Nas Cinzas das Horas escrita por Moony


Capítulo 4
Anjo




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Capítulo 4 – Anjo

Eu hoje tive um pesadelo

E levantei atento, a tempo

Eu acordei com medo

E procurei no escuro

Alguém com seu carinho

E lembrei de um tempo...

- x -

Remus estava passando por uma situação difícil. Metade do seu ser estava querendo arrumar um jeito de se desvencilhar de Sirius sem que ele percebesse, enquanto a outra metade estava empenhada em se aconchegar melhor nele. E o pior era que não conseguia encontrar nenhuma informação gravada em sua mente que lhe dissesse que era normal amigos ficarem tão juntinhos assim.

Não, não é normal e não devo pensar nessas coisas, ele constatou, depois de chutar pra bem longe o insight que o fez ver, por alguns segundos, qual era o motivo daquela confusão toda.

Mas, se não é normal, porque é bom?, ele se perguntou, sentindo mais uma vez o arrepio característico que indicava que Sirius estava se movendo. Ele trouxe Remus pra mais perto ainda de si, fazendo o garoto ter uma ligeira parada respiratória.

- Não diga nada. - Sirius falou perto do seu ouvido quando viu que ele estava abrindo a boca. Se era para falar ou pegar ar, nunca se soube.

Remus fechou a boca, obediente.

- Você não acha que... a gente deveria resolver isso? - Sirius perguntou. O outro mais uma vez abriu a boca, mas foi interrompido. - Não, ainda não é pra dizer nada.

Isso tá ficando meio confuso, ele pensou.

- É que você sempre fala tanto... - Remus olhou para ele indignado, mas Pad não se intimidou. - ... e me censura tanto, que eu acabo sem ter muita oportunidade pra falar também... Tá, eu sei que falo besteira o tempo todo, mas você há de convir que é um tanto difícil falar sério.

Não é, não.

- Então eu queria que você ficasse calado, mas só por enquanto, tá? - Remus fez que sim com a cabeça.

Completamente mudo. - Eu aviso quando você deve falar.

Que audácia!

E então Sirius começou. Tremendo um pouco, mas começou.

- Bom, eu quero te dizer isso há algum tempo, mas nunca arranjo... sei lá, coragem, ou alguma coisa do tipo. Porque, sabe, dá pra perceber que, de alguma forma, você também tá meio perturbado com isso. E eu tô correndo um risco enorme agora, porque não quero que você deixe de ser meu amigo. Eu não aguentaria, você sabe.

Eu também não.

- Mas então eu penso: se ele me perdoou naquela história do Salgueiro, porque não perdoaria agora? - fez uma pausa. Respirou fundo e continuou. - É difícil dizer isso. E é difícil também não dizer. É como se eu estivesse escondendo algo de você.

Dá pra ser mais claro?

- 'Cê não tem noção do quanto você significa pra mim, Moony... E eu gosto muito de você, porque, afinal de contas, nós somos amigos... Mas de uns tempos pra cá, eu... Eu tenho me sentido meio estranho. E você também tem andado meio estranho, só que eu não sei se é porque tem sentido o mesmo que eu, ou porque percebeu como eu me sentia... Isso tá ficando meio confuso, não é?

Remus fez que sim.

- Ok, então vou ser mais direto... Quer dizer, vou tentar ser mais direto. Se bem que eu não acho que vou conseguir, mas mesmo assim... Não, eu não vou conseguir ser direto. Não nesse assunto.

Isso vai demorar...

- Cara, eu... Não sei como dizer isso, mas... Eu acho que... Não, eu tenho certeza. - Sirius fez uma pausa, respirou fundo e finalmente completou. - Eu amo você, Remus. Pronto, falei.

Sirius lentamente retirou o braço das costas do amigo. Este, por sua vez, ainda olhava fixamente para o lago.

- Você... Disse mesmo isso? - ele perguntou, finalmente.

- Acho que sim. - Sirius respondeu, hesitante.

Remus não disse mais nada. Apenas lançou um olhar rápido ao amigo e correu para o castelo.

- x -

Porque o passado me traz uma lembrança

De um tempo em que era criança

E o medo era motivo de choro

Desculpa pra um abraço ou um consolo

- x -

Enfiado entre os lençóis da sua cama, Remus tentava ter certeza de que estava realmente lúcido e que tudo aquilo não fora um sonho. Estava difícil.

Ele já sabia de tudo, claro. Pelo menos inconscientemente sabia. Não havia como não saber. Afinal, Sirius é um cara um tanto óbvio. Mas daí a dizer tudo assim, na lata, e daquela forma... Não, devia ser uma alucinação. Amigos não se declaram para os outros todos os dias. Não é exatamente uma coisa com a qual se possa lidar. Não, não é.

Mas ainda assim era bom. Afinal, ela não podia deixar de admitir que o que sentira quando ouvira que Sirius o amava não tinha sido ódio, incredulidade ou repugnância. Tinha sido um tipo de felicidade que Remus não sabia que existia. Algo misturava a alívio e euforia. Algo que lhe dava certeza de que Sirius não estava brincando.

Talvez ele realmente o amasse e...

Meus Deus, e agora?

- x -

Hoje eu acordei com medo

Mas não chorei nem reclamei abrigo

Do escuro eu via um infinito

Sem presente, passado ou futuro

Senti um abraço forte, já não era medo

Era uma coisa sua que ficou em mim (que não tem fim)

- x -

As cortinas se abriram de repente. Remus quase gritou de susto. Por um momento teve medo que Sirius percebesse que ele estava chorando. Porque estava chorando, afinal? Não sabia. Não sabia de mais nada. As últimas horas tinham destruído as poucas certezas que ainda lhe restavam.

O outro se sentou à sua frente e ele se encolheu na cabeceira, abraçando os joelhos.

E agora? O que é que se faz agora?

Excepcionalmente naquele dia era Sirius quem parecia ter as respostas para tudo. Ele se estendeu para a frente e, sem dizer uma palavra, segurou seu rosto com uma delicadeza desajeitada e o beijou.

Oh, sim. É uma boa resposta.

- x -

De repente a gente vê que perdeu

Ou está perdendo alguma coisa

Morna e ingênua que vai ficando no caminho

Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado

Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás


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