Sexto Sentido escrita por sassaricando


Capítulo 3
Virando a mesa


Notas iniciais do capítulo

Keep walking, Johnny Walker!
Faberry's on, ladies!
Vamos em frente e sem esquecer que Glee ainda é do mal comido do Murphy.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/179584/chapter/3

Marlon Brando se rindo sentou numa das cadeiras vagas com suas cachorras de guarda. Isso era simples, todas as mesas eram pra seis, então ele não teve que puxar uma cadeira, já que mal conseguia segurar uma xícara de café. Me pergunto que tipo idiota de fantasma é esse, não sabe fazer nada direito, mas enfim. A questão é que ele estava no auge de sua falta de semancol, sentado e jogando o seu peso na mesa, em minha direção.

"Por que você está falando com Pinóquio, Franz?" A cachorra número 2 – a morena, caso se percam – soltou com veneno. Eu cerrei os punhos em baixo da mesa, claro, não queria chamar a atenção deles. Aproveitei o momento para colocar nosso bilhete amassado dentro das minhas novas calças caras e inimigas da circulação. Noah não foi discreto como eu e socou a mesa mais uma vez. E ainda dizem que sou eu que gosto de atenção... Coisa que ele conseguiu, já que o café, um pouco cheio, resolveu nos olhar mais uma vez. Nós poderíamos andar com letreiros fluorescentes também, daria pro gasto. Olhei pro Noah com raiva que teve a decência de baixar o olhar.

"Fica quieta, Amy, não está vendo que eles nos vêem?" Marlon Brando respondeu sorrindo "Só acho que eles estão num encontro romântico e não querem ser interrompidos." Ele riu novamente e as cachorras resolveram sentar à mesa. Noah abriu a boca para rebater, coisa que Marlon acompanhou com uma atenção extrema, mas fui mais rápida.

"Você está certo sobre não querermos companhia e errado sobre o encontro." Disse fria, enquanto tomava o café.

"Ah, eu conheço você! Você não é aquele que pegava a Satânica?" Disse a cachorra morena Megan Fox.

"É Santana e é ele sim." Respondi olhando Noah, antes que ele resolvesse socar qualquer outra coisa. Seu rosto vermelho só poderia ser confundido com catapora, febre ou raiva e o quadro me levava a escolher a última opção.

"Hum... e você é essa tal por acaso?" Megan Fox perguntou tentando soar desinteressada. Vadia inútil, nem sabe atuar.

"Não." Foi o que Noah disse firme e seco. Enquanto a ruiva Shirley Manson nos olhava ininterruptamente e eu tentava por tudo não olhar em sua direção. A frieza e fascínio do seu olhar me traziam memórias desnecessárias no momento. Marlon se esgueirava cada vez mais em meu espaço.

"Por que vocês nos vêem?" Shirley nos brindou com sua voz firme, rouca, sombria e talvez um pouco curiosa.

"Porque vocês estão mortos." Noah afirmou como se fosse tão óbvio quanto o meu talento.

"Não perguntei 'por que só vocês nos vêem', quis saber por que conseguem conversar conosco, se nós estamos mortos, como gosta de afirmar." Ela explicou olhando em minha direção. E eu tremi. Ok, a voz dela poderia carregar bem um dueto, não era graciosa como a de Quinn, mas era misteriosa, como ela.

"Nós não 'gostamos de afirmar', é simplesmente a verdade. E porque nós somos mediadores e conseguimos ver e conversar com os mortos." Disse e desviei o olhar, ela sabia ser... o que quer que ela fosse.

"E bater também." Noah completou. Marlon a essa hora estava hipnotizado e, para provar nossa tese, tocou o meu braço. O que me fiz virar a cabeça tão rápido quanto a menina do exorcista e Noah levantou-se depressa, derrubando a cadeira.

"Que porra?" Ele gritou. E se os clientes que estavam tentando nos ignorar, agora prestavam rara atenção, o que fez o dono do café vir a nossa mesa e perguntar o que estava acontecendo. Claro, eles não podiam ver os mortos e resumiram que Noah estava me destratando.

"Posso saber o que está havendo aqui, jovem?" Ele disse olhando pra Noah. Marlon olhou para a interação com um sorriso que eu me segurava para não quebrar. Shirley continuava me encarando curiosa e me deixando nervosa. E Megan estava com uma expressão de nojo na cara de pau. Eu olhei pra Noah pedindo para ele segurar o gênio. Em vão, fatalmente.

"Estou conversando, algum problema?" Disse com autoridade pro velho. Marlon se cruzou e se aconchegou na cadeira. As outras duas mantiveram suas mesmas expressões.

"Todo problema, rapaz, não é assim que se trata uma moça aqui ou em qualquer lugar e você está assustando meus clientes." O dono disse se sentindo um herói. Hora de Rachel Berry entrar em ação.

"Qual é o problema que seus clientes vêem na minha conversa com meu namorado, posso saber?" Disse bem alto ao me levantar e cruzar os braços bancando sou-mulher-de-malandro-sim-e-gosto-e-você-o-que-tem-com-isso? , só me faltaram os chicletes. Já que Noah queria nos expulsar, vamos fazer bonito! O velho simplesmente balançou a cabeça não acreditando.

"Vocês dois, saiam do meu café, antes que sejam expulsos." Ele disse grave e enfatizando. Velho abusado. Enquanto isso, nossos fantasmas não tão camaradas nos encaravam. Shirley olhava admirada, Marlon sorria de braços cruzados e Megan estava com cara de prisão de ventre, provavelmente por tentar parecer concentrada o suficiente pra tentar mexer os talheres na mesa por telecinética. Coisa que ela não conseguiu porque, de novo, era uma inútil.

"Então isso que o senhor está fazendo não é expulsar? Ora, ora, eu realmente acreditei por um minuto. E eu adoraria saber quais seriam os motivos que os seus clientes teriam para nos querer fora desse estabelecimento." Me virei desafiando qualquer um a responder, quando passei os olhos por nossos colegas de mesa, Shirley e Marlon olhavam como quem estava assistindo a um espetáculo, essa é Rachel Berry, bitches! "Porque, se eu não me engano, nós poderíamos conversar sobre a ACLU, se o senhor conhecer algo sobre direitos, quero dizer." Disse audaciosa para o coroa.

"Ora, mocinha..." Antes que o velho pudesse se defender em vão, Noah me puxou pelo braço e foi me carregando até a saída, onde colocamos nossos óculos e eu estava puta. Isso tudo com as sombras em nossos calcanhares.

"Qual foi o problema, Noah, eu ia ganhar aquela discussão? Ele estava errado e não tinha para onde fugir." Disse exasperada, batendo o pé no chão. Isso não é porque sou mimada, simplesmente porque tenho a síndrome das pernas inquietas.

"Rach, nós não precisamos de mais atenção, precisamos? Já temos três aqui." Ele falou e então fui ver que o triângulo das bermudas e saias já estavam atrás de nós.

"Bem, se você não desse uma de Finn e quisesse bater em coisas, talvez nós não tivéssemos tido tanta atenção." Defendo meu ponto até o fim.

"Dessas três eu não sei como me livrar, você sabe?" Depois de dizer isso, passou uma sombra por seu rosto e um sorriso de canto de boca se firmou. Ótimo, ele estava pensando em quebrar – não exatamente – os fantasmas na frente do café do qual acabamos de ser expulsos. Ele não quer chamar atenção e eu não quero ir pra Broadway. Aham.

O olhei com força pra que ele soubesse que essa idéia era tão possível quanto esperar que o Sr. Shuester pare de arruinar a minha vida. Pelo menos teríamos que colocá-la em espera.

"Wow! Foi um show e tanto lá dentro." Marlon nos brindou com sua voz da qual eu não sentia a menor falta. "Você é muito boa, menina, muito mesmo." Ele disse, me olhando de cima a baixo. Se ele achou que o duplo sentido da sua frase ficou implícito, ele estava fazendo isso errado.

"Olha como fala com ela!" Antes que eu pudesse me defender, Noah já o segurava pelo colarinho enquanto rangia os dentes em sua cara morta e pálida.

"Calma aí, rapaz, achei que vocês não estivessem namorando..." Brando bradou se achando o máximo. E, claro, coube a mim fazer Noah soltá-lo, já que os clientes do café ainda estavam nos olhando pelas janelas imensas.

"Noah, solta ele, não vale a pena e nós vamos nos atrasar..." Disse em seu ouvido e, acreditem, surtiu efeito. Noah o soltou aos poucos. Me virei para Brando.

"Nós não namoramos, mas isso não te diz respeito. Agora, em que podemos ajudá-los?" Disse apressadamente, antes que as coisas dessem errado – mais uma vez.

"Vocês, por acaso, estudam no Mckinley?" Disse Shirley.

