta de uma idiotice de menino mimado. Levantou-se em um pulo, mais animado, pegando sua bolsa, e logo seguiu o pai pelas escadas.


   - Finalmente, a noiva está pronta! Agora vamos correndo para a igreja antes que o coitado do noivo pense que foi abandonado no altar! – riu-se Tom assim que avistou o irmão, saindo em direção à garagem antes que Bill pudesse responder o que quer que fosse.


   A ida até o aeroporto não foi demorada, talvez apenas um pouco silenciosa. Tom permaneceu no carro quando os outros dois foram buscar Simone. Bill fazia questão de ser o primeiro a abraçá-la, e tudo indicava que Tom gostaria de nem precisar fazê-lo. A verdade nem sempre é mostrada a todos, às vezes, é simplesmente guardada no mais profundo silêncio.


   Quando Simone aproximou-se do carro, Tom não prestava atenção em nada mais além de seus próprios pensamentos, o que o fez sair de seus devaneios e perceber quem se aproximava foram as vozes elevadas que se faziam ouvir do lado de fora. Simone sentou-se no banco da frente e não hesitou em olhar para trás rapidamente, à procura do filho mais velho. A saudade irradiada em seu olhar, assim como a felicidade em vê-lo, fez Tom sorrir sem perceber.


   - Meu filho... – foi tudo que ela conseguiu dizer. Estava certo que ela não esperava aquele sorriso tão sincero vindo dele.


   O carro logo começou a movimentar-se, sem pressa, em direção ao restaurante. Diferente do percurso silencioso da ida até o aeroporto, o silêncio era cortado freqüentemente por vozes inquietas, que ao mesmo tempo em que relatavam o que havia ocorrido durante a ausência de Simone, também ansiavam saber dos detalhes de tudo que lhe acontecera naqueles dias. O único que permanecia calado era Tom. Escutava atentamente algumas coisas, e em outras simplesmente deixava que sua mente vagasse. Apenas o sorriso em seu rosto não desapareceu.


 


   Simone lançou um olhar de extrema satisfação e felicidade a Gordon assim que observou o local que ele havia escolhido para levá-la – a única coisa que ele fez questão de manter em segredo. Estava claro que ele não era apenas o preferido de Simone, e que o lugar os remetia diversos momentos especiais. Diante daquele olhar, Tom foi incapaz de negar que eles se amavam, e aquilo o incomodou profundamente.


   Gordon logo estava pedindo a mesa que reservara mais cedo, e o maitre os levou educadamente até ela. Tom sentou-se de imediato, acompanhado em seguida pelos outros. Cada um pediu algo para beber de sua preferência, e o garçom afastou-se para providenciá-las enquanto eles escolhiam o prato principal. Com o pedido concluído e as bebidas em suas mãos, a conversa começou a fluir normalmente. Tom bufou quando Bill e sua mãe começaram a conversar sobre moda, e começou a folgar a gravata borboleta que teimava em apertar seu pescoço. Por fim, acabou tirando-a e desabotoando os primeiros botões de sua camisa social. Suspirou aliviado e passou então a observar o local.


   O restaurante era grande e, sem dúvida, eles estavam vestidos de acordo com o que o lugar pedia. As mesas estavam dispostas num semicírculo, de modo a abrigar um espaço reservado à dança, no qual alguns casais já se arriscavam. Uma pequena orquestra estava na sua extremidade, e Tom não deixou de pensar que elas provavelmente tocariam músicas que o fariam lembrar-se de seu pai. Ele balançou a cabeça suavemente, disposto a livrar-se daquilo, e seu olhar passou então a observar as pessoas. As mulheres estavam vestidas elegantemente, com tecidos finos acompanhados pelas mais belas jóias. Tom olhava-as atentamente, e logo foi atraído para uma que segurava uma taça de champagne e ria abertamente em meio a um grupo de pessoas. O que chamou a sua atenção não foi apenas a beleza que se destacava perante a das outras mulheres e,sim, o fato de que a conhecia.


   Tom não pensou duas vezes antes de levantar-se com o uísque na mão e ir até ela.


   - Olá. – ele sussurrou em seu ouvido, fazendo a mulher tremer a mão que segurava a taça.


