Epitáfios. escrita por Fofolet Cullen


Capítulo 2
Two.




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Capitulo 2.

10h20min da noite, 24 de dezembro de 2011.

-Sorria para foto minha doçura – minha mãe sorria segurando a câmera. Dei um pequeno sorriso.

-Nunca vi um sorriso tão belo – minha ‘sogra’, me abraçará – Você deveria mostrar mais – O sorriso em seus lábios era lindo, mais os seus olhos mostravam tristeza – Espero que goste – Desembrulhava um pequeno saquinho.

-É lindo – ela tirará de lá de dentro um lindo colarzinho de ouro, com um pingente de ‘porta-fotos’.

 -Abra – ela me sorria.

Abri e lá estava à foto, Brad estava mais lindo do que o normal nesse dia, vestia uma camisa social, calça jeans, seu all star surrado... Eu era tão pequena ao seu lado, com meu vestido branco e a sapatilha azul.

-Perfeitos juntos – Minha irmã chegou ao meu lado.

Não pude evitar e deixei as lagrimas caírem, eu sentia tanta falta dele...

-Não chore minha flor, ele está em um lugar melhor do que o nosso – Estávamos todos sentados na sala agora – Eu e sua mãe estávamos conversando, ambas concordamos que você deve voltar para a faculdade, e quanto ao apartamento, deixaremos você decidir se vai querer morar lá, ou vender – Endy, a mãe de Brad me olhava nos olhos.

-Como assim? O apartamento vai ficar lá, assim que eu me recuperar vou ir morar lá – Eu estava indignada – Como pensaram que eu venderia ele? Eu e Brad construiríamos uma família lá, ele não pode ser vendido, como se não fosse nada – Eu olhava pra elas e para minha irmã.

-Tudo bem, mais por enquanto, você continuará aqui, até melhorar – Minha mãe parecia preocupada – E enquanto a faculdade? – Ela perguntará.

-Eu voltarei, mais no próximo ano, não me sinto em condições de encarar ela sem ele ao meu lado – Eu mantinha a força, elas não me forçariam a fazer nada que não quisesse.

-Marie, eu sempre admirei sua força e seu senso de vida, mais querendo ou não, quem partiu foi meu filho e não você, já vão se fazer cinco meses, você precisa voltar a vida – Ela segurava minha mão.

-Como assim voltar à vida? Todos aqui sabiam que ele era minha vida, nós éramos uma única vida, eu não posso simplesmente sair por ai como se nada tivesse acontecido, ELE MORREU a minha vida foi despedaçada será que você não entende isso? Eu não tenho motivos para viver, não me venham com essa historia de novo, quando eu me sentir boa o suficiente pra voltar pra faculdade, eu voltarei – Levantei com dificuldade e peguei as muletas – E quando ao apartamento, semana que vem estarei voltando pra lá, mamãe – Sai andando.

09h30min da manhã, dia 2 de janeiro, 2012.

-Ultima caixa, espero que não precise de mim de novo, tão recentemente ok? – Lian, o namorado da minha irmã mais velha, me ajudava a subir as coisas para o apartamento, juntamente com meu pai, minha irmã e o caro da transportadora contratada. Minha mãe ficará brava dês da noite de natal e jurou não mover um dedo, caso eu resolvesse me mudar, segundo ela, eu não tinha condições de morar sozinha.

-Bom, os rapazes podem ir agora, eu e Marie iremos arrumar algumas coisinhas sozinhas, e eu irei dormir aqui com ela hoje – Nina virou-se para mim, com um sorriso – Se não tiver problema pra você Marie – ela arqueou uma sobrancelha.

-Não, problema nenhum, acho que vai ser bom uma noite com alguém, nessa casa solitária – sorri para eles.

-Bom, então eu vou indo meu amo, preciso trabalhar – Lian, pegou no rosto de Nina e lhe deu um beijo, como isso me lembrou de Brad, quando ele me beijava na testa, como eu me sentia segura, no mesmo estante senti uma pontada no coração – Mais tarde venho aqui, para comermos uma pizza, amo você, tchau Marie – ele se dirigiu a porta – Você não vêm sogrão? – Agora se referia ao meu pai.

-Ah claro, uma carona é sempre bem vinda não é? Se cuidem meninas, mais tarde eu ligo – Ele se virou, e eu me encostei-me à parede, estava precisando de um remédio.

-Ah pai, mande um beijo para mamãe – consegui forçar para falar segundos antes de fecharem a porta.

Pude ouvir um ‘pode deixar’ do lado de fora.

-Bom, vamos começar, guardando as coisas no armário, ok Marie? – Nina se virara para mim – Ai meu Deus Marie, você está bem? Sente-se – Ela me pegou pelos ombros e me guiou até a cama – O que ouve? – Ela perguntou se sentando ao meu lado.

-Nada, foi apenas uma tontura, eu estou bem, só pegue um remédio de dor de cabeça pra mim, por favor – Apontei para minha bolsa.

