Back To The Dream. escrita por Jajabarnes


Capítulo 23
Vai ficar tudo bem, você fez a coisa certa.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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POV. Caspian.

A lua cheia já brilhava alto iluminando aquele cenário macabro. Nós, Reis e amigos de Narnia, estávamos ofegantes pela batalha e ao longo do vale, de pé em meio aos corpos das ninfas derrotadas. A chuva já havia cessado e a lama se misturava ao sangue do inimigo. Os narnianos que vieram e lutaram ao nosso lado, foram sumindo à medida que as ninfas caíam e, ao final, era como se eles nunca tivessem estado ali.

- Gente. – Natalia chamou. Ela havia se ajoelhado ao lado de alguém bastante ferido. Reunimo-nos ao redor dela. Natalia tinha a cabeça e Ecco deitada em seu colo e mais atrás estava Héryka, caída e sem vida. A ninfa ruiva estava pálida e mal conseguia respirar com um grande golpe na barriga.

- Ecco... – Jill se ajoelhou a frente de Natalia, já com lagrimas nos olhos.

- Foi... Foi uma honra servir a vocês, majestades – sussurrou a ninfa, sua voz era quase inaudível. Ela sorriu de leve. – E ao seu lado também, “quase lorde”... – ela olhou para Eustáquio que riu de leve. – Até logo, meus reis... – foi seu ultimo suspiro. Houve um silêncio profundo por longos minutos.

- Temos que continuar. – lembrou Andrew.

Seguimos rumo ao Submundo, subindo o declínio por aonde as ninfas vieram, para sair do vale. Quando chegamos ao topo encontramos uma lança. Uma de suas extremidades estava cravada no chão e na outra havia uma cabeça que Pedro, Julia, Edmundo e Natalia identificaram como sendo de Adrya, abaixo da cabeça havia uma placa de madeira com uma palavra gravada: “Traidora”.

POV. Lucia.

Rolei pela relva agarrada aos cabelos loiros de Lilliandil que gritava, enquanto eu podia ouvir o som da luta entre Rillian e a Dama. Prendi os braços de Lilliandil ao lado do corpo dela com minhas pernas para que ela não pudesse me acertar mais. Ela me encarou do chão apavorada. Tentou se libertar, mas eu era mais forte e ela fracassou. A raiva que eu sentia de Lilliandil foi extravasada entre aquelas tapas, os arranhões e os violentos puxões de cabelo.

Olhei para o rosto dela. A boca estava cheia de sangue e um dos olhos começava a ficar roxo, além dos vários tufos de cabelo arrancados. Ela não aguentaria brigar mais e, como uma pausa para mim, dei um ultimo golpe.

- Cretina. – acertei-lhe outro soco mais forte do que eu podia imaginar. Com o impacto, seu rosto virou violentamente para o lado e ela perdeu a consciência.

Ainda ofegante, eu levantei sentindo apenas uma leve dor de cabeça e uma suave ardência no braço direito, culpa das unhas de Lilliandil, mas nada, além disso. Pus-me de pé.

Olhei para Rillian, ou melhor, para o vulto negro que o nevoeiro permitia-me ver. Ele desviava dos feitiços que a Dama lançava contra ele.

Ele levantou em meio ao nevoeiro expeço olhando para ela com ódio. Resolvi ajudar. Saltei nas costas da mulher para distraí-la, mas, como por reflexo, ela virou para mim com a mão erguida, atingindo-me em cheio no rosto. Caí em meio ao nevoeiro, ainda uma pouco zonza.

Antes que eu pudesse me situar completamente, senti a mão dela apertar meu pescoço e erguer-me do chão. Meus pés não tocavam mais o solo, o ar entrava com muita dificuldade em meu peito e as unhas afiadas da Dama seguravam-se firmemente me minha pele.

Eu não conseguia respirar, minhas tentativas de livrar-me dela não surtiram efeito e minhas forças estavam indo... Eu estava ficando fraca.

- Solta ela. – ouvi Rillian ordenar entredentes, porém ela apenas apertou mais e minha visão ficou turva. Vi um vulto negro correr em minha direção e logo o braço da Dama coloriu-se de vermelho, de sangue. Foi quando ela me soltou, sem forças eu caí sobre a relva enquanto a Dama gritava sem parte de um dos braços, meu pescoço e colo estavam molhados, provavelmente do sangue dela. O ar entrou com alívio em meus pulmões, mas eu ainda estava um pouco fraca. Permaneci no chão, olhando Rillian e a Dama.

