03 de Setembro de 2005.

Levantei rápido da cadeira, e com raiva, fazendo com que a mesma caísse no chão. Encarei o vidro de uma cabine que estava um pouco acima de mim, mostrando os indivíduos que estavam me interrogando. A luz estava colocada na cabine, a um ponto que eu apenas conseguia ver a sombra deles.

Não consegui ver perfeitamente suas silhuetas, por causa do desfoque do vidro, tendo como resultado a não identificação de quem estava por trás daquele vidro.

"Hoje é dia 03 de Setembro de 2005. Faltam 13 dias para seu aniversário, e 26 dias para o dia em que, supostamente, o Nosso míssil estará pronto" - Disse a voz grave. "Você traiu o governo americano. Quem te mandou para roubar o mísil quando o mesmo estivesse pronto?" - Concluiu, fazendo uma pergunta.

Fiquei em silêncio, apenas olhando para a cabine. Encarava constantemente aquele lugar, que não possuía portas. Apenas uma passagem para um pequeno banheiro, uma pia para beber água, uma pequena mesa em um canto, e uma luz apena no centro, quase iluminando o lugar. Além de uma pequena passagem posta na parede, provavelmente para passar objetos.

"Você está preso como um rato, Snarkii. Para pegar o queijo, você precisa nos responder a algumas questões" - Disse a voz, agora com um tom levemente ameaçador.

"Por que você não suspeitou desde o começo que Killer escondia informações sobre o Projeto para você? Afinal de contas, para você, o Projeto Snark e o Míssil Snark II é a mesma coisa para você, não é?" - Disse a voz, com um tom irônico.

Olhei para o nada, assustado e surpreso. Sim, eu até suspeitava um pouco... Mas confiava em Killer. Ele é especial para mim, nós somos como irmãos. Ele nunca iria fazer algo comigo.

"Confio em Killer. Ele nunca mentiria para mim" - Disse, enquanto olhava para baixo. Risos foram ouvido da cabine. Até me lembrou... Os risos foram interrompido por uma voz fina, também modificada por aparelhos especializados. "Snarkii, como você é ingênuo" - Disse a voz fina.

"Não foi o Killer que disse: Nunca abaixe sua guarda?" - Perguntou a voz grave - "Ele deve estar decepcionado com você agora" - Concluiu.

Olhei para baixo e pensei melhor. Mas afinal de contas, o que foi tudo isso que aconteceu desde que eu cheguei na favela? Foi o único momento em que eu parei para pensar sobre tudo...

Talvez Arbok não fosse maligno, talvez o Comando Vermelho não fosse nossos inimigos. Por que Killer mentiu ao dizer que não matou Stryker, sendo que eu vi claramente? E quem era aquele que estava com Arbok na moto, no dia do Irking's Frad?

Minha cabeça doía, enquanto pressionava minha mão na testa. "Está doendo Snarkii? É natural, acredite. Nós fizemos com que isso acontecesse" - Disse a voz grave.

"Quem são vocês!?!?" - Gritei, enquanto olhava para a cabine. "Nós somos o que você não foi" - Disse ambas as vozes, ao mesmo tempo.

Me aproximei da cadeira, coloquei-a em pé, e me sentei, numa tentativa desesperada de amenizar uma dor, uma dor que nunca senti em minha vida inteira.

Reparei em um aparelho que passava pelo pequeno buraco, posto no meio da parede, a mesma parede que aparecia a cabine. Me aproximei de tal objeto, enquanto a voz dizia: - "Esse é um aparelho de choque. Encoste em seu braço esquerdo e aperte uma vez. Uma dor terrível aparecerá, porém, a dor de cabeça irá diminuir pouco a pouco. Faça isso cinco vezes, e a dor desaparecerá de imediato".

"Por que eu deveria confiar em vocês?" - Perguntei, enquanto encarava tal aparelho. "Porque é sua única opção" - Disse a voz, respondendo a minha pergunta.

"Errado. Eu tenho outra opção, que é não confiar em vocês" - Disse, com um tom sarcástico e óbvio.

- Na verdade, você só pode confiar em nós - Disse a voz.

- Não - Respondi.

- Afinal de contas, para você que confiou em pessoas como Killer... Deve ser fácil manipulá-lo.

- Huh.

- Deixe eu te ensinar uma coisa, Snarkii. As pessoas não são quem elas aparentam ser. Uma pessoa considerada boa, pode ser a pior pessoa do mundo. Pessoas corrompem pessoas. É como Killer disse: Nunca abaixe a guarda para ninguém. Mas eu, pessoalmente, lhe direi uma coisa diferente: Nunca abaixe a guarda para Si mesmo.

