Lábios Insanos escrita por Anonymous


Capítulo 3
(Livro I) Capítulo II Part. 1/3 - Conhecendo.


Notas iniciais do capítulo

O capítulo está bem interessante, espero que gostem.



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Senti algo umedecendo meu rosto. Algo macio e um tanto divertido, parecendo uma esponja de louça bem úmida. Meus olhos curiosos se abriram.

Demorei um tempo até tomar consciência de onde estava. Passei os olhos pelos móveis...todos em madeira branca, assim como as paredes de vidro temperado, com as divisórias do ambiente, brancas. As cortinas pretas evitavam que a claridade passasse em direção à cama qual eu me encontrava, enorme, localizada bem no meio do quarto, com lençol de seda azul.

Eu sorri ao perceber que não estava sozinha na cama. Havia uma gatinha filhote comigo, ela girava atrás de seu próprio rabo feito criança. Enxerguei um pequeno envelope debaixo de seu corpo e o peguei.

"Esse faz parte de mais um dos seus presentes, espero que goste. Alimente Jella, ela deve estar com fome. PS: Dei uma pequena reforma antes de virmos para cá. Esse era o quarto de seus pais, eu espero que goste. A.M."

Anthony era mesmo cavalheiro ou só estava querendo me impressionar?

Peguei a gatinha em meus braços e me levantei. Talvez ele quisesse testar minha responsabilidade.

Percebi que minha mochila se encontrava sobre a poltrona, ao lado da janela. Peguei minha escova de dentes e tudo o que precisaria para um banho.

Deixei Jella dentro da mochila, para evitar que ela quisesse fugir ou se enfiar debaixo de algum lugar.

A água gelada escorria por meu corpo, os pingos fortes e grossos caíam da ducha, batendo contra minha pele e relaxando todos os meus músculos. Era possível ouvir somente o som da água, e o miado fraco de Jella – que era quase inaudível. – Olhei para as pequenas prateleiras procurando por um shampoo, lá estava o meu favorito, de morangos. Me perguntava como ele sabia que eu gostava desse aroma. E então seu sorriso tomou conta de minha mente. Os lábios pálidos, quase roxos...os cabelos rebeldes, a forma educada de falar.

Minha mente vagava...Me peguei deslizando meus dedos cobertos de shampoo pela barriga, indo em direção à meu ventre me fazendo perceber que o banho acabara ali. Passei o condicionador rapidamente, me ensaboei e saí dali.

Anthony não tinha cara de tio, muito menos de homem de negócios, mas como já diz o ditado: as aparências enganam.

Desliguei o chuveiro e procurei pelo roupão, vestindo-o. Sequei os pés no tapete, parando em frente ao espelho. O roupão ultrapassava meus joelhos, eu ri com isso.

Escovei os cabelos e voltei para o quarto.

— Você está com fome, é? – Jella lambia o pano de minha mochila. Vem, vamos achar alguma coisa pra você.

A porta do quarto dava em um longo corredor de paredes brancas com algumas portas de vidro, dava até para se perder ali dentro – eu já estava acostumada com aquele tipo de luxo, mas ficara tanto tempo em um único lugar, tudo parecia diferente. – fui na direção oposta da porta ao fim do corredor, dando de cara com a sala.

Entre a mesa de centro e os sofás de couro, algo me chamou atenção. A empregada que limpava quadro por quadro pacientemente. Ela também notara minha presença, e vinha ao meu encontro.

— Onde está o Anthony? – Perguntei inutilmente percebendo que ela não falava a minha língua.

Que cabeça a minha, era óbvio que ela falava português!

Fiquei parada feito um dois de paus enquanto ela dizia palavras praticamente impossíveis de se entender, eu me divertia. Ela se parecia cada vez mais constrangida que percebeu notar minha dificuldade para entender – ela deveria estar acostumada com os mil e um seguranças de meu tio praticando os mil e um idiomas que sabiam – aponto o dedo em direção à escada e eu imaginei que devesse segui por ali.

Eu sabia que meus pais eram ricos e vaidosos demais, mas jamais poderia imaginar uma casa tão caprichosa, principalmente no Brasil.