"Não. Por que?" Respondi antes que Noah revelasse algo.

"Como não, se o seu bad boy namorava Santana?" Ofereceu Megan.

"O Mckinley não é o único colégio de Lima." Noah disse sério, porém mais calmo.

"Por que?" Essa fui eu.

"Porque nós precisamos acertar umas contas com pessoas que estudam lá. Algumas cheerios." Disse Brando, se sentindo maquiavélico. Ok, ele realmente parecia. Essa frase mexeu com meus botões e eu estava bufando quando ele terminou, pronta para o ataque. Dessa vez, foi Noah que me acalmou ao passar a mão em meu braço. Olhei pra ele e concordei com a cabeça – claro, eu adoraria torcer o pescoço desse abusado que se achava o presente de Deus para a vida, semi-vida, que seja, mas não podíamos chamar atenção, não agora.

"Espera, você namorou Santana, sabe onde ela mora, né?" Megan disse para Noah como se fosse a melhor idéia a passar pela cabeça de um ser humano até o momento. Fantasmas idiotas.

"Não. E nós não namoramos, estávamos apenas nos pegando e nem durou tanto tempo assim. Por que?" Noah falou mais calmo do que eu estava.

"Hum... Nós queríamos falar com ela..." Megan continuou baixo, em tom de segredo, o que só serviu pra esquentar mais meu sangue já entrando em ebulição.

"Bem, não podemos ajudá-los agora e estamos atrasados pra aula. Sinto muito" Embora o 'sinto muito' tenha sido por dentes trincados, Noah se comportou muito bem, melhor que eu poderia no momento, admito.

"Ok, foi bom conhecê-los..." Marlon ofereceu a mão esperando que apertássemos. Rá, esse morto não tem noção do viver!

"Puck e Rachel." Isso foi Noah de novo. Eu estava muda enquanto Shirley me encarava atenta.

Marlon acenou com a cabeça e tentou não parecer ofendido com o fato de não termos apertado sua mão morta e fria, mas não comentou. Até porque estávamos andando para a picape de Noah, então mesmo que ele expressasse seus sentimentos feridos, nós não estávamos vendo porque não estávamos nem aí mesmo.

"Ok, Puck e Rachel. Foi um prazer e nos vemos por aí." Ele disse e eu senti seu sorriso venenoso enquanto nos via entrar no carro. Eu os olhei andarem pelo retrovisor até desaparecerem no ar. Isso até Noah arrancar e sair cantando pneus. Uma ótima manhã para combinar com uma noite não dormida. Algo me dizia que o dia no Mckinley não seria muito melhor que isso. E não é pessimismo, apenas sexto sentido. A única coisa que nunca me abandonou até aqui.

xXxX

Noah estava agarrando o volante com tanta força que achei que ele ia arrancá-lo do carro, mas permaneceu quieto e eu também, já que não estava muito calma, ou num humor melhor. Ele foi dirigindo até chegar próximo da escola. Olhei o relógio da picape que marcava 8:45h, o que dizia que tínhamos perdido a primeira aula e tínhamos cinco minutos para entramos na segunda. Ele me olhou e a pergunta, tanto quanto o seu desejo de não ir à escola nesse estado, ficaram implícitas em seu olhar. Eu realmente me importava em manter minhas notas e aproveitamento em 100%, mas como eu não estava exatamente em paz – o que dava pra perceber pelo fato de eu estar me balançando como um pêndulo -, apenas o olhei nos olhos e liguei o rádio. O que ele também entendeu. Essas nossas conversar mudas sempre me surpreenderam e me davam uma sensação gostosa de familiaridade.

Continuamos rodando por Lima, até que ele disse.

"É melhor irmos, não? Por mais que eu odeie a escola, é bom distrair a mente e eu não consigo parar de pensar nesses desgraçados por mais que rodemos."

"Uhum." Concordei porque me sentia do mesmo modo, mas estava cansada também "Vamos tomar mais um café antes? Eles tiraram a minha energia com aquele papinho mole de querer conversar com elas."

"Uhum." Foi a resposta dele.

Passamos pela Starbucks e pedimos dois cafés pra viagem. Pensei e pedi um gelado dessa vez, caso Noah resolvesse me brindar com seus comentários desagradáveis e algo me fizesse tossir, não queimaria a língua novamente. Seguimos para o Mckinley às 9:20h e nos sentamos por um tempo no carro. É, teríamos que conversar. Ele quebrou o gelo enquanto bebericávamos nossas 700ml de café. Ainda bem que tenho um coração bom e ele não tem um para se preocupar com isso, ou estaríamos enfartando dada a quantidade de cafeína ingerida em menos de 3 horas.

"Nosso plano está de pé, princesa judia?" Ele perguntou ajeitando os óculos e soltando o cinto.

"É, não é como se tivéssemos muitas opções, né?" Respondi, pouco convencida.

"É..." Ele ficou mudo por alguns segundos e seguiu "E o Finn, pensou sobre isso?" Disse incerto.

"Um mal de cada vez, punk. Nós cruzaremos essa ponte se e caso seja necessário." Disse sincera. Finn não estava na minha cabeça no momento, como não estava fazia tempos. Era hora de eu tomar uma atitude quanto a isso e essa história toda de Quinn, fantasmas, noite em claro e cafeína me deram a força de vontade e clarearam a minha mente o suficiente para que eu percebesse isso. Não era justo me prender a ele e nem deixá-lo preso a mim. Não quando eu não pensava nele como namorado, não sonhava acordada com o momento de vê-lo, ou beijá-lo, ou até mesmo cantar com ele – e isso sempre foi a maior prova de que duas pessoas pertencem uma a outra, quando as duas vozes se combinam a ponto de se tornarem uma -, mas eu não pensava em duetos para nós dois desde quando cantei com Quinn e isso me doía admitir, mas era hora de ser sincera comigo, com ele e com meus sentimentos. Mesmo que nunca, nem em um milhão de anos, Quinn fosse querer algo comigo – nada além de me esganar – era hora de ser uma mulher e ver o que iria acontecer e me preparar para isso. Noah me observava sorrindo doce. Então saiu do carro, deu a volta e abriu a porta para mim. Me ofereceu o braço e eu sorri.

"Acha que isso é o suficiente para o Finn querer me acertar e gritar na nossa cara?" Ele perguntou divertido. E me fez sorrir ainda mais.

"Você o conhece. E, caso não seja suficiente, a Rachel que ele conhece não é mais a mesma. E se ele cruzar certos caminhos, ou apertar meus botões, vai sentir como as coisas mudaram." Falei igualmente leve pra ele enquanto andávamos segurando nossos cafés e de braços dados em direção aos portões do Mckinley.

"Hum... Isso vai servir pra melhorar nossa imagem com a cheerios, né?" Ele disse rindo, pensando na menina que ele conhecia enquanto era o meu melhor e único amigo, uma menina que não deixava nada ou ninguém passar por cima dela e das coisas que ela amava – contando com ele – e não tinha o menor problema em partir para a briga se a situação pedisse. É, ela estava de volta e com força total.

"E pra destruir nossa imagem com a diretoria da escola." Disse igualmente rindo.

"Bah, quem liga pra isso? Somos superstar e punk e estamos de volta pra ficar!" Ele disse empolgado e isso me lembrou do garotinho que conheci há tantos anos e nunca falhou em me fazer sorrir. Sorri de volta.

"Estamos de volta, punk. Vamos ver se eles conseguem lidar conosco." E dei-lhe meu sorriso diabólico que ele retribuiu.

"Eles não perdem por esperar, Rach. Não perdem." Disse cantarolando e entramos pelos portões da escola. Assim, de braços dados e sorridentes. Claro, o sorriso não duraria muito, mas foi uma mudança boa entrar me sentindo no topo do mundo e pegando as rédeas da minha vida novamente. Sem mais acatar as porcarias que jogavam em cima de mim, a falta de educação e o bullying, essa nova Rachel Berry estava cheia de si.

Seguimos pelo corredor principal como dois vencedores quando o sinal tocou marcando o final da aula e os corredores se encheram de pessoas correndo para pegar o material e mudar de sala. Jogamos nossos copos vazios de café fora e levantamos a cabeça para a marcha. Confesso que me senti bem comigo quando vi que algumas pessoas – meninos e meninas – pararam para me olhar e ficaram de queixo caído. Veja bem, eu sempre soube que era bissexual e se isso não for perceptível pelo meu crush de dez anos na Quinn – acho que nunca vi um crush tão duradouro na vida -, seria a partir do momento que meu primeiro beijo foi com uma garota. Mas isso é história pra outra hora. Noah estava me dando seu sorriso satisfeito como quem diz 'não te disse que você ia fazer sucesso?' e eu sorri pra ele, sorri de verdade. Até que fomos para nossos armários, um tanto quanto distantes, não antes de ele me dar um beijo na testa. E o meu, coincidentemente, era ao lado do da Quinn, que estava lá com Santana e Brittany. Respirei fundo tentando me acalmar – é ridículo o fato de eu não me sentir nervosa em apresentações, em palcos ou em seminários e ela conseguir me fazer parecer um animal assustado de tanto nervosismo. Superei – ou melhor, tentei disfarçar esse fato – e falei com elas.

