Bruderlichkeit escrita por keca way, Duda_


Capítulo 16
Laços - Parte II




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- Trecho de Leb' die sekunde -

 

-x-

Vive ao segundo

 

Aqui e agora o abraça com força

Ou se irá; Ou se irá

-x-

 

 

Bill e Gustav desceram primeiro, arrumando o espaço da garagem, e logo Georg desceu junto com Tom para enfim começarem a ensaiar. Tom estava radiante, a guitarra nova era linda, e por mais que fosse um presente de Gordon, tinha que admitir ele tinha muito bom gosto. Quando chegou à garagem, a bateria já estava posicionada e Gustav estava se aquecendo, assim como o baixo de Georg já estava plugado, em pé, encostado à parede a espera de seu dono.  Bill aquecia a voz. Tom só precisou plugar sua guitarra e tocar um pouco, passou alguns minutos afinando-a e depois olhou para Bill como se esperasse que ele dissesse algo.

Bill terminou seu aquecimento, e acabou encontrando o olhar do irmão. Ficou por um tempo se perguntando o que fazer, e logo um sorriso brincalhão tomou seu rosto.

- Podemos começar, não? - Bill perguntou a Georg e Gustav, que apenas fizeram um sim com a cabeça. - Ah! Esqueci... Temos que ensinar pra ele... – Fez uma cara de desânimo e logo olhou para Tom. – Sabe mesmo tocar? – indagou com uma sobrancelha arqueada.

Tom fez uma careta, mas logo um sorriso como o do irmão brotou em seus lábios.

- Não. Tocar é pra muitos. Eu sou bem melhor que isso. Eu arraso. Eu arranco suspiros. Eu até emociono os mais sensíveis. O que você não consegue fazer com um microfone, eu faço com uma guitarra. - Tom respondeu olhando provocativamente para o irmão, que nem se abalou, apenas soltou uma risada divertida, mostrando que estava adorando as provocações e o desafio nos olhos do mais velho.

Gustav e Georg não ousavam a se meter, apenas ficaram observando os gêmeos, que de uma forma espontânea lançavam sorrisos cúmplices, mesmo nem ao menos se tocando disso.

 “Por que eles têm que ser tão orgulhos? Estão tão felizes juntos, por que fingem se odiar?”, Georg pensava, com um sorriso satisfeito no rosto, enquanto olhava de um para o outro.

- Ah claro... Isso você vai ter que mostrar, maninho! – exclamou, assustando-se como aquilo tinha saído tão naturalmente de sua garganta, mas, mesmo assim, não se mostrou abalado, apenas continuou com seu olhar desafiador e se colocou no seu lugar. – Quero ver se você consegue acompanhar os G’s! – sorriu, dando uma pauta ao loiro, que a pôs em uma estante posicionada à sua frente. – Gustav!

Assim que Bill deu o sinal à Gustav, ele bateu as baquetas por três vezes e na quarta, Georg começou acompanhá-lo.

Tom ficou apenas observando, não tocava, apenas escutava, prestando bastante atenção aos acordes, os posicionamentos e a pauta, sentindo a melodia invadir seu corpo, vendo que não era assim tão difícil, só precisava acompanhar. Em certos momentos até achava que poderia improvisar algo a mais e, assim, trazer certo diferencial a música.

Logo que os meninos pararam de tocar, Bill sorriu e, ainda desafiando Tom, disse:

- Acha que consegue acompanhar agora? Não é qualquer um que acompanha, admita, eles são bons...

- Claro que são... Mas você tá brincando, né?! Muito fácil essa melodia. - ele disse rindo debochado. – Acho que eu até posso melhorá-la... Claro que a sua voz não vai ajudar muito... Mas... Vamos ver o que posso fazer. – concluiu, ainda sorrindo e brincando inconscientemente com seu piercing.

                - Veremos... - Bill deu o sinal novamente para Gustav, e logo eles recomeçaram a música, dessa vez, com Tom os acompanhando. O garoto começou bem, conseguia acompanhar direito a melodia, perdia-se algumas vezes, o que era mais do que normal já que era a primeira vez que estava tocando aquela música. Ainda assim, conseguia contornar a situação com seus improvisos. Bill mantinha no rosto um sorriso radiante, era exatamente isso que faltava, uma guitarra, ela era aquilo que estava dando vida a sua música, os acordes do baixo e as batidas da bateria pareciam se misturar harmoniosamente com os agudos e graves da guitarra. A melodia parecia ecoar no coração de cada um deles, fazendo aquele momento ser mágico.

