Sexto Sentido escrita por sassaricando


Capítulo 2
O resto é história


Notas iniciais do capítulo

Tenho Glee não, tá, gente bonita?



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Noah continua me olhando fundo nos olhos e eu me sinto enraivecida.

"Que diabo, Noah, o que nós vamos fazer?" Pergunto me afastando dele e voltando a caminhar como se minha vida dependesse disso. Talvez dependa. Paro e olho em seus olhos.

"Cal..."

"Não ouse me pedir calma, Noah Puckerman! Não ouse!" Eu grito como uma louca e não me importo. Primeiro porque meu quarto é à prova de som. Não, não porque eu faça ou já tenha feito sexo alguma vez - que Barbra me livre de pensar nisso com o Finn! - mas pelo fato de eu não ter vizinhos tão... er, compreensivos. Uma diva precisa praticar seu talento. O dom nos é dado, mas só alcançaremos o topo com trabalho, determinação e trabalho. Li isso em algum lugar, talvez na Vogue, ou foi Kant? Bem, não lembro agora. Enfim, isso é algo que me define: eu não me acostumo, não me abalo e não canso de trabalhar para chegar ao meu melhor. Que tipo de diva eu seria caso contrário?

Então, mesmo tendo o quarto vedado para som, eu fiz a burrice de gritar na janela e vi alguns vizinhos praguejando e batendo suas janelas também. Como se eu ligasse pra isso nesse momento...

"Ok, o que faremos?" Eu o olho e ele arqueia as sobrancelhas como quem se retira de uma corte por não ter algo a acrescentar. Ótimo, simplesmente maravilhoso! "Certo... o que faremos?" Repito para mim mesma dessa vez, já que contar com Noah é o mesmo que contar com o travesseiro que atirei nele.

"Nós podemos tentar nos aproximar..." Ele oferece como se fosse a coisa mais simples do mundo, simples como respirar e isso me irrita.

"Ah claro! Por que não pensei nisso antes?" Eu digo sarcástica, minha voz em dois tons acima e, sinceramente, nem eu me aturo nesse estado.

"Ei!" Ele diz e eu percebo que ele quer tentar um 'me desculpa, o que quer que eu faça?'. É, não posso culpá-lo, também porque não acho nenhuma alternativa mais plausível. Até que algo me envolve.

"Claro! Nós podemos seguir a Quinn! Como não pensei nisso antes?" Ele me olha inexpressivo e aproveito para explicar minha excelente idéia "Nós podemos segui-la de carro, com cuidado, obviamente, para que ela não nos descubra e acampar em seu quintal. Mas tudo isso deve ser feito sorrateiramente, não podemos deixar que ela nos veja ou ela vai achar que somos algum tipo de stalkers, ou algo igualmente louco, o que não seria o caso..."

"Você está bêbada ou drogada?" Ele me interrompe – sério, não sei mais quantas interrupções eu posso agüentar antes de machucá-lo – com os olhos do tamanho dos da Srta. Pillsbury. Eu volto a observá-lo - levemente enraivecida pela sugestão - já que, enquanto pensava em meu maravilhoso plano estava pra lá de entretida e esqueci que ele estava por lá.

"Ora, tem alguma idéia melhor?" Falo desafiante. Já que não vai ajudar, que não atrapalhe, diria o ditado.

"Melhor que sermos considerados stalkers e possíveis ameaças à paz dos Fabray, temos que ter sim. Com nosso histórico na polícia, não é bom mexermos com isso." Ele faz questão de lembrar esse fatídico momento da minha vida e um calafrio passa por meu corpo só ao me lembrar da prisão. Ele sabe disso e começa a rir, zombando da minha desgraça, como sempre "Um dos nossos melhores momentos, não acha, Rach?" Ele fala sarcástico. Não, definitivamente não foi um dos meus melhores momentos.

Estávamos os dois numa pequena perseguição de carro. Ele dirigindo "Rach, você não é desafiante o suficiente para perseguir um carro." "Eu não tenho carteira, logo não posso fazer isso, Noah. Ah, e por acaso, nem você!" "Ótimo, então deixaremos o bandido fugir do estado porque não podemos dirigir. Vamos lá, onde está o seu dever com a lei?" "Devo tê-lo perdido quando decidi formar laços fraternos de amizade com você. Provavelmente eles devem estar em algum lugar junto com meu bom senso e a sua responsabilidade"... É, a discussão rolou bastante. Rolou junto com as rodas do Jeep da mãe dele. E nós, ambos com 13 anos, estávamos a mais de 120 km/h na autoestrada perseguindo um assassino a sangue frio. Fatalmente o meu bom senso não estava comigo.

Era mais de meia noite, rodamos por mais de uma hora até que Noah resolveu fechá-lo com o carro. Seria cinematográfico, caso não estivéssemos em uma curva, com dois fantasmas reclamando no carro e vendo a luz de um caminhão nos acertar.

