Lábios Insanos escrita por Anonymous


Capítulo 2
(Livro I) Capítulo I - O desconhecido.


Notas iniciais do capítulo

Não aguentei e vou postar logo o primeiro enquanto escrevo o segundo.



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"Eu podia sentir o mormaço quente sobre meus pés, não demorou muito para que eu o sentisse sobre meu rosto.

Agora eu tinha a certeza de que alguém havia afastado a cortina. Das duas opções, uma: ou havia entrado um ladrão bom demais a ponto de abrir a cortina para mim, ou era ele.

Não precisei abrir os olhos para confirmar o que eu já sabia. Ele estava ali. Eu podia sentir de longe o cheiro de bicho morto, afinal isso é muito comum quando se namora um vampiro.

Antes que eu pudesse reclamar, seus lábios tomavam conta de meu rosto. Abri os olhos de forma estreita. Era possível ver seus olhos cor de topázio, eu poderia dizer que eram olhos de gato. Mas aqueles olhos eram incomuns demais para serem de um animal. Ele parecia não se incomodar com a situação em que nós nos encontrávamos - eu de calcinha rendada e apenas um lençol fino cobrindo as coxas - enquanto ele estava com um blusão pólo branco, na verdade, mais encardido do que branco por conta do sangue dos animais que matara.

Mantive meu nariz entre o polegar e o indicador apertando-o e pude ouvir sua risada do outro lado do quarto.

— Se cada vez que aparecer aqui vier cheirando à bicho morto, não lhe deixarei mais entrar. – eu disse.

Coloquei a mão na frente de meu rosto, evitando que o sol viesse de encontro aos meus olhos. Em poucos segundos a cortina já estava fechada.

— O sonho é seu, sabe que sempre me deixará entrar. – ele debochou. – Quer tomar um banho comigo?

Levantei os olhos da cama e analisei seu corpo. Começando pelos tênis número 42 em uma cor de azul jeans, a calça escura e manchada assim como o blusão que vestia. Minhas mãos formigaram só de pensar na hipótese.

Não demorou mais que alguns segundos para que eu ouvisse o som de água caindo.

Meu coração palpitou. Qualquer movimento feito por ele naquele momento, após aquela proposta, aparentaria maliciosamente erótico. Ele tomou meu corpo em seus braços gélidos, porém de aço. Quando dei por mim, já estava no banheiro. – esse era o bom dos sonhos.

Porém, em todos eles, o vampiro de sempre aparecia sério, por mais que eu não conseguisse ver seu rosto nitidamente. Ele só ria de seus próprios deboches e piadas, sempre brincando à sua moda...erótica.

Voltei à "realidade" quando meus pés tocaram a água quente na banheira. Ele retirou a única peça de roupa que me restava. Minhas bochechas arderam, parecia que estavam enfrentando uma febre de quarenta graus. Antes de sentar-me na banheira, ele ajoelhou-se. Os lábios na direção de meu ventre, os olhos pareciam enxergar além de minha pele. A língua contornando os lábios tão insanos quanto seus pensamentos.

A água batia na altura de meu umbigo. Achei que ele iria se sentar no espaço à minha frente, dentro da banheira. Mas ficou claro que ele iria apenas me dar o banho, e não o aproveitaria comigo.

— Não vai entrar? – Passei as mãos pela água, levantando algumas gotas para o alto, vendo-as cair sobre a superfície. Os lábios dele curvaram-se sorrindo maliciosamente.

— Acho que se esqueceu...vampiros não tomam banho. – Reprimi um riso e recostei meu corpo no mármore frio da banheira. Fechei os olhos e antes que eu pudesse relaxar senti sua mão máscula e fria tocar minha coxa. Um sorriso insano se formou em meus lábios, denunciando que eu estava gostando. Não era a primeira vez que eu tinha sonhos assim e eu já sabia o que viria à seguir.

Mordi a ponta de minha língua.

Sua mão tomou um caminho direto por minha virilha. Ele ia em busca de minha intimidade. Meus lábios entreabertos deixaram escapar um som muito comum em meus últimos sonhos. Meu gemido era rouco. Seu dedo médio circulou minha entrada, ele beijava-me o ombro.