"Bom dia, Quinn, Santana, Brittany." Falei na minha melhor voz amigável. Que apenas Brittany respondeu enquanto Quinn me olhava de cima a baixo – e, a esse ponto, eu estava experimentando um ataque cardíaco, certeza. Mãos suando, corpo quente, coração pulando a mil, e eu deveria estar vermelha como sangue, dada a quantidade dele que subiu direto pro meu rosto.

"Ora, pequeno hobbit, o esquadrão da moda te seqüestrou?" Santana soltou depois de Brittany me dar um animado "Oi, Rachel, você ta tão diferente".

"Hum?" Foi o que consegui responder enquanto Quinn ainda me olhava e eu abaixava a cabeça. Isso até Noah chegar perto de mim e colocar a mão em meu ombro, me fazendo virar tão rapidamente que quase fui de cara no chão.

"Calma, Rachel, sou só eu, não precisa se assustar." Ele disse com seu sorriso venenoso, percebendo que eu estava nervosa e por qual motivo "Pegou seus livros já?" Ele disse com seus livros na mão e com um sorriso, percebendo claramente que eu não tinha pego e por qual motivo. Ignorei isso "Aqui, peguei um pra você, pra ver se esfria sua cabeça." E me deu uma raspadinha. Coisa que deve ter sido mal interpretada, já que Santana não perdeu tempo em acrescentar.

"Ora, nanica, eu sei que Finnpotente é um grande retardado, mas vocês mal voltaram e eu posso dizer às custas do nosso título das Nationals e você já está fazendo sacanagem com Puck? Eu até entendo o fato de ele ser tão idiota, Deus! Ele já passou de idiota pra uma perda de tempo no mundo. Eu não me importo com os sentimentos dele, nem com os de vocês, mas creio que ele não vá gostar disso." Ela disse nos olhando de baixo pra cima e apontando com um indicador, com seu famoso infame sorriso diabólico nos lábios.

"Santana, eu agradeço pela sua preocupação com os meus relacionamentos, mas, veja bem, isso não te diz respeito. Minha relação com o Noah é apenas uma bela e antiga amizade, não há conotação ou apelo sexual nenhum. E o Finn tem que entender isso, já estamos..."

"Tenho que entender o que, Rach?" Finn Hudson se materializou atrás de mim, me fazendo me virar novamente. Se eu não quebrar o pescoço hoje, não quebrarei nunca mais. As pessoas insistem em me assustar e, como os últimos eventos não estão ao meu favor, isso não tem sido uma tarefa muito difícil. E então ele percebeu minhas roupas diferentes, os óculos de sol prendendo meus cabelos, a mão de Noah no meu ombro, uma raspadinha na minha mão, as cheerios do meu lado. E acho que a soma disso tudo tocou algum sino em sua cabeça – enfim, ele não era tão idiota sempre -, ele ficou com raiva, vermelho e cerrou os punhos. É, o show começaria em breve.

Noah que estava com a mão em meu ombro, retirou-a como se eu estivesse pegando fogo, talvez estivesse. Santana continuou com seu sorrisinho não solicitado, Brittany olhou como se não estivesse entendendo a situação e a cara raivosa de Finn e eu, por mim, não posso culpá-la, também não estava entendendo muito. E Quinn continuou a me olhar, depois olhou Noah e Finn.

"Que porra, Rachel? Onde cacetes você passou a noite? Eu te liguei em casa e no celular e você não atendeu. Vamos lá, o que eu preciso saber? Vai ter a decência de me responder, ou não?" Ele disse gritando e chamando a atenção da maioria dos estudantes que estavam nos corredores. Se fosse a Rachel que ele conhecia, ela estaria se desculpando e se explicando a essa hora, mas essa que estava pra ficar não poderia se importar menos. Noah me olhou com um olhar nervoso com a pergunta implícita 'fico, ou saio?'. Eu me virei para Quinn, agora não mais nervosa por sua presença, mas enraivecida pela audácia de Finn, que quebrou nosso ótimo momento de tentar uma amizade.

"Você pode segurar isso pra mim por instante, Quinn?" Perguntei lhe entregando a rapadinha de uva mais calma do que estava, até porque ela não tinha nada a ver com a ignorância do Finn. Ela pegou em um aceno de cabeça e Santana soltou algo parecido com "Agora a Berry vai se desculpar até por ter nascido. Pfff, esses dois me irritam." Virando-se pra Brittany e segurando sua mão.

Me virei também e cutuquei Finn.

"Posso saber por que você está me acusando e de que, especificamente? Não, eu não estava em casa e saí sem celular, coisa que, claro, você e, como fez o favor de gritar no corredor, a escola toda já sabe. Qual é o seu problema com discrição? Não podia me chamar pra conversar em particular? Precisa desse show mesmo, Finn?" Respondi audaciosa pois me sentia assim e se ele acha que pode chegar me dando patada à seu bel prazer, está muito enganado. Percebi que ele não gostou muito da minha resposta já que ficou ainda mais vermelho e começou a se aproximar de punhos cerrados. Mas, diferente dele, as cheerios do meu lado pareceram gostar da interação, tanto que Santana se virou com Brittany e se apoiou no armário ao lado de Quinn para observar a cena. Finn parou bem próximo de mim e Noah resolveu intervir.

"Cara, olha só, você tá com raiva, mas isso não justifica o fato de você sair ameaçando a Rachel assim. Pensa um pouco, cara." Noah falou calmo, mas senti que ele estava preocupado com meu bem-estar. Sem necessidade, ele, melhor que qualquer pessoa, deveria saber que eu posso bater em Finn sem me machucar. Os estudantes vadios resolveram parar em um círculo para observar a cena. Finn empurrou Noah pelos ombros.

"Sai da frente, Puck! Meu problema não é com você!" Ao dizer isso, ele olhou-o de cima a baixo e reparou na ausência do moicano e na diferença das roupas. Isso o fez se virar para meu malvado favorito. "A menos que vocês tenham passado a noite juntos de novo! Foi isso que aconteceu, Puck? Foi isso?" Agora Noah estava sendo agarrado pelo colarinho. E eu, claro, tive que intervir.

"Finn, solta o Noah agora! A conversa é entre mim e você." Disse agora com mais raiva. Quem ele pensa que é pra segurar meu melhor amigo assim? Minha voz o fez virar-se pra mim e fiquei aliviada, por algum tempo, ao ver que Noah estava livre novamente. Disse por pouco tempo, pois ele se virou com seus olhos de raiva pra mim e andou em minha direção. Noah o seguiu, mas fiz com a mão para que ele parasse. Primeiro, eu posso lidar com meus problemas e Finn, no momento, é o menor deles. Segundo, ele não podia se meter em confusões ou voltaria a ser detido e eu, como sua melhor amiga, não deixaria isso acontecer.

"Então me diga, Rachel, vocês riram enquanto faziam sexo pelas minhas costas? Hum, foi divertido rir de mim? Eu aposto que foi, principalmente pra ele." Ele disse apontando um dedo acusador pra Noah que me olhou com pedido de desculpas estampado na testa. Eu fiz que não com a cabeça, ele não tinha do que se desculpar. Quem tem o dedo podre, aparentemente, sou eu e isso não tem a ver com ele.

"De onde, em seu cérebro pequeno, você tirou que eu dormi com o Noah, Finn?" Eu já estava falando alto também, até mesmo porque ele estava gritando.

"Não me faça de idiota! Você quer que eu acredite em quê? Vendo vocês juntos e ele te defendendo e com a mão no seu ombro? Hein?" Ele disse passando a mão pelos cabelos pra se acalmar.

"Que ele é meu amigo e se importa com o meu bem estar, algo que não posso afirmar sobre você." O olhei firme para que soubesse que realmente quis dizer isso "E, respondendo a sua pergunta, nós dois fomos ao shopping essa noite e..." Ao falar isso, Santana riu como se eu tivesse dito que tinha um tapete voador, ou um amigo – é, não faz sentido, mas gosto de comparações, como podem ver. O que fez Finn explodir de raiva e marchar ainda mais perto de mim, me prendendo entre ele e o armário. Noah quis me defender, mas disse pra ele, não verbalmente, ficar onde estava. Ele obedeceu, a contragosto, mas isso não era importante.