O seguinte, no auge de sua inteligência, Noah resolveu jogar o Jeep em cima do Honda do bandido que rodou na curva e atingiu em cheio a grade de proteção da estrada, estraçalhando o pára-choque do carro. Mas – e eu sabia que existia um motivo para que ele não tivesse uma carteira – nosso motorista de fuga (ou perseguição, como preferirem) embicou o carro no meio da estrada e, com a batida, a lata velha não ligava nem por muito dinheiro. E claro, os fantasmas mal humorados estavam reclamando e nós começamos a ficar preocupados.

"Ainda bem que já estamos mortos porque vocês nesse carro são uma ameaça à vida humana, esteja ela à pé ou motorizada." Noah grunhiu e eu rolei os olhos. Fantasma abusado! Ok, não foi a manobra mais esperta desde a invenção do automóvel, mas péra lá, né? Estamos resolvendo a vida deles – morte, o que seja – e ainda ficam reclamando? Nessas horas a gente se arrepende de ajudar esse tipo de gente. Primeiro, são abusados. Chegam como se nossa vida toda girasse ao redor da morte deles e nos exigem – não, a educação não cruza as barreiras da vida – que resolvamos seus problemas. Depois cismam que fariam melhor em nossos lugares – e dá vontade de jogar na cara 'mas quem está viva sou eu e não você', só que eu me controlo, eles acabam tendo sentimentos; raiva, indignação, estupidez, insatisfação, ira e alguns outros não tão construtivos. E não é como se fôssemos ganhar um prêmio por isso. Não, é claro que não! Não somos embaixadores da ONU tipo a Jolie e nem reconhecidos. Quer dizer, ficamos sempre com a pior parte, além de ouvi-los reclamar como se tivessem pressa pra viver – alô! Vocês estão mortos, qual é a pressa, diabo? -, temos que resolver tudo de bico calado porque não é algo que a gente pode se orgulhar e dividir com os amigos na hora do lanche. Só que de todas, a melhor é quando resolvem nos matar. Como se tivéssemos culpa de estarmos vivos e eles não. Bah, trabalho ingrato, viu?

"Dá pra calar a porra da boca, defunto?" Noah nos brindou com sua educação. Certo, a situação estava feia, o carro não ligava, os mortos estavam falando, um caminhão estava vindo, nós podíamos ter matado um homem – ele era um assassino, mas era uma vida, ok? – e as malditas das portas estavam trancadas porque o Jeep tinha morrido e não voltaria, diferente das nossas companhias, nem para nos assombrar.

Então eu abri o porta-luvas da sra. Puckerman, peguei um pano que estava lá e soquei o vidro, que cedeu. É, doeu pra cacete, mas consegui quebrar o vidro - quase a mão também - e Noah seguiu meu exemplo a tempo de conseguirmos sair do carro. Mas o caminhão o acertou de todo modo e o carro nos acertou. Conclusão: acabamos parando no teto de Jeep – que é relativamente alto – depois de estourarmos os vidros dianteiros. Foi quando abri os olhos e vi meu melhor amigo me olhando preocupado.

"Superstar, você ta bem?" Sua voz era baixa e falha e tinha um corte no braço que usou para me abraçar e impedir que eu me machucasse mais. Um cavalheiro, pelo menos naquela época.

"Tô sim e você, punk?" Ele gostava de ser chamado assim. Delinqüente desde novo. Ele me sorriu então vimos os fantasmas alvoroçados e o assassino saindo do carro que, misteriosamente começou a pular como o saci. Misteriosamente para ele, claro. Os fantasmas estavam fazendo aquilo com telecinética. E ele se assustou e correu. Me levantei num pulo e minha cabeça começou a rodar, minha vista estava turva e vermelha. Um corte na cabeça, pra fechar a noite. Noah me olhou, examinando de novo e eu estapeei sua mão. Parei para observar a cena ao meu redor. Pelos céus, né? Minha cabeça estava me matando, o braço dele tinha um senhor corte, o carro de Lily Puckerman estava destruído, os fantasmas estavam nos olhando com raiva – seres não muito pacientes esses, nunca entendi o porquê -, o motorista do caminhão estava ligando para a polícia – o que dizia um 'tudo vai piorar e muito' – e o desgraçado do bandido estava fugindo. Só por cima do meu cadáver.