Seus olhos eram negros...emanavam desejo e talvez uma pontinha de raiva por estar cedendo algo que ele prometeu não fazer em meu último sonho...seduzir-me. Desfrutar do meu corpo, abusar de mim. Mas ambos sabíamos que esse era o MEU sonho e ele estava ali por que eu desejava sonhar com ele.

Não tive tempo de dizer nada, senti repentinamente algo perfurando minha carne.

Não gritei, não tive tempo para isso. Mas em minha mente eu implorava por socorro. Era possível sentir as batidas de meu coração, a ferida latejava.

Hesitei. Minhas mãos estavam trêmulas, assim como o resto de meu corpo. Eu não conseguia me mover.

Sim, ele havia me mordido.

Esperei pela liberação de seu veneno para amenizar a dor do machucado que ele mesmo acabara de causar, mas, nada. A dor se tornou mais forte em segundos. Meu ombro pulsava forte, como se estivesse sendo arrancado. E ele estava.

Me amaldiçoei mentalmente ao olhar sobre meu ombro, nossos olhares se cruzaram, e era como se ele estivesse sofrendo algum tipo de surto ou coisa parecida. Os olhos estavam negros e mudavam constantemente para um tom avermelhado, quase vinho.

A boca transbordava em sangue.

Quando abaixei os olhos na direção de meu ombro, desejei que meus olhos fossem arrancados da forma como ele acabara de arrancar minha pele. O corte ia até o meio das costas. Era grande, fundo, era como se estivesse depenando um frango...sempre rápido e habilidoso. Eu podia sentir o sangue escorrendo, descendo por minhas costas. Meus olhos impressionados se fecharam e então gritei. Voltando de volta para o mundo real.

Meus olhos embaçados se recusavam à serem abertos. Eu me acostumara com leitura desde pequena, era minha paixão. E hoje, eu criava minhas próprias histórias, em minha mente, em meus sonhos..."

— Bella, acorda, vai, chegou uma coisa pra você. – eu sabia de quem era aquela voz.

Meus olhos finalmente se abriram e pude ver a baixinha de cabelos longos e castanhos escuros. Olhei o despertador em meu criado-mudo, marcavam 14h e 45min. Meus olhos quase soltando das órbitas.

— Alice! Por que não me acordou? Que droga! Vou receber advertência, vou ficar suspensa, vão me dar uma puni... – Ela não me deixou terminar.

Apenas estendeu a mão em silêncio, dando-me um envelope branco.

Alice era como uma irmã para mim, apesar de termos nos conhecido à pouco menos de quatro anos, e ela fosse dois anos mais nova, nós compartilhávamos tudo. Só pelo olhar dela eu já sabia do que a carta se tratava, eu havia esperado tanto por aquilo.

Depois da morte de meus pais à cinco anos atrás, só restara meu tio Anthony, qual recebeu minha tutela. Anthony sempre foi muito viajado, pelo que soube, foi por isso que vim parar em um colégio interno. Apesar de nunca tê-lo visto pessoalmente, eu sabia que ele era muito rico, só por mandar seus seguranças virem me visitar de ano em ano para saber como eu estava e o que eu precisava, sempre mandando cartas – digitadas, claro – Foi através de um dos seguranças que fiquei sabendo assim que entrei aqui, que só sairia do colégio aos 18 anos. Depois disso ele entraria em contato comigo e eu iria morar em um dos imóveis que meus pais me deixaram ao morrerem, algo assim.

Nunca faltou nada para mim. Meu tio sempre enviava o que era necessário para a minha sobrevivência no colégio, e como sempre fui dedicada e tirava boas notas era recompensada com livros. De preferência de terror ou sobre vampiros, meus favoritos.

— Bella lê isso logo. – a voz de Alice me despertou do transe em que eu estava.

Me sentei sobre a cama e abri o envelope, dentro dele tinha um cartão que me parecia ser de feliz aniversário, e um bilhete pouco menor que uma folha A4.

Eu havia feito 18 anos à dois dias atrás. Optei pelo cartão primeiro. Era lindo, todo decorado com velas e mensagens de aniversário. Eu o abri e pude ver algo escrito com uma caligrafia perfeita.

