Atrasada e quase sem fôlego, Hinata entrou na pequena confeitaria onde invariavelmente fazia seu desjejum. Droga! Justo naquele dia o rádio-relógio resolvera enguiçar! Agora só teria quinze minutos entre o café da manhã e a ida ao escritório!

Como sempre o Maria's Donut's encontrava-se lotado.

A maioria do pessoal que trabalhava nos escritórios da região o freqüentava, embora Hinata achasse que por razões um pouco diferentes da sua. Iam à busca de uma boa dose de cafeína antes de iniciarem mais um dia de trabalho, ao passo que ela o escolhia em virtude de seus pãezinhos e folhados, recheados com diferentes tipos de geléias. Uma verdadeira delícia! 

Sem tomar conhecimento dos inúmeros olhares masculinos que atraía, Hinata caminhou entre as mesas até atingir a última dos fundos, onde Ino a aguardava.

- Até que enfim, Hinata! - a amiga exclamou ao vê-Ia. - Sabe que tem menos de quinze minutos para tomar o café e chegar ao escritório?

- Sim, eu sei Ino. Não precisa me lembrar. – Hinata tirou seu casaco de pele. - Meu relógio não tocou, não sei por quê. 

- Pensei que nunca precisasse de despertador para acordar.

- É verdade, mas acontece que eu estava exausta ontem à noite. Sasuke e eu fomos dançar e só cheguei em casa às duas horas da manhã! - A garçonete aproximou-se no instante em que Hinata acabava de colocar o casaco no encosto da cadeira.

- Dois croissants recheados com passas e canela e um café, por favor - ela pediu à moça e voltou-se para a amiga: - Nunca me diverti tanto como ontem, Ino. Sasuke e eu...

- Espere um pouco. Não está se referindo a Sasuke Uchiha, o pivô do time de basquete, está?

- Ele mesmo.

- Hinata! Como foi que vocês dois se conheceram, garota?

Hinata deu de ombros, indiferente ao olhar atônito de Ino. Antes de responder agradeceu à garçonete que acabava de trazer-lhe o pedido.

- Bem, deixe-me ver... Acho que foi numa das festas em casa de Sai. Sasuke devia ser amigo de alguém que estava por lá, e nós demos um encontrão, foi só.

- E você ainda diz só?! Esbarra no gato por acaso e passa uma noite inteira dançando com ele? Oh, Hinata ... Eu poderia colidir com ele totalmente nua que Sasuke nem sequer me notaria.

- Ino! Ele não é tão famoso assim. Não passa de um rapaz como qualquer outro. 

- Oh, mas é claro que sim. Apenas é conhecido no país inteiro e provavelmente vai disputar os jogos olímpicos! É dono de um punhado de músculos e... - Os olhos de Ino se estreitaram. - E por falar nisso, ele não é jovem demais para você?

- Nem tanto. Sasuke deve ter uns vinte e dois, talvez dois ou três anos a menos que eu. Mas que importância tem isso? 

- Que importância tem?

Ino já completara vinte e oito, era divorciada e trabalhava na mesma companhia de seguros que Hinata. Durante dois anos as duas haviam sido datilógrafas no mesmo departamento, até que Ino fora transferida para a seção dos computadores. Pouco depois Hinata tivera a sorte de conseguir um posto bem mais alto, como secretária particular do vice-presidente da firma! Não era justo, Ino vivia repetindo a si mesma. E, como ela, todas as outras mulheres na firma também não se conformavam com a sorte de Hinata. 

Não era justo que alguém tivesse cabelos tão azuis e sedosos. Não era justo que alguém comesse tantos doces e pães e ainda continuasse parando o tráfego com sua silhueta atraente, curvilínea, sem um dedinho sequer de gordura fora do lugar. E havia mais: Hinata possuía olhos brancos maravilhosos, lábios carnudos na medida exata. Perfeitos para o beijo, como diziam todos os rapazes no departamento de Ino. E um nariz muito lindo e arrebitado junto com um queixo perfeito! Não era para menos que jamais sofria por falta de atenção do sexo oposto!
Mas não eram sós os predicados físicos que faziam de Hinata uma mulher atraente e insinuante. Ino não conseguia definir aquele "algo mais" que ela possuía, mas jurara a si mesma que no dia em que descobrisse ficaria milionária como "consultora feminina”!

- Acha que a diferença de idade faz alguma diferença, Ino? – Hinata insistiu.

- Para você, sem dúvida não - Ino respondeu sem entusiasmo. - Afinal o seu lema sempre foi ame-os e deixe-os, não é mesmo? Ou então, troque-os com tanta freqüência que não terão tempo de se ligarem em você.

- Ora, Ino – Hinata fez um gesto brusco demais, espirrando café em sua gravata nova. - Droga! Só espero que o resto do meu dia não continue assim - disse limpando a mancha com um guardanapo umedecido no copo d'água.

- Vamos começar hoje o relatório trimestral e o Sr. Uzumaki fica impaciente enquanto não o vê terminado.

- O Sr. Uzumaki é muito competente.

- Em que departamento, posso saber?

- Quer parar, Ino? - Hinata perdeu a paciência, levantando-se. - Acho melhor irmos agora ou vamos nos atrasar. Só faltam cinco minutos e eu já deveria estar no escritório.