"Você realmente acha que eu sou idiota o suficiente pra acreditar nisso, Rachel? Que você e Puck resolveram passear pelo shopping e fazer compras de madrugada? Hã? Eu sou idiota assim, é?" Na verdade, ele é, mas não pelo motivo que estava pensando. Eu empurrei-o, pois seu corpo gigantesco estava me tomando o ar e me deixando pela hora da maldita morte, louca de vontade de atacá-lo, agressivamente, por favor.

"Ah, então o que você sugere, Finn?" Aproveitei a surpresa dele ao ser empurrado e continuei "Que eu dormi com o Noah e depois cortei seu cabelo como Dalila? Porque isso sim, parece muito inteligente, né?" Falando isso, Quinn deu um sorriso, Santana gargalhou e Brittany perguntou "Eu tenho que ter medo dessa Dalila também, San? Ela pode cortar meu cabelo enquanto eu durmo?" E eu não virei minha raiva para elas. Certo, eu achava a Brittany uma fofa e, por mais que me mate, eu acho que ela e Santana se completam.

"Então você dormiu com ele mesmo, né?" Ele disse interrompendo meus pensamentos, claro que ele iria selecionar o que ouvir, isso não me era surpresa nenhuma "Eu sabia que você era egoísta, mas não pensei que fosse tanto." Até ali, ele estava soando ferido e eu sentiria pena dele, caso não estivesse com tanta raiva. Depois passou a ser um completo idiota "Usou camisinha pelo menos?" Ele disse enfurecido e gritando para a escola toda antes de assinar seu atestado de óbito "Ou fui burra como a tão pura Quinn ali para dar pra ele..." Ele não terminou a frase e nem a própria Quinn teve tempo de defender-se. E eu não sei o que me deu.

Só sei que no minuto seguinte eu estava com ele seguro entre mim e o armário e talvez eu tenha dado um soco na cara dele porque o sangue na minha mão direita estava pulsando. Eu puxei-o pra baixo, não tão delicadamente – não, seguindo a linha, chutei cada uma das pernas dele pra que se abrissem – para que ficasse da altura da minha visão. O corredor estava silencioso e mórbido como uma tumba, nem Santana pensou em algo, qualquer coisa para dizer.

"Quem você pensa que é, Finn Hudson? Quem você pensa que é pra falar assim dela?" Claro, eu estava me entregando de bandeja, mas estava enraivecida demais pra pensar em qualquer coisa, ainda mais em auto-proteção de sentimentos, trivialidade "Porque você é muito melhor, não? Você não é um traidor, mentiroso e um idiota que não sabe controlar a raiva, né?" Ele estava me olhando com os olhos arregalados, provavelmente com medo. Então dei um tapa em sua cara "Não vai responder por quê? O gato comeu sua língua? Vamos, Finn! Vamos lá, eu sou uma vagabunda e você é um idiota, isso ta bom pra você?" Perguntei gritando em sua cara e as pessoas não atreviam nem a respirar. Ele, claro, covarde!, não me respondeu e eu o sacudi no armário "Ora! Cadê seus sentimentos feridos agora, Finn Hudson, acha que só você sofre no mundo? Ou melhor, acha que isso te dá o direito de ser um idiota com os outros?" Eu trouxe seu rosto mais pra perto do meu pelo colarinho de sua camisa e senti que ele ficou tenso "Porque eu vou te dizer uma coisa, e é melhor você colocar a única metade de cérebro que tem pra trabalhar porque eu não vou me repetir. Ninguém além de mim sabe do que eu já passei, ainda mais com uma âncora de namorado como você que não presta nem para levar meus livros e ainda se acha o suficiente pra arruinar uma competição para qual eu me preparei por tanto tempo me dando um beijo idiota." Disse gritando "Pegue seus beijos idiotas, sua metade de cérebro e seu corpo desengonçado e saia da minha frente!" Continuei o show e joguei em direção ao corredor. E eu sou bem forte para o meu tamanho, acreditem. Coisa que o fez tropeçar em seus dois pés esquerdos e quase dar com sua cara de imbecil no chão "E fique longe do Noah, ele é o meu melhor amigo e eu cuido das minhas pessoas. Como você pode perceber, eu posso cuidar de mim, não graças a você, claro, e cuidarei dele também. Então pense bem." Disse numa voz mais baixa e calma. Ele ficou como um João-bobo em pé no meio do corredor, surpreso com tudo. Me virei para Quinn e sua boca estava em forma de 'o', sorri pra ela.

"Obrigada, Quinn." Disse sorrindo aberto e pegando minha rapadinha para tomar um gole. Olhei em volta e vi que as expressões eram igualmente assustadas, até que meu olhar caiu em Noah que estava me sorrindo com todos os seus dentes e piscou. Eu sorri e assenti com a cabeça. Até que Finn percebeu que estava fazendo papel de idiota, não que isso fosse uma novidade na vida medíocre dele, e resolveu partir pra cima de mim. Quando eu virei para ver, Noah estava em cima dele.

"Não faça a idiotice de agredi-la, cara, ou eu quebro seus dentes." Ele disse com seus dentes trincados bufando na cara idiota do Finn que estava, de novo, preso entre o armário. Finn o empurrou com força e foi pra cima dele. Eu fui como uma louca pra cima de Finn que passou a gritar com Noah.

"Qual é o seu problema, idiota? Acha que pode comer as minhas duas ex e eu não vou fazer nada?" Ele vociferou e pude ver Noah recuperando o balanço e indo pra cima dele, empurrando-o, que empurrou de volta "Pode ficar com essas duas piranhas pra você!" Ele teve a ousadia de gritar pra Noah e, antes que o meu delinqüente fizesse algo, puxei Finn para que se virasse pra mim. Ele se virou com raiva, obviamente. Não mais do que eu, fatalmente. Então eu joguei minha raspadinha na sua cara estúpida e depois joguei o copo vazio em sua cabeça. Como ele estava, ficou surpreso, enquanto o corredor não sabia se ria, fugia do meu ataque de repentino de fúria, gritava ou batia palmas, eu continuei e dei um soco em sua cara – ele tem uma séria deficiência se achava que ia repetir o mesmo erro duas vezes e sair ileso - sujando minha mão de roxo. Claro, ela já estava vermelha, dolorida e acredito que tinha alguns pequenos cortes nos nós dos dedos também, pois quando o líquido roxo e gelado entrou em contato com eles, ardeu como o inferno.

"Eu pensei que você fosse só idiota, mas estou vendo que você é surdo também. O que eu te disse sobre não colocar outras pessoas nos nossos assuntos, hein?" Falei com os dentes rangendo e ele me deu um tapa no rosto, com sua gigantesca, estúpida, destrambelhada e pesada mão. É, ele foi idiota o suficiente pra isso. Com o rosto pegando fogo, eu o empurrei de novo, antes que Noah se metesse e acabasse em encrenca. Claro que além de retardado ele não era cavalheiro e me empurrou de volta. A essa hora, Quinn, e até mesmo Santana, estava gritando com ele e o ameaçando pelo resto de sua vida acadêmica. E nós estávamos nos empurrando ferozmente e rangendo dentes quando Noah saltou como um tigre em cima dele, em um movimento que ele deve estar acostumado a fazer nos jogos de futebol, e eles caíram no chão. Então uma voz familiar e nada amigável gritou, chamando minha atenção que, até então, estava no gigante lesado que estava caído na minha frente.

"Puckerman, Hudson e Berry! Sala do Figgins agora!" Sue Sylvester bradou de seu megafone.

Ótimo, agora seríamos suspensos e não teríamos tempo de trabalhar em nosso plano de construir laços de amizade. Espetacular!

Noah me olhou mais calmo, se levantando do peso morto que era o meu ex. O estúpido levantou lentamente porque ele tinha pés e não sabia usá-los, algo que eu achava extremamente injusto. Artie que era um bom garoto e poderia fazer um uso melhor para o mundo com pernas não podia movê-las e a múmia do Finn que tinha pernas – e cérebro nenhum – não sabia o que fazer com elas. Enfim,Punk deixou a ameba, também conhecida como Finn – que bateu nele com seus ombros desengonçados - passar sua frente praguejando algo sobre injustiças, agressões, culpa e coisas tão idiotas quanto ele. Noah parou do meu lado e eu estava olhando a minha mão destruída – menos que a cara burra de Finn, claro, já que seu lábio inferior e seu rosto estavam cortados. Mas, ainda assim, doía e, graças à rapadinha, estava pegando fogo. Ele pegou minha mão com uma das suas e colocou a outra em meu rosto, do lado que tinha acabado de ser estapeado. Minha mão estava realmente dolorida, então seu toque me fez estremecer de dor.

"Tudo bem, superstar?" Ele quis ser delicado e eu lhe dei isso, mas a situação era desagradável. Levantei meus olhos pro seu rosto.