"Isabella. Desejo a você felicidades, não é todos os dias que fazemos dezoito anos. Seu presente está no bilhete à seguir, e leia com atenção. Com carinho Anthony M."

— Não veio digitado como os outros. Foi feito à mão, acho que é a letra dele. – Alice se sentou ao meu lado enquanto eu desdobrava a outra folha, deixando-a pronta para ser lida.

"Como o combinado, estou dando-lhe uma passagem para que venha passar uns tempos comigo, já pedi que deixassem todas as papeladas prontas, e avisassem no colégio sem que seus colegas de turma soubessem. Não enviei a passagem, pois será uma surpresa. Meu segurança ficou de trazê-la até a Europa, onde me encontro. De lá, iremos para um lugar qual eu irei pessoalmente levá-la. Esse será seu presente de aniversário. Não traga roupas, compraremos pelo caminho, traga o básico. Estarei lhe aguardando. A.M."

Olhei de canto e pude ver Alice se encolhendo, e então eu à abracei. Seria difícil deixá-la, mas por um lado, eu havia esperando cinco anos de minha vida por liberdade. Era o meu sonho de voltar à viver minha vida.

— Promete que vai me escrever todos os dias? – sua voz era quase inaudível, ela chorava, algo apertava forte em meu coração.

— Não acredito! Vou deixar a maioria de meus livros para você, e você chora? – brinquei. – Quem entregou isso aqui? E por que não me acordou?

— Me deram ordens para deixar você descansando. – limpei as lágrimas que caiam de seu rosto, ela tentava inutilmente sorrir.

— Mais alguém sabe disso? Ou eles só contaram pra você?

— Contaram só pra mim, sabem que sou sua amiga. – ela se levantou, me puxando para que eu ficasse de pé. – A notícia boa é que...vou poder ver seu carro virar à esquina. Me deixaram sair do colégio para isso. – nós rimos.

— Como o pedido foi para que ninguém soubesse, vamos sair pelos fundos. A coordenação pediu que você passasse despercebida e que não fosse se despedir de ninguém.

— Melhor assim. – suspirei aliviada. E se aquele monte de gente descobrisse para onde eu iria!? Seria um inferno garantido.

— Deixaram recado para estar pronta até as cinco horas. Vai precisar de ajuda?

— Acho que não. No bilhete dizia que eu não deveria levar muita coisa. Me espere lá em baixo. – ela assentiu e me deu um último abraço antes de cruzar a porta de madeira, trancando-me no ambiente.

Pronto, eu estava sozinha. Corri para meu armário procurando algo para vestir. Deveria ser algo confortável, porém sofisticado. Nunca fui de passar boa impressão ou ligar para o que as pessoas pensavam, mas nesse caso era bem diferente. Principalmente por eu não saber como ele era, digo, interiormente.

Demorei o necessário no banho, relaxando o bastante para enfrentar toda a bagunça de um aeroporto. Apesar de cinco anos terem se passado, eu ainda não sabia se era capaz de enfrentar um vôo depois da morte dos meus pais.

Passei a mão na mochila e joguei meus livros de cabeceira, meus eletrônicos e tudo de minha higiene pessoal, mesmo sabendo que talvez aquilo tudo não fosse necessário.

— Podemos ir. – falei ao chegar nos fundos do enorme prédio que durante anos fora meu colégio.

— Um último abraço. – olhei para o lado e Alice já estava chorando novamente. Os braços abertos esperando por meu abraço. Tentei sorrir, mesmo sentindo que algo meus olhos estavam marejados.

— Se cuide por mim, certo? Daqui à dois anos estarei aqui para te buscar. – ela riu com a brincadeira que eu fizera. Meus lábios tocaram sua testa. Alice era tão pequena que nem era necessário ficar na ponta dos pés. Era terrível ter que deixá-la sabendo que ela era minha única amiga e vice-versa.

A ida até o aeroporto foi tranqüila, deixando de lado o fato de ter dois homens mal encarados dentro de uma limousine comigo, dirigindo-se a mim somente como "Marie". Era diferente, mas era engraçado. Eu estava acostumada à ser chamada pelo primeiro nome, apenas.

