II

Lembro-me de acordar com uma dor de cabeça insuportável. Onde eu estava?

Analisei todo o quarto, era uma espécie de sela. Úmida, fria e horrenda. Digna daquelas selas de filme de terror.

Onde estaria meu príncipe encantado para me salvar desse horrível pesadelo. Onde estaria meu Kaname-senpai?

Um homem estranho entrou na sela, em um canto qualquer me encolhi com medo.

– Que bonitinha ela está com medo. Medo de mim ou medo de nunca mais ver Kaname? Só para adiantar você nunca mais irá ver aqueles seus amiguinhos Sangue Puro. – gritou ele dando ênfase no nunca.

Eu nunca iria ver Kaname-senpai novamente? Mas por quê?

O que fiz para eles me odiarem tanto? Ou melhor, o que Kaname fez para eles o odiarem tanto.

– Mentira! Ele irá vir me salvar! – gritei tentando esconder meu obvio desespero

– Larga de ser idiota garota! Você acha que ele vai arriscar sua preciosa vida para vir buscar um lixo como você? Agora, ele deve estar procurando outra idiota como você para ser sua “protegida”.

Comecei a chorar ao ouvir essas palavras. Kaname-senpai nunca iria me abandonar, ele me amava.

Ou achava que me amava.

Ele saiu rindo. Como se fosse a melhor coisa me ver chorando.

Não havia nada que podia fazer para evitar isso, então resolvi chorar toda água existente no meu corpo, já que todos ali me odiavam.

Claro, eu achava que todos me odiavam ali até conhecer ele.

–x-

Resolvi andar pelo palácio. Já que havia terminado tudo que havia me proposto.

No caminho, me encontro com Yagari. Ele ria miseravelmente, com certeza havia torturado alguma criancinha indefesa ou coisa pior.

– Posso saber a piada Yagari?

– Pode. Ela se chama Kuran Yukki.

Kuran. Esse sobrenome não me era estranho, mas não me lembrava de onde o conhecia.

– O que fez com a coitadinha? – perguntei rindo

– Nada. Apenas falei que nunca mais iria ver o seu amado e ela tá chorando.

– Isso é cruel. – ri da expressão de “e eu me importo?” de Yagari.

– Cruel irá ser você. Terá que vigiar ela, no caso dela revoltar. Ah, não a mate. Tenho outros planos para ela...

Merda. Agora irei ser babá da protegida do Kaname? Não sei quem me dá mais vontade de matar ela ou ele.

Se bem, que ela seria bem mais interessante...

Fui andando pelo palácio. Ouvi a mesma barulheira de sempre, mas choros?

Entrei naquela sela e a vi.

Seu choro era estridente e quando cheguei, ela me olhou com os olhos cheio d água.

Melancolia ali ao extremo.

– Tá. Porque está chorando? – perguntei

– Não irá me matar não é? – perguntou ela assustada.

Sua voz era calma e doce. Ela tinha traços delicados, parecia um pequeno anjo.

Ela era linda.

Merda. Porque estou pensando essa viadagens? Estou até parecendo o Kaname.

– Não tenho motivos para te matar. Ainda...

Ela me olhou ainda mais assustada. Era tão legal ver essa expressão no rosto das pessoas, principalmente se elas eram Sangue Puro.

– Como você se chama?

– Kiryuu Zero.

Ela começou a rir. Será que ela tinha algum problema? Rir logo da minha cara?

Mas a risada dela era gostosa, parecia com a de um rato.

Nunca tinha visto seu sorriso, era lindo. Assim, como a dona do mesmo.

Mas que coisa, porque estou pensando essas coisas?

– Zero? Porque Zero? – perguntou ela ainda rindo

Minha vontade era responder: Porque minha mãe quis assim. Mas se bem que ela tinha razão. Porque Zero? Não teria um nome melhor?

Ao pensar nisso, comecei a rir. Nossa! Eu ainda sei rir?

– Eu não sei...

– Parece que sua mãe era professora e quis homenagear os números.

A olhei demoradamente. Era uma piada tão retardada e infantil. Mas era bom vê-la rindo, me fazia bem.

Quando ela percebeu que eu a observava ela ficou vermelha.

Ela era muito fofa. Mas que raios estava me dando?

Saí dali antes que começasse a falar alguma viadagem. Fui até o jardim e me sentei na arvore mais isolada

O que essa garota tem que me deixa desse estado? Mesmo a conhecendo hoje, ela aguçava meus instintos vampiros e claro, o de homem.

Eu. Um psicopata, hobbie: sentir prazer em ver as pessoas sofrendo, se apaixonar por uma estranha cuja é namorada do meu inimigo?

Maldito poder de sedução que essa espécie tem.

Escureceu. E ver aquele anoitecer daquela parte do palácio não era a coisa que chamamos de, ahm, bonita.

Dei uma passada no quarto dela. Mas estava fechado.

Fiquei encostado na parede que fica ao lado da porta. Ouvia apenas choro de lá.

Ela tinha um cheiro bom.

Minha curiosidade novamente atacou, uma vontade de vê-la tomou conta de mim. Abri a porta lentamente.

Ela estava deitada em sua cama. Dormia angelicalmente com alguns fios de cabelos me seu lindo rosto. Mas que coisa, porque ela tem que ser tão fofa?

Tirei alguns fios de seu rosto, com meu polegar acariciei seu rosto. Ela fez uma careta fofa e acordou.

– O que está fazendo? – perguntou ela esfregando suas mãos em seus olhos.

– Nada. - disse com tedio

– Qual é o seu nome mesmo? Quatro, não, seria cinco? Não acho que era sete... – disse ela confusa com meu nome.

– È Zero...

– Isso Zero! – gritou ela parecendo feliz por ter acertado meu nome. Corei brutalmente com isso, ela apenas disse meu nome, mas pareceu tão verdadeiro, amoroso.

O que estava acontecendo comigo? Estava me apaixonando por ela? Isso seria possível.

Eu nasci da raiva e o ódio. Nunca consegui amar ninguém. Nem minha própria família, porque estaria apaixonado por uma coisa dessas?

Jamais consegui conhecer o significado da palavra amor.

Mas isso já estava começando a mudar.

– Er, já está tarde. Garotas não devem dormir tarde porque,ahm, precisam acordar lindas de manhã cedo. – disse envergonhado.

Mas que merda de frase foi: “garotas não devem dormir tarde porque precisam acordar lindas de manhã cedo?”

Essa garota confundia meus pensamentos.

Sai correndo dali e ela riu da minha expressão.