- ...

- Faremos o seguinte... Deixe eu te explicar: Aqui, só te damos uma chance. Sua única chance de sentir menos dor foi embora. - Disse ele, enquanto uma mão aparecia na pequena entrada e pegava de volta o aparelho de choque.

- Huh? - Perguntei, enquanto antes encarava tal aparelho.

- Qual é o mais importante para você? Sua esposa ou seu melhor amigo? - Perguntou a voz misteriosa, enquanto ria baixinho.

- Han!?

Após ele falar aquilo, uma arma familiar, M1911, foi passada pelo pequeno buraco. Segurei ela e mirei para a cabine. "Não vai adiantar nada" - Disse a voz grave - "O vidro é à prova de balas, ele nunca quebrará com um simples tiro de pistola" - Concluiu.

Nesse instante, se abriu uma passagem na parede, como se fosse uma porta. E de fato, era uma porta, daquelas modernas que abriam uma passagem automática, porém estava disfarçado. Stell apareceu, sendo jogado no chão, enquanto uma corda enrolava suas mãos juntas, encostadas em suas costas.

Aproximei-me dele, e me ajoelhei a seu lado, segurando forte sua mão. "Está bem amigo!?" - Perguntei, enquanto antes de terminar, ele respondia com um "Sim, obrigado".

Nos levantamos, abracei Stell, lembrando do pedido de Ekan: "Proteja meu irmãozinho, ele é como um filho para mim". Terminando o abraço, ouvi novamente a voz, dizendo: - "Olhe para a cabine e ouça".

Olhamos, e ninguém apareceu lá. A luz mudou de direção e de intensidade, e pude ver claramente Gih, desesperada. "Thiago!! O que está acontecendo!?" - Gritava ela, enquanto um dos homens, cuja máscara tampava o rosto, segurava ela pelos cabelos.

Me ajoelhei, não acreditando no que via. Ela chorava de desespero e angústia, batendo constantemente no vidro, tentando quebrá-lo, porém obviamente foi em vão.

"Se você percebeu, um relógio foi colocado em seu braço esquerdo. Agora são 15:58 em ponto. Você tem apenas dois minutos, para decidir quem sai vivo. Mate seu amigo, e liberamos sua esposa. Não faça nada, e mataremos ela, deixando seu amigo vivo. Escolha" - Disse a voz.

Uma mistura de sentimentos passavam sobre meu ser. Fiquei paralisado, olhando para o nada, pensando no que fazer. Tentava pensar, e tentava não pensar. Ninguém conseguiria escolher claramente numa situação dessas.

Usei meu braço direito para socar a parede, com raiva de mim mesmo. Olhei para baixo e lágrimas caíam de meus olhos. "Snarkii! Me mate, rápido!!" - Gritou Stell, enquanto olhava para mim. Virei-me e observei o valente homem, que entregava sua vida em sacrifício.

Encarei-o, enquanto uma única lágrima caía de seu olho esquerdo, ao mesmo tempo que olhava para baixo. "Falta um minuto" - Disse a voz, provavelmente feita pelo homem, que pressionava uma arma no rosto de Gih.

"Minha vida foi vazia, assim como minha alma" - Disse Stell, se preparando para sua própria morte, que era seu desejo - "Me matar agora, vai me liberar dessas correntes que lutam contra minha liberdade" - Concluía, enquanto ainda olhava para baixo.

Virando sua cabeça em minha direção, e mostrando as inúmeras lágrimas que estavam em seu rosto, ele terminou, dizendo: - "Me mate logo Snarkii! Minha morte não será em vão!".

"30 segundos" - Disse a voz. Tremia, como nunca antes na minha vida. Segurei minha arma com força, deixando escorrer uma lágrima minha nela, de ódio e de angústia. "Não posso" - Disse para Stell, enquanto o mesmo ficou parado na minha frente.

"15 segundos" - Disse novamente a voz, contando os segundos restantes. "Vamos logo Snarkii! Não deixe sua esposa morrer!!" - Gritou Stell, chorando ao mesmo tempo.

"10 segundos" - Alertou a voz grave, quase rindo. Mirei minha arma em direção a Stell, que olhava para cima e fechava os olhos com força, sorrindo. "Stell..." - Disse, chorando. "Vai logo... Snarkii..." - Disse ele, cuchichando, enquanto mostrava um leve sorriso.

"Acabou seu tempo, Snarkii".