– Hahhaha, faz me rir, você não é nosso inimigo? VOCÊ? Então lutamos a vida inteira, séculos atrás de séculos nos preparando para uma Guerra Santa porque somos amigos? – Máscara da Morte responde irônico, encarando o deus que permanecia inexpressivo. Estava com muita raiva de Hades, foi seu inimigo, os fizeram sofrer no inferno, serem chamados de traidores mais uma vez, mas não seria nada prudente sair no braço com ele pois mesmo sem um corpo, essa aparição ainda era a alma de Hades, era ainda a alma de um deus muito poderoso e imponente, que estava em posse do cavaleiro de Andrômeda nos braços podendo possuí-lo (sem piadinha) a qualquer instante e para piorar, estavam em seus domínios, dando uma imensa desvantagem.

Shura, Saga e Camus se aproximam junto com a moça de cabelos negros ondulados e olham da mulher para Máscara da Morte e para Hades, totalmente apreensivos e sem entender absolutamente nada do que estava se passando.

– Então, por que estamos aqui? – Saga pergunta em um tom calmo e respeitoso, porém sem rodeios, entrando direto no assunto.

– Queremos comunicar-lhes uma coisa importante sobre o início de nossa Guerra Santa. Não podíamos aparecer na Terra com Perséfone andando entre os humanos – Hécate fala com o sorriso sereno habitual e um tom bem calmo. Os quatro santos dourados estavam prestando atenção. Shun começa a despertar ainda nos braços de Hades, assustando-se quando viu quem o segurava. Por instinto afastou-se em um pulo, não sentindo resistencia do homem que o segurava e foi ao lado dos cavaleiros dourados sem, também, entender absolutamente nada do que estava acontecendo e permanecendo em silencio para tentar entender a situação.

– Houve um tempo em que nós, deuses, éramos adorados a tal ponto que existiam humanos excepcionais que conseguiam transcender a mente e obter informações dada por nós, independentemente de qual panteão estivéssemos falando ou o quão elevado fossem seus cosmos. Esses homens eram chamados na Grécia de Oráculos, como vocês bem devem saber. – Hades fala virado-se para o Estiges. – Era através desses oráculos que transmitíamos as nossas histórias para o resto da humanidade, que hoje vocês a chamam de Mitologia Grega.

– Vocês também devem saber da história conhecida como o rapto de Perséfone, imagino. Pois bem, sabidamente Zeus me concedeu a mão de Koré, então a trouxe comigo para o submundo contra a vontade de sua mãe, e ela passou a se chamada de Perséfone. A principio as coisas me pareciam tranqüilas, mas, pouco depois Zeus interveio em nome da mãe de Perséfone, Demeter e fez com que metade do ano, ela ficasse comigo, a outra metade, ficasse com sua mãe. – Hades serra os pulsos e sua feição começa a ficar severa.

– Essa história é bem conhecida por vocês mortais, então não entrarei muito em detalhes. – Hades volta a encarar os cavaleiros, que continuam prestando atenção. – Também é sabido que ela me traiu algumas vezes, incluindo com seu próprio pai, Zeus. – Hades fala essa última parte entre os dentes, os cavaleiros se entreolham e percebe o ódio fluir nos olhos de Hades.

– A princípio, compreendi, afinal não é preciso mencionar todos os absurdos que meu irmão faz para ter uma noite de prazer com alguém que lhe interesse, não é mesmo? – Hades olha para Camus e Saga [1] com um sorriso sarcástico, fazendo-os se entreolharem um tanto confusos. – E o cretino chegou a assumir minha identidade para deitar-se com minha esposa. Heh... antes fosse apenas isso.

– Acreditando que Perséfone foi enganada, a perdoei, sabia de sua fragilidade fisica. Entretanto, ela teve três filhos com seu próprio pai, Zagreu que foi o primeiro, antes mesmo de eu seqüestrá-la, Sabázio e Melinoe, mas isso já não me importava mais, desde que cumprisse seu papel de rainha, por mim, fazia um bom trabalho. - Hades fala com total indiferença e despreso.

– Em contrapartida Zeus estava começando a ter problemas com sua preciosa filha, Athena, já que foi o verdadeiro culpado da morte de Palas, sua melhor amiga. Imagino que saiba das lendas referentes aos herdeiros de Urano, onde seu filho lhe superaria e seria assim por diante para todos os deuses que fosse coroado como rei dos deuses. Em todo caso, Zeus quando tomou posse do Olímpo se preocupou com isso, decidindo-se por tentar descobrir qual seria a mulher a lhe dar um filho que seria superior a ele. – Hades volta a falar calmamente, com uma expressão indiferente no rosto. – O nome dessa mulher era Métis, uma titanide, a primeira esposa de Zeus. A própria Gaia lhe profetizou isso, alegando que sua primeira filha teria a mesma sabedoria e força que ele, e o segundo seria superior.

Shun olha com uma expressão curiosa de Hades e Hécate para depois para os cavaleiros.

– Mas e a história da dor de cabeça de Zeus? Sei que isso é absurdo mas...por mais que não acreditasse, era a única versão que eu conhecia. - aproveitando que Hades deu uma pausa, Shun sussurra para Shura que estava ao seu lado.

– Métis era uma titânide, filha de Tétis e Oceanus, e tinha a capacidade de se transformar em qualquer coisa da natureza. Quando Zeus descobriu que Métis estava grávida começou a perguntar sobre essas habilidades, pedindo-lhe que se transformasse em, primeiro, um leão que cospe fogo. Na mesma hora ela se transformou e, em seguida, Zeus perguntou se seria capaz que ela transforma-se numa gota d’água, e ela o fez e Zeus a engoliu quando se transformou. Aí sim vem a dor de cabeça de Zeus e blá, blá, blá...afinal, Atena foi gerada em seu corpo.

– Compreendemos esses fatos, mas... desculpe minha intromissão, onde quer chegar com isso? – Camus pergunta educadamente.

– Bem, o tempo passou para os humanos e a maioria de vocês, mortais, perderam a capacidade de comunicar-se com os deuses. Os verdadeiros oráculos basicamente desapareceram. – Hécate começa a falar – Mas isso não significa que os deuses pararam de agir. Vocês estão vivenciando isso agora ao lado de Atena.

– Depois da morte de Palas, Zeus passou a temer que Atena se virasse contra ele, passando a observá-la mais. Conforme os humanos estavam deixando seus cultos a nós e manipulando nossas histórias para consolidar seus poderes, Zeus queria castigar os humanos devido tal afronta, mas Athena foi contra o pai e saiu do Olímpo para viver juntamente aos humanos e para protege-los de quaisquer eventualidade que seu pai causasse. Daí em diante vocês sabem a história melhor do que eu. – Hades falou observando o Estiges. – Simultaneamente, Perséfone conseguiu envenenar minha alma a pedido de Zeus com um vinho preparado por Dionísio, que também era seu amante, para que eu fizesse uma investida contra Athena, tirando seu foco de Zeus, acontecendo assim a primeira Guerra Santa dos tempos mitológicos entre Athena e eu.