"Não, Noah, infelizmente não está." Disse, não falando sobre minha mão que, infelizmente, estava estragada também, mas não tanto quanto o circo em que nos metemos. Olhei fundo em seus olhos pra ver se ele entendia minha mensagem. Ele, como sempre, captou.

"Nossa, Berry! Não sabia que você tinha isso em você! Enfim, alguém deu o que Finntolerável merecia." Santana disse com seu sorriso desprezível e usual e depois sussurrou pra mim "Mas creio que eu deveria estar agradecendo à Quinn, né?" Então eu percebi que tinha me metido num mato sem cachorro. Porra! Sim, estava com raiva a ponto de xingar palavrões. Finn desgraçado! Olhei pra cara dela – no mínimo eu estava com uma boca aberta de peixe que acaba de ser fisgado. "Isso foi quente, será que a Quinn também achou?" E piscou pra mim, virando-se pra Quinn. Ótimo, o inferno podia me engolir agora "Então, Q., o que achou do pequeno hobbit power ranger te defendendo?" Quinn, até então muda e surpresa, fechou a boca e fez que sim com a cabeça. Se aproximou, colocou a mão em meu braço e eu estava tremendo como uma louca.

"Obrigada, Rachel. Você não precisava..." Ela disse baixo, com sua mão quente ainda no meu braço, depois que Sue Sylvester limpou o corredor. Me deu um sorriso lindo e eu poderia ter morrido que não estaria tão feliz.

"Ah, E-eu.. er, hum?" Sim, acho que ter namorado Finn me fez mal ao cérebro porque esse foi o absurdo que eu fiz. Estúpida, Rachel, estúpida! Por Barbra, como eu não consigo dizer algo coerente? Meu Deus, o que eu faço? Ela está com aquele sorriso maravilhoso e eu, que estava vermelha de raiva até pouco tempo atrás, continuava vermelha, mas por um motivo completamente diferente agora. Com a mesma boca de peixe aberta. Bah, grande idiota que eu sou... Decidi dar um sorriso tímido pra ela, já que não conseguia pensar numa frase nem se minha vida dependesse disso. Ela sorriu ainda mais e meu coração ficou extremamente quente e completamente feliz. Eu poderia ver esse sorriso pelo resto da minha vida e não precisaria de mais nada pra ser feliz. É, Quinn Fabray consegue me derreter. Eu fui aumentando meu sorriso – e ela continuava com a mão no meu braço que pegava fogo – até que Santana, quem mais seria?, resolveu quebrar o momento.

"Q., eu acho que você quebrou a Berry." Ela disse sorrindo sarcasticamente. Vadia! Quinn virou-se pra ela, tirando a mão do meu braço e eu senti vontade de chorar ou fazer qualquer coisa pra chamar sua atenção o suficiente pra ela me tocar de novo. Minha mão, claro! Ela estava feia e talvez até quebrada, eu poderia usá-la pra ela sentir pena e me encostar assim... Não entendendo a maldade de Santana, ela se virou para mim e continuou sorrindo. Claro, eu esqueci que tinha possivelmente quebrado a mão, poderia ser expulsa e zoada pelo resto da minha vida acadêmica e apenas devolvi seu sorriso tímido e baixei os olhos. Como ela pode ser tão fofa, Deus?

"Puckerman, Berry! Se não estiverem na sala de Figgins em 1 minuto, não precisarão mostrar essas caras marginais e perdedoras aqui novamente! Andem!" Sylvester, claro, só alguém seria mais insensível que Santana a ponto de destruir nosso momento! Grr – eu estava realmente rangendo os dentes internamente, só internamente, por sorte. "Q., airbags, Brit, vocês por acaso não tem aula?" Continuou, maléfica, olhando para as cheerios que se emperiquitaram e foram para suas salas. Santana me sorriu torto – isso não quer dizer coisa boa nunca – e eu encolhi os ombros, Britt me sorriu contente e eu o devolvi o mesmo sorriso e Quinn me sorriu um sorriso pequeno e tímido, mas sincero e eu dei um dos meus sorrisos de 10.000watts de volta.

Até que olhei pra Sylvester e comecei a andar com Noah. Claro, fui fazer a burrice de olhá-lo e seu sorriso cafajeste explicava tudo, até que ele piscou e eu soquei seu ombro. Depois urrei de dor, minha mão estava realmente ruim. Enquanto ele ria e enchia seu próprio ego.

"Fica assim não, superstar, eu sei que tenho os braços fortes." Só não bati nele de novo porque eu tenho um certo senso de preservação e precisava dele, em todos os aspectos.

Depois de sairmos não tão felizes da sala de Figgins – ok, nós só fomos suspensos pelo dia de hoje e por amanhã, por mais que o Finn tivesse aberto o berreiro (não literalmente, mas seria bem a cara de pau dele isso) e nos acusado de tentativa de homicídio. Sério? Como eu consegui namorar esse babaca? -, eu e Noah perambulamos pelo Mckinley e fomos para a enfermaria ver minha mão. Por sorte, ela não estava quebrada. Não que a enfermeira pudesse afirmar isso, já que ela simplesmente me deu um remédio e uma bolsa de gelo. No mínimo era alguma droga como a antiga Sra. Schuester gostava de fazer. Essa família, hein? Um casal dos infernos, juntos para me destruir. Eu sei que não estava quebrada porque, graças ao meu hobbie de bater em mortos, acabei quebrando algumas partes do corpo e já sabia a diferença entre as dores. Ela passou remédio em minha mão, provavelmente para me fazer pagar pela minha ousadia, já que me fez alcançar um C duas oitavas acima com um grito. Ela só deu um sorrisinho – não sei por que as pessoas gostam tanto de ser pau-no-cu, mas é como elas são – e continuo seu trabalho sujo enquanto Puck estava sentado ao meu lado conversando.

"Nossa! Bela nota essa, Rach. Acha que consegue fazer isso num dueto?" Que nervo ele tinha de me fazer uma pergunta como essa? É claro que eu alcançaria a nota em meu sono, oras!

"Que diabo de pergunta é essa, Noah? Claro que eu alcanço essa nota, não é nada demais, nada que me exija muito." Respondi rangendo os dentes porque a biscate da enfermeira estava me torturando, tenho certeza.

"Ótimo! Então o que acha de um dueto? Eu e você, Puckerman e Berry, Superstar e Punk, hã?" Ele disse satisfeito.

"Desgraça!" Essa foi para a enfermeira que nem se deu ao trabalho de parecer arrependida. Nazista cretina! "Vamos fazê-lo, tem algo em mente?" Disse pra Noah tentando não gritar.

"Na verdade, tenho sim. Mas como estamos suspensos até quarta, teremos bastante tempo para praticar."

"É isso que dá se envolver com marginais..." A nazista desgraçada sussurrou. Eu vou processá-la! Se ela não sabe dos direitos, eu vou citar a ACLU pra ela, bisca! Quem ela pensa que é pra nos chamar de marginais?

"Então, minha senhora..." Comecei e fui cortada por Noah que sabia que a demoníaca ao meu lado estava prestes a ouvir e merecidamente, diga-se de passagem.

"Eu acho que já ta boa a mão dela, né, Rach?" Ele disse pro exu e se virou pra mim que mordi o lábio pra controlar a dor e só assenti com a cabeça. Ela suspirou e soltou minha mão com a delicadeza de um cavalo e voltou ao seu posto de mal amada para ler uma revista de fofoca. Vadia! "Vamos, Rach!" Ele disse segurando minha mão que a maligna não torturou e me incentivou a levantar, provavelmente reparou no meu olhar assassino na direção da desalmada. Murmurei e saímos.

"Você acha que essa merda de dia ainda pode piorar? Aquela perversa, e eu tenho certeza de que ela não era enfermeira, quase arrancou a minha mão. Qual é o problema com essa gente hoje? O mundo resolveu rodar ao contrário e me zoar mais do que nos outros dias?" Disse exasperada.

"Não. O mundo não tá te zoando mais que o normal, a diferença é que você resolveu morder de volta." Ele disse certo de si. É, talvez ele esteja, mas mesmo assim, a reunião com Figgins não foi nada agradável.

Estávamos eu, Noah, o falido do Finn, Figgins e Sue Sylvester sentados no escritório. Até que o palhaço triste do meu ex resolveu marchar pela sala e nos acusar de planejar maleficamente um modo de destruí-lo.

"Eu tenho certeza, Sr. Figgins, eles fizeram isso de propósito. Aposto que foi culpa do Puck, a Rachel que eu conheço não faria isso para me magoar, ele deve ter drogado ela." Aí eu me irritei. Não só ele me acusou de usar drogas, de ser marginal, mas, e pior de tudo, cismou que eu perco meu precioso tempo pensando nele. Nem que seja pra destruir a sua vida miserável, isso é injustificável. Levantei-me num pulo e cruzei os braços, olhando-o com olhos cerrados.