Pulei pelo capô do carro e danei a correr atrás do cretino. Go Forrest! Ao fundo, ouvi Noah me chamar "Rachel! Caralho, volta aqui!", mas não me dignei nem a respirar. Que fique claro, não é a idéia mais inteligente do mundo correr com a vista turva e sangue nos olhos- literal e metaforicamente -, é um cacete pra enxergar, mas nem isso pararia Rachel Barbra Berry. Até que ele se virou, sacou uma arma e atirou. É, uma arma é uma história completamente diferente... Mas como ele tinha se machucado também, errou o alvo – eu, claro -, o que me fez correr ainda mais enquanto pensava nos fantasmas sanguessugas que não se prestavam a nos ajudar. Sorte que estavam mortos, ou eu os mataria novamente. Depois de correr uns 10 km – os paramédicos disseram que foram apenas 500 metros, mas eles sempre mentem; dizem pra gente agüentar porque vamos sobreviver, quando nem Cristo nos salvaria da morte; um povo inconveniente -, eu paro caída em cima do bandido enquanto sua arma vai para o meio da estrada.

É que Noah sempre gostou de matar passarinhos - hábito desprezível, desumano e do qual sinto nada além de asco, já tentei fazê-lo mudar de idéia, em vão, como podem ver - e andava com seu estilingue no bolso. Ou seja, ele o pegou e atirou um pedaço do estraçalhado retrovisor do carro – sim, o estilingue era grande a ponto de derrubar um avião – e atirou no fujão. Eu, que não via nada e corria pela força da vida, tropecei no troço e dei com o focinho no chão – não, não machuquei meu nariz, só bati a cabeça novamente, por sorte – e só lembro de acordar numa ambulância, sendo interrogada, levada à delegacia para prestar queixa, passar a noite lá enquanto não nos tiravam, quase ser fichada, tendo que me explicar para meus pais e Lily – dissemos que o carro foi roubado pelo homem, claro, ela já ia responder por dois assassinatos, o que era um mero roubo? -, os fantasmas cruzaram a fronteira - do México, inferno, limbo, casa do cacete - e sumiram. Nós só ficamos de castigo por uns três dias – os que ficamos internados, já que meus pais e a mãe de Noah sentiram pena de nós, que presenciamos um assalto, fomos seqüestrados, sofremos um acidente e ainda acabamos quase mortos por um assassino duplamente qualificado. Eu serei uma ótima atriz algum dia e Noah também não fica atrás.

Definitivamente não foi meu melhor momento. Ele olhava fundo nos meus olhos e deve ter visto que a cena se repetiu em minha cabeça, pois passou a sorrir do seu sorriso diabólico novamente. Fechei a cara e fiz um bico, até que ele lembrou do assunto importante em questão.

"É sério, Rach! O que você acha que a sra. Fabray vai fazer quando nos vir acampados em seu quintal, hã?" Boa questão, talvez ela jogue uma Bíblia ou um livro de etiqueta em nossas cabeças, vá saber "E não é como se pudéssemos nos esconder lá."

"Claro que dá, Noah! Nós não precisamos acampar, eles tem árvores, podemos nos esconder..." Digo exasperada pois sei que estou perdendo um argumento e não é a primeira vez que isso acontece comigo e Noah. Pode não parecer, mas ele tem um cérebro, só não o usa por querer ser "fora da lei", ou sei lá. Claro, não é como o Artie, mas ele realmente sabe armar alguns – poucos – planos e pensar em algumas situações antes de mim. Não que eu seja impulsiva ou algo do tipo, mas não costumo parar para analisar trivialidades quando temos que fazer nosso dever de defender as pessoas.

"Ou nós podemos nos fingir de árvores, o que acha? Você já é vegana mesmo, pra louca ativista do greepeace, um passinho só." Ele diz sorrindo. Aposto que está fazendo isso de propósito, sei disso, só quer me ver perder a cabeça... Não darei esse gostinho.

"Então, cérebro, o que faremos?" Digo em voz alta. Não por estar com raiva ou ter perdido a paciência, mas porque o quarto estava muito silencioso. De fato.

"Faremos amizade com a Quinn, depois com a Santana." Ele diz como se fosse uma verdade absoluta e eu viro os olhos.

"Ah sim, agora tudo ficou claro. Porque eu não tentei isso o suficiente pelos últimos três anos..." Digo jogando os braços pro ar. Hum. Disse alguma coisa errada, certeza que disse. Droga, o sorrisinho virou uma gargalhada. Cacete! Me ferrei.

"Essa é a confissão de que está apaixonada pela Quinn." Ele diz depois de tomar ar e entrar em mais uma série de gargalhadas. Desgraça, maldita falta de filtro!

"Isso não é confissão nenhuma, e não faz o menor sentido, estamos discutindo coisas sérias aqui, Noah Puckerman!" Ele continua rindo, eu jogo o sr. Arnstein, meu urso de pelúcia, nele. Em uma hora ele já me fez desarrumar meu quarto, praga. "Dá pra parar de rir? Elas estão correndo perigo e você está rindo. Nós temos que fazer algo antes que os fantasmas descubram onde moram." Isso parece acordá-lo de seu transe e ele diminui suas gargalhadas, até arfar.