-Você precisa parar de tomar isto, vai viciar e irá fazer mal – Ela foi até a cozinha, e alguns segundos depois voltou com uma garrafinha de refrigerante – Não achei copos para pegar água, toma com isso mesmo - Me entregou a garrafa e o remédio.

-Remédio nunca faz mal – Sorri e tomei.

-Em excesso sim, falando nisto, você considerou aquela idéia de ir ao médico? Você precisa conversar com ele sobre essas constantes dores de cabeça – Nina era a única pessoa com quem eu me sentia a vontade para conversar disto tudo.

- Para que? Ele só vai dizer que é psicológico e querer me encaminhar a um psicólogo, e eu não estou louca, estou triste – Forcei um sorriso.

- Já se passou o tempo em que você era triste não é? Marie, não me leve a mal, por favor, mais eu acho que você está entrando em depressão, você não sai mais com suas amigas, não se arruma, você costumava ser tão linda Marie, eu sei que deve doer perder alguém tão importante assim, mais você ainda está aqui, esta vida, se você quiser, vou com você, por favor, me dói tanto ver você assim – Ela tinha lagrima nos olhos.

-Ok, eu vou, mais só pra ver como é, agora pega minha muleta pra eu levantar, que eu tenho uma casa toda para arrumar, por favor – Sorri para ela.

Começamos a desempacotar as caixas.

-Não acredito! Você ainda guarda essas provas, sua boba, ainda vai esfregar na minha cara que tira notas maiores do que a minha? – Ela riu – Olha lá, só nota dez, que menina exibida viu – Ela mostrou a língua.

Nós rimos nos divertimos, até choramos com lembranças e fotos da infância, e no final da tarde, meu quarto já estava todo arrumado.

-Bom, vamos tomar banho e quando chegarmos da pizzaria arrumamos a sala, o que acha? – Ela levantou e foi pegar sua bolsa.

-Não, pode ir à pizzaria com o Lian, que eu fico arrumando, quando chegar vocês me ajudam com as coisas finais, pode ser? – Abri a gaveta do guarda-roupa, para pegar uma toalha para ela.

-Ah, não Marie, você tem que ir com agente, por favor, faz tempo que você não sai – Ela tinha um bico no rosto – E se ficar aqui, vai comer o que? – Bateu o pé no chão.

-Traga pizza pra mim – Fiz cara de obvio – Eu não estou me sentindo muito bem para sair, fiz muito esforço hoje não acha? Vá se divertir com o Lian, não quero atrapalhar – Menti descaradamente, a verdade é que me doía ver Lian e Nina aos beijos e aos abraços, me lembrava demais Brad e não me fazia bem.

- Vou tomar banho e você vai logo depois, nem que eu te puxe pelos cabelos, você vai junto – Se virou e foi para o banheiro, minutos depois ouvi a campainha, peguei as muletas e fui até a porta.

-Cunhada, ainda está assim? Cadê a Nina, diga-me que pelo menos ela está pronta, temos hora marcada queridinha – Ele logo foi entrando.

-Estou aqui – Nina gritou do quarto – E Maire já está indo tomar banho, não é? – Ela sorriu, saindo do quarto, com um vestido longo e florido e uma rasteirinha no pé, prendeu os longos cabelos loiros em um coque.

-Eu já disse que não vou, desculpe Lian, mais estou indisposta – Fui em direção ao quarto.

-Tudo bem, já que minha cunhadinha está indisposta, ficaremos e comeremos pizza aqui – Ele sorriu para Nina – tem problema amor? – perguntou para a mesma.

-Sim, porque eu já me arrumei lindamente, mais pela irmãzinha casula mimada eu fico – Ela sorriu – Comemos a pizza e depois eu e você vamos dar uma volta, pode ser Maire? Agüenta dormir sozinha neném? – Ela fez carinha de bebe.

Mostrei a língua e sai andando.

-Vou tomar banho, quero pizza vegetariana – Peguei uma toalha e fui para o banheiro.

Demorei no banho, lavei meu cabelo e vi a tinta vermelha escorrendo, fazia muito tempo que eu não a retocava, olhei minhas unhas e as vi toda roída, conseguia ver meus ossos, logo me enxagüei e vesti um moletom largo, penteei o cabelo e o prendi em um rabo de cavalo.

-Achei que fosse deixar a pizza esfriar – Nina estava sentada no chão, comendo com a mão.

-Já chegou? – Ou eu demorei muito no banho, ou a pizza veio de jato.

-Está é uma das vantagens de ter uma pizzaria na esquina do seu prédio, querida – Lian sorriu – Vou vir muito aqui comer, espero que não se importe – Ele soltou uma gargalhada.

-Ah claro, tinha me esquecido desse detalho, vamos me dê um pedaço, antes que acabe com tudo – Sentei-me com eles, e enchi meu copo de coca.

-Ai Deus, só comemos besteiras, precisamos parar com isto – Nina sorriu – Estou gorda.

-Ninguém te força a comer Nina – ri da cara dela.