   - Tom. – ela virou-se prontamente, observando como ele estava diferente; e, ainda mais parecido com o pai.


   O rapaz correspondeu ao sorriso que ela trazia radiante em seu rosto, e aproveitou para olhar melhor para a mulher. Ela estava com um vestido da mesma cor de seus cabelos, preto, até a altura dos joelhos. Ele trazia um decote comportado na frente, mas que não deixava de mostrar quão belo era o colo da mulher e, pensando bem, incitava homens como Tom a uma maior curiosidade. Os cabelos curtos da mulher estavam soltos, e seus olhos mel pareciam ainda mais vivos agora que Tom os fitava de perto. Ele não deixou de pensar que ela provavelmente não tinha a idade que aparentava.


   - Mas o que você faz aqui? – Hannie perguntou, embora não parecesse desconhecer de todo a resposta.


   - Ah! Simone voltou de viagem, estados comemorando. – ele respondeu simplesmente.


   - Entendo... Tom, eu deixei de mencionar algumas coisas nos nossos encontros, porque queria te ajudar, e não te prejudicar. Mas, agora, acho que é melhor que você saiba. – ele a olhou curioso, e ela continuou. – Não é bom que sua mãe te veja comigo... Nós temos alguns probleminhas e ela acabaria descontando tudo em você. – ela concluiu, olhando-o insegura.


   Tom pareceu pensar por um momento. Não pretendia se afastar de Hannie por causa de sua mãe, mas sua curiosidade aumentou, e ele queria saber mais a respeito.


   - Probleminhas?


   - É... Coisas do passado... – e sorriu sugestivamente e ele correspondeu. – Bem, com licença então. Foi um prazer te ver. – e afastou-se dele, olhando disfarçadamente para trás antes de sentar-se em uma mesa na beirada do semicírculo, na qual estavam sentadas as pessoas que ela conversava há pouco.


   Tom não deixou de perceber o olhar dela; abaixou a cabeça por um segundo e depois a levantou sorrindo, andando de volta para a sua própria mesa.


   Parece que Simone não havia percebido nada, pois quando o garoto voltou a sentar-se ao lado do irmão, este ainda conversava empolgado com a mãe sobre o mesmo assunto -irritante demais para Tom - : moda. O rapaz voltou então a tomar seu uísque tranquilamente, e quando ele olhou de relance para a mesa de Hannie, viu que ela também o olhava. A mulher sorriu, parecendo envergonhada por ter sido pega, e desviou o olhar.


   O jantar chegou, e todos se serviram de imediato. Quando Tom terminou de se alimentar e olhou para o prato do irmão, viu que ele parecia intocado, apesar do garoto ter certeza que o viu levar o garfo algumas vezes à boca. Não foi só ele que notou isso, Simone olhava incisivamente para o filho mais novo, que, percebendo o olhar da mãe, disse que já estava satisfeito e que havia colocado comida demais no prato, sem necessidade. A mulher não pareceu contente com a resposta, mas não falou nada.


   Tom olhou mais uma vez para a mesa de Hannie, e mais uma vez ela o olhava. Dessa vez, ela demorou alguns segundos a mais antes de desviar o olhar. Ele já havia decidido. Tomou um último gole em meio a um sorriso, levantou-se e deixou seu uísque sobre a mesa, passando a caminhar até o local onde Hannie estava sentada.  Uma nova música havia começado a ser tocada e, para ele, nenhuma outra poderia ser mais adequada para aquele momento. O que poderia ser melhor que um tango?


   Tom parou ao seu lado, estendendo a mão despreocupadamente para a mulher. Ela riu e ele a olhou com uma sobrancelha arqueada, como se estivesse lhe propondo um desafio. Ela pareceu pensar um pouco, mas logo pôs sua mão sobre a dele, aceitando o que ele lhe propôs. Tom sorriu como se já tivesse vencido e, antes mesmo que ela pudesse pensar sobre o que ele pretendia fazer, o rapaz a puxou para ele. Ela veio girando para o seu corpo e, quando estava prestes a parar, chegando ao destino, ele soltou a sua mão, e segurou firme o corpo da mulher contra o seu, numa postura perfeita. Ela o olhou surpresa com toda a habilidade que ele apresentara e, em troca, ele fitou-a com um sorriso malicioso, como se soubesse o que ela estava pensando.