Novamente haviam várias portas em um único corredor, dessa vez as portas se encontravam abertas, havia uma única fechada. Imaginei que Anthony estivesse ali. Eu sabia que ele não me ouviria se batesse – o grosso vidro da porta nos separava – então comecei a abri-la bem devagar.

Não precisei de muito espaço para vê-lo. Entre a pequena fresta da porta, eu o observava. As cortinas pretas deixavam o ambiente escuro. Ele parecia muito concentrado no que fazia. Pelo pequeno espaço era possível ver seu peito coberto pela camiseta branca, seus músculos definidos – e que músculos – e o rosto perfeito. Ele parecia se concentrar em algo que eu não sabia o quê. A mão esquerda não largava da pequena taça ao lado dos papéis.

O líquido contido na taça era avermelhado, porém, vermelho demais para ser considerado como vinho. Meus olhos se estreitaram eu poderia considerar aquilo como sangue – se soubesse que nenhum ser humano em sã consciência beberia tal coisa.

Ele levou a taça aos lábios. O líquido escorregava para sua boca enquanto eu suspirava o tempo todo. Ele parecia se deliciar com aquilo – e eu, mais ainda – quando um golpe de ar tocou minhas pernas nuas por conta do roupão. Jella soltou um miado e então eu estremeci. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Anthony estava na porta, encarando-me com os olhos em um tom diferente do que eu vira horas atrás.

— Por que não entra? – será que ele havia me visto ali à muito tempo?

— Perdoe-me, licença. – ele gesticulou para que eu me sentasse e ia fechando a porta atrás de si. – Vim agradecer o presente. – sentei-me em uma das poltronas à frente de sua mesa. Seus braços passaram ao redor de meu corpo. Tremi. Suas mãos foram de encontro ao animal em meu colo.


— Não há de quê. – com sua boca em meu ouvido ele sussurrou, meu corpo inquieto no pequeno espaço da cadeira. – Comprei algumas coisas pra você quando saímos do aeroporto, enquanto você dormia.

— Nem sabe o número das minhas roupas, nem o que gosto.

— Sei mais do que você imagina. – um silêncio se estabeleceu.

Era óbvio que ele sabia, passou anos da minha vida dando-me presentes perfeitos, não havia nada que eu não gostasse.

Então ele tornou à se sentar na cadeira, ficando de frente para mim. Ele se divertia com a gatinha que tentava inutilmente arranhar seu peito. Minhas bochechas estavam coradas pela resposta que eu havia recebido, cruzei as pernas e comecei à balançar os pés esperando que ele salvasse o assunto.

Nossos olhares se cruzaram e eu pude notar brevemente que ele encarava minhas pernas através do vidro da mesa. Como se fosse possível, o vermelho em minhas bochechas ganhou uma proporção maior. Ele pigarreou.

— Eu também sei que gosta muito de ler, e que era uma das melhores alunas em gastronomia.

— Eu sou apaixonada por livros, de terror, são os meus favoritos. Mas também sou muito interessada em culinária, você gosta?

— Comida nunca foi o meu forte. – ele sorriu animado, seu sorriso um tanto debochado. – Sabia que sou escritor?

— Mas é claro. Já citaram seu nome na aula de literatura algumas vezes.

— Não sabia que terror erótico era o forte de uma escola novaiorquina.

O que ele havia dito que escrevia!? Era um tipo de gênero novo? Era evidente que ele escrevesse terror, pelo menos era isso o que diziam. Mas não um terror desse tipo.

— Por que nunca me deixou ler um de seus livros?

— Não acho que seja apropriado para a sua idade, ou escola. Digamos que meus livros contém um tipo de terror diferente. Existe mais terror do que outra coisa, claro. Mas são picantes, não achei que devesse ler. – ele sorriu, seu sorriso perfeito estava fazendo eu me sentir desconfortável.

— Tenho dezoito anos.

— Tenho trinta, Marie. Mando e desmando em você. Se eu disser que não, já está bem grandinha para entender o que significa.

Então ele gostava de mandar? Se ele fosse esperto, aprenderia que isso seria um problema.

— Isabella. – ele estreitou os olhos, parecia um pouco confuso.

Se levantou da cadeira e veio em direção à mim, devolvendo Jella à meu colo. Ele evitava ao máximo me tocar nas partes descobertas pelo roupão. Colocou as mãos em meus ombros.