-Mas compram comidas gostosas, e eu vou ficar só olhando? – Ela mostrou o dedo – Eu vou é voltar para a academia, já você Maire, precisa é comer pode se ver seus osos menina – Ela falava como alguém dando uma bronca.

-Estou bem assim, obrigada – A verdade era que, por mais que eu comece nada ficava mais no meu estomago, sempre vomitava, ou mesmo não comia, eu não conseguia engordar e só vinha perdendo cada vez mais o peso.

-Bom, agora que estamos todos comidos, vamos colocar nossa belezinha na cama e sair, que a noite é uma criança – Lian se levantou.

-Maire, o Lian me traz amanhã de manhã, quando estiver indo trabalhar ok? Deite e descanse, deixei o seu remédio para a perna em cima da cômoda, mais os de dor de cabeça estão na sua bolsa, no mesmo lugar, qualquer coisa me liga, caso não consiga dormir – Ela parecia preocupada.

-Tudo bem mamãe, não vou colocar fogo na casa – Eu ria.

-É a primeira vez que você vai dormir sozinha, depois de... Ah você sabe, promete pra mim que vai ficar bem? – Ela tentava sorrir.

-Prometo que irei tentar qualquer coisa eu te ligo tudo bem? Eu só vou deitar e dormir, e acordar com você batendo na porta, como sempre, pode ir, ficarei bem – Dei um sorriso fraco, porém sincero, eu estava precisando desse tempo sozinha.

-Ok, nós te amamos, beijos – Logo saíram e eu passei a chave na porta.

Ouvi Lian gritando ‘não se esquece de escovar os dentes’ do corredor e depois sua risada escandalosa.

Levei os pratos até a pia e os lavei, peguei uma garrafa de água e apaguei a luz, deixei a luz da sala acessa e fui para o quarto, estava abafado. Abri a janela, e senti o vento gelado, peguei uma coberta e apaguei a luz. Logo peguei no sono.

*Ele se foi, nunca mais vai voltar, te deixou sozinha, sem vida, sem alternativa, você está fraca para morar sozinha, fraca para voltar a viver, sua perdedora, sua fraca*

Acordei com um pulo, ótimo, mais pesadelos. Estava suando, e a janela estava fechada, virei sonâmbula agora? Bebi a água, e me sentei na cama, pisei no chão descalça e senti o alivio por estar tão gelado.

Levantei-me e fui até a sala, à sacada estava fechada, fui ao quarto peguei uma coberta, abri a sacada e me sentei. A vista do apartamento era realmente linda, eu podia ver a Avenida Paulista logo à frente, tudo seria tão perfeito. Não pude evitar e as lagrimas vieram, me lembro de quando viemos a essa sacada pela primeira vez.

*-Vamos nos sentar aqui, abraçadinhos no inverno, tomando chocolate quente, e depois de alguns anos faremos isto com uma criança sentada no meio de nós, brincando com os carrinhos, o veremos crescer nessa casa, até ela ficar pequena demais para ele e os próximos bebes – Brad me sorria*

Lembro-me de pensar nessa mesma varanda, que ele era o homem perfeito, o príncipe que toda garota procurava, talvez seja por isto mesmo que ele tenha partido, ele era muito, para esse mundo de imperfeições. As lagrimas caiam e eu soluçava meu Deus, eu tinha mesmo que conhecer tanta felicidade, e depois ela ser arrancada tão bruscamente de mim?

Tirei a coberta do corpo, e a coloquei no chão, me apoiei a ela como travesseiro e me deitei, pouco importava o frio, a dor era muito maior do que esse pequeno fato. Passei a noite toda em claro, lembrando de todas as promessas de uma vida juntas.

Horas depois de amanhecer, pude ouvir a fechadura da porta sendo aberta, Nina entrou carregando umas sacolas.

-Marie, ai meu Deus, você queria me matar de susto? Porque não atendeu o celular, eu devo ter te ligado umas vinte vezes – Quando me viu deitada na varanda, largou as compras no chão e veio até mim – Ai Marie, o que está fazendo aqui? Neste frio! Não me diga que você passou a noite toda aqui, vai pegar uma pneumonia – Sento-se ao meu lado e se envolveu nos meus braços, foi ai que chorei mais ainda – Eu pedi pra você ficar bem não pedi? Porque não me ligou e disse que precisava de mim? – Eu pude ver a tristeza em seus olhos, rodeada de culpa.

-Não é sua culpa Nina, você também tem uma vida, eu só vim tomar um ar, estou bem – falava entre os soluços.

A porta foi aberta novamente, e Lian entrou dando seus largos passos.

-Pronto, as compras estão aqui... – Ele parou de falar quando nos olhou, Nina lançou um olhar para ele e ele saiu nos deixando a sós.

-Vamos, levante-se e tome um banho quente, nos vamos ao medico, e isso não é um pedido é uma ordem Marie – Ela me olhou com os olhos firmes, se levantou e pegou as sacolas.

Levantei-me com dificuldade e fui até o banheiro, vi Nina falar assim, poucas vezes na minha vida e o melhor a fazer é obedecer.


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