10 anos depois...

“Passaram-se tantos anos, e eu ainda me excluo de algumas coisas.

Bom, eu cheguei a pensar que nada disso daria certo, mas por fim ainda estamos juntos.

Só há um problema ... ninguém sabe ainda.

Claro, tirando meu irmão e o Tatsuya, ninguém mais sabe que eu e o Kai estamos juntos, há tanto tempo.

Quando voltei dos Estados Unidos, o Kai quase não tinha tempo para ver os amigos, ele tinha começado a trabalhar no restaurante dos pais.

E foi lá nosso reencontro.

Eu achei que ele não me esperaria, por que algumas vezes eu não conseguia entrar em contato com ele.

Fiquei meses sem conseguir falar com ele

Mas ele estava lá, e em recebeu com aquele sorriso, exibindo suas covinhas, e me deixando mais uma vez inebriado com o amor que sinto por ele.

Bom, eu descobri que o amo de verdade...

Quando eu voltei eu estranhei um pouco, dividir a casa com o Kaya, o Myv.

É o Myv cumpriu a promessa. Moramos todos juntos, apesar que o Miyavi fica mais tempo fora de casa.

O Miyavi conseguiu o que queria, ser músico. Quando  ele lançou seu primeiro single, fez sucesso imediato.

Ele assinou um contrato com a gravadora. E cada vez mais ele faz sucesso no mundo.

Tirando a parte de que o meu nii-san, tem um bando de fangirl correndo atrás dele, deixando o pobre Kaya louco de ciúmes, o Kaya aceita muito bem o sucesso dele.

O Kaya dá aulas de música no instituto, onde eu ajudava antes por obrigação, mas que agora trabalho por que adoro estar lá.

Eu, por incrível que parece ‘me tornei alguém’, quando voltei para cá, eu queria ser psicólogo.

Estranha minha escolha?

Todos acharam também, estudei muito e consegui o que eu queria.

As vezes sou atrapalhado por algumas anemias, e fico cansado demais para fazer o meu trabalho...”

- Totchi! – A voz do Kaya me despertou do devaneio. - O que você está fazendo? – ele estava parado atrás de mim, e puxou meu cabelo que agora chega no meio das minhas costas.

 Porque tão comprido?

Acho que passei uma grande parte da minha vida com ele curto.

- Ai, Tatsu... – sorri e olhei para ele, ele não mudou muito nesse tempo, o cabelo poderia até ser, bem curto e loiro, mas continua usando roupas femininas, que sempre deixam ele muito bonito.  – Eu estava escrevendo minhas memórias.

- Bom... mas depois você faz isso. – ele começou a fazer um trança no meu cabelo.

- O que você quer, Kaya? – sempre que ele mexe no meu cabelo ele quer alguma coisa.

É sério...

- Como você adivinhou? – ele riu – Mas então, hoje conseguimos reunir todo mundo, e queria que você fosse também.

- Kaya.. eu ... vou me sentir sem graça...

- Passado é passado, e cara... se passaram dez anos. Ninguém se importara se você for lá.

- O Yuji e o Kaoru pagariam para não me verem lá. – dei um meio sorriso, e comecei a rabiscar um papel em branco.

Eu tinha certeza disso, o Ni-ya estaria lá, e o ‘pior’ de tudo o Uruha estaria lá.

Por mais que ele tivesse dito que me perdoava, havia algo faltando... mas que eu ainda não sabia que o era.

- Totchi, você e o Kai não esconderão isso pra sempre. Vocês até evitam sair muito para não encontrar ninguém que possa criticá-los. – Kaya puxou meu cabelo de novo.

Me dei por vencido.

- Que horas?

- Assim que o Miyavi voltar do estúdio... ou seja vinte minutos. – ele riu.

-  Você me mata desse jeito. E o Kai?

- Vamos passar pra buscar ele.

- Onde vai ser?

- Na casa  do Aoi.

-  Tá, vou me arrumar... – me levantei, e ele riu dando alguns pulinhos.

- O que foi agora? – olhei para ele desconfiado.

- Nada... é que você e o Miyavi sempre fazem o que eu quero.

Mal de irmãos....

- Tonto... – ri.

Tomei um banho rápido, e coloquei uma roupa simples, não consigo andar tão ‘enfeitado’ como os outros.

Vesti um jeans com cara de velho, que digamos, é uma peça comum no meu guarda roupa, uma camiseta do “KISS”, coloquei meu all star preto.

Se a camiseta fosse do Nirvana, eu seria um grunge completo.

Sai do quarto, e encontrei meu irmão na sala, distraído com a televisão. Meu irmão também não mudou tanto assim, apesar que ele tem muito mais tatuagens do que antes. E seu cabelo também está mais comprido.