"É verdade." Não, palhaço, eu estou brincando aqui!

"E..." Eu tento influenciá-lo a formar um plano.

"Você está certa." Mentira? Cacete azul, é claro que eu estou certa! Eu o olho com os olhos cerrados pra ver se ele usa o cérebro e surge com algum plano.

"Por que você está me olhando assim? Não é como se eu tenha sido amigo delas alguma vez na vida." Ele me diz com as mãos para na frente de seu peito, como se estivesse se defendendo de minha fúria. Mal sabe ele, mal sabe.

"Bem, você dormiu com as três..." Digo revirando os olhos. Motivos implícitos.

"E quem não dormiu? Exceto com a Quinn, claro, ela é bem cheia de coisa e... Ai, porra!" Dessa vez eu testo as barreiras e jogo um sapato nele – façam quantas piadas quiserem, o momento pedia e não ia arriscar minha coleção da Barbra. Ele ri, maldito!

"Você se dava bem com a Quinn, antes de... você sabe." Falo entre os dentes trincados, não por ciúmes, mas por ele não surgir com nenhuma solução.

"Porque eu era amigo do Finn e ela era namorada dele..." Ele se interrompe embaraçado pelo assunto e situação. Melhor que esteja mesmo, não poderia conhecer alguém tão errado "Enfim, temos que pensar num jeito de fazer isso dar certo." Ele responde engolindo em seco. Se um olhar matasse, ele estaria fulminado no chão.

"Hum..." Respondo desanimada e subitamente cansada do assunto.

"Já sei!" Ele grita em minha janela. Tenho certeza de que se os mortos voltarem a nos infernizar, a polícia poderá colocar uma cabine na frente da minha casa, caso ele resolva continuar aparecendo assim pela janela. Poupar o trabalho de trazer viaturas e fazer ocorrências porque os – ó, tão adoráveis – vizinhos vão nos dar tanto trabalho quanto os seres paranormais. "Primeiro vamos te deixar gostosa." Eu me engasgo com minha própria saliva "Queimar todas essas roupas assustadoras em nome de Jesus e depois nos aproximaremos delas." Ele é judeu, de onde tirou Jesus? Eu me sinto invadida, muito. Primeiro ele invade minha privacidade, depois meus pensamentos e depois meu closet. Que diabo?

"Que diabo?"

"Ora, você tem que estar gata pra andar com elas, Rach. Eu sei que você tem potencial, acredite em mim," Ele diz enquanto me risca de cima a baixo e eu tenho vontade de esganá-lo "mas esse unicórnio aí no seu suéter não dá." Eu olho para o meu suéter e não vejo nada de mau nele, não mesmo. Peraí

"Isso não é um unicórnio, é um pônei." Digo virando os olhos.

"Que seja, tudo tem cifres." Um ultraje ele dizer esse tipo de coisas. Ele pode ter um cérebro a seu favor, mas acho que com isso fica claro que nem sempre ele usa esse artifício.

"A única coisa que tem cifres nesse aposento é você, Noah Puckerman." Ele revira os olhos e balança a cabeça "Além do mais, isso não é um cifre, é o pêlo dele ao vento." Uma figura tão bonita, poderia facilmente ser uma pintura, com cores...

"Dane-se isso, quer ajuda ou não?" Ele diz impaciente.

"Vamos..." Digo sem convicção, sem emoção e com um nó na garganta. Pra quem enfrentou tantos fantasmas, caiu na porrada, caiu de telhados, foi atropelada, socada, chutada, ameaçada, quebrou costela e sem contar no incidente do carro e a cadeia, eu posso dizer que estou apavorada como nunca. Imagens invadem minha mente, me vejo como uma prostituta, mascando chicletes e rodando uma bolsinha, bem próximo da transformação proposta pelo Kurt, só que com menos roupa, claro. O sorriso maníaco dele não ajuda em nada e um calafrio passa por minha espinha. Kurt! Ele vai ficar decepcionado em me ver diferente quando me segurei tão firme para não ceder à suas...

"Ei! Solta isso agora!" Grito enquanto vôo em cima dele para resgatar o sr. Owl de suas mãos maléficas e gigantescas. Ele me olha sério enquanto abraço meu suéter preferido.

"Quer isso ou não?" Pergunta diretamente.

"Ele precisa ir?" Digo com lágrimas nos olhos. Eu realmente amava o Sr. Owl. Ele revira os olhos e meu armário está espalhado pelo chão do meu quarto. Esqueçam quando eu disse que o quarto estava bagunçado por meus pertences voarem com uma misteriosa vontade própria na direção dele. Agora meu quarto estava revirado. Já vi furacões que fizeram menos estragos que Noah Puckerman. E, sem coração no peito, ele simplesmente separava em pilhas o que iria embora e o que ficaria, enquanto fazia breves – ou nem tão breves assim – comentários sobre as minhas saias e o comprimento delas. Eu revirava os olhos ao mesmo tempo em que tentava salvar algumas peças de roupa de sua fúria destrutiva.

