Pra não Dizer que não Falei de Flores escrita por Moony


Capítulo 1
Prólogo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/17882/chapter/1

Prólogo

         Todos sabem que o último ano na escola, logo antes do vestibular, é o pior e mais cansativo de todos. Pelo menos pra maioria, claro. Porque não é todo mundo que passa a vida toda tirando boas notas em tudo e depois passa feliz e tranqüilo na primeira vez em que tenta entrar numa faculdade.
Meu terceiro ano foi horrível. Não nas notas, porque as mantive altas nas matérias que gostava e relativamente normais nas que não tinha muita aptidão (leia-se: exatas). O grande problema foi a rotina alucinante de estudo, e as milhares de informações que eu tinha de relembrar e enfiar à força no meu cérebro todos os dias. Foi altamente cansativo, e dei graças a Deus no dia em que recebi meu diploma.
         Além de todo esse cansaço, ainda havia outro problema que piorava tudo dez vezes: a escola. Eu estudava lá há séculos. Mais especificamente desde a primeira série do fundamental. Isso significa, basicamente, que passei onze anos olhando todo dia para os mesmos rostos, convivendo todo dia com as mesmas pessoas e, claro, sem conhecer outro “mundo” além daquele.
Afinal de contas, toda escola é mundo particular, principalmente quando se gosta dela. E eu gostava mesmo, no começo. Não que eu tivesse muitos amigos, mas os que eu tinha me bastavam. Mas eles, invariavelmente, acabavam saindo de lá para uma escola melhor e eu sempre ficava, como se fosse a pedra fundadora da instituição.
        E assim foi se tornando insuportável passar as manhãs de todos os dias úteis lá. Eu conhecia cada aluno de pelo menos cinco séries antes da minha pelo nome, mas já não tinha nenhum amigo. Os professores, sempre os mesmos, já não podiam mais me fazer pensar que estavam sempre certos.
E então finalmente pude sair. Conquistar a liberdade há tanto sonhada, pra ser mais trágico. Pouco antes das aulas terminarem por completo eu – e todos os outros alunos da minha classe – fiz vestibular em três universidades diferentes. Em uma foi Jornalismo, em outra História e, na última, Literatura. Mas no fundo a que eu queria mesmo era Jornalismo.
        Todos dizem que o mercado está saturado de jornalistas, que não se ganha muito, que é perigoso... Mas não estou nem aí. E consegui.
Nem foi tão difícil assim. Não estou querendo dizer com isso que sou extremamente inteligente, mas o fato é que realmente não é difícil. Não pra quem sabe o que vai enfrentar e se prepara com bastante antecedência. E, entendam, isso não significa que acho certo dizer a crianças de cinco anos que elas devem fazer simulados para o vestibular, mas sim que, quando você sabe que um dia vai precisar de todo o conhecimento que adquiriu, você aprende mais. Mas, claro, sempre haverá pessoas que não têm noção de futuro, do que vão fazer na vida...
          Eu mesmo não tinha. Bem, eu realmente achava que tinha, mas estava muito enganado. Estudei a vida toda na mesma escola particular e nunca soube o que um aluno de escola pública tem que sofrer pra chegar a uma faculdade. Nunca tinha pegado um ônibus sozinho, não sabia nem me orientar se fosse solto no meio da cidade. Nomes de ruas, praças, lugares? Nada. E, no entanto, eu achava que já sabia tudo. E achava também que entrar na faculdade era sinônimo de bom emprego quando formado. Triste engano...
A vida não é sempre fácil e garantida. Mas, como eu não sabia disso, fiquei exultante quando descobri que tinha passado em Jornalismo. Não quis nem saber das outras duas (mais tarde soube que passei nelas também); fui logo fazer minha matrícula. Em pouco tempo eu me livraria do fantasma daquela escola e entraria no mundo real. Finalmente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!