- Yo! Taka... – sorri.

- Yo Aniki! Ainda bem que o Kaya te convenceu, por eu iria te arrastar para lá.

- Não exagere, Nii-san.

- Vamos?! – Kaya apareceu, com sua vestimenta nada chamativa.

Eu ainda estava com receio de ir... respirei fundo e segui até a porta.

Miyavi me empurrou até o carro...

- Entra logo, Totchi... – ele riu me empurrando para dentro do carro.

Acho que fiquei encolhido até perto do restaurante do Kai...

Ele praticamente veio correndo até o carro...

É nenhum de nós perdeu as manias da adolescência.

Ele entrou no carro já me abraçando e me enchendo de beijos.

- Ouou, menos ae – riu Miyavi. – Nem parece que moram juntos.

- Não enche Meevs... – riu Kai se afastando de mim. – Eu tenho que aproveitar todos os segundos perto dele.

Seguimos até a casa do Aoi, que era bem bonita.

Pelo que eu sei, o Aoi agora é um empresário musical...

Eu sei também que, ele ainda tá com o Ryosuke, que trabalha como modelo.

Praticamente sei o que todo mundo se tornou, mas não os vi mais...

Se deram bem... Todos são bem sucedidos

O Myv e o Kaya meio que saíram correndo do carro.

*Manias da adolescência*

O Kai olhou para mim.

- Não tenho coragem de ir Kai. – disse baixando a cabeça para não encarar ele.

- Eles não vão te expulsar, koi. – disse ele arrumando a mecha que cobria meus olhos.

Levantei o olhar, e vi ele com aquele sorriso de covinhas, que sempre desarma minhas defesas.

Ele me segurou pela mão e me puxou para fora do carro.

Fui meio que arrastado até a porta da casa.

Confesso que estava tremendo de medo...

Aquela sensação de vazio,que eu sentira quando era pequeno, voltava, e eu nem sabia o porque.

Assim que a porta foi aberta, tratei de abaixar a cabeça, deixando que meus fios ocultassem meu rosto.

-Kaya-chan, Myv-kun, Kai-chan.... – senti olhos curiosos sobre mim, mas continuei de cabeça baixa,senti o Kai me beliscando, mas teimei em ficar encarando o chão.

- Ryosuke! Que saudade! – ouvi a voz do Kaya e depois fui puxado para dentro da casa.

Com o cabelo ainda ocultando o rosto,  ergui a cabeça e me encostei no canto.

- Totchi, não fica assim... –  o Kai ia tirar as mechas da frente dos meus olhos, mas eu impedi.

- Kai-chan... por favor... deixa eu tentar me acostumar com o ambiente.

- Vamos cumprimentar os meninos.

Ele não sugeriu, ele estava me obrigando.

Respirei fundo, e fui atrás dele, tirando o cabelo da frente do rosto.

Vi que todos já estavam lá, me senti envergonhado e abaixei a cabeça mais uma vez

- Toshiya? – ouvi a voz do Shinya, e procurei ele.

Logo encarei a figura loira, de cabelos tão longos quanto o meu. E com a aparência andrógena tão acentuada que quase não o reconheci.

- Shinya-san... – o cumprimentei sem graça.

- Você está diferente...

- Estou... – respondi. – E você também;

- Um elogio?

- Pode ser... -  tentei sorrir... mas minha vergonha por estar ali impedia.

Eu zoei tanto ele, e ele ainda é simpático comigo.

- Você realmente está mudado.

- Estou?!

- Se fosse como antigamente, você estaria já falando pelos cotovelos. – ele sorriu e bagunçou o meu cabelo.

Essa atitude me deixou agora mais seguro?

Logo, vi o Kaoru se aproximando, e tratei de recuar um pouco...

Ele está mais assustador que antes...

E sim, eu tenho medo dele.... Ele já me esfaqueou, não se esqueçam...

O cabelo bem escuro até os ombros, aquele olhar desafiador que nunca mudou, e nem mudaria, e muito mais tatuagens que antigamente.

- Kaoru... o Toshiya não está diferente? – Shinya o abraçou e apontou para mim.

- É, quase não reconheci. Como está Toshiya?

Ele falou num tom normal, mas mesmo assim me dava medo.

- Estou bem, Kaoru...  muito melhor que antes.

- Veio com o teu irmão?

- Com o Kai. – respondi, ao vê-lo vindo em nossa direção.

A feição dos dois foi de que não acreditava no que havia acabado de ouvir.

- Kaoru! Shinya! Quanto tempo! –  Kai os cumprimentou sorrindo.