Depois de meia hora, se deu por satisfeito e me puxou pelo braço murmurando algo como "traz seu cartão de crédito". Eu o peguei. Na verdade, meu cartão não tinha limites, mas como meus pais não são o estereótipo gay, eles não sabem me vestir – não que eu precise de ajuda para me vestir, gosto muito do meu estilo, obrigada; mas eu precisava chegar perto de Quinn.. para salvá-la, claro. Definitivamente. Logo, eles ficariam pra lá de felizes vendo que fui fazer compras com amigas - ou amigo, que fosse - e não reclamariam da conta. Sorte nossa porque, bem, eu também pensava em dar uma repaginada nele. Se ele quer fazer amizade com Quinn e as cheerios, tem que passar a se vestir como homem, não como marginal.

Então, saímos os dois pela janela pra fazer compras, em plenas 21h. Não sei onde acharíamos lojas abertas. É, descobrirei em breve. Ele arrancou com sua picape e fomos ao shopping.

Chegamos a um dos shoppings mais caros já conhecidos pelo homem em um lugarzinho tão chinfrim como Ohio. Com Noah me arrastando, invadindo lojas, ameaçando vendedores e falando sobre mim como um verdadeiro cavalheiro, a noite foi agradabilíssima.

Eu estava sendo carregada pelo braço como uma criança mimada e as pessoas estavam prestando atenção na nossa relação mais que amorosa.

"Noah, dá pra você soltar o meu braço, cacete? Não é assim que se trata uma dama, sabia? Isso explica porque suas relações sentimentais com indivíduos do outro sexo..."

"Por que você simplesmente não diz 'mulheres'?" Ele me atropela sem ligar para o meu braço, minha confissão, os olhares alheios de nojo e meu conselho. Isso, claro, não me impede e nem me afeta.

"... nunca dão certo. Você não pode sair abusando de sua estatura e peso e me arrastar como nos tempos das cavernas." Ele não podia mesmo e, se nenhuma mulher o ensinou isso, Rachel Berry está aqui pra isso. Parei e bati o pé no chão. Ele revirou os olhos.

"Okay, não estou mais abusando de você." Ele disse ao parar. Vendo que eu não me movi, continuou "Agora podemos ir?" Disse impaciente.

"Não." Ele cruzou os braços e cerrou os olhos. Coitado, achando que me assustava "Me ofereça o braço como um cavalheiro." Ele ficou parado, não mais com os olhos cerrados, mas com um quê de surpreso "Vamos, Noah, ou quer passar a noite aqui?" Ele deu de ombros e fez como pedi. Rachel Berry ainda está na briga para igualar o placar.

Duas horas depois, na quinta loja "Idiota, pegue umas calças que deixem ela gostosa." Ele falou para o vendedor enquanto me via blusas. Eu, é claro, fiquei estarrecida e sem palavras. E isso, vindo de mim, quer dizer alguma coisa...

"Noah!" Disse pra ele e me virei para o vendedor "Perdão, rapaz, ele acabou de sair da prisão e não sabe lidar com seres humanos, claro que isso não é justificável de modo algum e ele também nunca soube lidar com pessoas, de todo modo, ou animais também, já que ele tinha um estilingue e matava qualquer coisa que voasse." Parei para olhar o sujeito e acho que ele confundiu o 'estilingue' com escopeta porque a cara que ele fez foi de completo transtorno. "Mas, por favor, aceite minhas sinceras desculpas..." Quando fui olhá-lo de novo, ele estava pálido como uma parede de igreja e se virou apressado pra se esconder – ou buscar as calças. Depois fui perceber que citei o fato de Noah ter ficado retido. Pois bem, antes que eu pudesse me explicar (ou explicar ainda mais a extrema falta de educação do meu amigo), ele já tinha corrido atrás das calças como um morcego saindo do inferno.

"Noah, você precisa aprender a lidar com as pessoas, não podemos tratar todos assim..." Disse baixo, ao chegar mais perto dele que, me ignorando, estava decidindo entre a blusa com menos pano que iria me fazer levar. Tinha duas boas opções: uma com um decote que me deixou pensando em qual seria a utilidade de ela simplesmente ter pano na parte da frente, era mais simples amarrar os dois lados da blusa com uma corda. E outra que tinha uma fenda atrás maior que o Grand Canyon. Discretas, como sempre, as suas opções.

"Hu-hu" Foi sua resposta ignorante. Eu odeio ser ignorada, acho que isso é senso comum, então resolvi chamar sua atenção de outro modo – não, não foi quebrando seu nariz e nem tirando a roupa.