   - Calma. – sussurrou próximo ao ouvido dela. – Isso não foi nada. – ela pôde sentir seu coração batendo apressado dentro do peito.


   Logo após dizer aquelas palavras, ele iniciou a dança, quase como se desse início a um ritual de conquista.


 


   Gordon tocou de leve no ombro de Simone e, quando esta se virou para olhá-lo, ele apontou com sua cabeça na direção da pista de dança. Assim que a mulher desviou sua atenção para o local, notou seu filho guiando Hannie para onde outros casais dançavam. Ela olhou desacreditada para Gordon, e depois voltou seu olhar novamente para o lugar, resmungando algo em silêncio.


 


   Eles começaram a se movimentar em sintonia, ganhando o salão. Hannie teve um pouco de medo a princípio; fazia algum tempo que ela não dançava, mas ele engatou aquela quase marcha com ela pelo salão, e, de repente, tudo parecia tão... fácil. O jeito como seu corpo se encaixava ao dele, o quanto ela parecia adivinhar o movimento que ele faria a seguir... Era como se tudo combinasse naquele momento. Ela sorriu.  Mas logo pensou que talvez o fato de ter tanta facilidade fosse porque não estavam fazendo nada muito complexo, apenas uns passos simples pelo salão. Então, como se pudesse novamente ler seus pensamentos, ele começou a guiá-la nuns passos mais difíceis, os quais ela não sentiu dificuldade de acompanhar. E ela se surpreendia com isso. Surpreendia-se como os braços dele pegavam-na com tanta delicadeza e ainda continuavam tão firmes após cada passo, a cada giro. E ela gostava daquela sensação. Gostava de como seus olhos pareciam sempre procurar os dele, e como os dele pareciam estar sempre à espera daquele reencontro. Então eles pararam. Tom olhou-a de um jeito um tanto penetrante, fazendo a mulher ruborizar de leve.


   O rapaz segurou-a pela cintura com as duas mãos, balançou-a levemente para um lado, depois para o outro, e, em seguida, jogou o corpo dela para trás, puxando-a novamente para ele algum tempo depois, com um ímpeto de força. Seus olhos se encontraram novamente, e agora eles traziam uma chama mais forte de desejo.


   Ele começou a movimentar-se junto a ela novamente, mas, dessa vez, era mais como se a estivesse exibindo. Como se quisesse mostrar a todos que ela lhe pertencia – pelo menos naquele momento -, e como ele podia fazer qualquer coisa com ela. Então ele girou-a uma vez, e outra, mas, quando estava prestes a repetir o movimento pela terceira vez, ela fugiu, escapando furtivamente dos braços dele e descendo de costas pelo seu corpo. Ele abaixou a cabeça quase que no mesmo momento em que ela levantou a sua, deixando que seus olhares se encontrassem. Tom acariciou com tal suavidade e, ao mesmo tempo com tanto desejo, o seu rosto, que quando a carícia estava prestes a ser finalizada, pendendo perigosamente no arco do pescoço da mulher, ela começou a subir junto com a mão dele, como que para prolongar ao máximo o toque. As bocas já estavam próximas demais quando ela conseguiu perceber que estava em pé novamente, com boa parte das suas costas coladas ao corpo do rapaz. A mão dele ainda estava em sua face, e ela podia sentir a respiração quente dele acariciar gentilmente a sua pele. Aqueles rápidos segundos demoraram para ela quase uma eternidade, que acabou se esvaindo rápido demais para o seu gosto. Seus olhos, que passaram rapidamente dos dele para a boca, já estavam quase fechados quando ela sentiu seu corpo sendo jogado para o lado por ele, que agora mantinha um sorriso brincalhão e, ao mesmo tempo, malicioso em seus lábios, como se aprovasse vê-la naquela situação.


   Ela sorriu. Era hora de entrar no jogo, melhor que isso, era hora de competir à altura. E ela estava certa de que poderia sair ganhando com tudo aquilo. Aliás, segundo Hannie, era pra ele estar na mão dela, e não o contrário...