- Kai-chan... – Shinya olhou para mim, e para o Kai. – Vocês estão juntos?

Kai ficou um pouco corado.

- Estamos, já faz um bom tempo...

- Nossa, e você nem para contar! – Shinya puxou Kai para o outro lado.

E eu meio que fiquei sem saber como agir...

- Parece preocupado...

- O ambiente me deixa acuado... – respondi por extinto.

- Ninguém aqui vai te jogar para fora a chutes... tenha certeza disso. – riu, bebendo o conhaque que trazia na mão.

- Eu vou me sentar... – me afastei do Kaoru e procurei o lugar mais distante de todos para me sentar.

Fiquei olhando todos.

- Não se isole... o passado não vale mais... – me virei e vi uma figura loira com o cabelo bem repicado, de olhos castanhos claros, e lábios bem desenhados.

Uruha

Só reconheci pela feição, por que a voz, não era mais vacilante e quase infantil, e sim muito firme e séria, perfeita para alguém de vinte e seis anos.

- Kouyou... – olhei para ele assustado. (É eu me assustei com essa aproximação )

- Se assustou comigo, Toshimasa?

- Não com você, mais por ter chegado falando, eu estava distraído...

- Desculpe-me;

- Ah... não foi nada... – olhei para os lados, e não encontrei o Ni-ya. – Cadê o Yuji?

- Ele vai chegar depois. – Ele se sentou ao meu lado, e não disse nada por alguns minutos.

- Você está com o Kai? – ele perguntou, mostrando que ele continuava sendo o mesmo Kouyou, tímido.

- Sim. Ele me ensinou a ser alguém. - sorri

- Espero que esteja cuidando bem dele. - sorriu

- Ah, claro... muito bem, assim como ele cuida de mim.

- Você está muito diferente, Toshiya.

- E você também. – ri – Nunca pensei que ia te ver conversando comigo. E sem brigas ou constrangimentos.

- Sim...  – sorriu - E eu nunca pensei que existisse um lado educado em você.

- Meu irmão me disse isso...

- Eu vou indo, o Ni-ya já tá ali, até mais... – ele se levantou e seguiu perto do Ni-ya.

Ni-ya está só com o cabelo mais escuro.

São poucos que fizeram mudanças radicais.

Fiquei mais um tempo vendo todos conversando e rindo.

Todos estavam lá,  Hitsugi, Mikaru, Sakito, Yomi, Ruki, Reita, Ruka...

Eu me senti realmente deslocado, eu não devia estar ali, eu não pertencia a aquele meio. Fiz menção de sair, mas o Kai me segurou.

- Onde você vai?

- Não tô me sentindo bem, Kai... só vou tomar ar fresco.

- Totchi, por favor, não se isole...

- Eu não consigo Kai. Eu fiz tanto mal para todos, e até o Kouyou me tratou bem.... isso só me faz ver o quanto eu fui ridículo.

- Não fique assim, por favor... – Kai encostou a testa em mim, e ficamos assim nos encarando. – Ele só estão  superando o passado. Você também tem que fazer isso. Burrices da Adolescência não devem ser levadas em conta por toda a vida.

- Eu não consigo... Eu nunca consegui superar, só esquecer por alguns momentos.

-  Consegue... eu estou aqui não se esqueça, sempre estarei.

Assenti, e senti os lábios dele selando os meus brevemente.

O tempo me fez ficar mais sensível...

Olhei para todos mais uma vez, respirei fundo.

Todos olhavam para nós

Se eles me perdoaram, por que eu mesmo não me perdoaria?

O que faltava para isso?

Eu estou parecendo um fantasma, mas não tenho culpa. Por que quando fico tenso com alguma situação, o sangue parece fugir do meu rosto.

- Já te perdoei Toshiya...  – Uruha sorriu e veio perto de mim. – Você tem que se perdoar agora... é só o que falta para você se sentir bem...

Ele parecia ter lido a minha mente.

Sorri.

Eu não sei por que mas... automaticamente, abracei ele, e ele retribuiu.

Já não tinha mais medo de mim... isso é tão bom...

Senti o Kai também me abraçando, e meu irmão e o Tatsu.

Eu posso me perdoar?

Posso.

Eu vou...

Depois disso eu continuei sem falar com muitos deles, mas estava muito mais agradável estar ali.

Eu estava me sentindo mais vivo, vendo tantas pessoas, que aparentemente, não desejavam mal á mim.

“Eu tenho esperado por tanto tempo

Para ver a luz do brilhante sol dourado

Não sinto tristeza em meu coração

Pois as lágrimas da vida agora se foram”

                                                        Ensiferum

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