"Ora, Finn, não seja idiota! É claro que não perdemos tempo pensando em você. Do mesmo modo que você não pensou nos meus sentimentos quando resolver me chamar de, com o perdão da palavra," Sylvester apenas fez um gesto com a mão de quem não estava nem aí e Figgins me acenou para continuar "me chamar de piranha gritando num corredor lotado. E isso está certo por acaso? Isso pode? Mesmo quando você me ameaçou invadindo meu espaço pessoal, eu só te agredi porque você me agrediu primeiro, não apenas me assustou fisicamente com sua estatura e ameaçando o meu bem estar, mas agrediu meus sentimentos e me humilhou publicamente..."

"Mas todos fazem isso." Exato, ele interrompeu meu discurso para acrescentar algo tão banal e errôneo quanto isso e quanto ele. Que audácia ele tinha! Noah me segurou para eu não terminar minha arte na cara estúpida dele. Babaca!

"Então isso pode?" Disse olhando pra Figgins que estava ocupando fazendo contas sobre material para a reforma do ginásio e não ligava nem um pouco pra nossa presença ali. Pfff! "Ele pode me agredir, me humilhar, me xingar e me ameaçar e quando eu faço algo para me defender, de repente, a culpa é minha?" Me virei para Sylvester que estava prestando atenção nas contas de Figgins enquanto, provavelmente, pensava em alguma chantagem para tirar o dinheiro investido no ginásio - pra ela, diga-se de passagem – e maquinava um plano pra injetá-lo em sua conta bancária das cheerios.

"Celine, marginal e Frankenstein, vocês estão suspensos por hoje e por amanhã. Podem sair dessa sala em 30 segundos, antes que a suspensão se torne uma expulsão." Sue Sylvester disse e se virou para Figgins, sussurrando algo em seu ouvido que o fez arregalar os olhos e balançar a cabeça negativamente. É, de nada adiantava ficar ali e fui embora com Noah enquanto Finn reclamava sobre direitos, medo e coisas assim que imbecis como ele não fazem idéia.

Saindo da sala da Hitler, fomos andando pela escola para conversarmos. Era horário de lanche, então a cafeteria estava meio lotada. Minha mão que não foi mutilada, por muito pouco, estava enrolada em gaze, num estilo Rocky, como diria Noah, e eu estava durona como o próprio. Resolvi puxar o assunto que estávamos discutindo na câmara de tortura.

"Quer mesmo fazer um dueto, punk?" Perguntei esperançosa, cantar é algo que sempre me acalma.

"Claro! Acha que pode segurar o microfone com essa mão, superstar?" Noah me perguntou e, confesso, um arrepio mau me passou pela espinha pensando em caso eu não conseguisse. Meu Deus! Minha vida não faz mais o menor sentido, o que poderia fazer além de cantar? Bater nas pessoas não dá dinheiro, a menos que eu pense em entrar em algum clube de luta clandestino...

"Tô brincando, Rach! Dá pra você segurar um microfone sim. Dá até pra segurar uma cerveja e um cigarro." Ele disse rindo e sentindo do meu pânico que diminuiu a ponto de me fazer rolar os olhos sobre o comentário. Enfim.

"Bem, isso é bom. Mas espero estar com a mão melhor até quarta, né?" Disse sincera.

"Uhum, você vai estar sim. Nós nos recuperamos rápido, esqueceu?" Ele disse piscando. "Rach, vamos comer algo antes de irmos. Eu estou morrendo de fome." Ele disse olhando pra cafeteria, eu podia entendê-lo, concordei com a cabeça. No momento que entramos, todos pararam o que estavam fazendo para nos observar. O fato de minha quase mutilada mão estar enfaixada talvez tenha contribuído...

Ele me olhou fundo como quem diz 'segura o gênio'. É, as coisas não seriam assim tão fáceis, bobagem minha acreditar. Mas, que fosse! Fomos andando e rumamos para nos servir enquanto um nerd esbarrou em mim – sem querer, eu suponho – e eu virei mais rápido que a luz pela enésima vez no dia.

"Me d-desculpa, Rachel, e-eu..." O garoto tentou se explicar, mas deve ter confundido minha expressão confusa com raiva e saiu correndo e trombando nos outros. Gente mais esquisita. Pensando nisso na última sexta, ele provavelmente iria jogar na minha cara que a culpa ainda era minha. Olhei para Noah e, no mesmo instante, percebi que a fofoca do nosso papo amistoso com Finn tinha corrido mais rápido que notícia ruim. Ele me deu um sorriso que não consegui colocar em nervoso ou só arrependido, mas deixei pra lá.

Pegamos nossas comidas – eu estava com uma salada e ele com um hambúrguer que deve ter matado todo e qualquer tipo de vida para ser servido -, revirei os olhos e o estômago pra ele que só sorriu, sem graça. Bem, nada diferente até aí, até o fato de ter ouvido Santana gritar. Noah me sorriu, é talvez nós tenhamos avançado um pouco no quesito amizade, vá saber.

"Hobbit, Puck, sentem aqui que precisamos conversar." Foi tudo com que Santana nos brindou. E rumamos para a mesa que ela dividia com Brittany e Quinn. Pude perceber um clima meio estranho entre a Latina e a loira mais doce, não consegui captar exatamente o problema. Afinal, o relacionamento delas não era o mais normal do mundo, mas, aparentemente, Santana não estava muito confortável. Foi quando percebi que a mesa tinha virado e quem queria uma relação naquela hora era ela e Brittany estava incerta. Bem, sentamo-nos assim mesmo. Eu me sentei entre Quinn e Brittany, que estava ao lado de Santana. Noah sentou-se entre Santana e Quinn. "Então, Hobbit, como foi o último encontro romântico com Finnsuportável?" Se existia algo que ela tinha, era criatividade. O que me fez sorrir um pouquinho enquanto olhava de canto para Quinn, me esperando responder. Claro, o fato de ela estar me observando tão atentamente me deixou fervendo de nervoso, então mudei o foco, foquei na minha salada.

"Foi desagradável, mas acabamos suspensos só por hoje e amanhã." Falei olhando ainda pra salada. Não, ela não estava interessante, pelo contrário, estava passada e me levava a pensar em quantos tipos de micróbios estavam almoçando ali comigo e quais doença eu poderia pegar comendo esse lixo. Mas eu não poderia olhar para Quinn, ou eu ficaria hipnotizada (e abestalhada), para Santana e Noah era o mesmo que suicídio social (eu podia sentir o sorrisinho diabólico dos dois) e para Brittany seria arriscado demais, ela poderia fazer alguma pergunta sobre o meu comportamento fora do comum, sobretudo, perto da Quinn, e ela faria isso com seu rosto confuso e angelical e eu não conseguiria nem ao menos ser estúpida ou me esquivar. É, vamos olhar pros micróbios.

"Hum, interessante..." Ela disse mastigando seu lanche "Então quer dizer que era pra vocês estarem em qualquer outro lugar, mas resolveram ficar por aqui, certo?" Ela disse chegando mais pra perto da mesa e se inclinando em minha direção. Condenação pra você, Rachel Berry. Ela sorriu mais ainda vendo que eu fiquei tensa do outro lado. "E posso saber o que os fez ficar na escola quando existem coisas tão boas a serem feitas por aí?" Pra fechar o meu sucesso, ela olhou pra Quinn e depois se voltou pra mim.

"Nós queríamos comer..." Claro que dizer isso foi errado e eu deveria ter previsto. Ela arqueou a sobrancelha e eu tentei me defender "Na verdade, o Noah quis comer e, veja só, como estávamos por aqui mesmo, decidimos vir aqui, é mais perto. Não que esse seja o meu lugar preferido, já que essa salada pode facilmente estar envenenada e..."

"Deus, Berry! Não preciso de uma dissertação sobre uma pergunta, não sabe responder mais diretamente, não?" Ela disse se irritando, pelo menos me abandonou. "Então, contem-me, vocês dois estavam realmente fazendo sacanagem pelas costas do Finnexpressivo? Eu até acho que ele merece, pra largar de ser idiota." Ela disse com um tom quase interessado. Eu revirei os olhos.

"Não, claro que não! Nós estávamos no shopping, apenas fazendo compras." Não era mentira e não sei por que ninguém acreditava, mas o fato de Noah não colaborar em nossa defesa estava me deixando confusa. E o fato de ele estar mancomunando com Santana estava me deixando irada. Grande amigo da onça.

"E por que vocês estavam de madrugada fazendo compras em shopping, hobbit? Se importa em compartilhar?" Ela disse voltando a comer, como todos que não estavam nem aí para a minha coerção e o fato de eu precisar de um advogado para responder a todas essas perguntas.