Passado os quarenta segundos de introdução, Bill finalmente segurou o microfone.

 

Ab heute sind die Tage nur noch halb so Lang

Desde hoje os dias são maiores

Zum Lachen gibt es gar nichts mehr

Não resta nada para te rires

Gestern war vor thousand jahre

O ontem está a centenas de anos luz

Morgen weiß es keiner mehr

Ninguém o recordará amanhã

Ab heute wird die Uhr durch?n Countdown ersetzt

Não haverá relógios, menos um cronômetro

Die Sonne scheint auch in der Nacht

O sol também brilha à noite

Tschuldigung ich hab mal eben nachgedacht,

Desculpa, só estava a olhar

doch dafür ist jetzt wirklich keine Zeit-

Mas para isso já não há tempo

keine Zeit- keine Zeit ? keine Zeit!

Não há tempo, Não há tempo, Não há tempo

 

 Bill sorria radiante a cada nota, a cada frase cantada. Pegou seu microfone, tirando-o de seu pedestal, e foi em direção a Tom, fazendo gestos com os braços. Tinha que admitir que o irmão estava tocando muito bem. Não conseguia ficar sério, ria por a cada segundo que passava ter mais certeza que aquilo era exatamente o que faltava; a canção estava mais do que perfeita agora. Quando estava prestes a entrar no refrão, ele chegou mais perto de Tom e começou a cantar próximo ao ouvido do mais velho, que apenas sorria. O garoto também estava adorando tocar junto a eles, finalmente podia sentir a adrenalina de poder tocar em conjunto alguém correr por suas veias. Esse era o seu sonho desde pequeno, sonho que compartilharia com o irmão até hoje se não fosse pela sua partida. Agora estava feliz de estar vendo ele se tornar realidade aos poucos, mesmo que não quisesse admitir isso, assim como Bill.

Leb' die Sekunde

Vive ao segundo

Hier und jetzt ' halt sie fest!

Aqui e agora o abraça com força

Leb' die Sekunde

Vive ao segundo

Hier uns jetzt ' halt sie fest!

Aqui e agora o abraça com força

Sonst ist sie weg ' sonst ist sie Weg

Ou se irá; Ou se irá

 

 

 A música continuou a ser tocada de coração até chegar ao seu fim. Todos se entreolharam e pareciam muito mais vivos agora. O sorriso estava estampado no rosto de cada um, a situação deixava clara que todos aprovavam o resultado. No fim, havia sido até melhor do que o esperado até mesmo por Tom.

 - É, ficou legal! – Bill disse voltando ao seu posto, colocando o microfone em seu lugar. – Mas acho que podia melhorar. – Seu perfeccionismo falou mais alto, na verdade, estava falando da banda inteira, mas por manter seu olhar em Tom, o mais velho rebateu.

 - Com certeza, temos que rever sua voz...  Sabe como é, você desafina demais, cara. Dá uma agonia isso. - Tom falou, meio que tampando os ouvidos, fazendo uma careta. – Que tal aulas de canto? – concluiu, rindo baixinho.

 - Desafinar? Você nem se fala, né? Acha que não percebi aquela nota antes do refrão? – rebateu Bill em seguida. – Eu só não soltei meu microfone para pôr a mão no ouvido porque estava na parte mais legal... – concluiu, rindo da expressão de Tom.

 - Pelo menos eu tenho a desculpa de ter sido a primeira vez que toquei essa música... Mas e você? Por favor, trabalha essa voz se não as pessoas vão sair correndo. - o garoto retrucou, fazendo uma breve imitação de uma multidão decepcionada, fugindo de algo muito ruim.

 Bill não se intimidou e começou a rir, caminhou até o irmão e apoiou seu braço em seus ombros, deixando à mostra, não de propósito, a diferença mínima entre as alturas.

 - Acho que vai ter que mudar isso, maninho. – falou, apontando para o cabelo e as vestimentas de Tom, e dessa vez não se incomodou com a expressão ‘maninho’, percebendo que essa saía automaticamente, só que dessa vez com um pouco de sarcasmo. – Sabe... Somos uma banda de rock... – continuou, analisando o mais velho, que já o empurrara de seu ombro - Não somos rappers favelados, com estilo estranho e cabelos cheios de piolhos... - Bill sorriu, fazendo uma expressão de nojo e logo prosseguiu - Ah! Quanto a minha voz... Acho que só você não gosta... Porque não tem bom senso pra isso! – concluiu sem tirar o sorriso do seu rosto, afastando-se de Tom após provocá-lo.