   Ela pôs sua mão sobre o peito do rapaz, e Tom pensou ver um sorriso malicioso e um tanto enigmático aparecer no rosto da mulher antes que ela começasse a traçar o percurso até as suas costas. Hannie segurou firme nos ombros dele. Olhou diretamente para a mesa que agora estava à sua frente, e seu olhar percorreu os que ali estavam. Ela passou do rosto lívido de Bill para o estupefato de Gordon em poucos segundos, e finalmente parou no de quem realmente a interessava. Simone a fitava com uma expressão que ela não conseguiu nomear. Talvez ódio. Ou algo parecido simplesmente com alguém que havia segurado a respiração por tanto tempo que acabou se esquecendo como devia respirar. De qualquer jeito, um sorriso curvou-se nos lábios de Hannie, era tudo que ela precisava para continuar.


   Fechou os olhos por alguns segundos, apenas para conseguir se concentrar na música novamente, e a cadência não demorou a invadir cada parte do seu corpo. Ela começou a fazer trocadilhos com seus pés, sem sair do lugar... e parou. Cruzou os braços pelo peito de Tom, como se o abraçasse por trás, e, com um movimento rápido e preciso, arrancou o paletó do rapaz com extrema sensualidade. Ela o pôs sobre um lado de seu ombro, segurando-o com uma mão, e caminhou para ficar de frente a ele. Tom sorria um pouco abobado sem, no entanto, abandonar a malícia. Ela acariciou o rosto dele, enquanto olhava distraída para a sua boca. O sorriso de Tom aumentou e ela sorriu também, virando-se rapidamente em seguida e jogando o paletó com força sobre uma das cadeiras vazias da mesa em que Simone estava. Hannie pôde contemplar com satisfação o lábio da mulher tremer de ódio, e deixou que o seu sorriso se alargasse.


   Tom pôs uma de suas mãos sobre a barriga de mulher, e a puxou, de modo que as costas dela ficassem coladas ao corpo dele. Ele tocou em seu braço, e foi descendo com sua mão pela extensão dele, suavemente, enquanto ela só observava. A mão dele chegou até a dela, e elas entrelaçaram-se, fazendo a mulher sorrir. O rapaz moveu-se, e ela o acompanhou em mais uma quase marcha pelo salão, até que eles pararam e Tom a virou para ele. Mal fez isso, e ele pôde sentir o corpo dela afastar-se do dele sem, no entanto, desprender-se. Ele permaneceu imóvel, apoiando-a, enquanto ela passou a trocar os pés sucessivamente em sua frente. Tom não conseguiu deixar de observar o quadril dela movendo-se; ele queria segurá-lo entre suas mãos, para melhor sentir o movimento, mas se deteve. Hannie pareceu perceber o sorriso que se formou nos lábios de Tom, enquanto ele brincava distraidamente com seu piercing, o qual a mulher não deixou de pensar que lhe caía perigosamente bem. Então, ela encaixou sua perna direita na cintura do rapaz, puxando-o para ela num movimento tão rápido que Tom só o percebeu quando os seus corpos já estavam unidos.


   Ele olhou-a surpreso e ela levantou um pouco uma de suas sobrancelhas, provocando-o com a repetição daquele gesto que ele havia usado para lhe propor o desafio. Tom sorriu. Se ela estava realmente levando aquilo como um desafio, ele não parecia estar disposto a perder.


   Confiante, pôs a mão com firmeza na coxa dela, e deslizou-a lentamente em direção ao joelho, fazendo os pêlos da mulher arrepiarem-se. Apesar disso, o corpo de Hannie não deixava margem para transparecer muitas emoções; foram os seus olhos os traidores. Através deles que Tom pôde enxergar a vulnerabilidade que a cercava. Ele deixou que seu sorriso se alargasse em seu rosto. Havia encontrando seu ponto fraco.


   Sua mão chegou ao joelho, ele segurou-o e, com dois movimentos rápidos, retirou a perna da sua cintura e empurrou-a para trás. A perna direita dela deslizou para trás rapidamente - parando com o joelho bem próximo ao chão -, enquanto a esquerda abaixou-se para acompanhar o movimento. Ela segurava com força na calça do rapaz, enquanto tentava controlar sua respiração. Tom olhava-a de lado, sorrindo maliciosamente, surpreso ao perceber que o vestido dela trazia um imenso corte lateral do lado esquerdo, que começava a partir do início da coxa dela. Era discreto o bastante para que ele não se desse conta de sua existência antes, mas agora era impossível não notá-lo, ou deixar de reparar nas pernas bem torneadas da mulher que o rasgo deixava mais à vista. Hannie notou que ele a observava e não dava sinais de que a ajudaria a erguer-se novamente; ela ficou séria, por que precisaria dele afinal?