"Então, Noah resolveu se desfazer das minhas antigas roupas e eu precisava..." Parei quando a ouvi gargalhar e vi Brittany e Quinn sorrindo? Que cacete? É todo mundo contra mim agora? Então Noah teve a cara de pau de acrescentar.

"Viu, Rach? Não te disse que essas roupas te fariam se sentir melhor?" E deu um sorriso pra mim. Cretino.

"Quer dizer que foi o Puck que te tirou do armário, Berry?" Eu que estava tentando beber um suco natural – horroroso, por sinal. Eu preciso saber e processar quem trabalha com esse cardápio, é um crime servirem esse tipo de coisa -, engasguei como hoje mais cedo. Tossi enquanto Santana e Puck riam – traidor! -, Brittany me olhava com compaixão e Quinn arqueava a sua perfeita sobrancelha, o que só me fez entrar em mais uma série de tosses até Brit bater em minhas costas e me ajudar a recuperar o ar. Arfei um bocado, sorri agradecida para a loira amigável e resolvi rebater.

"Muito bom o duplo sentido da sua frase, Santana, mas não vejo por que usá-la." Disse olhando-a fundo nos olhos que só sorriu em retorno.

"Não?" Disse voltando a mastigar e engolir a comida, "Talvez eu tenha interpretado mal as coisas então..." Daí percebi a extensão de sua falta de alma e amor ao próximo, ela estava simplesmente brincando comigo pra ver minhas reações pela Quinn. Minha santa Barbra! A Quinn estava vendo, ela estava brincando com isso pra ela ver... Me virei para olhá-la que só tinha um sorrisinho nos lábios e levava o garfo à boca. Claro, cabe a mim e minha mente devassa levar essa cena para o lado sexual da coisa – é, não sei se garotas querem sexo tanto quanto garotos, mas tratando-se de Quinn, quem não iria querer? Santana, claro, percebeu porque meu dia ainda estava muito fácil...

Mas antes que ela pudesse abrir a boca para soltar alguma consideração que eu desconsideraria, Lauren chegou perto de nós simplesmente batendo em nossa mesa. Quinn apenas levantou o olhar.

"Algum problema, Lauren?" Ela perguntou sem passar sentimento nenhum.

"Tira o seu caboosey da frente que eu não quero nada com você." Ela respondeu estúpida e pude ver que até Santana ficou tensa na cadeira. Quinn apenas deu seu sorriso sarcástico e eu me levantei com raiva. Não que eu precisasse ou estivesse defendendo-a, claro que não! Mas isso não é modo de falar com colegas de grupo, pelos céus!

"E o seu problema é com quem exatamente, Lauren?" Disse fria e ela me olhou de baixo pra cima.

"Com o Puck, mas podemos matar dois coelhos com uma cajadada só, o que acha?" Me perguntou com uma expressão que ela deve ter trabalhado na frente do espelho pra me causar medo. Quinn segurou minha mão enfaixada e eu tremi – de dor, obviamente – e olhei pra ela que só balançou a cabeça indicando um não. Enquanto estávamos entretidas em nossa conversa muda, Lauren continuou "Eu quero saber de você, Puck, já está mijando sentado? Não satisfeito de virar um cachorrinho por causa do caboosey da Fabray, agora virou da Berry também?" Antes que ela pudesse continuar, eu soltei minha mão da de Quinn e fui pra cima dela, invadindo seu espaço.

"Vou te perguntar de novo, Lauren, qual é o seu problema?" Falei em seu rosto.

"Puck, segura seu Karatê Kid antes que ela se machuque." Ouvi Santana murmurar para Noah que se levantou para se colocar entre nós.

"Meninas, se afastem. Rachel, o problema dela é comigo e tá tudo bem." Disse me olhando cauteloso enquanto eu a fuzilava com o olhar "Lauren vamos conversar em outro lugar." Falou para ela, que simplesmente o empurrou e se aproximou de mim.

"O que você vai fazer, Berry? Cantar até meus ouvidos caírem?" Ela deve ter se achado muito engraçada nesse momento, mas eu não estava achando, definitivamente.

"Não, mas eu posso te bater, o que acha?" Sem nenhuma emoção, remorso ou coisa parecida, foi o que saiu. Enquanto ela ria, obviamente.

"Hum.. acho que eu vou pagar pra ver." Disse na minha cara.

Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Noah estava empurrando-a e Quinn me segurando pela cintura enquanto eu tentava me soltar. Até que ela disse num tom leve no meu ouvido.

"Calma aí, tigresa!" É, ela ainda vai me matar do coração. E eu parei, não tinha outra opção. Oi? Quinn Fabray estava me segurando pela cintura e falando ao meu ouvido. Nem em meus sonhos mais selvagens – ok, nos meus sonhos mais selvagens ela está fazendo mais que isso -, ou nos meus devaneios mais utópicos eu visualizei isso. Claro, me virei no seu meio abraço para olhá-la. "Mais calma?" Eu fiz que sim com a cabeça, minha voz era meramente um acessório inútil no momento e ela continuou com seu tom divertido "Olha, não sei o que você andou tomando," nada além de porrada e café, claro "mas é bom eu manter um olho em você". Exatamente, foi isso que ela falou. E eu, que estava vendo vermelho, estava vermelha novamente e abaixei a cabeça, sem graça. Ora, se ela ia manter um olho em mim, eu ia apanhar mais e entrar em overdose de café, simples assim. Mas fiquei tímida.

Até o momento que levantei a cabeça para ver o que tinha se sucedido, Lauren me socou em cheio me fazendo cair em cima das bactérias da minha salada. Ouvi os gritos de Noah que estava afastando ela, Santana que, e eu devo ter batido a cabeça bem forte ou ficado louca, parecia estar me defendendo e Quinn que empurrou-a de cima de mim e veio ver como eu estava.

"Rachel, você ta bem? Fala comigo?" Isso foi a Quinn e se eu não me importasse tanto com ela - não, não era amor e nem paixão, mas eu tinha um coração puro -, eu iria ter sido bem estúpida, mas não podia, nem se quisesse. Ela levantou meu rosto e me olhou nos olhos. Minha boca doía e estava machucada, isso dava pra dizer pelo gosto de sangue. Mas eu devia estar com uma cara derrotada porque a HBIC Quinn voltou com força total. Enquanto me observava, eu vi seus olhos perderem a quentura e a ela se afastou como uma puma pra cima da Lauren.

"Qual é o seu problema, idiota? Acha que pode sair batendo assim nas pessoas?" Isso, exatamente assim, Quinn Fabray estava me defendendo. O inferno só podia estar congelando e eu achei, só um pouquinho, que o meu dia estava, na verdade, ficando muito bom. Até que me lembrei do tamanho de Lauren e do estrago que ela podia fazer no rosto angelical da minha ex-cheerio preferida. Isso, claro, só por cima do meu cadáver!

Lauren foi pra cima dela vociferando alguma coisa parecida com "Tá metendo o seu caboosey em quê? Que brigar também?" E eu revirei os olhos, essas piadas de 'caboosey' já estavam ficando velhas demais. Mas foi quando ela se aproximou demais de Quinn que eu acordei e saltei na frente dando-lhe um soco. Ela perdeu o balanço e foi pra trás enquanto eu urrava de dor. Exato, com duas mãos, cabe a mim dar um soco extremamente forte com a mão que a nazista quase carregou com um troféu.

"Meu Deus, como você está?" Isso foi a Quinn e pude ver sua expressão se tranqüilizando ao falar comigo. Eu apenas olhei pra minha mão enfaixada e quando ela ia realizar meu sonho de acariciá-la, Lauren voltou. Mas, pra minha sorte, Noah a segurou.

"Pelo amor de Deus, Lauren! Para com isso! Você vai machucá-la!" Ele disse pra ela. Não o entendam mal, ele não foi mau amigo deixando que ela me socasse, mas ele realmente não batia em mulheres. Talvez pelo fato de se lembrar do pai dele batendo em Lily enquanto ele ainda era um garoto e se existe algo que ele não admite, é ser parecido com a ameba que teve como pai. Por essas e outras, eu sei que ele é um cavalheiro. Claro, o cavalheirismo dele não estava ao meu favor nessa situação e, sentindo isso, ele se virou pra Quinn "Tira a Rachel daqui, por favor!" Ela bem que tentou, mas foi agarrada pelo braço por Lauren – não me perguntem como Noah conseguiu ficar e se apaixonar por ela, também penso nisso de vez em quando – e empurrou-a longe. Movimento errado, Zizes, muito errado!