 - Tenho certeza que meu estilo só tem a acrescentar a banda. Principalmente se vocês querem muitas fãs do sexo feminino... Sabe, eu sou praticamente um ímã de mulheres... Claro que não poderia ser diferente. - ele falou, dando uma boa olhada em seu reflexo no espelho que se encontrava em uma das paredes à sua frente, sorrindo. - Quanto a sua voz... Confie em mim, as pessoas só não são sinceras o bastante para conseguir lhe dizer o quanto ela é terrível.

 - Sabe, até que você tem um charminho... – disse, posicionando-se logo atrás de Tom, vendo seu reflexo também. - Digo isto até porque herdou de mim... Ainda dizem que somos iguais... Acho que o sol de onde você tava te afetou... - diz do nada, sorrindo olhando o sorriso de Tom ficar cada vez maior.

 - Irmãozinho, eu nasci primeiro, esqueceu? Ou seja, se você tiver algo de bom aí, herdou de mim! Mas eu ainda acho que você não teve essa sorte! - Tom falou, rindo escandalosamente. - Quanto ao sol... Ele só me fez bem. Me fez ver certas coisas por um outro lado... - e uma sombra pairou sobre os dois por um momento. Curto demais para que os outros dois garotos pudessem notar.

 - Vocês devem ter se esquecido de estudar biologia. Sabe como é, genética. – Georg disse, fazendo os gêmeos lançarem um olhar enraivecido para ele, que ria da própria piada junto com Gustav.

 - Parabéns! Dez minutos! - Bill bateu palmas, voltando sua atenção ao reflexo à sua frente, e logo continuou. – Tom, sabe qual é o seu problema? – perguntou, mas não deixou que o irmão respondesse. - Você se acha de mais... Seu ego é muito grande, vamos precisar de um camarim só pra você... – disse sem emoção, pondo-se novamente atrás do microfone e dando a conversa por encerrada.

 - Se eu preciso de um camarim só pra mim, acho que nós não vamos poder entrar no palco. Do jeito que você é, não daria espaço pros outros.

 - Eu queria tanto ganhar esse concurso... Ia ser muito bom, não acha Gustav? – Gustav sorriu e concordou e logo Georg continuou em seu tom brincalhão. – Seria bom mesmo... Mas se não ensaiarmos, não vamos ganhar nada! – finge-se bravo.

Georg acabou descontraindo os outros dois com este comentário, e eles pararam com as provocações por algum tempo. Os dez minutos de pausa acabaram virando vinte, e na maior parte dele Tom apenas ficou admirando sua nova guitarra. Ainda sentia raiva sempre que se recordava da carta que havia lido mais cedo, principalmente porque através dela foi anunciada a venda da sua guitarra, mas tentava não se importar com isso. Sabia que não adiantava. Aquela raiva não traria sua guitarra de volta, muito menos o seu pai, mas ele não conseguia deixar de sentir.

- Tom, acorda! – Georg exclamou ao fim dos vinte minutos, estalando os dedos na frente do garoto. – Vamos voltar a ensaiar.

Tom sorriu e levantou-se, os outros dois já estavam posicionados e, assim que Georg pegou o seu baixo, o que aconteceu na primeira música repetiu-se o resto do ensaio. Pauta, acordes, provocações, guitarra, improvisos e mais provocações. Haviam ensaiado mais três músicas quando Gordon interrompeu, pondo fim ao ensaio.

- Vocês ainda estão aqui?! Já são quase cinco horas, a audiência para a inscrição de vocês está marcada para as seis. Não querem se atrasar, querem?! – foi o que Gordon disse, e os meninos logo saíram apressados para comer alguma coisa, tomar um banho e se arrumarem para não chegarem atrasados.

Pouco antes de sair, enquanto todos arrumavam os últimos detalhes e checavam se haviam se esquecido de alguma coisa, Tom lembrou-se de algo. Pegou seu celular e um pedaçinho de papel e discou o número que havia nele. Havia um sorriso no seu rosto, e ele aumentou assim que a pessoa atendeu ao telefone.

- É muito tarde para pagar uma promessa? – ele perguntou sorrindo.