Ele tinha a espada em punho, estava ofegante e atento a qualquer movimento dela. O rosto delicado da Dama estava contorcido numa careta de dor e puro ódio. Com os dentes a mostra e os olhos arregalados, ela gritava para Rillian ameaçadoramente. Ela, então, começou a ter espasmos pelo corpo, caindo no chão enquanto se contorcia. Seus cabelos caíram, seus membros alongaram-se, a pela tornou-se verde e escamosa, as pernas uniram-se e os braços se fundiram ao seu tronco; a pele de seu rosto rasgou enquanto o pescoço esticava, revelando a cabeça de uma naja fora do comum. Não demorou muito para que seu corpo esticado alcançasse umas duas dezenas de metros. As presas eram afiadas, a língua dividida pendia para fora da boca enorme e de dentro do vestido verde, no lugar da forma humana da Dama, saiu uma enorme serpente que ergueu-se a frente de Rillian até passar e muito da altura dele, encarando-o ameaçadoramente.

A ponta da espada de Rillian tocou o chão enquanto ele encarava boquiaberto a serpente, mas logo aquele sorriso maroto ocupou seu rosto.

- Né que você é uma cobra mesmo?! – ele debochou. Seu rosto assumiu a expressão de pânico em seguida como se ele estivesse se dando conta de alguma coisa. – Ah, Aslam... Eu beijei uma cobra...

A serpente soltou um ruído esganiçado e lançou-se em direção a Rillian com a bocarra escancarada.

POV. Rillian.

Sequer deu tempo de ter uma ânsia de vomito com tanto nojo e repulsa que eu sentia. Vi a serpente lançar-se contra mim. Por meus reflexos que, sem querer me gabar, sempre foram muito bons, eu segurei o que seria o pescoço da cobra mantendo sua careta a poucos centímetros de meu rosto. Seu peso e força faziam meu braço doer, mas eu não podia fraquejar se não poria a baixo todo o trabalho dos outros Reis e Rainhas. A Dama não podia vencer.

Senti seu corpo frio, liso e muito forte, enrolar-se por meu corpo, apertando-o em seus círculos. Ficou difícil me mover e Lucia, ainda no chão com o pescoço sujo de sangue, não podia fazer nada.

Aslam, me ajude...

Olhei para a cabeça da serpente e meus olhos encontraram o par dela. Dentro deles eu vi aquela linda mulher que tanto me encantara, seu rosto delicado, os cabelos longos e sedosos, o sorriso belo...

Sim, era por ela que eu tinha-me “apaixonado” e lembrar isso fez despertar em mim uma profunda raiva. Esta raiva e o senso de justiça me deram forças. Com um urro de fúria eu ergui minha espada e num golpe certeiro vi a cabeça da víbora rolar em meio ao nevoeiro.

O corpo sem cabeça, ainda erguido a minha frente, contorceu-se esguichando sangue até cair em toda a sua extensão no nevoeiro, livrando meu corpo do aperto. Respirei profundamente e embainhei a espada caminhando até Lucia. Ajoelhei-me ao seu lado, ela sentou-se ainda com dificuldades para respirar.

- Parabéns, Rillian, você conseguiu! – ela sorriu.

- Você também. – olhei para minha “mamãe” caída mais adiante.

O chão tremeu.

- Vamos, temos que sair daqui. – ajudei Lucia a levantar.

Corremos, saindo do castelo em seguida da cidade e entrando em túneis através das fendas cada vez menores. Passamos pelo Pai-Tempo que dormia como sempre, pelas criaturas semelhantes a dragões que também faziam dormiam, por aqueles cogumelos fluorescentes que iluminavam os trabalhadores pequeninos e a cidade que há muito ficara para trás.

Entramos no barco e eu remei junto com a criaturazinha o mais rápido possível, atravessando aquelas águas negra em poucos minutos. Continuamos subindo passando por fendas e mais fendas chegando ao ultimo túnel. O chão continuava a dar tremores e algumas pedras desprenderam-se do teto. Corremos até atravessarmos a ultima fenda e sairmos no bosque. O céu negro e cheio de estrelas estava bem visível acima de nós, as arvores balançavam ao ar fresco, à luz da lua.

Esqueci de como Narnia era linda.

POV. Lucia.

Vi Rillian respirar profundamente e olhar em volta. Parei ao seu lado.

- Saudades do seu reino? – perguntei.

- Muita. – ele sorriu. – Vamos. – chamou Rillian após segundos de silêncio, seguindo para o bosque a minha frente. Dei um passo para segui-lo, de costas para a entrada ao Submundo, quando seguraram meus cabelos fortemente.