Pude ver Quinn recuperando o balanço e voltando com força total, Noah com as mãos no peito e sem ar – a cachorra deve tê-lo socado! -, Santana tentando me tirar dali, Brittany gritando pra ela parar, Kurt e Mercedes tentando segurar Quinn e cuidar de Noah, Sam correndo para apartar a briga e ela vindo pra cima de mim. A cafeteria nunca foi tão movimentada nesses últimos anos de Mckinley.

Eu empurrei Santana e fui pra cima de Lauren. Pra quando ela resolver me bater, estarei preparada pelo menos. E foi o que aconteceu. Ela me deu um soco que eu tentei bloquear, mas ainda assim atingiu o meu ombro e me fazendo perder o balanço. Em tempo que ela resolveu se aproximar mais. Eu fechei a mão e virei junto com o resto do corpo para ampliar o impulso e a força. Adivinhem qual mão? Exato! A essa hora, a que seria amputada. Eu tremi de dor, mas pude ver que minha técnica romana – aham, mais pra 'desesperada' – funcionou e ela recuou alguns passos. Quando Sam tentou segurá-la, ela o empurrou e veio marchando em minha direção. Me segurou pela cintura em um abraço de urso indesejável e me jogou em cima da mesa, que quebrou comigo em cima. Pulei nos pés com a pouca dignidade que me restava e levei um soco em cheio. Doeu ao ponto de me fazer gemer, mas ignorei a dor e passei a usar a cabeça. Se ela contava com o corpo, o peso e o sumô – ou sei lá o quê era que praticava -, eu contava com meu tamanho, agilidade, perseverança – é uma qualidade multiuso, como podem ver – e anos de defesa pessoal. Me recuperei da porrada repentina e fui pra cima. Já que minha mão era inútil e dava para ver o sangue através da gaze, resolvi usar os pés. Chutei sua canela, dei uma cotovelada em seu rosto e fechei com uma quase voadora em seu peito. Não preciso dizer que ela caiu como uma jaca podre no chão, nem preciso comentar que ela perdeu os sentidos também. Pena que os perdeu por um tempo muito curto.

Os gritos diminuíram e Sue Sylvester voltou, sempre ela. Dessa vez, para me ajudar, já que, como eu estava preocupada com Noah, Quinn e os integrantes do Glee Club, tinha me esquecido que ela não ia dormir como a Branca de Neve. Noah segurou Lauren a tempo e Sue deve ter visto a minha cara que não favoreceria ninguém, mas talvez nessa situação ela tenha sentido algo próximo de compaixão por mim. Digo próximo porque ainda não me convenci de que ela pode nutrir sentimentos por pessoas que não sejam sua falecida irmã.

"Zizes, Puckerman! Na minha sala agora! Berry, você vai pra enfermaria tentar desfazer esse estrago em sua cara derrotada. Aproveite e tente uma plástica." Ela disse e eu revirei os olhos. "Andem, ou eu vou chutar o traseiro de vocês pra fora dessa escola!" Seu infame megafone nos informou e os alunos passaram correndo como balas pra suas respectivas salas. Lauren se soltou de Noah e foi andando em direção à Sue. Não sem antes tentar me atacar novamente – o que Noah impediu e Sylvester vociferou ameaçando-a de expulsão.

"Tudo bem, superstar?" Ele me disse baixo, depois que seu animal selvagem se afastou a uma distância segura e me olhando nos olhos. Dava pra ver que ele estava se sentindo culpado por toda essa situação, mas eu não ia deixar que ele se sentisse assim por coisa tão pouca.

"Eu só acho que nós não sabemos escolher parceiros para namoro." Disse sorrindo – e me detestando por isso, já que minha boca doía – tudo pra que ele se sentisse melhor. Não funcionou.

"É, eu sinto muito por isso." Foi o que me esforcei pra ouvir enquanto ele dizia com a cabeça abaixada. Peguei seu rosto com uma das mãos (a boa, logicamente) e o fiz olhar em meus olhos.

"Oras, eu ainda consigo segurar uma cerveja, um microfone e um cigarro, vai ficar tudo bem." Disse piscando e ele riu com vontade.

"É, vai sim. Mas agora eu tenho que ir antes que Sylvester me expulse de vez. Até daqui a pouco, superstar." Me deu um beijo na testa e começou a andar. Até que virou-se abruptamente "Ainda bem que você pode contar com sua amiga enfermeira, né?" E riu do meu carma. Não me basta estar quebrada, ainda tenho que encarar a nazista. Porra de inferno astral que não me dá trégua!

Enquanto eu estava ocupada praguejando os astros, Quinn parou do meu lado e me examinou. Começou pela mão que ela pegou para olhar mais de perto e eu estremeci – de novo, de dor. Dava pra ver que ela estava arrebentada, isso se a gaze coberta em sangue quisesse dizer algo. Eu só a observei e ela me deu um sorriso triste ao ver que, sim, ela estava péssima e doía mais do que eu iria admitir. Depois passou sua mão leve pelo meu rosto. Eu estava com a boca machucada e o lado direito da face ardendo, talvez tivesse algum corte também. Eu, por minha vez, me desmanchei em seu toque tão delicado. Como não poderia? E quando digo 'desmanchar' quero dizer exatamente isso, a ponto de fechar os olhos e suspirar. Uhum, minha vida social iria pro espaço mais rápido que alguém pode dizer 'showtunes'.

Para minha sorte, ninguém comentou nada – o que me leva a crer que minha aparência estava algo entre assustador e digno de pena. Só ouvi a voz de Mercedes e Kurt ao fundo. Tive que abrir os olhos e me deparei com a expressão mais linda que já poderia ter visto: Quinn estava mordendo levemente o lábio inferior e forçando um pouco as sobrancelhas em sinal de preocupação. E eu sorri. Se todas as vezes que eu apanhar ela me olhar e cuidar de mim assim, eu estou prestes a arrumar confusões freqüente e diariamente.

"Terra para Rachel! Tá tudo bem aí?" Isso foi Tina. Eu concordei com a cabeça "De onde eu estou vendo, você não me parece tão bem assim..." Eu suspirei, ia falar o quê?

"Ora, ora! Quem é você e o que fez com Rachel Berry?" Esse foi Kurt sorrindo. Desgraça, ele vai me detestar... "Primeiro as roupas diferentes, depois essa atitude fora-da-lei? Posso afirmar que você e Puck estão andando muito tempo juntos um do outro." Eu estava abrindo a boca para responder quando ele interveio "Fale comigo quando estiver melhor. E eu acredito que você passou a noite fazendo compras sim. Eu conheço o seu armário e tenho certeza de que essas belezinhas não estavam por lá no final de semana passado." Nós tivemos uma noite de meninas no sábado, então ele realmente saberia. Ele disse e piscou, eu sorri de volta e fiz que sim com a cabeça. "Bem, por mais que eu adore uma fofoca e uma transformação de armários, creio que precisemos voltar pra sala, não é crianças?" Ele disse se virando para Mercedes, Sam, Tina e Mike.

"Shh! Hummel, não sabia que você tinha uma fixação tão grande com armários!" Isso foi Santana, absolutamente. Ele só piscou para ela depois de vê-la de mão dada com Brittany. Ela teve a decência – não que ela tenha, claro – de parecer sem graça.

Quinn continuava me olhando fundo nos olhos e apertando meus braços pra ver se eu tinha quebrado alguma coisa. Tem como não suspirar? Exceto quando ela tocou meu pulso e eu dei uma rangida. A mão estava ruim e o pulso não estava bom também.

Pouco a pouco os outros membros do nosso clube foram indo pra suas aulas. Não depois de me desejarem melhoras e me darem tapinhas nos ombros ou ameaçarem Lauren – isso foi Mercedes. E eu me virei para as minhas outras duas companhias e perguntei.

"Vocês não vão à aula também?"

"Wow, Berry, se você quer tanto assim ficar sozinha com a Quinn era só ter avisado." Santana, claro. Eu revirei os olhos. Não que ela estivesse mentindo, mas não vou me entregar mais do que já me entreguei aqui.

"Só estava preocupada com vocês matando aula por aí." Ofereci sincera.

"Ora, só porque você é durona por um dia acha que somos nerds? Tire a cabeça do buraco, hobbit. Além do mais, nós não queremos assistir aula, certo?" Ela perguntou olhando pra Brittany, que fez que não com a cabeça e sorriram uma pra outra. "E você, Q.? O que tem em mente?"

"Na verdade, eu quero saber sobre essa sua amizade com a enfermeira." Ela perguntou me olhando nos olhos com o ar que costuma rodear Santana. É, eu ia ter que encarar a nazista e ainda fingir que era um passeio no parque – é claro que aquela mal amada deve pegar mais pesado ainda dessa vez – e me fazendo de forte pra que elas não pensem que sou uma idiota. Uhum, retiro o que disse, o dia acaba de ficar ruim novamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Podem comentar, eu não mordo, só assusto mesmo.