"Fala comigo, punk. O que houve?" Disse tocando o seu braço. Ele encolheu os ombros.

"Lauren terminou comigo." Ele disse num sussurro e me pegou desprevenida.

"Como assim, quando, por quê?" Perguntei numa corrida.

"Hoje mais cedo. Ela disse que sou cansativo e não sou radical o suficiente pra ela, já que nem a merda de coroa ganhamos. Simples assim, me chutou como um cachorro velho." Eu sorri em simpatia e passei a mão em seu braço, fazendo carinho.

"Eu estou sempre aqui, sabe, né?" Ele concordou com a cabeça "Então posso ser sincera com você?" Novamente, ele disse sim "Ela não te merecia. E antes que você diga que estou falando isso pura e simplesmente para levantar sua moral, estou fazendo meu papel de amiga. Ela podia ser radical pra ela, mas você merece alguém melhor, que te trate melhor, que te compreenda e não abuse dos seus sentimentos, Noah. Você é um bom rapaz." Disse sorrindo.

"Isso é você me pedindo em casamento?" Ele disse sorrindo maligno. Só para ele mesmo levar tudo em sua pessoa egocêntrica. Revirei os olhos, mas sorri, já que ele pareceu bem melhor.

"Nos seus sonhos, Puckerman!" Ele riu e relaxou consideravelmente. Ao tempo que o menino chegou tropeçando com as calças.

"A-aqui, aqui estão as calças!" O pobre disse com medo.

"Você pegou o número errado, imbecil! Não tem olhos pra ver que essas vão ficar muito grandes nela?" Primeiro, as calças não iriam ficar grandes, não mesmo. O que me levou a sentir medo de como ele planejava me vestir. Segundo, como alguém passa de um papo tão sentimental para um completo idiota em questão de segundos? Isso me deixou sem palavras novamente.

"Noah!" Disse enquanto o vendedor corria com as calças na mão – trocadilho infame, mas totalmente cabível dada a situação.

"Que foi, superstar? Não acha que só por causa desse papo da Lauren eu ia virar uma mulherzinha, né? Ele precisa saber com quem está lidando e eu não mais nem aí pra ela." Seu sorriso diabólico voltou com força total "Na verdade, eu estou bem interessado em te ver nas belezinhas que ele vai trazer daqui a pouco..." E ainda piscou!

"Ai, caralha!" Foi o que ele gritou depois que eu soquei seu braço.

Depois de 5 horas – shopping 24h, não importa o tamanho do seu consumo, esse shopping está aí para realizar seu sonho, ou vice-versa -, várias sacolas que estávamos sem braços para carregar, mais duas horas e meia de volta, alguns desentendimentos e uma conta no cartão que faria a Lady Di morrer novamente, voltamos para Lima e fomos tomar café da manhã para seguirmos pro Mckinley. Uma lanchonete bem muquirana, mas pra quem é, basta, né?

"Como está se sentindo, princesa judia?" Ele me perguntou sorrindo, estava satisfeito consigo e usando uns óculos de sol que compramos mais cedo. Hábito que usávamos quando precisávamos perseguir fantasmas de madrugada. E, caso interrogados na escola, a resposta sempre era um "conjuntivite" uníssono. Ele me estendeu a mão e me fez levantar da mesa e dar um giro, que fiz com graça, apesar da noite em claro andando em shopping. "Wow! Você está incrível, superstar! Qualquer coisa que tenha olhos vai te notar na escola." Ele deu um sorriso sincero e eu fiz uma mesura, pois sou moça educada e preciso treinar pros meus futuros aplausos quando eu, finalmente, seguir meu destino e virar uma estrela da Broadway.

Eu estava vestindo uma calça jeans skinny, bem clara e colada – fiquei desconfortável a princípio, mas encarei como um papel que precisasse do tal figurino -, botas pretas longas, até ao alto da canela, de saltos e para fora da calça e uma blusa em gola "v" branca, não muito colada, mas que, confesso, me favorecia e óculos aviadores da Ray Ban. É, eu estava bem e me sentindo bem - a melhor parte - e ele sabia disso. Por isso desconversei.

"Me sinto cansada e você?" Respondi sorrindo enquanto abaixava os óculos e dava uma piscada pra ele, que sabia que eu estava brincando. Ele se riu com vontade e parei para examiná-lo. As mulheres de toda Lima podem me agradecer de joelhos, ninguém mais, ninguém menos que Rachel Berry tirou o - pico horrendo que ele chama de - moicano de Noah Puckerman. Sério, eu me sinto uma vencedora, a ponto de cantar "the winner takes it all" no meio do café. Ele pode não declarar pro mundo, mas tem um lado sensível comigo, é sincero e carinhoso também. Não que isso seja o único motivo de minha vitória homérica. Mas claro, não foi fácil...