— Vá se arrumar, iremos sair. – senti seu hálito fresco e cheiroso contra minha bochecha.

— Chovendo? – falei em um fio de voz e senti sua risada contra minha pele.

— Você não é de açúcar, é? – meus olhos vacilaram e eu os fechei, me amaldiçoando por isso. Suas mãos se moveram em meus ombros cobertos, um tipo de massagem. Engolindo seco, peguei a felina em meus braços e me levantei.

— Prometo não demorar.

— Esteja pronta em vinte minutos. Deixe Jella com a empregada enquanto se arruma, ou ela morrerá de fome. – ele foi mais rápido e conseguiu chegar na porta antes que eu à abrisse. À propósito em seu armário, haverá tudo de que precisa.

Assenti em silêncio, atravessei a linha que separava o pequeno escritório do corredor. Respirei fundo assim que ele fechou a porta. Deus, o que aquele homem estava fazendo além de me sentir inferior à tudo relacionado à ele.

Eu havia feito exatamente o que ele mandou. Era espantoso o quanto ele me conhecia bem. Jeans de mais variados tons, roupas desde blusões até biquines. Os vestidos na cor vermelho sangue – a minha favorita – preenchiam o armário com as mais variadas formas e cortes.

Optei por um blusão preto que cobria até minhas mãos – só algumas dobras e ele ficaria perfeito – e um short cobrindo boa parte das coxas. Penteei os cabelos, prendendo-os em um rabo de cavalo. Procurei por meus tênis e não os achei.

Abri gaveta por gaveta até que encontrasse um amontoado de sapatos, dentre eles peguei um all star branco.

Dei uma última olhada no espelho e antes que eu pudesse tocar na maçaneta ouvi batidas na porta.

— Está dois minutos atrasada. – meus olhos desceram por seus lábios. aquelas palavras haviam me deixado tonta.

Minha respiração falhou e eu vi que ele pôde perceber. Seu peito estava nu, pálido, mas definido. Ele vestia apenas uma bermuda preta e chinelos brancos. Eu me perguntava onde ele pensava ir assim – já que só faltava cair granizo em nossas cabeças – de tão chuvoso e armado que estava o tempo. Ele pareceu entender o meu desespero e respondeu antes que eu perguntasse.

— Não, não vamos nadar. – seus dedos tomaram conta de meu rosto enquanto ele passava o polegar em minha bochecha. – Irei levá-la para comer camarão na brasa, o que acha?

— Ah...eu..é...

Será que eu não conseguia fazer nada direito mesmo com dezoito anos na cara!? – pelo menos se ele tirasse a mão de meu rosto, eu conseguiria no máximo respirar – desde que eu acordara, havia agido feito uma idiota.

— Você vai gostar. Tem que conhecer coisas novas, venha. – hesitei. De repente seu aperto em meu pulso ficou tão forte que não tive como manter os pés presos no chão.

Estava me sentindo uma completa idiota dentro daquela roupa.

Não acreditei quando pus os pés para fora de casa. Tudo o que havia a nossa volta era mar e ilhas. Eu me perguntava onde eu estava durante todo o tempo para não reparar em um lugar daqueles antes. Anthony seguia tranquilo por um caminho qual eu não conhecia, parecia não se importar nem um pouco com o frio enquanto eu me encolhia debaixo de um guarda-chuva, xingando-me mentalmente por não ter trago uma jaqueta.

— Espero que não tenha medo de água. – ele riu, parando em frente à uma pequena ponte de madeira ia em direção ao mar.

No fim da pequena ponte, havia uma grande lancha branca. – encarei seu rosto – úmido por conta da chuva – minha expressão séria o fez revirar os olhos.

— Garanto que não irei lhe deixar pegar uma pneumonia. – gargalhei.

— Oh Anthony, como você é debochado.

— Me respeite, que ainda sou seu tio. – nós rimos.

Eu fiquei trêmula depois que subimos na lancha. Ele ainda não havia dito onde iria me levar, mas isso não era importante agora. A chuva havia acalmado, ficamos admirando as pequenas ondas que se formavam por conta do vento. O silêncio ia ficando constrangedor quando ele resolveu quebrar o gelo.

— Ainda tenho alguns outros presentes para você.

— Posso considerar esse como um deles? – arqueei as sobrancelhas, evitava o tempo todo olhá-lo nos olhos.