   Seus olhares se encontraram e as mãos da mulher começaram a subir ágeis pelo corpo do garoto, puxando o seu próprio para cima. Ela segurou com força a camisa dele, usando-a como apoio para retomar mais rápido a sua postura. Logo que se viu erguida, subiu sua perna direita pela frente do corpo do rapaz, e olhou-o sugestivamente. Tom tentou levar sua mão até ela, mas Hannie moveu-se a tempo de evitar o contato, andando rapidamente para afastar-se dele. Ele inclinou-se um pouco para frente, segurando-a pelos braços. Ela sorriu. Ele não a deixaria fugir agora.


   Tom a puxou e ela veio girando de volta para seus braços. Assim que ele a segurou, ela encaixou sua perna na dele, e o rapaz não hesitou em pôr sua mão sobre ela, deslizando-a dessa vez na direção contrária ao joelho, levando com ele o vestido. Ele a olhava perguntando-se até onde ela o deixaria ir, e quando suas mãos estavam alcançando o início da coxa, ele obteve a sua resposta. Ela retirou rapidamente a sua perna do alcance das mãos dele e, assim que eles retomaram a postura de dança, o rapaz induziu-a num traçado de um ‘S’ no chão com os pés. Impedindo-a de escolher se aceitaria ou não o que lhe foi imposto, ele pôs o pé atrás do dela logo que terminaram o passo, e fez com que eles traçassem um novo ‘S’, dessa vez para o lado oposto. Ela encarou-o um pouco indignada e, quando ele tentou fazer isso mais uma vez, ela foi mais rápida e conseguiu escapar, num ato de rebeldia do qual ele não a imaginava capaz. Hannie passou os dedos delicadamente pelo tórax do rapaz, com um meio sorriso no rosto apenas para provocar-lhe. Ele podia não lhe deixar fugir, mas isso não significava que ela teria que se submeter aos desejos dele.


   Ele não pareceu muito contente com a situação, a música acelerava e eles sentiam que aquelas batidas podiam ser as últimas. Tom então pôs uma de suas mãos sob o pescoço e a outra sob a cintura de Hannie e a puxou com rapidez para ele. A mulher prendeu a respiração automaticamente. A última batida da música soou, anunciando o seu fim, e eles pararam, com seus rostos a centímetros um do outro, incapazes de tomar qualquer atitude. Segundos se passaram antes que ele suspirasse, e ela soltasse a respiração devagar. Depois de algum tempo, Tom deixou que seus braços caíssem, e seus corpos puderam se afastar. Eles se entreolharam e um sorriso apareceu em seus lábios quase ao mesmo tempo, numa cumplicidade que os outros não podiam compartilhar.


    - Tom. – ele escutou Simone chamar-lhe autoritariamente. O rapaz revirou os olhos antes de se virar.


   - Que foi? – ele perguntou impaciente.


   - Nós já vamos. Despeça-se dessa... sua amiguinha rapidamente. Estaremos lhe esperando no carro. – encarou Hannie, que sorria, e virou-se, afastando-se dos dois a passos largos.


   A mulher não mais sorria quando o rapaz virou-se para olhá-la.


   - Hannie, me desculpe por isso.


   - Não se preocupe. Eu te avisei que tinha uns probleminhas com a sua mãe.


   - Probleminhas, han? – ele perguntou rindo. – Tudo bem, eu não ligo para o que ela pensa mesmo... Adoraria ficar um pouco mais com você... Mas, infelizmente, eu tenho que ir embora.


   Hannie riu em reposta.


   Tom ficou olhando-a por algum tempo, e depois aproximou-se devagar e deu-lhe um beijo no rosto. Afastou-se sorrindo, e acenou, caminhando para a saída do restaurante.


   A mulher ficou olhando-o partir meio abobada. “Tão parecido com o pai...”