 

Mesmo com o pouco ensaio dos garotos, a audiência foi um sucesso, e finalmente eles conseguiram se inscrever para o festival. David, que fez questão de assistir a pequena apresentação dos garotos, adorou o entrosamento que eles apresentaram, achou-os fantásticos, até mesmo porque ele achou incrível o que conseguiram fazer com um guitarrista novo na banda. Estava realmente querendo ver até onde eles poderiam chegar, achava que eles teriam futuro mesmo se não ganhassem o concurso.  “Que garotos!”, foi o que ele pensou quando terminaram de tocar.

Eles acabaram saindo após quase uma hora da audiência ter começado, já que a parte mais difícil e complicada foi arranjar um nome pra banda. Depois de muita discussão acabaram decidindo por ‘Tokio Hotel’, já que todos amavam Tókio, e parte da infância e adolescência de Bill foram em Hotéis, acompanhando a mãe em seus desfiles e  premiações, além de acharem que o nome soava bem.

Os garotos estavam radiantes, e logo se dirigiram pra casa. Gordon ficou para conversar com David e os meninos seguiram sozinhos. Georg que dirigia, e todos conversavam animadamente, ainda estavam eufóricos pelo resultado satisfatório da audiência. Bill começou a ler para todos o folheto que lhe entregaram no final da inscrição, onde havia algumas regras e explicava como seria o concurso.

- Vejam só isso: “Depois de uma noite inteira de apresentações, nossos juízes e convidados escolherão as três bandas que participarão da final do concurso. Essa será uma semana depois e cada banda terá direito a tocar duas músicas. A platéia que irá escolher por votação a  vencedora, e o resultado será anunciado nessa mesma noite.”

- Nós precisamos ganhar! – Georg falou da direção.

- Temos que ensaiar muito pra isso, e escolher as nossas melhores músicas. – Bill disse.

Gustav apenas concordou com a cabeça e sorriu.

- Podem me deixar aqui. – Tom pediu de repente.

- Do que você está falando? – o irmão perguntou sem entender.

- Dá pra vocês pararem o carro?! – o garoto indagou, levemente irritado, e Georg prontamente encostou o veículo no meio fio, olhando de relance para ele pelo retrovisor. – Obrigado. – ele falou, descendo em seguida.

- Pra onde você vai?! – Bill perguntou chateado.

- Não vou jantar em casa. – o garoto falou simplesmente, afastando-se do carro.

- Você tem um encontro?! – Georg gritou, pondo a cabeça para fora da janela, em meio a uma gargalhada.

Tom não respondeu, apenas se virou e sorriu antes de dobrar a esquina. Ele havia combinado de se encontrar com a Hannie em um restaurante ali perto, mas não seguiria para lá agora. Andava pela rua lentamente, observando o que havia mudado e o que continuava o mesmo; era incrível como em algumas lojas o tempo parecia não ter passado, enquanto outras estavam praticamente irreconhecíveis. Finalmente parou em frente a uma delas, e sorriu ao perceber que ela continuava no mesmo lugar, e era praticamente a mesma. Entrou e logo o cheiro dos mais variados doces lhe atingiu, trazendo-lhe recordações de vários momentos felizes no passado. Ele não se importou com elas e ficou feliz em constatar que aquele ainda era um dos seus lugares prediletos em toda a Alemanha. Seguiu para o setor de chocolates e deparou-se com prateleiras e mais prateleiras repletas de todos os tipos e formas possíveis deles.

- Pronto. Agora é só escolher! – falou baixinho e riu consigo mesmo depois.

 

Já estava quase na hora marcada quando Tom conseguiu sair da loja. Acabou optando por uma caixinha decorada, onde estavam acondicionados vários chocolates de cereja ao licor. Antes de sair, comprou uma rosa – apenas uma – do vermelho mais vivo e seguiu para o restaurante.

Quando chegou ao local, apesar de não estar atrasado, Hannie já o esperava sentada em uma mesa no fundo, bem ao lado de grandes vidraças com vista para a rua.

- Hannie! Faz muito tempo que está aqui?! – ele indagou, aproximando-se da mesa, chamando a atenção da mulher que olhava distraidamente pela janela.

- Tom! Não, não. Acabei de chegar. – ela respondeu sorrindo, levantando-se para cumprimentá-lo.

O garoto não deixou de observar como ela estava bonita com uma blusa de seda cinza-escura que trazia um leve decote e uma calça comprida preta. Ele a beijou no rosto com um sorriso malicioso, e depois se repreendeu por tê-lo feito. Assim que se sentou de frente a ela, estendeu-lhe a caixa de chocolates.