"Nem morto!" Ele disse convicto.

"Não brinque com essas coisas de morte, Noah, são assuntos sérios e você sabe." Disse séria.

"Isso não é nem uma opção, Berry" Certo, ele estava se zangando. Dane-se isso, ele estava puto da cara. Droga, terei que apelar.

"Noah, você destruiu meu armário, roubou minhas roupas sabe Deus pra quê, quis queimá-las em um ritual satânico no fundo meu quintal e eu só estou te fazendo um favor!" Nisso, ele arqueou a sobrancelha direita. Não tão bem quanto a Quinn, claro. Ela poderia dar aulas disso...

"Me ajudando como? Eu estou prestes a perder toda a minha masculinidade e você vem me falar que 'é para o meu próprio bem'? Oh me diga como pode ser isso?" Eles estava me fazendo de idiota em algum lugar da frase, disso estou certa, mas tem mal não...

"Sansão, isso é só um cabelo!" Ele abriu a boca para responder, mas me apressei "Ele vai crescer de novo, como da última vez. Além do mais, lembra dos lutadores da UFC quando costumávamos assistir juntos?" Sim, eu apelei, mas foi por uma boa causa. Ele concordou com a cabeça, ótimo "Então, lembra do Gracie?" Ele concorda novamente "Ele era destruidor e não usava moicano. Lembra como achávamos ele o melhor?" Ele riu baixinho e concordou.

Assim Dalila cortou o cabelo de Sansão – não, não assim. Teve todo aquele negócio de sexo e essa não era uma opção pra nós. Só de pensar nisso meu estômago se revira. Não que Noah seja feio, porque isso ele definitivamente não é, mas é quase um incesto pensar em dormir com ele. Credo!- E Rachel Berry raspou o moicano de Noah Puckerman.

"Bem, estou me sentindo estranho sem o moicano, confesso. Mas depois que você prometeu fazer kick-boxing comigo, acho que valeu a pena." É, eu vendi a alma e tinha me esquecido disso. Maldição! Dei um sorriso amarelo que demonstrava toda a minha empolgação – nenhuma. "Além do mais, essas roupas são maneiras, tô me sentindo diferente, mas é legal mudar, não?" Eu fiz que sim com a cabeça, era bom mudar, aumentava a confiança. E ele estava muito bem também, dentro de seu estilo: calças jeans rasgadas, uma bota militar preta (pra dentro da calça, por favor. Não vou deixar meu melhor amigo fazer papel de integrante do YMCA. Sem preconceitos, claro, pois isso é a única coisa que não tenho, além de filtro e limites) que, segundo ele, não poderia viver sem, e visto agora, era uma botina realmente bonita, uma camisa vermelha, uma jaqueta de couro marrom e óculos escuros discretos. "Rá, to parecendo o exterminador do futuro, né?" Ele disse depois de dar uma volta e nós dois rimos.

"Não, punk, você está lindo, de verdade." Fui extremamente sincera e sorri o seu sorriso preferido, que ele me devolveu em seguida. Voltamos a sentar e pedimos cafés grandes e duplos – era uma necessidade.

"Superstar, e o Finn? Quer dizer, ele vai nos ver chegando juntos e tal..." Ele falou enquanto comia, estávamos em Lima, mas ainda afastados da escola e do "centro" da cidade, se é que nesse antro algo pode ser chamado de centro... Opa, peraí, ele está falando comigo... Finn?

"O que tem o Finn?" Pergunto perdida, a cafeína ainda não bateu.

"Ele vai te ver chegando comigo e vestida pra matar e eu estou bonitão também, então..." Eu senti que ele falou com um pouco de culpa "aquele negócio antes do Natal passado, nós dois, ele pode pensar algo..." Noah realmente é um ótimo amigo, o melhor. Quem imaginaria ele se sentindo culpado por um namorado estar com ciúmes? Ok, é porque ele não se importa. Mas comigo sim e isso faz meu coração ficar mais quente. Eu sorrio.

"Ele que supere seus problemas sozinho." Digo olhando pra minhas torradas e depois sorrio pra ele. Movimento errado, Berry, bem errado. Ele arqueia a sobrancelha – sério, quero saber o que há com isso que todo mundo resolve fazer – e dá o seu sorriso desagradável. Eu deveria ter previsto. Cacete!

"Concordo, Rach, ta na hora de testar novas águas, novos corpos atléticos que sofreram as rotinas não-convencionais de treinamento de Sue Sylvester e..." Ele é interrompido pela minha crise de tosse depois de engasgar e ainda queimar a língua com o café. Posso dizer que a sorte nunca andou ao meu lado. Eu ficaria embaraçada por tudo isso, mas estava tossindo demais pra me preocupar até em respirar. Resumindo, estava vermelha e sem ar. Enquanto ele ria, como sempre. Retiro o que eu disse, Noah Puckerman não vale nem um café dormido na rodoviária! Minha tosse foi diminuindo, mas meus olhos estavam cheios d'água, o que me fez ter o trabalho de tirar os óculos e secá-los com as costas da mão enquanto arfava.