Minha tensão aumentou ainda mais ao pensar que ao menos eu sabia para onde iríamos depois de chegar à Europa.

O vôo foi mais calmo do que eu imaginava, o que me tranquilizou foi o fato de eu ter dormido praticamente a viagem inteira. Aterrizamos em um aeroporto Europeu e antes que eu pensasse em respirar, já estávamos indo para um novo embarque, dessa vez, os seguranças tinham ordens para me deixar na porta do avião e pegarem o próximo vôo.

Mais uma vez, eu iria de primeira classe. Busquei pelo meu assento que ficava próximo daquelas mini janelas como em todos os aviões. Coloquei os fones no ouvido.

Eu me perguntava onde estava Anthony que disse assumir responsabilidade por mim da Europa em diante. Para onde eu estava indo? Não me deixaram ver a passagem à nenhum custo, muito mal passar os olhos pelo passaporte, mas não consegui ler nada muito preciso. Cheguei à pensar que meu tio era um cara totalmente maluco, apesar da idade. Meus dedos tocaram o "play" do Ipod, porém, antes que eu pudesse acioná-lo ouvi uma voz.

— Marie?

Minhas mãos gelaram. Levantei o olhar pelo assento ao meu lado e pude vê-lo ali, à minha frente. Sua expressão era séria. Os cabelos cor de bronze, o rosto bem desenhado – parecia ter sido modelado naquele instante – os olhos negros, os mais escuros que eu já tinha visto, até hoje. Usava um jeans desbotado – para o meu espanto – e uma pólo azul. Era possível ver seus braços – provavelmente esculpidos por Deuses – sua pele era pálida, um pouco mais do que nas fotografias. Ele segurava um casaco nas mãos.

— Isabella Marie. – enfatizei o primeiro nome.

Uma curva se formou em seu rosto, ele estava sorrindo, de canto. Mas estava sorrindo. E era um dos sorrisos mais lindos que eu já havia visto. Esse era o momento qual eu me amaldiçoava por ter recusado a proposta de ir ao banheiro minutos atrás.

— Anthony Masen. – ele sentou-se ao meu lado, colocando o casaco sobre o colo. Estendeu a mão para que eu à segurasse. Arqueei a sobrancelha e ele pareceu se divertir com aquilo.

— Prazer. – apertei sua mão, ignorando o arrepio que atravessou meu corpo. Seus dedos eram frios, poderiam ser comparados com a mão de uma pessoa que passou o dia inteiro trancado em um quarto com um ar-condicionado ligado em um dia de chuva.

Então eu a soltei rapidamente. Encolhendo-me sobre o assento. Ele pareceu perceber, mas havia ignorado, pelo visto. Eu ainda me perguntava para onde estávamos indo.

— Estamos indo para Hangra. Conhece? Sei que já estudou a América. – retirei meus fones de ouvido, por mais que eu não estivesse ouvindo nada, não era elegante que me visse com eles.

— Sim, eu conheço. – ele riu, pude ver seus dentes brancos e polidos. Aparentavam ter sidos limpos um por um com um uma flanela. – Com essa previsão de chuva para a semana toda, será um desperdício.

— A casa era de seus pais, achei que gostaria de conhecer.

— Será um prazer. – coloquei meus cabelos de lado, de forma que eles caíssem para perto do meu rosto. Não queria que ele percebesse que meus olhos estavam quase se fechando de tanto sono. Já eram quase onze horas da noite.

— Agora, descanse se possível, chegaremos pela madrugada. – ele murmurou, entregando-me um cobertor qual eu nem havia percebido que estava com ele.

Meus lábios se forçaram em um sorriso sincero e então recostei-me relaxada em meu assento. O avião decolou e então voltou toda a minha tensão novamente, porém, com pouca intensidade. Parecia que ter alguém de minha família por perto, acalmava meus nervos. Busquei lá no fundo de minha mente as imagens do sonho que eu tivera hoje mais cedo. Elas vieram ofuscadas e mal definidas. Anthony parecia inquieto na cadeira, pelo visto, para ele a noite seria longa.


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