- Não sabia se você gostava de chocolates, nem qual o tipo que lhe agrada... Mas esse é um dos meus favoritos! – ele sorriu, esperando a reação da mulher.

Ela pegou a caixa de chocolates e analisou-a por alguns segundos, depois voltou a olhar para Tom carinhosamente.

- Não precisava se preocupar comigo... Mas adorei sua delicadeza! Esse é um dos meus favoritos também!

- Eu não podia não me importar depois de tudo que você fez por mim... Sei que presentes não são suficientes, nem chegam perto disso, nem ao menos são necessários, mas eu senti necessidade de te dar algo... Por menor que fosse, apenas para te mostrar minha gratidão... – ele falou com sinceridade, e, sorrindo, entregou-lhe a rosa que ainda segurava na mão.

“Nossa, ele sabe mesmo como agradar uma mulher... Assim como Jörg também sabia.”, Hannie pensava sorrindo, olhando admirada a rosa que segurava na mão, “Se ele faz tudo isso só para um simples encontro, imagina como seria depois de... Ai, meu Deus! Mas o que eu estou pensando?!”, deu um riso baixinho e depois se voltou para o garoto.

- Tom, eu trouxe uma coisa para você. - ela falou sorrindo. - Espero que goste! Não é nada demais comparado ao que você trouxe para mim... Mas eu acredito que pode lhe fazer bem, como me fez durante todos esses anos... E é de coração. – Hannie concluiu sorrindo e pegou um envelope que trazia na bolsa, entregando-o ao rapaz.

Tom pegou-o desconfiado, tentando imaginar o que teria dentro dele. Olhou para a mulher e ela sorriu, passando-lhe confiança. Ele abriu o envelope com cuidado e retirou dele uma foto. Era do seu pai. Ele estava dobrado sobre si mesmo, no meio de uma gargalhada e, observando bem a foto, poderia perceber uma tímida lágrima no canto de seus olhos.

- Na época em que nós namorávamos, eu tinha mania de tirar foto. Fotografava tudo e todos, mas, principalmente, ele. Essa é uma das minhas favoritas.

Tom sorriu, um sorriso que pairava entre a tristeza e a alegria, e seus olhos foram rapidamente preenchidos por água. Ele ainda não havia conseguido se recuperar da morte do pai. Isso estava claro no rosto dele e em cada ação que ele praticava. Jörg havia sido tudo para ele durante dez anos de sua vida, quando o resto de sua família pareceu esquecê-lo, ele estava lá para vê-lo caminhar. Ele foi o seu chão durante todo esse tempo, foi ele quem o ajudou a continuar de pé e a se levantar depois de cada queda. E agora, Tom se via sem seu chão, sem seu alicerce, ele se segurava desesperadamente a algo invisível na sua frente para não cair. Era difícil fingir que estava tudo bem, aceitar a nova vida que lhe era oferecida, mas ele continuava ali apenas por um motivo, sempre que pensava em ceder, podia ouvir seu pai lhe falar “Não desista, meu filho. Nunca.”, e ele não desistiria.

- Sabe, Tom, o motivo de eu estar lhe dando esta foto é que eu acho que as únicas lágrimas que Jörg queria que brotassem em seus olhos, eram essas iguais as dele... De alegria. – ela concluiu, pousando a mão sobre a do rapaz.

Ele riu baixo em resposta, e levantou o olhar para ela.

- Obrigado. – disse simplesmente.

Os dois ficaram entreolhando-se durante um bom tempo, enquanto suas mentes vagavam nas lembranças de um passado que não parecia tão distante agora. Hannie suspirou, parecendo voltar ao presente, e retirou sua mão de cima da do garoto.

- Então, vamos fazer o nosso pedido? – indagou sorrindo.

- Vamos! – ele concordou sorrindo.

Os dois não demoraram muito a escolher o que queria, e logo Tom já estava fazendo o pedido. Quando o garçom afastou-se da mesa, Hannie passou a observar o garoto de um jeito indagador.

- Você quer me perguntar alguma coisa? – ele indagou, desconfiado.

- Na verdade, eu estava pensando se deveria ou não te perguntar isso... Sabe, Tom, eu sei que talvez seja muito cedo pra você falar sobre isso... Mas como foi que realmente aconteceu? Como foi que... O Jörg morreu? Eu preciso saber...