"Noah, isso não é algo que se fale e não tem a menor graça." Acreditem, teria sido sério, caso eu não estivesse fazendo ameaças entre acessos de tosse.

"Shhh" Foi o que ele disse. Abusado! Como ele ousa?

"Puckerman, eu..." Foi então que olhei em seus olhos que estavam sem os óculos e arregalados, suas feições um pouco pálidas e parecia que ele tinha visto...

Me virei e olhei pra onde ele estava olhando. Lá estavam os fantasmas tentando roubar um café, em vão, já que pelo visto eram novos nesse negócio todo de morte. Estavam todos com roupas pretas e eram incrivelmente vigorosos – nesse momento, as aulas de kick-boxing podem ser até úteis -, na camisa se lia que eram de um algum grupo de esporte de colégio. Voltei os olhos pro Noah – ele pensou o mesmo que eu – e me virei pro grupo novamente. O rapaz era um pouco mais baixo que o Finn, porém mais forte, com cabelos escuros e olhos bastante negros. Era particularmente bonito e tinha uma postura que impõe presença. Olhei de volta para Noah – é, um soco desse urso e eu vou passar o resto da vida tentando reconstruir os dentes, sorte minha. As meninas eram igualmente bonitas. A morena era mais esguia, tinha os olhos verdes penetrantes, os cabelos ondulados perfeitamente – pra que ela precisa de um cabelo desses pra onde vai? Poderia me dar - e um sorrisinho que faria Santana sentir medo. A outra era ruiva, tinha os olhos cinza e nublados – era a chefe do grupo, provavelmente -, a pele clara como a de Quinn e uma expressão que me dava voltas no estômago.

Olhei para Noah novamente, ele me olhou com olhos bem abertos que depois cerrou, junto com os punhos. O menino estava nos olhando – tudo bem, talvez eu tenha chamado a atenção por ter me virado em 360º para observá-los, sou curiosa e confesso – e deu um sorriso satânico que fez meu sangue ferver. Devagar, me virei e chutei a perna de Noah – que nesse momento estava vermelho de raiva – para que me olhasse, funcionou. Eu senti o olhar dos três e creio que o mesmo aconteceu com ele. Mas, pelo menos, eles estavam apenas nos encarando até o dado momento, não se aproximaram.

Foi quando Noah pegou a caneta que estava em seu casaco – ele disse que mochila não combina com sua conduta de delinqüente, ou algo parecido – e escreveu algo em um guardanapo. Depois me passou.

Eu os conheço.

Do seu pior pesadelo? Porque eles podem ter habitado o meu também.

Eles são do time que compete com as cheerios, os últimos vencedores das Nationals.

Como você sabe?

Eu pegava Santana, esqueceu. Ela já me pediu pra aprontar algo pra cima da morena.

Tipo assassinato? Perguntei aterrorizada, porque né?

Claro que não. Santana não é assim.

E o que foi enfim?

Pra ela terminar com o Marlon Brando ali. A Santana dormiu com ele.

Hum... Ok, isso fazia sentido pra menina morena, mas não para o resto, a menos que sejam uma gangue, o que não duvido. Mas isso ainda não responde o que a Quinn tem com a história.

Mas o que a Quinn tem com isso?

Ela ainda é a melhor capitã de líderes de torcida do país, lembra?


Confesso que senti orgulho lendo isso, mesmo tendo saído das cheerios há algum tempo – e elas perderam o último campeonato, talvez por isso -, ninguém ainda tinha alcançado a marca de Quinn como capitã. Tanto orgulho que devo ter rido, pois ele me chutou a canela e mandou um olhar desaprovador. Sorri sem graça e infame, mas o que eu posso fazer. Foi quando ele me deu outro chute e olhei para o lado.

"Tem lugar pra mais três?" Perguntou Marlon Brando, num tom que ele deve ter achado ser charmoso e olhando fundo nos meus olhos. Minhas mãos automaticamente amassaram o papel. E ele sorriu. Não fosse por Noah, nosso disfarce ainda estaria intacto – afinal, são 17 anos de aulas de teatro e drama. Quando ele socou a mesa com os punhos cerrados, todos se viraram para nós e Marlon Brando grunhiu em meu ouvido "Acho que isso é um 'sim'." É, agora nosso dia estava prestes a melhorar ainda mais.


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Notas finais do capítulo

Ah sim, sintam-se a vontade para comentar. Ou sugerir. Ou reclamar. Tô aqui pra isso.