As duas passaram pelo caixa e antes de sair vestiram os casacos abotoando-os até o alto.
Dezembro em Oklahoma era dos meses mais frios do ano, quando o vento gelado soprava cortante e impiedoso. Hinata só esperava que depois de tanto frio pelo menos tivessem neve pelo Natal, que seria dali a duas semanas.

- Lindo o seu casaco. – Ino olhou com certa inveja para o casaco de pele branco que Hinata usava. - É aquele que ganhou de sua mãe no último aniversário, não?

- Ele mesmo. Minha mãe é um amor, não acha?
Hinata parou, perdendo a paciência.

- O que há com você hoje? Acordou com o pé esquerdo por acaso?

- O que há? Faz três semanas que não sei o que é sair com alguém – Ino respondeu com uma risada amarga. - E, além disso, olhar para você todas as manhãs me faz sentir como um sapato velho pelo resto do dia - Ora, Ino. – Hinata riu, passando o braço pelos ombros da amiga enquanto caminhavam. - Anime-se, minha cara. O Natal está próximo e logo será outro ano. Já posso até sentir um cheiro excitante no ar!
Ino respirou fundo e em seguida deu de ombros.

- O único cheiro que sinto é de chuva de granizo.

- Oh, Ino! – Hinata riu apertando o passo. - Vamos mais rápido senão chegarei atrasada.

Muito antes de Hinata chegar à sua sala, Naruto Uzumaki já ouvira o barulho de seus saltos altos pelo corredor. Esperava-a na porta com um ar de quem se encontrava ali por acaso.

- Bom dia, Sr. Uzumaki. – Hinata o cumprimentou sorridente, indo direto ao fundo da sala pendurar o casaco. - Desculpe tê-lo feito esperar.

Naruto ajeitou os óculos de tartaruga sobre o nariz. A chegada de Hinata como sempre, o perturbava. A simples visão da saia leve de lã movimentando-se sobre os quadris enquanto ela andava era o suficiente para deixá-lo completamente atordoado.

- Tudo bem, Srta. Hyuuga. - Naruto caminhou até a mesa dela. - Já comecei a trabalhar nos relatórios. Na verdade quase cheguei a terminar alguns deles ontem à noite.

Hinata sentiu complexo de culpa. Pobre Sr. Uzumaki... Trabalhando até tarde enquanto ela estivera dançando com Sasuke. Bem, mas por outro lado ele até que recebia um bom ordenado. Um excelente ordenado, na verdade! Será que ela teria coragem de desistir de suas noitadas se ganhasse o mesmo que o chefe? Por certo que não. Dinheiro não era tudo, descobrira isso havia muito tempo. - Tratamos antes da correspondência, Sr. Uzumaki? - indagou, sentando-se. - Suponho que logo depois queira concluir aqueles relatórios que começou, não?
O Sr. Uzumaki concordou enfiando as duas mãos nos bolsos da calça. 

Ino o chamara de homem das neves e colarinho engomado, Hinata lembrou-se. Engraçado, mas ela nunca havia pensado nele daquela maneira. Sabia que a maioria dos funcionários da Sooner Fidelity tinha a mesma opinião que Ino, e achava curioso, pois noventa e nove por cento deles mal o conheciam. 

Aliás, duvidava que alguém conhecesse de fato o Sr. Uzumaki. Durante aqueles dois anos trabalhando para ele nunca o ouvira mencionar o nome de amigos ou parentes. O único assunto que conversavam era trabalho. O homem era obcecado pelo trabalho, nesse ponto Ino estava certa.

Até mesmo Hinata costumava vê-lo apenas como seu chefe e não como um homem. Mas naquele momento, talvez devido aos comentários de Ino, decidiu examiná-lo mais atentamente. Olhou-o por alguns segundos.

E não era que o Sr. Uzumaki tinha boa aparência? Constatou. Pena não ser mais descontraído ao se vestir.

Se usasse roupas modernas e cuidasse um pouco do visual, sem dúvida seria um executivo bastante atraente. Jamais se tornaria um Sasuke Uchiha, mesmo assim... Bem, cada homem tinha seu tipo, não?

Uns mais musculosos outros um pouco menos, o que não significava que não despertassem o interesse das mulheres, Hinata sentiu vontade de rir. Imaginava Ino vendo-a pensar daquele jeito sobre o Sr. Uzumaki! Diria que ela ficara doida! Colocando os óculos para leitura Hinata pegou a pilha de correspondência e começou a separá-la. Geralmente nessa hora o Sr. Uzumaki ia para a outra sala, onde ficava sua própria mesa, mas naquela manhã estranhou ao vê-lo ali parado, olhando para ela.

- Mais alguma coisa Sr. Uzumaki?

- Bem, eu... Sim! Gostaria de ter uma conversa com você antes de começarmos, Srta. Hyuuga .

Ele lhe parecia tão sério que Hinata ficou preocupada. Apesar da vida agitada que levava e dos inúmeros compromissos e encontros com rapazes, costumava ser uma secretária extremamente eficiente e responsável. Na verdade, esforçava-se sempre para ser a melhor dentro da Sooner Fidelity.