 


   Tom não demorou a chegar ao local onde o carro havia sido estacionado. Entrou sem falar nada, apenas sentou-se ao lado da janela e esperou que dessem partida no carro. Sorria enquanto olhava as pessoas, e os prédios passarem rapidamente pelo seu lado. Ele até havia se dado bem numa das noites que prometiam ser uma das mais chatas da sua vida, não acha?


   - Sabe, Tom... Como você conheceu aquela... Mulher? – Simone perguntou.


   “Estava muito bom mesmo para ser verdade...”


   - Andando por aí... – ele respondeu simplesmente, sem se desligar da paisagem.


   - Hum... Interessante. – Simone claramente avaliava o que diria a seguir. – Mas você a conhece... Bem?


   Tom suspirou.


   - Acho que isso não... Te interessa.


   - Na verdade, interessa sim, porque eu me preocupo com você, meu filho.


   Tom não agüentou e soltou um riso irônico nessa hora.


   - Não preciso da sua preocupação agora. Pra falar a verdade, eu nem me lembro da última vez que precisei, acredita?! – ele a olhou pelo retrovisor.


   - Você não entende, ela não é uma boa pessoa, Tom. Ela só quer o meu mal!


   - Acho que eu não tenho nada haver com seus problemas com as outras pessoas! Isso não significa que ela queira o meu mal!


   - Chegamos. – Gordon anunciou, tentando pôr fim a discussão.


   - Podem descer. – Tom abriu a porta, mas Simone logo o parou. – Você fica, precisamos conversar.


   O garoto não deu ouvidos, apenas se deteve por um instante e depois saiu do carro. Simone foi logo atrás.


   - Entre nesse carro. Agora.


   Ele olhou-a irritado, mas sabia que teria que enfrentar aquilo num momento ou outro. Que fosse agora então. Contornou o caminho já feito e sentou-se no banco de passageiro. Simone sentou-se no banco de motorista e trancou as portas após fechar a sua. Eles ficaram entreolhando-se em silêncio por um momento, até que ela falou.


   - Olha, filho...


   - Não me chame assim.


   A mulher fitou-o por um momento, balançou a cabeça, e depois continuou.


   - Tom... A Hannie... Ela não é o tipo de pessoa que você acha.


   - Ah é?! Então me diga como ela é. – ele cruzou os braços e fez um sinal de que estava esperando a resposta.


   - Ela... Ela não presta! Ela é uma pessoa ruim que só pensa em acabar com a minha vida!


   Tom riu, olhando para o outro lado da rua.


   - Você está proibido de falar com ela.


   - É o quê?! – Tom exclamou.


   - Você não entende! Ela só está manipulando você para me atingir! Você não consegue perceber isso porque é apenas uma criança! – ela exclamou um pouco alterada.


   - Criança?! Passaram-se dez anos desde que eu era apenas uma criança! Sabia?! Você percebeu isso?! Eu mudei muito desde a última vez que te vi...


   - É, não adianta... Você não me escuta. Sua cabeça já está feita... Muito bem feita... e eu não tenho chance de mudar isso.


   Tom olhou-a incrédulo. Não conseguia acreditar no que ele estava escutando. Quer dizer que, além de tudo, ela ainda estava dizendo que ele não podia pensar por conta própria? Que ele não conseguia formar sua opinião sozinho? Que ele era totalmente influenciável?! Ele olhou para frente, e mordeu o lábio com força. Queria poder gritar toda a verdade que explodia em sua cabeça agora. Queria poder dizer que ela não tinha o direito de lhe falar aquelas coisas. Hannie podia até ser tudo aquilo que ela lhe falara, mas ela foi a única que esteve ao seu lado desde que ele chegou à cidade. Ela podia até ser daquele jeito com a Simone, mas não era assim com ele. Ele queria falar tudo aquilo, mas simplesmente não conseguia.


   - É incrível, eu passo tanto tempo fora, e quando chego é isso que eu recebo.


   Era difícil acreditar que ele pudesse estar escutando aquilo. Seu peito doía, e ele tinha vontade de arrancar seu coração à força para que aquela sensação passasse. Sentia que lágrimas preenchiam seus olhos, e agora estava apenas concentrando-se para que elas não saíssem dele.