- Rillian! – gritei. Ele voltou e sacou a espada enquanto eu impedia as lagrimas de dor.

- Solta ela. – ordenou Rillian para a pessoa que me segurava.

- Você está muito malcriado, Rillian, nenhum filho dá ordens à mãe. – ouvi a voz sem emoção da detestável Lilliandil.

- Eu estou pedindo com a educação que você não me deu. Solta... Ela... Agora...

- Eu faço uma troca. – disse Lilliandil. – Ela vai, você vem.

- Rillian, não... – pedi.

- Tudo bem... – ele concordou. Sabia que ela sorria. Rillian baixou a espada e caminhou em passos lentos, com os olhos claros fixos em Lilliandil.

- Isso... Bom menino... – ela me soltou quando Rillian chegou até nós, empurrou-me para frente e abriu os braços em direção a ele. – Eu senti tanto a sua falta, meu filho. – ela o abraçou, mas vi punhal escondido em sua manga, a arma escorregava para a mão.

- Rillian, ela tem um punhal! – gritei. Ele a empurrou para longe e ergueu a espada novamente. Lilliandil pegou a dela e os dois começaram a lutar. Eu só assistia aflita sem poder fazer nada. – Rillian, lembre-se, ela é a aliada da Dama. Ela deve morrer! – falei. Ouvi som de cascos e do bosque arroxeado pela noite próxima ao fim; os outros chegaram. Desceram de sues cavalos e ficaram ali ao meu lado, sem muito a fazer.

Rillian desarmou Lilliandil e a chutou contra uma arvore, apontando a espada para ela.

- Ela é a aliada da Dama, Rillian, ela deve morrer! – era a voz de Susana. Como ela sabia daquilo? Tanto eu como os outros a olhamos, mas Susana tinha os olhos fixos nos dois mais a frente. Rillian ergueu a espada para matar Lilliandil.

- Você teria coragem de matar sua própria mãe?! – apelou ela. Ele parou.

- Foi a ordem de Aslam. Ela deve morrer, Rillian. Narnia depende de você! – Susana insistiu.

Com a respiração dolorosa, Rillian gritou e sua espada entrou na arvore, atravessando o peito de Lilliandil.

Ouviu-se um urro de dor que cortou o céu fazendo as estrelas oscilar. Era a dor de Ramandu. O corpo sem vida de Lilliandil foi se desfazendo ao ser tocado por um vento, e o mesmo vento levava as cinzas para o céu, para o pai dela, enquanto o sol começava a nascer. O chão tremeu novamente, mais forte, o que fez pedras que formavam a fenda, se partiram e lacraram a entrada para o Submundo.

Rillian caiu de joelhos, soltando o punho da espada solitária presa ao caule da arvore. Eu fui até ele, ajoelhando-me ao seu lado.

- Rillian? – chamei. Susana se aproximou de nós, ajoelhou-se e tocou no ombro dele.

- Vai ficar tudo bem, você fez a coisa certa. – disse ela, acolhedoramente. Rillian suspirou.

- É acho que sim... – ele ergueu os olhos para ela e por alguns segundos eles se olharam. – É um prazer conhecê-la, Rainha Susana.

Ela sorriu.

- O prazer é todo meu. Vamos?

Ele assentiu e nos pusemos de pé, indo em direção aos outros. Julia correu e abraçou Rillian fortemente.

- Desculpe por tudo. – pediu ele.

- Seu chato, senti tanto a sua falta! – Julia tinha lagrimas felizes no rosto.

Depois veio Andrew. Ele começou desabafando o quanto sentia remorso por tudo o que tinha acontecido, mas Rillian o interrompeu.

- Andrew, D.R. só depois, agora vamos voltar para o palácio que eu estou morrendo de saudades da minha cama!

Nós rimos. Eu me aproximei de Nicolas, dei-lhe um rápido beijo, ficando abraçada lateralmente a ele. Foi quando Rillian parou os olhos em alguém. Ele se aproximou de Caspian e os dois entraram num abraço demorado. Foi um cena linda ver pai e filho juntos.

- Deixe-me apresentar – Caspian virou para os outros. - Pedro, Edmundo, Natalia, Nicolas, Eustáquio e Jill.

- É uma honra conhecer todos vocês. – disse Rillian sorrindo largo e fazendo uma suave reverência. Era o mesmo sorriso de Caspian. Andrew se dirigiu a Rillian, fazendo uma reverência.

- Bom, agora vamos. Seu reino o aguarda, majestade.


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Notas finais do capítulo

Faltam só mais 4 capítulos para o final, mas não se preocupem, a continuação já está sendo escrita ;D
Beijokas!!