POV. Caspian.

            As coisas entre Susana e eu estavam mais críticas. Ela acha que eu não acredito nela, que estou defendendo Lilliandil quando a verdade é que não sei o que fazer. Sei que Susana não está falando isso sem motivo, mas ao mesmo tempo é difícil imaginar Lilliandil fazendo algo errado. Agora Susana está afastada de mim como antes, quando soubemos de Rillian.

            Pelo menos duas coisas boas aconteceram. Sabemos que Rillian está vivo e onde ele está. Partiremos para lá pela manhã, provavelmente cinco dias de viagem, pelo que Andrew disse.

            - Susana, vamos até o rio, preciso de água...? – Lucia chamou. Susana pareceu acordar de seus pensamentos.

            - Claro. – ela levantou e as duas saíram.

            - Cuidado. – pediu Pedro. Elas entraram no bosque, rumo ao rio há pouca distancia dali e por um tempo ouvimos apenas o zumbido do silêncio. Deitei sobre a relva, apoiando a cabeça nas mãos, de peito para cima. Enquanto o sono não chegava, minha foi envolvida pelas lembranças de algumas noites atrás.

            Eu realmente amo Susana, de um jeito que sequer imaginei que fosse possível. Eu seria capaz de morrer por ela ou atravessar mundos para ir ao seu encontro... Até já fiz isso uma vez...

            Mas agora esse ato não vem ao caso. Lilliandil que achei ser um assunto encerrado voltara para me assombrar. Pensando bem, Susana tinha razão, Lilliandil fez algo errado. Ela sabia que eu e Susana estávamos juntos e não falou que é mãe do Rillian daquele jeito sem querer. A única explicação plausível é a que ela quis nos abalar. E foi o que conseguiu. Raios!

            Não consigo entender. Como pode ser possível ela ser mãe de Rillian...?  Eu não vejo como... Nem aceito, até por que não faz sentido já que eu estava em Londres esse tempo todo. Mas então a historia da viagem no tempo de Narnia. Estávamos dezesseis anos mais a frente, tentando mudar o passado que ainda irá acontecer. Se conseguíssemos salvar Rillian neste tempo, quando voltarmos ao nosso tempo tudo correria em ordem. Então, como pode ser Lilliandil?

            Bom, mas agora isso não me interessa muito, quero acabar com esse clima que Lilliandil pôs entre Susana e eu. Isso não pode ficar assim, eu não posso permitir que Lilliandil nos separe sendo ela ou não a mãe de Rillian.

            POV. Lucia.

            - Que maravilha, Lu! Isso é ótimo! Eu tenho um cunhado! – Susana comemorou. Eu ri. Sentamos à margem do rio e Susana deitou a aljava com as flechas sobre a relva ao seu lado.

            - Mas me fala o que houve entre você e o Caspian? – hesitei, ajoelhando-me à margem, Susana sentou sobre as pernas, seu sorriso sumiu e seu olhar melancólico fitou as águas. Demorou alguns segundos para responder, o que me preocupou.

            - O problema se chama Lilliandil. – falou.

            - Lilliandil? – perguntei. – O que tem ela?

            - Ela foi até onde nós estávamos, para nos “guiar” até vocês, mas eu a pus para correr.

            - Isso não é problema. – informei. Minha irmã suspirou.

            - Tem alguma coisa errada com ela, Lucia, a estrela vai aprontar alguma, eu sei disso... Mas Caspian não acreditava em mim, acredita nela e isso nem é a pior parte!

            - E qual a pior parte...? – perguntei com receio. Susana suspirou com as lágrimas descendo. Abriu a boca varias vezes para falar sendo que nada saiu em nenhum dos primeiros momentos. Meu coração se apertou.

            - Ela é a mãe do Rillian, Lucia... Ela... – sua voz era fraca e embargada.

            - Oh, Su! – puxei-a para um abraço. Susana deitou em meu colo. Abracei-a fortemente e ficamos ali por um tempo. Em silêncio enquanto eu sentia um pouco da dor de Susana. Era horrível vê-la chorar e pior ainda saber que Caspian de certa forma contribuiu para isso...

            Aslam... Ajude-nos...

            Susana passou tanto tempo quieta que pensei que ela havia pegado no sono. Mas ela levantou.

            - Ouviu isso? – perguntou com a voz menos embargada, ela sentou olhando em volta atenta. Olhei também.

            - Isso o que?

            - Isso!

            Era o som de passos apressados e pequenos esmagando as folhas secas. Parecia vir de todo lado. O barulho nos cercava. Susana e eu ficamos mais próximas uma da outra.

            - Pedro, é você? – perguntei aflita, olhando em volta. Ninguém respondeu. Susana pegou seu arco e uma flecha, preparando-os. Saquei minha espada lentamente esperando o momento certo. Os passos tornaram-se mais intensos e de repente pararam. Olhamos em volta aflitas e atentas, quando de repente...

            - Ah! – Susana arfou alto quando um dardo a atingiu. Ela caiu no chão, ofegando, tirou o dardo preso em seu ombro, mas aos poucos foi perdendo a consciência.

            - Susana! – ajoelhei-me ao lado dela, porém era tarde, ela já estava desacordada. Como primeiro impulso, soltei a trompa presa a seu corpo e a soprei em chamados urgentes. Com o aviso dado larguei a trompa sobre a relva e peguei o elixir. Antes que eu pudesse abri-lo, alguém cobriu a minha boca por trás.

            Uma pancada na cabeça e depois só escuridão.