   Simone inclinou-se para pegar uma pequena mala que estava sob os pés de Tom. Ela abriu-a e tirou algo de dentro.


   - É pra você. – falou, entregando-lhe o pacote.


    Tom pegou o embrulho, mas nem sequer olhou-o.


   - Nem agradece. Realmente, não fui eu que lhe eduquei.


   Dessa vez, ele não agüentou. Não deixaria que ela falasse daquele jeito do seu pai. Ela não estava lá nos dez anos em que Jörg cuidou dele. Ela não estava lá para ver a educação que ele havia lhe dado. Ela não estava lá para ver o que ele fez por ele. Não estava lá quando ele precisou. Quando ele pediu, quando ele chamou. Ela não estava lá para vê-lo crescer. Não estava lá quando ele se sentiu sozinho. Não foi ela que o acudiu quando ele necessitou. Ela não estava lá para lhe dar boa noite ou ajudá-lo a dormir novamente depois de um pesadelo. Não era ela que estava lá enquanto ele se contorcia de febre no meio da noite. Não foi ela que o apoiou nos momentos mais difíceis ou lhe deu conselhos de como superar tudo aquilo. Não, não foi ela que o abraçou sem saber por que ele chorava. Ela não estava lá. Por dez anos ele se sentiu incompleto. E não foi ela que lhe mostrou que havia uma saída, que ele poderia superar tudo aquilo.


   - É, não foi você. Foi alguém a quem você não pode ser comparada.


   Simone acertou em cheio o rosto dele com um tapa. As lágrimas que Tom segurava escaparam de seus olhos. Ele virou seu rosto para ela e sentimentos se confundiam nele. Dor, raiva, angústia... Ele sentia seu corpo tremer e as palavras que ele tanto queria falar, continuavam a não querer sair da sua boca.


   - Abra a porta do carro. – foi tudo que ele conseguiu dizer. – Abra. Agora.


   Ela abriu sem falar nada. Ele não a olhou por uma última vez antes de sair. Apenas bateu a porta com força e seguiu direto para o seu quarto, sem falar com ninguém, sem prestar atenção em qualquer coisa ao seu redor. Sentou na beira da cama e encolheu-se, fitando com um olhar perdido o chão. Seu corpo estava tenso e ele enxugou os vestígios das lágrimas que haviam conseguido escapar. Ele ficou mais de uma hora olhando para o nada, até que seu coração apertou-se dentro do peito, sua garganta ardeu fervorosamente e seus olhos encheram-se de lágrimas novamente. Ele pôs a mão em sua garganta, e apertou os olhos. As lágrimas começaram a descer incontrolavelmente, e a dor só parecia piorar. Ele pôs a mão sobre o coração, e fechou-a, amassando o tecido da blusa. Ele inclinava-se para frente à medida que percebia não conseguir mais controlar o choro como antes, soluços saíam baixinho da sua boca, e ele tinha vontade de gritar, mas não podia. Ele chorou até ficar cansado demais para continuar. Sua cabeça parecia pesada, mas seu coração estava mais leve. Ele jogou seu corpo cansado para trás, e acabou adormecendo.


 


 


Preview do próximo cap:   "Bill entrou na sala um pouco desanimado, seu olhar percorreu os que já estava ali, e logo viu uma figura familiar – ‘Ah! Não acredito! Por que logo aqui? Tantas salas, tinha que ser essa?’ – Bufou, andando até a sua cadeira..."


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Notas finais do capítulo

oie pessoal!
não nós matem!


bom pra começar
desculpe a demorado cap...
é que aconteceram varias coisas comigo e com a duda, mas agora esta tudo resolvido
teve a nossa falta de tempo, a gente quase não consegue mais se encontrar...
ela teve alguns problemas familiares, que depois ela explica melhor.
mas agora nós já resolvemos tudo, e podemos continuar a postar regularmente.


obrigada pela paciencia de todos, Brüderlichkeit tá de volta, e agora com força total
espero que gostem desse cap
e mais uma coisa a duda pediu pra que eu escrevesse isso por ela:


"Na parte da dança, como eu disse, é um tango. E não coloquei nenhuma música porque achei que limitaria muito, mas usem sua criatividade! E boa leitura"


boa leitura