Tom engoliu em seco nessa hora. Parece que os fantasmas que tinham lhe assombrado durante a tarde voltaram a circular sobre ele naquela hora. Ele encarou-a sério. Realmente não queria falar sobre aquilo, ainda se sentia muito vulnerável em relação a tudo que o lembrasse do pai. Mas não podia deixar de pensar que se abrir com ela talvez lhe fizesse bem. Talvez ela lhe dissesse algo que o livrasse das garras da culpa que se negavam a soltá-lo. E ela precisava disso. Talvez tanto quanto ele precisava se libertar de toda essa dor. Quem poderia saber?

- Eu... – ele tentou começar, mas acabou travando.

 - Se não quiser falar, tudo bem...

 - Não, não... Eu vou... Vou te contar tudo. – ele disse, e fechou os olhos por alguns segundos, tomando coragem pra continuar. – Nós... Nós iríamos passar o final de semana na nossa casa de campo... Como sempre fazíamos quando ele podia. Já estava quase tudo pronto quando começou a chover... forte. Muito forte. E não parou mais; só parecia piorar a cada segundo. Meu pai pensou em ficar, só viajar no dia seguinte, mas eu o convenci do contrário. – Tom não agüentou mais o contato visual e desviou seu olhar para a janela; seus olhos estavam novamente cheios de lágrimas, e ele lutou para não deixá-las escapar. – Meus avós não queriam que fôssemos. Mas eu não conseguia entender o motivo de tanta preocupação. Eu sabia que a estrada que nós pegávamos era mais perigosa quando estava molhada, mas meu pai conhecia aquela pista tão bem... Era só tomar mais cuidado... E eu não queria adiar a nossa viagem... Não queria perder o show de Aerosmith, eles iriam abrir o festival da cidade, e eu esperei tanto por isso... Eu queria tanto ir! Então nós fomos. Ele havia concordado comigo e nós cantávamos alegremente as músicas no carro, nos preparando para o show, quando a viagem foi... interrompida... Aconteceu tudo muito rápido, um caminhão na outra pista estava no meio de uma ultrapassagem e nós só conseguimos vê-lo quando ele já estava bem em cima de nós... Meu pai tentou desviar, iríamos chocar de frente, mas, com a manobra, todo o impacto foi em cima dele... Eu só lembro-me de um clarão, o olhar rápido dele pra mim... e, então, eu apaguei... Só voltei a acordar no hospital... Aquele... Aquele foi o último olhar dele pra mim... É impossível tentar dormir e não reviver tudo... – Tom fechou os olhos e as lágrimas deslizaram pelo seu rosto. – Era pra eu ter morrido! Eu queria ter morrido com ele! Eu que o convenci a ir, e agora eu estou aqui, vivo, e ele está morto! MORTO! – o garoto deu um murro com força na mesa, chamando a atenção de todos; já não havia esforço capaz de impedir as lágrimas de caírem, e a intensidade só aumentava a cada segundo. Hannie, que também estava com os olhos cheios de água, saiu do seu lugar e sentou-se ao lado dele, acolhendo-o em seus braços.

- Você não teve culpa, Tom. – ela falou baixinho em seu ouvido, e ele a segurou forte, deixando que suas lágrimas molhassem o ombro da mulher. Ela olhou pela janela, e deixou que as suas caíssem também, silenciosamente.

 

O resto do jantar ocorreu normalmente. Tom ficou um pouco envergonhado por ter chorado, mas Hannie parecia fazer de tudo para que ele não se preocupasse com isso. Por fim, Tom fez questão de pagar o jantar e, já que não podia levá-la até em casa, contentou-se em fazer companhia até o lugar em que ela havia estacionado o carro.

- Espero que a minha crise emocional não tenha afetado a chance de um novo encontro... – ele falou sorrindo torto, enquanto ela entrava no carro.

- Adoro garotos frágeis e indefesos. – ela falou brincando.

- Ah é? Eu não sou exatamente esse tipo de garoto... Mas por você, quem sabe eu não me tornaria? – Tom revidou, sorrindo maliciosamente.

Hannie riu, e depois de dar um beijo no rosto do rapaz, deu partida no carro, acenando uma última vez antes de partir.

 

 


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Notas finais do capítulo

Preview do próx. cap.: – Tom? Vai com a gente ou prefere ficar? – perguntou, olhando para o garoto que estava sentado no sofá, quieto até então.

Olha aí mais um capítuloo! :D
Espero que vcs gosteeem! *_*
Próxima semana tem ENEM ¬¬
aff, não vejo a hora desse ano acabar -.-'
Beijos pra toodos! Meus e da Keca :D
até a próxima! :D