— Não. Isso é nada mais, nada menos que um almoço. – hesitou. – Por que não solta o cabelo?

Meus cabelos presos o incomodava tanto assim?

— Acredito que lhe assustei hoje de manhã quando fui em seu escritório com os cabelos soltos.

Senti a aproximação de seu corpo. Ele que estava ao meu lado, agora estava atrás de mim. Tocou meu cabelo com a ponta dos dedos, soltando-o. Levou as mãos à minha nuca, os dedos estavam frios como quando havíamos nos apresentado. Ele massageou meu couro cabeludo com a maior paciência, de jeito que me deixasse arrepiada.

— Deixe-os assim, Marie. – sua boca grudou em meu ouvido – É bom para esquentar o pescoço... – minha respiração falhou. Ele pegou mechas longas, jogando-as para frente até que os fios de meu cabelo escondesse meu pescoço, pelo menos no campo de sua visão.

Que diabo era aquilo? Apertei minhas coxas, roçando-as uma na outra. Eu preferia mil vezes que meu tio fosse um velho babão que não sabe nem onde pisa. Ter ganho um tio de trinta anos seria a minha perdição.

— Então...me conte sobre você – ele interrompeu meus pensamentos, como se já não soubesse tudo sobre mim. – quero saber das suas...manias.

— Estou com fome, vai demorar muito?

— Sei que é louca por blusões, tenho que concordar, ficou bonito em você... – ele havia me ignorado.

— Eu quem deveria saber sobre, você – enfatizei. Sentei-me na frente da lancha, o vento levando meus cabelos para trás, enquanto ele continuava de pé, à minha frente, mantendo-se encostado na barra de ferro. – e se for um papa anjo? ou um louco varrido? Pessoas ricas são tão previsíveis.

— Sabe, Marie...quando resolvi tirar uns dias de folga do trabalho, não imaginei que seria tão divertido.

— Mas é sério... não sei nada sobre você. Bom, nada que o mundo inteiro já não saiba.

— Mais tarde poderá perguntar o que quiser. Sei que adora ler, então comprei alguns livros novos, estão lá dentro se quiser dar uma olhada. – seu tom de voz era cansativo. Eu acenei com a cabeça e me dirigi até a parte coberta da lancha.

Haviam mesmo vários livros. Havia um qual eu sempre lia antes de dormir. Ficou a dúvida se ele sabia mesmo tudo sobre mim, ou se era só um acaso. Eu preferi não dar importância à isso e mantive minha atenção no livro. Tanto que nem percebi o tempo passar.

Já era quase uma hora da tarde quando Anthony e eu descemos da lancha, estávamos em uma ilha das várias que haviam à nossa volta. Nos sentamos na mesa mais afastada, perto do mar, claro, mas um tanto afastada.

Meu tio fez o pedido. Então, ele não iria comer? Me peguei tensa outra vez. Seus olhos passeavam pela região de minha mandíbula, eu já estava ficando sem graça.

— Enquanto nossos pedidos não chegam, que tal fazer suas perguntas agora?

— Não vou dizer que me pegou de surpresa, mas...não sei por onde começar. – passei as mãos pelo cabelo, jogando-o cada vez mais para frente. Eu buscava ao máximo a paisagem atrás dele, mas nunca o que estava de frente para mim.

— O que sabe sobre vampiros, Marie?

— Isabella. – corrigi mais uma vez, fazendo-o rir.

Eu não sabia onde ele queria chegar com aquilo.

— Muitas coisas, sou fanática, digamos. Mas como você não é um deles, não irá me arrancar as artérias nem tripas, não é?

— Oh, claro que não. – ele estreitou os olhos. Seu corpo parecia rígido, tenso.

Fomos interrompidos pelo garçom entregando meu prato. Era mesmo muito bonito , e o cheiro me parecia delicioso. Fui servida de refrigerante, por mais que já tivesse idade para beber álcool, só Anthony desfrutava desse tipo de bebida. Dessa vez era possível ver o vinho em seu copo.

Constrangedor, essa era a palavra. Enquanto eu comia, Anthony me assistia sem dar um gole em sua taça.



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Notas finais do capítulo

Post agora, só na outra quarta...quem sabe, antes disso, haha. Estarei no twitter: @nahqq



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